Hades II chega com a difícil missão de não apenas repetir a fórmula do aclamado título anterior, mas elevá-la. A sequência do roguelike dungeon crawler aposta em sistemas mais robustos e em uma jornada mais complexa, sem deixar de lado a cativante interpretação única da mitologia grega. Com jogabilidade elaborada, ambientação impecável e um universo de conteúdo para explorar, o novo jogo da Supergiant Games transborda excelência em uma experiência imperdível.
Enfrentando o próprio Tempo
Desta vez, acompanhamos a feiticeira Melínoe, a filha perdida de Hades. Ela teve sua vida dedicada a se tornar uma guerreira capaz de derrotar Cronos, o Titã do Tempo, que aprisionou a família da garota. No entanto, a missão se revela mais complicada: o Olimpo está sendo atacado pelas forças do vilão e até mesmo as Moiras, as tecelãs do destino, estão desaparecidas. Mesmo diante desse cenário complexo, Melínoe decide que vai salvar sua família, não importa o quão custosa seja a jornada.O coração de Hades II continua sendo o combate ágil e responsivo, porém agora acrescido de novas camadas de profundidade. Desbravando diferentes regiões, o objetivo é derrotar todos os inimigos para continuar avançando. Melínoe ataca com versatilidade, contando com uma seleção de habilidades um pouco diferentes da de Zagreu: a garota é capaz de criar círculos mágicos para enfraquecer inimigos, e pontos de magia podem ser consumidos para lançar golpes Omega poderosos. Além da investida, a guerreira também consegue correr velozmente pelas arenas.
As mudanças parecem pequenas, mas alteram significativamente o andamento das partidas. Os ataques Omega, por exemplo, exigem tempo de carregamento, o que demanda planejamento e uma pitada de risco e recompensa. Já os pontos de magia não são recuperados com facilidade, então é importante utilizá-los de maneira estratégica. O movimento de correr não oferece invencibilidade como a investida, o que nos força a prestar mais atenção nos perigos das arenas. O resultado dessas alterações é um sistema que mantém o ritmo explosivo do original, porém adiciona decisões estratégicas que tornam cada confronto único.
Mesclando poderes em combates de ritmo frenético
Jogar Hades II é sentir uma mistura constante de tensão e recompensa. A fluidez dos controles, a clareza visual dos ataques e o ritmo eletrizante dos confrontos criam uma experiência imersiva e frenética que prende do início ao fim de cada tentativa. A cada derrota, em vez de frustração pura, há um senso de aprendizado e preparação para a próxima investida.Assim como no seu predecessor, a variedade de escolhas continua sendo um dos grandes destaques. Os deuses do Olimpo oferecem inúmeras Bênçãos que alteram as habilidades de Melínoe, como os ataques flamejantes de Héstia, os martelos de Hefesto, que acertam monstros dentro das conjurações, ou bolhas explosivas de água de Poseidon, que surgem ao correr. Parte da diversão é justamente montar sinergias interessantes com os poderes, e as vastas opções oferecem diferentes abordagens em cada partida.
As armas contribuem para tentativas ainda mais distintas. Algumas delas são fáceis de usar, como o cajado, capaz de lançar feitiços à distância ou facas para ataques corpo-a-corpo agressivos; já outras exigem domínio técnico, como caveiras mágicas que precisam ser recuperadas após serem lançadas e um imenso machado de golpes amplos e lentos. Além das armas, há cartas de tarô que habilitam diferentes vantagens, presentes de companheiros com efeitos diversos, versões alternativas de armas, entre várias outras opções. O resultado de tantas possibilidades é uma jogabilidade que sempre se transforma, podendo ser moldada a diferentes gostos e estilos.
Fora das partidas, Melínoe relaxa na Encruzilhada, um acampamento que funciona como base. Este local oferece atividades variadas, como jardinagem, preparação de feitiços e interações com outros personagens, e sua calmaria faz um ótimo contraste com o ritmo frenético das incursões.
Perdendo-se em um mítico mundo de divindades e monstros
Uma das novidades notáveis de Hades II é a estrutura do universo: existem duas rotas principais, cada uma com quatro biomas com inimigos e desafios próprios. Desta vez, houve um cuidado maior em oferecer regiões com formatos mais únicos, como as áreas abertas do Campo da Dor, a cidade Ephyra e suas rotas não lineares ou navegar em barcos por Tessália. Com tantas possibilidades, as jornadas ficam mais variadas e interessantes.O desafio continua acentuado, sendo fácil ser morto por simples momentos de desatenção. A derrota pode ser amarga, mas há sensação de progresso com inúmeros desbloqueáveis e elementos da trama que avançam apesar do fracasso — roguelikes são conhecidos pela repetição, no entanto Hades II consegue utilizar isso como um incentivo para continuar insistindo e experimentando.
Muitos dos desbloqueáveis e até mesmo elementos de história são atrelados a feitiços, que exigem itens específicos para serem conjurados. Os ingredientes nos incentivam a explorar diferentes estágios, tanto é que foram várias as vezes em que escolhi rotas e equipamentos específicos em busca deles. Apesar de divertida em um primeiro momento, logo a procura se revela desgastante: vários encantamentos exigem itens raros, forçando-nos a fazer grind especialmente para isso. Além disso, a quantidade de ingredientes é excessiva, o que torna as coisas desnecessariamente complicadas.
