Análise: Shantae Advance: Risky Revolution resgata em boa forma a obra perdida da franquia

O aguardado título da série da WayForward esbanja charme e carisma, e apesar de pequenos deslizes, prova que valeu a pena esperar.

em 28/08/2025
Resgatado e aprimorado pela WayForward, Shantae Advance: Risky Revolution é a mítica “obra perdida” da franquia Shantae, cuja estreia original para Game Boy Advance precisou, infelizmente, ser cancelada no início dos anos 2000. Agora, mais de duas décadas depois, finalmente os fãs da Nintendo e donos de um Switch podem colocar as mãos nesta aventura que conseguiu envelhecer bem, conservando no processo todo o carisma e a diversão usualmente associados à série.

Um desenvolvimento incomum…

Sim, por mais que hoje a franquia Shantae seja sinônimo de qualidade dentro do gênero de plataforma 2D, nem sempre ela teve tanto prestígio assim. No começo dos anos 2000, por exemplo, o segundo capítulo da saga — que estava sendo desenvolvido para o Game Boy Advance e daria continuidade à jornada iniciada no Game Boy Color — precisou ser cancelado, devido à falta de interesse em sua produção e comercialização pelas publishers da época.

Porém, como dizem por aí, “o tempo é o senhor da razão”. E neste caso, foi mesmo: a partir de 2010, com a estreia de Risky’s Revenge no DSi, as aventuras de Shantae e sua turma encantaram jogadores pelo mundo, garantindo sequências em diversas plataformas e elogios tanto do público quanto da crítica especializada por aspectos como sua polidez, leveza, bom humor e belos visuais.

Todas essas características acima se fazem presentes em Shantae Advance: Risky Revolution. Em termos narrativos, aqui a aventura segue os eventos do primeiro jogo, se passando novamente na Sequin Land — uma terra mágica, outrora protegida do mal pelos gênios guardiões e hoje cuidada pela meio-gênio Shantae. 

Porém, os dias de calmaria da pacífica Scuttle Town, local onde residem a jovem e sua turma, estão contados. Isso porque a maléfica Risky Boots está de volta com um plano ambicioso e cruel, que envolve usar máquinas subterrâneas para mover regiões inteiras de lugar, sempre visando seu benefício próprio.

Assim, caberá a Shantae mais uma vez impedir a vilã pirata, visitando as localidades afetadas e encontrando os especialistas que podem ajudar o seu tio a encontrarem e darem um fim nas tais máquinas tectônicas. Pronto para ajudá-la nessa, caro leitor?

…mas que provou que, às vezes, vale a pena esperar.

Ao iniciar Shantae Advance, é possível escolher entre o Story Mode e o Classic Mode. O Classic Mode, como o nome sugere, é o game em seu formato original, idealizado conforme o hardware (e as limitações) do Game Boy Advance. Já o Story Mode é a versão adaptada para a engine moderna da WayForward, com cenários e cores mais vibrantes, além de novas ilustrações e animações que dão um charme a mais para a aventura.

Independentemente da versão escolhida para jogar (o conteúdo de ambas é o mesmo), na prática, a obra segue o esqueleto clássico da série, com mapas interessantes e uma estrutura metroidvania bem construída, que certamente agradará quem gosta de títulos 2D de qualidade. Enquanto percorre as localidades afetadas pelo plano da Risky Boots, Shantae derrota inimigos com o seu cabelo e coleta mapas e tesouros, que vão constantemente liberando novas regiões e salas para serem exploradas.

Dotada de poderes mágicos graças à sua ascendência, a jovem também pode se transformar em animais, como um caranguejo ou um macaquinho, e disparar golpes especiais, como uma bola de fogo ou uma nuvem com relâmpagos. Algumas dessas habilidades, como as transformações, estão atreladas à progressão, enquanto outras são mais úteis para as situações de combate, como contra os chefões.

De toda forma, uma vez em jogo, todas essas mecânicas se juntam ao bom humor característico da série para entregar uma jornada leve e bastante divertida durante a sua duração, com destaque especial para as várias referências ao desenvolvimento um pouco conturbado do título e ao grande atraso da protagonista. No entanto, mesmo com os vários acertos, há alguns problemas que denunciam a idade da aventura em 2025 e que poderiam ter sido revistos para este lançamento.

Onde é que eu estava mesmo?

A imensa maioria dos problemas de Shantae Advance: Risky Revolution tem a ver com a sua idade e com as limitações de hardware do Game Boy Advance, console para o qual o game foi inicialmente projetado. Quando comparado com um metroidvania mais moderno, por exemplo, Risky Revolution tem áreas exploráveis relativamente pequenas, e a limitação de quatro botões à disposição também resulta em uma jogabilidade marcada pela simplicidade — que não se sairia mal no GBA, mas que não consegue impressionar hoje, frente à grande concorrência no gênero (especialmente dentro do nicho retrô).

