Call of the Sea é um jogo de quebra-cabeças com grande foco na sua narrativa lovecraftiana que chega no Nintendo Switch cerca de cinco anos após sua estreia em outras plataformas. No entanto, apesar da demora para chegar aos consoles da Nintendo, o título da Out of the Blue Games continua oferecendo uma experiência engajante e de grande qualidade, especialmente para os fãs de uma boa história de mistério.
Uma ilha que traz mais perguntas do que respostas
A história de Call of the Sea acontece durante os anos 30 e conta a trajetória de Norah, que está em busca de seu marido. Ela sofria há muitos anos com uma doença misteriosa que a enfraquecia e deixava marcas em seu corpo, a ponto de fazê-la querer esconder essas chagas de outras pessoas.
Como a cura ou tratamento jamais eram encontrados, seu marido Harry convocou uma expedição para uma ilha misteriosa no Taiti que poderia conter a receita para salvá-la. Porém, ele não voltou para casa.
É nesse ponto que o jogo começa. Norah recebe uma carta com instruções obtusas, somente indicando a localização da ilha, uma foto de Harry e uma adaga misteriosa. Então, ela decide lutar contra sua doença para buscar seu amado.
Visuais deslumbrantes e caminhos tortuosos
Não demora para o jogo mostrar que a tal ilha no Taiti onde a expedição de Harry foi parar esconde mais do que aparenta. A flora e a pouca fauna são diversas e coloridas e ocultam resquícios de uma civilização antiga que apenas os moradores locais ouviram falar, mas nem mesmo eles conhecem a fundo.
O visual é um ponto acertado do jogo, que chama a atenção e te dá vontade de explorar cada canto para saber mais sobre o que vem pela frente. E diria que esse será o grande foco durante toda a campanha. Muitas vezes, o caminho de Norah estará bloqueado por mecanismos específicos que possuem uma lógica de funcionamento bem metódica.
Para poder abrir os trajetos da ilha, você precisará investigar o local, encontrar sinais a partir de anotações antigas da expedição, marcas em paredes, posicionamento de objetos e mais. No fim, o jogo faz um bom trabalho em criar esse ambiente misterioso que te instiga a ir mais fundo na história, porém essa parte pode acabar prejudicando certos quebra-cabeças.
Explore e resolva mais
A cada pista, Norah faz uma anotação em seu caderno. Elas servem não só para dar mais contexto da história como também solucionar o quebra-cabeça. No entanto, boa parte das anotações são feitas na exata ordem de cada passo da resolução, fazendo com que o jogo te recompense mais pela exploração bem feita do que pelo raciocínio lógico na hora de tentar resolver algum desafio.
Em certos momentos, entretanto, não haverá quase nenhum contexto sobre o que é preciso fazer. Você apenas poderá olhar para suas anotações e para o ambiente em volta para tentar entender como tudo se encaixa no quebra-cabeça em questão.
No fim, é interessante de uma perspectiva narrativa, que coloca o horror cósmico da ilha e o mistério não só no visual e nas anotações da expedição como também nos próprios objetos com os quais o jogador interage. Contudo, de um ponto de vista de jogabilidade, acaba oscilando demais, entre momentos onde o quebra-cabeça se baseia apenas em explorar bem o local para pegar as anotações, ou simplesmente olhar para um desenho no caderno de Norah por algum tempo e tentar desvendá-lo.
Algo que ajuda muito é a tradução completa dos conteúdos em texto, não só as legendas. Todos os monólogos da Norah e as anotações em seu caderno estão traduzidos para português, contribuindo não só para compreender o rumo da narrativa, mas a solucionar os quebra-cabeças.
Horror cósmico, mas nem tanto
O universo de H.P. Lovecraft já serviu de base para várias histórias interessantes em diferentes mídias, e não precisou ficar preso à ideia de um jogo ou filme de terror necessariamente. A abordagem de Call of the Sea traz alta qualidade em contar uma história misteriosa nesse universo de criaturas indescritíveis e locais secretos que fazem não só a protagonista como o próprio jogador se questionar se o que está adiante é real ou não.
Contudo, o comportamento de Norah às vezes não parece acompanhar o aprofundamento da narrativa. A ilha claramente não é um lugar para aproveitar e relaxar. Existe um passado sombrio e cheio de segredos que parecem levar todos que chegam lá à loucura, e esse aspecto em certos momentos não parece afetar a personagem.
Sempre que ela chega em algum local novo, investiga algum item ou documento, ou interage com mecanismos, faz algum comentário sobre o lugar, a expedição, Harry ou ela mesma.
Porém, durante certos momentos onde situações mais sombrias da ilha são reveladas, a protagonista age normalmente, sem mudanças no tom de voz e sem apresentar sentimentos que muitas pessoas teriam, como medo, ansiedade ou minimamente receio do que está por vir.
Mesmo com o próprio jogo brincando um pouco com esse aspecto de indiferença durante certas partes da história, pode ser algo que acaba quebrando a imersão do jogador no mundo, porque a suposta ameaça daquela ilha misteriosa é diminuída.
Mistério na medida certa
Call of the Sea não é um jogo longo, ajudando a deixar um sentimento de uma aventura satisfatória, que, mesmo com uma variação estranha na dificuldade dos quebra-cabeças, não deixa o jogador entediado ou frustrado.
O design da ilha e a engenhosidade dos mecanismos são convidativos e recompensadores. A utilização da trilha sonora é sutil, destacando-se apenas em alguns pontos-chave da história, porém é fundamental para criar o clima que a cena pede e contribuir com a imersão do jogador nesse universo.
Sua forma de adaptar o estilo lovecraftiano em uma história de amor, investigação e situações inexplicáveis faz valer a pena a viagem.
Prós
- Temática de horror cósmico bem integrada com os quebra-cabeças;
- Narrativa engajante que prende a atenção do jogador até o fim;
- Bom uso da trilha sonora em momentos-chave da história.
Contras
- Comentários constantes da protagonista durante o jogo acabam diminuindo o aspecto sombrio de certos acontecimentos da história;
- A dificuldade dos quebra-cabeças oscila muito.
Call of the Sea — Switch/PC/PS4/PS5/XBO/XSX — Nota: 8.0Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Alessandra Ribeiro
Análise feita com cópia digital cedida pela Raw Fury