Apesar de apresentar mais conteúdo, o jogo não consegue fugir completamente da armadilha de mais do mesmo de roguelikes. Mesmo com os elementos e surpresas que mudam a cada tentativa, os estágios contam com mapas e salas muito similares entre as partidas, o que pode trazer sensação de repetição. É inegável que o foco está no combate, porém diferenças mais significativas em outros aspectos seriam bem-vindas.
Mesmo assim, há muito o que explorar no universo de Hades II, como modificadores para aumentar ou diminuir a dificuldade e desafios com configurações de estágios e equipamentos específicos.
No carisma da mitologia grega reimaginada
Sem dúvidas, um dos aspectos mais marcantes de Hades II é sua ambientação, que mantém a estética vibrante e estilizada que marcou o primeiro jogo, mas agora com cenários mais variados e detalhados. As regiões do Submundo são representadas com tons sombrios e místicos, enquanto áreas da superfície trazem paisagens mais abertas e tensas, afinal os deuses estão em guerra. O visual caprichado repleto de ilustrações elaboradas dá vida ao mundo do jogo.A interpretação visual da mitologia grega é criativa: personagens e criaturas clássicas ganham traços modernos e expressivos, combinando respeito ao mito original com liberdade artística, que torna o mundo mais acessível e carismático. A dublagem, também assinada pelo elenco recorrente da Supergiant, dá vida às figuras mitológicas com performances que equilibram humor, intensidade dramática e personalidade única.
A atmosfera é intensificada pela trilha sonora criada por Darren Korb, que mistura instrumentos tradicionais, guitarras pesadas e ritmos pulsantes para acompanhar o dinamismo dos combates e a grandiosidade da jornada. O resultado é um conjunto audiovisual que reforça tanto o peso épico da mitologia quanto a proximidade emocional entre jogador e personagens.
Desta vez, o tom da narrativa é um pouco mais sério, afinal a missão de Melínoe é complexa e grandiosa. Por causa disso, os diálogos e trama perderam um pouco da leveza do primeiro título, mas ainda contam com humor e carisma. Confesso que, em um primeiro momento, não gostei da heroína, porém, aos poucos, ela se revelou multifacetada e interessante. Fora isso, o elenco é diverso, sendo difícil não se afeiçoar aos vários deuses e mortais que transbordam personalidade.
Ação ininterrupta e sem engasgos
Tecnicamente, Hades II apresenta performance sólida, apesar do constante caos visual durante as partidas. No Switch 2, o jogo roda em resolução 1080p a 120 quadros por segundo no modo dock e a 60 quadros no modo portátil, o que traz uma fluidez sem igual às partidas. Já no Switch original, a ação se desenrola a 60 quadros e resolução 720p nos dois modos.Testei a versão Switch 2 e fiquei surpreso com a estabilidade da performance. Os 120fps, em especial, fazem diferença nos momentos mais frenéticos, tornando a ação mais clara e fluida. Um detalhe importante em relação ao primeiro jogo é que, desta vez, a interface foi melhor adaptada para o modo portátil, contando com texto maior.
Fora isso, o jogo possui salvamento cruzado entre a versão Switch e PC. O processo é extremamente simples, bastando fazer login na conta Steam ou Epic no Switch para sincronizar automaticamente o progresso entre as diferentes versões. Nos meus testes, o recurso funcionou perfeitamente: recuperei meu arquivo da versão PC, comecei uma partida no Switch e, depois, continuei a jornada no Steam sem grandes problemas.
Uma experiência abençoada pelos deuses
Hades II expande sua fórmula sem perder o que fazia o original tão marcante. A nova protagonista, as habilidades mágicas, a variedade de armas e as rotas alternativas tornam cada partida diferente, enquanto o combate segue rápido, responsivo e viciante. Mesmo com momentos de grind e repetição, o jogo compensa com riqueza de sistemas, liberdade de escolhas e uma progressão que nos mantém sempre motivados a tentar de novo.Com uma ambientação impressionante, personagens cativantes e performance técnica sólida, o título reafirma a posição da Supergiant como um dos estúdios mais criativos da indústria. Hades II não apenas honra o legado do seu antecessor como o amplia com ousadia. Para fãs do gênero e para quem gostou do primeiro jogo, a recomendação é clara: trata-se de uma experiência essencial e inesquecível.
Prós
- Combate ágil, responsivo e cheio de novas camadas estratégicas;
- Grande variedade de armas, bênçãos e habilidades traz diversidade às partidas;
- Vasto conteúdo para explorar, incluindo duas rotas e desafios adicionais;
- Ambientação visual e sonora rica, criativa e imersiva;
- Narrativa envolvente que amplia a mitologia grega com personagens carismáticos e bem dublados;
- Desempenho técnico sólido, com suporte a altas taxas de quadros e salvamento cruzado.
Contras
- A busca por ingredientes para feitiços pode se tornar cansativa e repetitiva;
- Apesar dos eventos e mapas que mudam, pode aparecer leve sensação de repetição entre as partidas.
Hades II — PC/Switch/Switch 2 — Nota: 9.5
Versão utilizada para análise: Switch 2
Revisão: Alessandra Ribeiro
Análise produzida com cópia digital cedida pela Supergiant Games
Análise produzida com cópia digital cedida pela Supergiant Games