Também não há saves automáticos na aventura, o que significa que, para salvar o progresso, é preciso visitar regularmente o “Save Guy” — um NPC que registra os seus avanços de forma manual e curiosamente lenta, como seria em um cartucho com bateria. Logo, se você esquecer de visitá-lo e deixar a Shantae morrer, se prepare para refazer todo o progresso conseguido desde o seu último salvamento (aconteceu comigo uma vez durante a campanha, não recomendo a ninguém).

O maior problema de todos, porém, é a ausência de um mapa. Sim, Risky Revolution não conta com o recurso de mapa que se tornou padrão para todos os metroidvanias desenvolvidos na última década. Some a isso a pequena variedade visual de alguns cenários (como dentro das dungeons), e essa ausência pode tornar a exploração confusa, repetitiva e até mesmo frustrante para quem não tem muita experiência com o gênero ou com a franquia.

Considerando que houve todo um trabalho de adaptação para as plataformas modernas (vide as adições visuais do Story Mode), é difícil não pensar que a WayForward poderia, sim, ter revisto algumas dessas questões mais problemáticas e realizado ajustes pontuais de qualidade de vida, tornando a experiência menos datada e mais fluida.

Até mesmo as novas roupas para Shantae (um dos destaques deste lançamento) têm pouco impacto na prática, visto que não é possível alterar o visual da heroína durante a campanha. A “solução”, se você quiser jogar com outra vestimenta, é criar um novo save — desnecessário, pouco prático e claramente outra herança técnica que teria sido melhor deixar no passado.

Toda a beleza dos anos 2000 de volta

Dito tudo isso, eu estaria mentindo se falasse que não me diverti com Shantae Advance: Risky Revolution. Sua campanha é divertida (apesar de curta), os personagens estão cativantes como sempre, o fanservice é justo e tudo isso junto torna o jogo facilmente recomendável tanto para os fãs de Shantae quanto para os entusiastas da proposta.

Merecidas críticas à parte, para mim foi inclusive bom voltar a ter contato com a simplicidade de um jogo mais antigo; às vezes, tudo que queremos (e precisamos) é explorar um bom mapa em 2D e dar umas risadas enquanto jogamos. Mesmo sem sidequests a rodo, áreas gigantes ou chefes mirabolantes (há somente um tipo de colecionável e o nível de desafio, no geral, é baixo como em The Seven Sirens), Risky Revolution consegue entregar isso.

O fato de o game performar adequadamente no Switch (e prover um espetáculo colorido no modelo OLED) também ajuda nessa impressão positiva, assim como a inclusão do experimental Battle Mode, inicialmente pensado para ser jogado via Cabo Link no GBA. Neste modo à parte, é possível enfrentar até quatro amigos localmente no Switch usando os personagens da franquia — a simplicidade e superficialidade das mecânicas são notáveis, mas podem render bons momentos por algumas horas, caso você tenha amigos dispostos a entrar na onda.

Por fim, com a narrativa e os diálogos sendo os destaques no título, é uma pena o jogo não contar com localização em PT-BR. Graças à linearidade da campanha, é possível finalizar o jogo sem ter muita intimidade com outro idioma, mas seria legal ver os textos e menus traduzidos. Os fãs tupiniquins da série certamente agradeceriam.

No fim, valeu a pena esperar!

Shantae Advance: Risky Revolution resgata em boa forma a lendária obra perdida da franquia. Embora não seja o melhor jogo da série e a sua idade com frequência jogue mais contra do que a seu favor (vide a ausência de um mapa), é sem dúvidas positivo o fato de que finalmente os fãs podem jogar o título que lhes fora prometido lá no início dos anos 2000. No mais, enquanto não vemos um novo capítulo da jornada da meio-gênio mais querida do mundo dos games, revisitar o passado prova que, neste caso, valeu a pena esperar — que venham as próximas aventuras.

Prós

  • Apresenta o humor e a leveza característicos da franquia, com uma narrativa descontraída, mas não menos cativante por isso;
  • Jogabilidade divertida, com transformações e magias, agradará aos fãs de plataforma e metroidvania que curtem experiências verdadeiramente retrôs;
  • A boa performance no Switch, juntamente com as artes e ilustrações novas do Story Mode, enriquecem e valorizam a experiência;
  • Apesar dos percalços (como a ausência de um mapa), cumpre a sua missão principal de resgatar um título cujo destino por vezes pareceu relegado a uma nota histórica.

Contras

  • A ausência de um mapa é notável, e pode tornar a exploração confusa e frustrante para quem não tem experiência com a franquia e/ou com o gênero;
  • Apesar da eficácia do Save Guy, o recurso de save automático faz falta;
  • A impossibilidade de trocar a vestimenta da Shantae durante a campanha (uma das poucas novidades preparadas integralmente para este lançamento) é uma decisão no mínimo questionável;
  • Carece de localização em PT-BR.
Shantae Advance: Risky Revolution — PC/Switch/PS4/PS5/XBO/XSX — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Cristiane Amarante
Análise produzida com cópia digital cedida pela WayForward
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Alan Murilo
é publicitário e copywriter que aprecia um bom jogo tanto quanto um bom café. Gamer desde que segurou um controle de Super Nintendo pela primeira vez, tem um apreço especial pelos títulos independentes e pelas diversas franquias da Big N.
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