Em uma galáxia muito, muito distante — e também muito familiar — a política se desenrola entre a democracia em declínio e a tirania de um império. Dois lados se enfrentam: guardiões da luz e assassinos das trevas. Mas nem todos são heróis ou vilões: há aqueles que lutam apenas para sobreviver no caos galáctico, e é nesse cenário que Star Wars Outlaws Gold Edition se destaca.
Uma galáxia pequena, mas cheia de perigos
A história segue Kay Vess, uma ladra em ascensão, tentando sobreviver entre os mais pobres, vítimas da opressão dos poderosos sindicatos. Endividada e sem oportunidades lucrativas em Canto Bight, distrito do planeta Cantonica, Kay enfrenta um mundo onde ricos investem em cassinos e extravagâncias enquanto o povo sofre em trabalhos humilhantes e quase escravizantes.Depois de diversas tentativas de trabalhos para os sindicatos que deram errado e a deixaram à beira da falência, Kay Vess aceita uma missão de alto risco: roubar a mansão de Sliro Ruback, membro do poderoso sindicato Zerek Besh. Era a oportunidade que a fora da lei precisava — além de elevar sua moral com contatos e sindicatos, a recompensa poderia garantir créditos suficientes para finalmente sair daquele planeta caótico. Contudo, a sorte ainda não estava ao seu lado: ela é capturada e traída pela própria equipe, que se revela ligada à Aliança Rebelde.
Com a ajuda de seu fiel amigo Nix, seu inseparável mascote, Kay consegue escapar a bordo de um cargueiro leve, o EML-850 Trailblazer, chegando à lua de Toshara. No caminho, sua nave sofre danos, e após completar algumas missões para arrecadar créditos e peças por meio de contratos com sindicatos, seu nome começa a ganhar notoriedade. Isso chama a atenção do senhor do crime Jaylen Vrax, que a contrata para realizar o maior roubo de sua vida e ainda se vingar de Sliro, roubando sua mansão mais uma vez. Desta vez, porém, Kay contará com a ajuda do Droide BX ND-5 e precisará reunir uma equipe na Orla Exterior — região da galáxia habitada por piratas, contrabandistas, escravizadores e outros criminosos. O game se desenvolve, assim, em torno de contratos e serviços prestados aos sindicatos.
Sindicatos para que te quero
O jogo possui uma mecânica divertida centrada nos sindicatos, ou cartéis do crime, onde todos os fora da lei recebem trabalhos e tarefas. Muitos personagens são fiéis aos seus respectivos sindicatos, enquanto outros atuam de forma autônoma, como a nossa protagonista. Cada trabalho concluído gera um aumento na sua reputação, variando conforme o risco da missão. Conforme você cresce entre os sindicatos, surgem oportunidades melhores, mas o sistema também exige equilíbrio: algumas missões favorecem um cartel e prejudicam outro, já que os sindicatos são inimigos e certos trabalhos envolvem invadir seus territórios.Uma das mecânicas mais envolventes é a tomada de decisões. O jogo apresenta escolhas que impactam diretamente os relacionamentos com os sindicatos. Por exemplo: recebi um trabalho de alto risco do sindicato Aurora Escarlate para invadir uma construção espacial do império e roubar dados do sindicato mais poderoso da lua de Toshara, os Pikes. Ao concluir a missão, fui obrigado a decidir se entregaria os dados à Ellera, criminosa da Aurora Escarlate, ou se a trairia, entregando-os aos Pikes e subindo na hierarquia desse cartel.
Estas decisões exigem cuidado, pois influenciam vantagens e desvantagens em cada planeta. Cada território é dominado por algum sindicato, e manter um bom relacionamento permite não apenas acessar melhores trabalhos, mas também explorar esses territórios livremente e conquistar recompensas valiosas. Você começa com um relacionamento “fraco”, que pode subir ou descer, e provavelmente desejará alcançar o nível máximo, o que exige estratégia, paciência e planejamento cuidadoso.
