Nos videogames, assim como outras mídias, também acontece de existirem certas ideias ou gêneros que, às vezes, podem acabar sumindo por um tempo, virar conteúdo de nicho ou até permanecerem esquecidos. Porém, essas mesmas ideias podem ser revisitadas e repensadas de modo que se encaixem nas capacidades da tecnologia atual, a famosa combinação de tradição e modernidade. Então, o que seria possível fazer, por exemplo, se alguém misturasse Golden Axe e Hades? O resultado é Absolum, que chega para ser um dos melhores beat ‘em ups da atualidade.
Escolha seu herói e parta para a aventura
O jogo começa querendo te colocar o mais rápido possível dentro da ação. Ao iniciar, o jogador já pode escolher entre dois dos quatro protagonistas: Galandra e Karl. Em seguida, o tutorial começa e os personagens indicam que o objetivo principal deles é atacar um comboio de prisioneiros.
Essa experiência inicial com o jogo é agradável. Os controles são simples, o que não significa que seja sem graça, mas sim direto ao ponto. Existe um ataque rápido e um forte, defesa e uma habilidade especial chamada de Arcana. As combinações entre os golpes são fluidas e isso permite entender bem a dinâmica dos combos.
Independentemente da sua escolha inicial, Galandra e Karl estarão juntos nesse primeiro estágio, sendo que o segundo personagem pode ser controlado por outro jogador ou pela IA. É uma boa abordagem, pois pude ver como ambos funcionam, quais ataques e movimentos cada um possui.
Salve as terras de Talamh
Mesmo com uma introdução mais “mão na massa”, Absolum foi desenvolvido pensando em ser um grande universo com muitas histórias para contar. Não é à toa que, mesmo antes do lançamento, já haviam confirmado que será feita uma animação do jogo no futuro.
A história fala de um mundo em decadência. Talamh é um local onde a magia um dia foi próspera, porém os magos ficaram cada vez mais ambiciosos na busca pelo poder, até causar um cataclismo na região.
Esse desastre foi a oportunidade para Azra, o Rei Sol, aproveitar-se da situação e tomar controle dos reinos. Agora, ele e sua Ordem Carmesim perseguem todos os usuários de magia.
Para evitar que o poder de Azra se acumule ainda mais, Galandra e Karl resgataram a alta feiticeira Uchawi para ajudá-los a convocar um grupo de rebeldes que use a magia proibida para desafiar o regime.
A construção desse universo é bastante interessante e dá para ver que os desenvolvedores querem expandir todas as ideias e personagens apresentados. O ritmo, porém, é meio inconsistente, já que em certos diálogos existem muitas menções de nomes, lugares e acontecimentos que o jogador nem terá visto até aquele ponto do jogo. Não chega a atrapalhar, mas seria bom ter alguma opção de reler certas explicações, especialmente após ter completado a história e ver como tudo se encaixa.
Esses detalhes são importantes não só para desenvolver a história como também para estabelecer o mundo do jogo e torná-lo ainda mais encantador a cada cenário.
Cada tentativa será uma nova aventura
Como mencionei no início da análise, Absolum é um beat ‘em up com muita inspiração em Golden Axe especificamente. Até mesmo aspectos de jogabilidade que eram assinatura do clássico da SEGA estão presentes, como a corrida seguida de um ataque e as montarias, que também incluem dragões.
No entanto, Absolum também é um roguelite, ou um rogue ‘em up como o estúdio tem chamado. E essa característica faz com que o fator replay não seja só um diferencial, mas uma prioridade.
Ao todo, existem quatro mapas; cada um terá uma série de caminhos distintos que o jogador pode escolher seguir. Isso significa que cada escolha pode apresentar novos cenários, inimigos, pedaços da história e missões.
Alguns beat ‘em ups das antigas também aplicavam ideias como variedade de caminhos, no entanto isso não costumava passar de um plano de fundo novo para o jogo, até pelas próprias limitações da época.
O que Absolum faz é entregar a sensação de progresso mesmo sem derrotar os chefes. Certos caminhos só aparecem após realizar missões ou pedir ajuda de algum NPC para atravessar um obstáculo. E cada lugar tem seu momento de diálogo com Uchawi para saber mais detalhes daquelas terras. Porém, mesmo que o jogador queira refazer os passos em todas as tentativas, ainda serão apresentadas mudanças nos inimigos ou nas melhorias dos personagens.
E essa estrutura roguelite é bem parecida com outros jogos do gênero. Existem recompensas que melhoram determinados atributos, habilidades e movimentos dos personagens, permitindo a criação de builds e estilos de jogabilidade únicos.
A variedade também está presente na jogabilidade de cada personagem. Além de Galandra e Karl, o jogador poderá desbloquear os personagens Cider e Brome. Em um resumo rápido, poderiam ser divididos entre os clássicos ataque médio, pesado, leve e mágico.
