Originalmente anunciado há mais de dois anos, Henry Halfhead teve sua data de lançamento revelada no mês passado, e finalmente o título do gênero sandbox chega ao Nintendo Switch para mostrar toda a sua singularidade. O jogo se destaca pelo visual e mecânicas peculiares, estabelecendo-se como uma experiência curta que vale a pena ter na biblioteca do console híbrido, apesar de alguns percalços no caminho.
Meia cabeça e uma vida inteira
Henry Halfhead é estrelado, como já é de se esperar, por Henry: um ser formado apenas pela metade de cima de sua cabeça. Não temos mais nenhuma informação sobre esse fato – se ele é o único com essa característica peculiar ou não –, já que o restante dos personagens que se comunicam conosco (apenas por voz) não chega a aparecer fisicamente.
Acompanhamos a meia cabeça por todo o seu tempo de vida: de início, somos apresentados a Henry em um berço, ainda bebê. Aos poucos, assistimos seu breve crescimento, passando pela adolescência na escola, e a vida adulta no trabalho. O jogo segue uma fórmula linear simples: em cada cenário e etapa da vida, precisamos completar determinadas tarefas para progredir na história.
A grande sacada está na forma pela qual solucionamos cada tarefa: Henry conta com um poder bem específico, e bem semelhante (diria que quase idêntico) ao chapéu Cappy de Super Mario Odyssey: a meia cabeça é capaz de se transformar em praticamente qualquer objeto ao seu alcance. Sendo assim, se precisamos regar uma planta, Henry pode se transformar em um regador próximo; se a tarefa é transportar um pacote, ele se transforma no objeto e se movimenta até o destino; e assim por diante.
As aventuras de Henry são narradas por uma voz amigável, que acaba também por ditar o ritmo da aventura. A voz não recebeu dublagem em português, mas sua fala é acompanhada de legendas no nosso idioma; também há uma aba com dicas do que se fazer a seguir, mas que, na verdade, revela quase explicitamente o próximo passo, sem grande mistério.
Jogabilidade para não perder a cabeça
Controlar Henry não poderia ser mais simples: nos movimentamos com o analógico esquerdo e movemos a câmera com o direito; só os botões B e A são utilizados. Pressionando B, Henry pula e, pressionando A, nos transformamos no objeto mais próximo ao cabeçudo. Caso o botão A seja mantido pressionado, todos os objetos que podem ser possuídos são destacados e podem ser selecionados, facilitando bastante quando há muitas opções no ambiente.
E não é exagero comentar que há opções aos montes: praticamente todo o cenário pode ser possuído por Henry: portas, pedras, lápis, bolas, cadeiras, almofadas, maçãs, sementes, torneiras, flores... listar todos os objetos seria praticamente impossível aqui! Alguns deles permitem que Henry realize ações específicas, como acender e apagar a luz ao possuir um abajur ou cortar alimentos ao possuir uma faca. Porém, vale notar que a grande maioria dos objetos não fornece nenhum tipo de habilidade, somente o pulo e o movimento padrão de Henry.
Voltando aos controles, um dos únicos pontos que realmente me causou incômodo, mesmo com a simplicidade nos comandos, foi o movimento da câmera: estou acostumado a inverter ambos os eixos de movimentação em todos os jogos, mas em Henry Halfhead só é possível inverter o movimento vertical da câmera, por algum motivo. Não consegui me acostumar, e esse detalhe acabou atrapalhando o ritmo do jogo para mim em vários momentos.
Buscando o meio-termo
A história de Henry Halfhead é sobre encontrar valor nas experiências da vida, por menores e mais simples que sejam. Henry passa por uma infância repleta de criatividade, desenhando e brincando por aí; sofre com a uniformização do sistema de ensino; na vida adulta, percebe como o mundo do trabalho, repetitivo e estressante, tornou-se o centro da sua vida e dono da sua rotina.
Ao longo da trama, as experiências vividas pela meia cabeça mostram, aos poucos, o valor das pequenas atitudes e do autocuidado. A conclusão que fica é que tudo na vida depende de equilíbrio, e buscar atingi-lo é uma jornada que exige muito carinho consigo mesmo e paciência. É uma pena que chegamos nessa conclusão tão rápido – a jornada de Henry é curta, e o título pode ser completado em cerca de três horas.
Claro que isso não tira o mérito de Henry Halfhead: explorar os (ainda que pequenos) cenários é divertido, a trilha sonora é peculiar e contagiante, utilizar os objetos para cumprir as tarefas é bem intuitivo e a sensação de completar as tarefas é gratificante. Há também algumas poucas “missões secundárias” na forma de quebra-cabeças que podem ser completados com peças escondidas pelos cenários. Porém, a recompensa por montá-los é apenas cosmética e só dura naquele curto momento da vida de Henry.
O título também conta com um modo multiplayer, permitindo que dois jogadores possam jogar simultaneamente a história por meio da tela dividida. Honestamente, não acho que o modo agrega tanto, já que nada muda ao se explorar em dupla – tanto que o próprio narrador continua se referindo a Henry no singular, mesmo quando temos dois “Henrys” completando as tarefas.
Vale destacar um ponto importante: tentei de várias formas, mas o jogo simplesmente não permitiu que eu ativasse o modo multiplayer utilizando dois Joy-Cons. Só foi possível acessar o modo usando dois controles completos: os dois Joy-Cons juntos e o Pro Controller, no meu caso. Parece se tratar de um erro, ainda mais levando em conta que só dois botões são usados para as ações de Henry – a questão dos dois analógicos poderia ser contornada designando o movimento da câmera a alguma combinação de botões. Aproveitei para fazer outro teste e percebi que também não é possível jogar com apenas um Joy-Con no modo single-player.
Nada é pela metade
Henry Halfhead é uma aventura pitoresca e curta: controlar os objetos é bem divertido e acompanhar a vida de Henry é, no mínimo, curioso e instigante. A sequência final é bem bonita, reforçando a mensagem principal de valorizar os pequenos momentos. Só senti falta de mais cenários, mais objetos com funcionalidades variadas e uma jornada um pouco mais extensa. Apesar de alguns poucos defeitos, vale experimentar o título e desacelerar um pouco o ritmo – antes que a maluquice da rotina suba à (meia) cabeça.
Prós
- História cativante, com momentos emocionantes e peculiares;
- Visual divertido que combina com a atmosfera do título;
- Trilha sonora contagiante;
- Controles simples e intuitivos;
- Legendas em PT-BR;
- A mecânica de possuir objetos é divertida, fácil e rápida de se utilizar.
Contras
- Não é possível utilizar um único Joy-Con no modo single-player ou multiplayer;
- A falta de possibilidade de se inverter ambos os eixos de movimento da câmera pode incomodar jogadores acostumados com essa forma de controle;
- Experiência curta, podendo ser finalizada em cerca de três horas;
- Algumas transformações de Henry não possuem nenhuma habilidade ou uso além do pulo e da movimentação padrão do personagem.
Henry Halfhead – PC/PS5/Switch – Nota: 7.5Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Alessandra Ribeiro
Análise produzida com cópia digital cedida pela Lululu Entertainment










