O líder do clã Musashi retorna
Apesar de já terem se passado 14 anos desde o último jogo, Art of Vengeance não descarta títulos anteriores da série. Coloca Musashi não só como um ninja experiente como também o grande líder do clã Oboro, ao qual ele pertence.
Não é como se Shinobi tivesse uma linha do tempo complexa com muitas histórias e aprofundamento de personagens, mas é interessante ver a abordagem do estúdio em não simplesmente resetar o protagonista e moldá-lo do zero.
Se em The Revenge of Shinobi, do Mega Drive, ele resgatava sua namorada, a primeira cena de Art of Vengeance já mostra que ambos continuam juntos e ele será pai em breve. Seu fiel cachorro Yamato, apresentado em Shadow Dancer, também voltou. Optar por dar sequência à história, inclusive, faz com que a jogabilidade seja coerente. Você está jogando com um mestre, e ele precisa mostrar que é um.
A narrativa desse jogo também não tenta criar algo complexo, o que pode ser bom e ruim. As terras do clã Oboro foram invadidas pela ENE Corp, um grupo liderado por um homem misterioso chamado Ruse. Quase todo o clã acaba perecendo ao ser transformado em pedra, então Musashi passa a perseguir Ruse em busca de vingança.
Para um jogo de ação 2D que propõe combates frenéticos e desafios de travessia nos mapas, diálogos demais realmente poderiam atrapalhar. No entanto, eles ainda são necessários para desenvolver ao menos um pouco da história, e o estúdio optou por fazer de Musashi um protagonista silencioso.
Não considero que seja a melhor saída, porém está longe de ser um problema. Parte da personalidade do protagonista ainda é bem apresentada nas artes e animações do jogo, que estão bem detalhadas.
Lute como um mestre ninja
Como comentei, Musashi já é um mestre nessa nova história, e essa característica dita a maneira como a jogabilidade funciona, pois a graça no jogo está, principalmente, em derrotar vários inimigos com combos variados sem que eles sequer tenham alguma chance.
As duas armas principais de Musashi são sua katana e kunais. Os combos começam simples, como YYY ou YYXX, mas a cada fase é possível juntar moedas de ouro que podem desbloquear mais combinações na Loja Youkai do jogo.
No entanto, as kunais fazem o papel fundamental de aumentar o medidor de execução dos inimigos, o que consiste em uma barra branca que, quando cheia, deixa uma marca acima da cabeça do inimigo. Quando chega a esse ponto, basta apertar os botões L e R do Switch para executar o oponente e derrotá-lo imediatamente, não importa o nível da barra de vida.
Além disso, esse ataque pode ser realizado contra todos os inimigos marcados de uma vez só. É muito satisfatório jogar preparando o cenário com diversos oponentes, ativar a sequência de execução do Musashi e vê-lo atravessar todos os cantos da tela sem dar nenhuma chance aos adversários.
É um estilo de jogabilidade que lembra Katana Zero, onde a graça do jogo está em preparar o melhor combo de execução dos inimigos, mas o jogo não te impedirá de combatê-los normalmente.
Para o combate tradicional, existem também os ninpos: habilidades especiais que vão desde cuspir fogo até arremessar uma shuriken gigante que é muito útil para quebrar armaduras. Seus ninpos e combos podem ser melhorados por amuletos que geram habilidades passivas, como aumentar o dano baseado em uma quantidade de combos ou melhorar habilidades específicas.
É um sistema bem interessante e moldável ao gosto do jogador. Existem até mesmo combinações de amuletos focadas em parry, deixando Musashi com uma jogabilidade mais reativa aos ataques de inimigos.
E quando o combate fica mais complicado, há os tradicionais ninjutsus da série. Clássicos como o Karyu, que queima todos os inimigos, e Raijin, que dá um escudo de raio a Musashi, estão de volta.
Pode parecer, mas não é Metroidvania
Cada cenário por onde o jogador passa conta com conteúdos extras, que darão recompensas como tesouros, relíquias que desbloqueiam habilidades e desafios de combate ou plataforma. No menu de pausa é possível ver o mapa da área em que Musashi está e escolher o local que vai explorar.
No entanto, Shinobi: Art of Vengeance não é um metroidvania. É aquele jogo clássico de ação 2D dividido em fases que apenas trouxe alguns conteúdos extras para cada cenário. Existem até mesmo estágios bônus no jogo, que fazem referência aos games antigos.