A maneira como cada personagem funciona tem a sua própria lógica. Por exemplo, Karl tem mais força, portanto consegue carregar inimigos e arremessá-los. Galandra e Brome podem agarrá-los para arremessar, mas não aguentam andar enquanto realizam essa ação. Já Cider nem sequer consegue tirá-los do chão, obrigando-se a somente imobilizá-los para atacar.
Cada melhoria que é possível receber no jogo pode tirar proveito de alguma das características dos personagens. E mesmo que a combinação não pareça muito intuitiva, como aumentar dano de combos aéreos jogando com Karl ou melhorar os contra-ataques de Cider, todas as builds me pareceram viáveis.
Ou quase todas, pois a mecânica de esquiva do jogo não pareceu boa com nenhum deles. Existe um incentivo muito maior por parte do jogo que você use o ato de correr para ir na direção do oponente, porque é dessa forma que é feita a defesa. Desviar seria usar o mesmo botão nas direções para cima e para baixo, mas nem sequer aparece no primeiro tutorial.
O que considero ter atrapalhado o uso dessa mecânica é que certos inimigos possuem um ataque em área, que não deixa claro qual é o alcance. Então, ao tentar desviar, eu acabava tomando dano, até que desisti de usar o desvio e tentei focar na defesa.
Trilha sonora renomada e bem utilizada
Além de um visual detalhado e animações fluidas, os efeitos sonoros são um complemento indispensável. Na própria jogabilidade, conseguir distinguir o som de cada ataque e o nível dos combos te ajuda a ter um bom controle da situação mesmo em cenários cheios de inimigos.
E com relação à trilha, tanto os cenários como as lutas de chefes entregam músicas que elevam a ação do jogo.
Boa parte da trilha sonora foi composta por Gareth Coker, responsável pelas músicas de jogos como Ori and the Blind Forest. Além dele, houveram duas participações especiais de compositores que trabalharam cada um em uma das batalhas contra chefes. São eles Yuka Kitamura, compositora da série Dark Souls, e Mick Gordon, que trabalhou nos jogos Doom (2016) e Doom Eternal.
Conteúdo variado e extenso
As várias formas que Absolum permite ser jogado dá uma sobrevida agradável ao jogo. Além das melhorias aleatórias apresentadas ao longo de cada cenário, também existem melhorias fixas, Arcanas desbloqueáveis, combinações de elementos e mais. É um arsenal bem extenso, pois, mesmo depois de zerar, eu ainda não havia conseguido ver todas as opções disponíveis no jogo.
Mesmo considerando somente o primeiro mapa, demorou até que eu conseguisse desbloquear todas as passagens. Ainda assim, não sentia que o jogo estava repetitivo ao passar por elas novamente.
E para quem já explorou tudo e chegou até o fim, existem novidades que somente são liberadas após o zeramento, gerando aquele fator replay que poucos beat ‘em ups são capazes, com horas de conteúdo muito bem-vindas.
Um beat ‘em up moderno e exemplar
Absolum é uma experiência que honra suas raízes sem se prender às limitações do passado. O jogo consegue a proeza de capturar a essência pura e divertida de beat ‘em ups clássicos, e infundir nela a profundidade e a rejogabilidade dos roguelites modernos.
A combinação de uma jogabilidade fluida e direta com um sistema de progressão persistente e a construção de personagens e mundo gera um ciclo viciante de tentativa e erro. Apesar de pequenos deslizes, como a mecânica de esquiva subutilizada e um ritmo narrativo um pouco inconsistente, a fundação é extremamente sólida e não há como não recomendar e esperar que ele sirva de exemplo para o cenário atual do gênero.
Absolum se estabelece não somente como uma grande homenagem, mas como um dos beat 'em ups mais robustos e viciantes dos últimos tempos.
Prós
- Personagens com estilos de jogabilidade únicos e bastante opções de habilidades especiais;
- Visual detalhado e animações fluidas;
- Mapas bem conectados com diversas opções de caminhos, permitindo que cada tentativa tenha a sensação de algo novo;
- Combate ágil e responsivo, deixando o jogador em pleno controle do personagem;
- Universo interessante que procura instigar o público a querer saber mais sobre ele;
- Sistema de missões e progressão de história que incentivam o jogador a refazer certos caminhos;
- Trilha sonora grandiosa com nomes marcantes do cenário de videogames;
- Novos conteúdos após zeramento para quem deseja continuar se desafiando.
Contras
- Mecânica de esquiva não é muito boa;
- Às vezes, o jogo apresenta informações demais sobre o universo dele em um tempo muito curto.
Absolum — Switch/PC/PS4/PS5 — Nota: 10Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Alessandra Ribeiro
Análise feita com cópia digital cedida pela Dotemu













