Análise: Towa and the Guardians of the Sacred Tree: um espetáculo visual com uma espada cega

A jornada contra Magatsu poderia ser memorável, não fosse o peso de sistemas frustrantes e personagens pouco profundos.

em 19/09/2025
Towa and the Guardians of the Sacred Tree apresenta uma premissa promissora: acompanhamos Towa, uma jovem sacerdotisa de Shinju que recebeu seus poderes de uma árvore sagrada, em sua jornada para deter a ameaça de Magatsu, uma força sombria que está consumindo o mundo. Para isso, ela conta com a ajuda de oito companheiros distintos, cada um com um visual chamativo e estilos de combate que variam entre o físico e o mágico. A narrativa gira em torno da luta contra essa corrupção crescente, usando tanto a espada sagrada (Tsurugi) quanto o cajado (Kagura).

Diálogos que falam muito e dizem pouco

O jogo aposta fortemente em diálogos abundantes com os personagens jogáveis e NPCs, mas peca em não utilizá-los para aprofundar suas personalidades. Apesar da quantidade, a maioria dessas interações acaba soando superficial, com personagens que se resumem a uma única característica, o que resulta em figuras “one-note”. Essa falta de densidade narrativa torna a jornada menos memorável do que poderia ser.
Na prática, o jogador pode selecionar dois personagens para cada missão: um no papel de Tsurugi (atacante físico) e outro no de Kagura (usuário de magia). O Tsurugi oferece alguma variação, já que cada personagem tem um estilo de ataque físico distinto. Contudo, no lado do Kagura, a repetição dos feitiços cria uma sensação de preguiça criativa, como se as diferenças entre os conjuradores fossem apenas cosméticas.

Controle duplo, diversão pela metade

O sistema de controle tenta ser ousado, porém erra bastante. Os gatilhos inferiores controlam o Tsurugi, enquanto os superiores comandam o Kagura. Em teoria, a ideia de manipular dois personagens ao mesmo tempo é interessante, mas o resultado é desbalanceado. Como o movimento principal fica atrelado ao Tsurugi, o Kagura acaba relegado a um papel secundário, servindo apenas como um botão de ataque mágico esporádico.
Embora haja a opção de controlar o movimento de Kagura com o analógico secundário, essa função se mostra confusa e nada prática. É difícil dividir a atenção entre os dois, e logo o jogador tende a abandonar o conjurador, priorizando o atacante físico. Para piorar, a vida dos dois personagens é compartilhada, o que transforma Kagura em um fardo: mesmo parado ou fora de foco, ele sofre dano e prejudica o desempenho geral.
Uma comparação com Neo: The World Ends With You é a primeira que me veio à mente, já que aquele jogo conseguiu equilibrar com maestria o controle de múltiplos personagens. Lá, alternar o foco entre os heróis é fluido e recompensador, mostrando que é possível transmitir ao jogador a sensação de que domina todos ao mesmo tempo. Em Towa and the Guardians of the Sacred Tree, essa ambição não se concretiza, resultando em um sistema que mais frustra do que diverte.

Outro ponto fraco é a falta de impacto nos combates. Os ataques, em sua maioria, carecem de “peso” e responsividade. Para soltar golpes mais fortes, o jogador precisa apenas segurar o botão por mais tempo, em vez de engatar combos satisfatórios. Alguns personagens até contam com pequenas sequências, mas são curtas e limitadas, deixando a sensação de que o sistema de batalha não atinge seu potencial.
Por outro lado, o jogo oferece um modo de forja de espadas que surpreende positivamente. Nele, é possível coletar minérios, definir o formato da arma, decorá-la e até participar de minigames para tornar o processo mais interativo. Há, ainda, a opção de forjar automaticamente, caso o jogador só queira os bônus mecânicos. Apesar de divertido, o sistema não é essencial para a progressão e pode acabar sendo pouco explorado.

A força da estética

O grande destaque de Towa and the Guardians of the Sacred Tree está na sua direção de arte. Os personagens são visualmente criativos e variados, como um ninja ágil, um imponente homem-peixe koi, irmãos com traços caninos, e até uma guerreira que transforma origamis em armas. Cada design transmite personalidade mesmo quando a narrativa falha em explorá-los em profundidade.
Os cenários, então, são um espetáculo à parte. A riqueza de detalhes em cada ambiente impressiona, com florestas vibrantes, templos místicos e áreas corrompidas pelo Magatsu que parecem pintadas à mão. Esse capricho visual ajuda a manter o interesse do jogador mesmo quando a jogabilidade deixa a desejar.
É inegável que o jogo tenta se destacar dentro do gênero roguelike com algumas ideias ambiciosas, porém a execução inconsistente compromete a experiência. O sistema de combate, que deveria ser o coração da aventura, não é tão fluido nem tão recompensador quanto deveria. Ainda assim, a beleza estética e os elementos criativos de design sustentam parte do encanto.

Um roguelike bonito, mas irregular

No fim das contas, Towa and the Guardians of the Sacred Tree é uma recomendação que depende muito do perfil do jogador. Para fãs afincos de roguelikes, pode ser uma experiência válida, ainda que imperfeita, pela arte e pelo sistema de forja. Já para quem busca uma introdução ao gênero ou espera combates realmente polidos, existem opções mais acessíveis e com jogabilidade mais satisfatória.

Prós

  • Variedade visual e conceitual dos personagens jogáveis;
  • Cenários belíssimos, de florestas místicas a praias vibrantes e dimensões corrompidas.

Contras:

  • Diálogos numerosos, porém superficiais;
  • Personagens “one-note” e pouco desenvolvimento narrativo;
  • Sistema de controle de dois personagens ao mesmo tempo é desbalanceado e frustrante;
  • Mecânicas de combate sem impacto.
Towa and the Guardians of the Sacred Tree — PC/PS5/XSX/Switch — Nota: 6.0
Versão utilizada para análise: Switch

Revisão: Alessandra Ribeiro
Análise produzida com cópia digital cedida pela Bandai Namco

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João Pedro Vale
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