Faz sentido que esses conteúdos existam, já que o jogo não tem muitas fases, então elas não só são mais desenvolvidas, com diversos cenários, como também apresentam alguns conteúdos adicionais que ajudam a preencher os mapas.
Trechos de plataforma desafiadores
Considerando que as fases são mais longas do que jogos de ação desse estilo costumam ter, a variação entre combate e plataforma foi uma saída para mudar um pouco o tom do jogo no decorrer da campanha.
Em certos trechos, Musashi precisa passar por locais onde é preciso fazer saltos precisos vertical e horizontalmente, às vezes tendo que escapar de ataques de inimigos no processo.
Além disso, também há momentos de fuga que exigem um bom uso de salto e esquiva para chegar ao final sem ser atingido.
Os desafios de plataforma costumam ser os mais complicados, porém não chega a ser uma dificuldade frustrante, que exige perfeição do jogador. Apenas requer atenção para não cometer um deslize que atrapalhe demais o ritmo de Musashi. Travessias perfeitas só são exigidas em áreas secretas que podem ser descobertas em cada fase.
Acredito que parte da dificuldade também veio um pouco pelo cenário. A arte é muito agradável, mas, em certos momentos, existem muitos elementos na tela, alguns inclusive que te impedem de enxergar o personagem ou obstáculos à frente, que podem te fazer errar um salto ou não perceber um inimigo próximo.
Animações e arte com um estilo único
No entanto, mesmo que a arte às vezes possa trazer elementos demais, não há dúvida de que esse é um aspecto muito positivo do jogo.
O visual das animações lembra muito o Streets of Rage 4, da própria Lizardcube. A qualidade do trabalho em fazer cada movimento dos personagens ajuda a elevar o nível da jogabilidade, porque você tem clareza e sente o peso nos ataques e defesas, enquanto percebe a leveza e velocidade nos saltos e execuções.
Isso é especialmente importante nas lutas contra chefes, por serem momentos onde o jogador enfrentará um inimigo forte com alguns ataques que quase preenchem a tela em certos momentos. Portanto, essa fluidez, não só das animações como do próprio desempenho ótimo do jogo no Nintendo Switch, ajuda muito.
A ambientação ainda mantém o estilo da trilogia de mega drive, que varia cenários entre aspectos tradicionais e modernos, até fantasiosos. Existem templos antigos, metrópoles cyberpunk muito iluminadas, cenários urbanos comuns, vilas, montanhas sagradas, entre outros.
Um retorno triunfal de Joe Musashi
Shinobi: Art of Vengeance consegue resgatar a assinatura da franquia enquanto aplica uma jogabilidade moderna e fluida que destaca Musashi como um guerreiro imparável.
A história é um clássico arco de vingança que serve seu propósito de dar um tom de urgência e violência nos confrontos. O ritmo das lutas, tanto contra inimigos comuns como contra chefes, é viciante e te faz jogar sem nem ver o tempo passar.
Musashi não tem praticamente nenhuma participação nos poucos diálogos do jogo, porém o visual detalhado e fluido dos personagens e das cenas ajuda a compensar. No fim, ainda existem modos extras, itens cosméticos e áreas secretas desbloqueáveis que ajudam a trazer desafios mais pesados para quem deseja se testar ainda mais no jogo.
É uma experiência essencial para os fãs de Shinobi, pois honra o legado da série e abre espaço novamente para Joe Musashi se destacar entre as grandes franquias modernas da SEGA para um novo público.
Prós
- Fases bem trabalhadas com conteúdos secretos e cenários variados;
- Modos extras desbloqueáveis no final da campanha que conferem longevidade ao jogo;
- Ótimo desempenho no Switch, mesmo em cenários cheios de inimigos;
- Jogabilidade fluida que foca no sistema de execução, mas não é punitiva para jogadores que preferem o combate tradicional;
- Visual artístico de personagens e cenários que enriquecem a experiência.
Contras
- Musashi não tem falas durante os diálogos, o que acaba desperdiçando a chance de desenvolverem o personagem tão bem quanto os secundários;
- Em certos momentos de algumas fases, há informações demais no cenário e isso atrapalha a enxergar os inimigos e plataformas.
Shinobi: Art of Vengeance — Switch/PC/PS4/PS5/XBO/XSX — Nota: 9.5Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Alessandra Ribeiro
Análise feita com cópia digital cedida pela SEGA
