Velhos conhecidos e personalização
Na Orla Exterior, encontramos planetas icônicos como Tatooine, o desértico lar de personagens importantes da trama, como Anakin Skywalker, e do sindicato Hutt de Jabba. Também há novos sindicatos a descobrir, além de órbitas com satélites, estações espaciais, terminais do império, lixos cósmicos, piratas e caças imperiais que podem destruir a Trailblazer ao menor descuido. Nessas estações, é possível conseguir novos contratos, realizar missões e encontrar peças ou skins que dão upgrades à Speeder e à Trailblazer.Além de melhorias em armas, defesa e velocidade, é possível desbloquear pinturas, amuletos e até troféus para personalização. Kay também pode evoluir seu Blaster, modificando-o para disparos mais rápidos e fracos ou poderosos tiros explosivos. Ela ainda conta com acessórios que ajudam na movimentação e permitem acessar áreas antes inacessíveis, trazendo um toque de mecânica metroidvania. Também possui bomba de fumaça para dispersar os inimigos e granadas que podem ser roubadas dos stormtroopers, mas que, a meu ver, pouco ajudam. Por isso, me foquei mais na furtividade e, quando as coisas ficavam ruins, no Blaster. Suas roupas oferecem bonificações importantes, como aumento de vida, capacidade de carregar mais frascos de recuperação ou redução de dano, além de melhorar a furtividade. Nix também possui skins, que não dão bônus, mas o deixam ainda mais fofo. Durante a campanha, novos espaços para amuletos serão desbloqueados, garantindo mais opções estratégicas.
Kay pode aprender habilidades como hacking, abrir portas com grampos, sabotar sistemas e roubar informações. Para isso, é preciso encontrar especialistas que liberam listas de habilidades, cumprindo requisitos específicos para desbloquear cada uma delas.
Caminhos de uma fora da lei
Durante os trabalhos, Kay está constantemente em perigo. Invadir uma frota do império ou um território de sindicatos exige paciência e cuidado, e o melhor caminho muitas vezes é a furtividade. Kay não é Jedi nem Mandaloriana: ela é frágil, e um pouco de estratégia ajuda a concluir missões sem combates ou perdas de reputação. Se alguém a flagrar, alarmes disparam e inimigos perseguem a protagonista — ou você enfrenta o combate direto, ou se esconde até a situação se acalmar. Em algumas missões, a perseguição pode durar todo o tempo, levando até à morte.Nix auxilia em todas as situações, apertando interruptores, abrindo caminhos ou distraindo inimigos. Novas ações para o mascote são desbloqueadas aos poucos, aumentando o leque de possibilidades e ajudando na aventura. No combate, Kay conta apenas com o Blaster, que dispara plasma, cargas de íons — úteis em puzzles — ou choques para deixar inimigos inconscientes, mas que precisam recarregar após cada uso. Algumas armas podem ser roubadas de inimigos nocauteados, mas se tornam inúteis quando as balas acabam. Kay também pode desferir socos e chutes ou derrubar inimigos pelas costas com comandos furtivos, lembrando mecânicas de Assassin’s Creed.
Apesar de toda essa variedade, o jogo acaba entrando em um nível de repetição constante. Missões de coleta simples ou buscar cartões para acessar salas nos sindicatos dão uma sensação de déjà vu, lembrando os títulos dos assassinos e padrões já vistos. Não se engane, sou fã da franquia dos assassinos, mas essa semelhança acabou me incomodando um pouco, mesmo com toda a diversão que Outlaws proporciona.
Positivo e negativo
Star Wars Outlaws recebeu duas atualizações desde seu lançamento no Nintendo Switch 2, melhorando bastante a performance e o visual desde o trailer exibido na Nintendo Direct: Partner Showcase em 31 de julho. Ainda assim, alguns problemas persistem. Existem bugs gráficos, como o cabelo da protagonista com serrilhados e movimentos estranhos, e crashes ocasionais — tive cinco interrupções, algumas vezes salvando com o save automático, outras precisando refazer caminhos.Um bug crítico aconteceu em Tatooine: ao contatar um personagem dentro de uma casa, a porta não abriu após coletar informações, e o jogo salvou automaticamente. Por sorte, consegui escapar com uma viagem rápida para minha nave, evitando a perda total do progresso. Outro ponto negativo está na exploração: em alguns momentos, fiquei preso entre pedras ou vãos e precisei usar viagens rápidas para escapar; em outros, consegui sair com esforço, como em um espaço próximo a uma cascata onde não conseguia saltar.
Por outro lado, os pontos positivos são claros. A direção de arte é impressionante e fiel à franquia. Sindicatos, império, personagens icônicos, estruturas, planetas e cada detalhe do universo fazem você se sentir parte de Star Wars, mesmo sem Jedi, Força ou sabres de luz. A trilha sonora, os disparos de Blasters e particularmente o som da Speeder que me trazem à memória momentos especiais da minha infância quando assistia aos filmes com meu pai, são incrivelmente fiéis, reforçando a sensação de imersão. A iluminação, o pôr do sol e reflexos são belamente executados graças à tecnologia Ray Tracing.
