Em uma indústria que frequentemente busca impacto imediato, Trails in the Sky 1st Chapter se ergue como um testemunho do poder de uma narrativa paciente e do desenvolvimento gradual de personagens. Este remake do título seminal da Nihon Falcom não é apenas uma simples atualização visual, mas a apresentação definitiva da fundação da aclamada série Trails. Sua história centra-se em Estelle Bright e Joshua Bright, dois jovens que aspiram se tornar Bracers: guerreiros de uma guilda internacional dedicada a manter a paz e ajudar os cidadãos do Reino de Liberl.
Uma jornada humana num mundo fantástico
A premissa é enganosamente simples: acompanhamos a dupla em seus primeiros passos como novatos, realizando missões que, inicialmente, parecem locais e desconectadas. Esta abordagem permite que o jogador explore o reino de Liberl no mesmo ritmo que os protagonistas, aprendendo sobre sua geografia, política e pessoas de forma orgânica. A jornada é menos sobre salvar o mundo imediatamente e mais sobre entender o que vale a pena ser protegido nele.
A narrativa de Trails in the Sky 1st Chapter é intencionalmente lenta, um aspecto que define sua identidade. No entanto, esta não é uma lentidão arrastada; é um passeio deliberado. O jogo não tem pressa em chegar a um clímax apocalíptico, preferindo construir seu mundo e personagens com um cuidado meticuloso. Você sente que está "apreciando a paisagem" ao lado de Estelle e Joshua, e essa conexão tranquila é o que torna os momentos dramáticos posteriores tão impactantes.
Estratégia além dos turnos
O sistema de batalha do 1st Chapter é um dos seus pilares mais sólidos, encontrando um equilíbrio excepcional entre fluidez e profundidade tática. Para pular combates irrelevantes, o jogo introduz um mecanismo brilhante: inimigos cinco níveis abaixo do grupo recebem o dobro de dano e têm maior chance de serem atordoados. Este design evita a sensação de "passar o trator" pelos inimigos, pois você ainda precisa engajar no combate, mas o resolve com uma eficiência estratégica e satisfatória.
Porém a transição entre a exploração em tempo real e o combate por turnos é a grande joia do título. A capacidade de atacar inimigos no campo de forma livre permite táticas prévias ao combate, como eliminar alvos mais vulneráveis a golpes físicos antes mesmo de iniciar a sequência de turnos. Isso cria uma camada estratégica em que o jogador pode decidir lidar com ameaças específicas, aquelas que exigem magias, por exemplo, já dentro do sistema de turnos, que é mais tático e controlado.
Personagens que respiram não só na trama principal
Até mesmo as infames missões de escolta, um ponto de irritação crônica não só em muitos RPGs mas nos games em geral, são executadas com notável competência aqui. Os NPCs que você protege não são inúteis, pois o jogo fornece ferramentas para sua defesa. Habilidades passivas de proteção entram em ação, e é possível prever a intenção dos monstros de atacar seus acompanhantes, permitindo que você os intercepte e elimine antes que se tornem um problema. É um design que desafia, mas respeita a inteligência do jogador.
Um dos charmes mais memoráveis do jogo são os diálogos dinâmicos que ocorrem durante a exploração. Essas interações espontâneas, acionadas ao se aproximar de certos pontos no mapa, são essenciais para dar profundidade ao elenco. Elas revelam nuances, piadas internas e vulnerabilidades dos personagens, sendo tão cativantes que frequentemente justificam pausar o progresso da história apenas para absorver cada pedaço de diálogo.
Beleza no conjunto, imperfeição nos detalhes
Apesar de suas qualidades narrativas e de jogabilidade, o 1st Chapter não está imune a críticas visuais, especialmente considerando sua natureza de remake. A mais notável é a falta de variedade visual nas armas. Equipar uma nova espada ou bastão altera apenas os status, não a aparência do personagem. Embora seja compreensível que acessórios e armaduras não mudem (devido à simplicidade visual dos modelos), a ausência de armas com aparência modificável é uma oportunidade perdida para satisfação e customização.
Outro ponto que se destaca negativamente é o design dos NPCs idosos. Seus modelos são notavelmente genéricos e pouco polidos, especialmente em contraste com o carinho dado aos protagonistas. Embora seja irreal esperar modelos únicos para todos, um pouco mais de variedade e refinamento para os habitantes mais velhos teria enriquecido significativamente a imersão no mundo de Liberl.
O início de algo maior
A combinação de um combate estratégico e envolvente com uma narrativa focada em personagens resulta em uma experiência profundamente cativante. A lentidão da história, longe de ser um defeito, é sua virtude central, permitindo que cada desenvolvimento emocional e reviravolta na trama ressoe com uma força rara. Você se importa genuinamente com o crescimento de Estelle e Joshua porque testemunhou cada passo de sua jornada.
Em conclusão, Trails in the Sky 1st Chapter é mais do que um jogo; é a fundação meticulosamente construída de um dos universos mais detalhados dos RPGs modernos. Este remake oferece a melhor maneira de experimentar o início da saga. Suas falhas visuais são pequenas manchas em um quadro magnífico, facilmente superadas pela força de seu coração narrativo. É uma experiência para ser saboreada, não devorada, e uma introdução indispensável para uma das séries mais queridas e interconectadas do gênero.
Prós
- Equilíbrio entre combate tático em turnos e mecanismos que agilizam encontros;
- Ritmo lento que convida o jogador a se conectar com o mundo e os personagens;
- Mundo vivo e orgânico
Contras
- Customização visual limitada;
- Design pouco polido para NPCs, especialmente os idosos.
Trails in the Sky 1st Chapter — PC/PS5/Switch/Switch 2 — Nota: 10Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Beatriz Castro
Análise produzida com cópia digital cedida pela GungHo