Outlaws roda a 1080p no dock e 720p no modo portátil, ambos usando DLSS da NVIDIA a 30 quadros por segundo, com algumas quedas. É possível notar cortes de conteúdo em relação a outras plataformas, mas não chega a atrapalhar a experiência. A versão para Nintendo Switch 2 ainda oferece controles de movimento com os Joy-Con 2 e permite usar a tela de toque do console para hackear e navegar pelos menus do game, trazendo mais imersão e agilidade em certas tarefas. A presença de dublagem e legendas em português do Brasil é um grande acerto, com uma adaptação cuidadosa que traz naturalidade às falas. A própria Kay se comunica com um jeitinho brasileiro que aproxima ainda mais o público nacional da experiência.
Jogatinas e conteúdo extra
O game inclui um minigame viciante chamado Sabbac. Normalmente, não me interesso por minigames, mas este me conquistou. Inspirado no jogo de cartas do universo Star Wars, mistura sorte e estratégia e aparece em cantinas, onde é possível apostar créditos e enfrentar adversários. As partidas lembram pôquer, mas com cartas que podem mudar de valor a qualquer momento, tornando cada jogada imprevisível. Mais que um passatempo, o Sabbac reforça a imersão no submundo da galáxia, sendo interessante aceitar missões que envolvam o jogo.Além do conteúdo principal, Outlaws para Nintendo Switch 2 vem com duas expansões que ampliam a experiência. Wild Card leva Kay Vess a um torneio exclusivo de Sabbac, onde sorte e esperteza se misturam e a protagonista encontra figuras lendárias como o lendário Lando Calrissian. A expansão adiciona novas missões e cosméticos para Kay, Nix e a nave, reforçando o clima de aventura nos cantos mais obscuros da galáxia. A missão é desbloqueada após concluir certas missões principais.
Já A Pirate’s Fortune foca em ação e exploração. Acompanhada de Hondo Ohnaka, Kay parte para o sistema inédito de Khepi, enfrentando novos inimigos, descobrindo segredos antigos e lidando com contratos de contrabando que oferecem melhorias para a Trailblazer. A expansão traz mais risco e recompensa, aprofundando a ligação da protagonista com o universo dos piratas espaciais. A missão é desbloqueada após finalizar o jogo base.
Juntas, as duas expansões ampliam a longevidade do jogo e enriquecem a jornada de Kay Vess, oferecendo novos olhares sobre o submundo que Outlaws propõe retratar.
Imerso na Orla Exterior
Star Wars Outlaws Gold Edition consegue capturar a essência do universo Star Wars sem precisar de Jedi ou sabres de luz. Explorar a galáxia, atravessar planetas icônicos, negociar com sindicatos e vivenciar cada detalhe da Orla Exterior me fez sentir de verdade parte desse mundo tão épico. A direção de arte, trilha sonora e imersão são muito boas, mas bugs, crashes e missões repetitivas atrapalham em alguns momentos. Ainda assim, com suas expansões e mecânicas estratégicas, o jogo entrega uma aventura sólida e envolvente para quem quer se perder no submundo galáctico com estilo e liberdade.Prós
- Direção de arte e cenários impecáveis, fiéis ao universo de Star Wars;
- Imersão sonora e visual de alto nível, incluindo Ray Tracing e trilha sonora;
- Mecânicas de furtividade, decisões e sindicatos envolventes e estratégicas;
- Controles de movimento com os Joy-Con 2 e uso da tela de toque deixam a jogabilidade mais intuitiva e imersiva;
- Dublagem e legendas em português do Brasil tornam a experiência mais acessível e envolvente;
- Personalização de Kay, Nix, Blaster e veículos oferece profundidade e variedade;
- Minigame Sabbac e expansões adicionam longevidade e conteúdo extra;
- Explorar planetas icônicos e interagir com personagens clássicos reforça a sensação de estar na galáxia.
Contras
- Missões repetitivas e alguns objetivos pouco inspirados, sensação de déjà vu;
- Bugs gráficos (cabelos serrilhados, movimentos estranhos) e crashes ocasionais;
- Problemas de exploração e colisão que exigem viagens rápidas para escapar de erros.
Star Wars Outlaws: Gold Edition — Switch 2 —Nota: 8.0
Revisão: Cristiane Amarante
Análise produzida com cópia digital cedida pela Ubisoft Brasil



