A queda e a reconstrução de Bolalônia
Bolalônia caiu. Sim, o império máximo do universo de BALL x PIT foi atingido por um meteoro e terminou completamente destruído, restando somente uma enorme cratera onde, um dia, o grande reino se estabeleceu.
Porém, do completo caos sempre pode surgir algo positivo. Logo, agora está em suas mãos construir a Nova Bolalônia, descendo cautelosamente pelo poço formado pelo meteoro para explorar e coletar recursos. Dessa forma, será possível reerguer as construções que, outrora, deram vida à antiga cidade.
Com sorte, tais edificações atrairão novos moradores, capazes de ajudá-lo a consertar o elevador que permite chegar a lugares cada vez mais fundos dentro da cratera. Tudo certo para a missão? Então, ajeite suas esferas, pois é hora de começar a dispará-las sem piedade nos inimigos.
Chegando no fundo do poço
BALL x PIT é um título cuja jogabilidade é melhor descrita quando dividida em duas metades. Na primeira — que são as partidas de fato —, descemos a enorme cratera onde um dia existiu Bolalônia para explorar e coletar recursos, disparando esferas para derrotar os inimigos que continuam a surgir em estágios de progressão vertical.
Tais esferas podem ser disparadas automaticamente ou não (ficando à escolha do jogador definir o modo de disparo), mas sempre ricochetearão nas paredes e nos inimigos, caso seja possível. Essa característica faz com que o ato de mirar seja muito importante, pois uma esfera bem atirada pode percorrer sozinha todo o campo de batalha, causando dano a vários inimigos sucessivamente.
Se as coisas começam simples nas primeiras partidas, não demora muito para a ação tomar conta das cenas: conforme o jogador progride, mais inimigos vão surgindo até que a tela seja quase completamente ocupada. Conseguir derrotá-los, porém, rende a possibilidade de upgrades tanto para o personagem quanto para seus projéteis, e é aí que BALL x PIT começa a revelar sua intrigante genialidade.
Oras, bolas
Pois é: há dezenas de esferas especiais em BALL x PIT, sendo que algumas só podem ser obtidas ao combinar duas ou três esferas mais simples, enquanto outras, ainda mais poderosas, precisam ser formadas a partir dessas combinações iniciais.
Considerando que cada personagem começa a partida com uma esfera especial (as demais são obtidas ao coletar os upgrades no campo de batalha), e um máximo de quatro bolas pode constar no inventário por partida, é imprescindível escolher bem os projéteis e saber quando fundi-los, ou não.
Por exemplo: esferas de sangramento podem causar dano contínuo aos inimigos uma vez que os tenham acertado, enquanto as esferas de gelo causam dano e paralisam os oponentes por alguns segundos. Dependendo do andamento da partida, pode ser melhor para o jogador combinar as duas em um único projétil mais potente, ou manter ambas separadas e investir em outras combinações, quando elas ficarem disponíveis.
Junte a isso a aleatoriedade esperada de um roguelite, habilidades passivas temporárias e diferentes personagens desbloqueáveis (cada um com uma esfera inicial própria e outras particularidades) e você tem em mãos uma fórmula altamente viciante, em que mesmo o eventual fracasso se torna um incentivo para tentar novamente e explorar novas combinações durante as partidas.
Tudo isso, claro, é ajudado pelo fato de que as runs podem se tornar quase hipnóticas. Em média, um estágio dura mais ou menos 15 minutos para ser completado, tempo suficiente para sediar um verdadeiro espetáculo visual em seus momentos finais, com dezenas de inimigos e esferas ricocheteando em sequências ágeis, de tirar o fôlego. Por fim, chefes e minichefes obrigatórios em cada fase selam o pacote, apimentando o desafio e obrigando o jogador a provar suas habilidades quando surgem na tela.
Bolalônia Tycoon
Mas lembra que eu disse que BALL x PIT era um jogo de duas metades? Pois é, após cada partida, você retornará ao mapa e terá a chance de edificar livremente a sua Nova Bolalônia, graças aos diagramas de construções encontrados e aos recursos — como madeira, trigo e pedras — coletados.
A dinâmica de base-building é interessante, principalmente porque as construções disponíveis ou rendem novos personagens jogáveis ou rendem melhorias gerais, como bônus na velocidade de disparo e na vida máxima dos protagonistas. No entanto, ela também acaba expondo aquele que, na minha visão, é o grande defeito do jogo.
Trata-se do grinding generalizado: infelizmente, com a escassez de recursos, não demora muito para perceber que, para fazer uma cidade próxima à exibida nos trailers, será preciso dezenas e mais dezenas de horas jogadas (sem exagero). Isso porque, para criar o que quer que seja, não basta ter os materiais necessários (que já são difíceis de acumular por si só), é preciso arremessar os personagens nos tais canteiros de obra, simulando toscamente o ato de construção.
Para piorar a situação, há um cooldown escondido de, no mínimo, oito minutos para poder arremessar os bonecos e construir algo novamente. Ou seja, ou você joga novamente uma partida no poço, ou você deixa o Switch ligado com o mapa aberto, esperando. Ambas as situações passam longe do ideal, então confesso que me esforcei, mas não consegui até agora entender o motivo de impor uma restrição desse tipo ao jogador.
Na prática, o resultado é que a alegria de encontrar diagramas nas partidas e desbloquear novidades é imediatamente ofuscada pela lembrança de que tudo dará muito trabalho para ser propriamente erguido. Para piorar, graças ao sistema de nível individual, os novos personagens (são 16 ao todo), quando liberados, chegam fracos em comparação aos que já estão sendo usados há mais tempo, obrigando o jogador a repetir partidas para ser capaz de usá-los nos níveis mais difíceis do poço.
Para ser justo, é bem verdade que, com o avanço na campanha, é possível desbloquear construções que reduzem parcialmente o grinding por materiais, como fazendas que colhem trigo automaticamente a cada seis minutos ou casas que colhem madeira de espaços adjacentes a cada nove minutos.
Mas, a essa altura, é mais fácil o jogador já ter deixado o sonho da Nova Bolalônia para trás, focando somente nas partidas em si, com uma construção esporádica aqui e outra acolá. Uma pena, pois é difícil não pensar em todo o potencial desperdiçado; a verdade é que a dinâmica de construção de base poderia ser bem mais divertida do que aquilo que foi entregue.
Olha a bola!
Voltando para os pontos positivos, é preciso mencionar que BALL x PIT tem o grande mérito de ser original e não um quebra-blocos qualquer. Mesmo promovendo uma verdadeira salada mista de gêneros — a forma como as esferas se comportam após vários upgrades lembra muito um bullet heaven, e a influência de Vampire Survivors é visível —, temos aqui um jogo bastante coeso. Logo, se você, como eu, aprecia roguelites e não se incomoda tanto com a repetição que acaba sendo um pouco característica do gênero, a diversão é garantida (uma pena que o grinding desregulado exacerbe esse caráter repetitivo, porém).
Felizmente, não há problemas de performance no Switch, e ressalto que este é um ótimo jogo para se jogar no modo portátil do console, graças às partidas rápidas (há ainda um modo reduzido, que encurta a duração dos estágios para mais ou menos dez minutos). Outra boa notícia para os nintendistas é que um upgrade gratuito para o Switch 2 está nos planos dos desenvolvedores, então comprando BALL x PIT, você terá acesso às duas versões, de Switch e Switch 2, sem custo adicional.
Por fim, embora a narrativa não seja muito desenvolvida, o título está localizado em PT-BR, o que ajuda bastante na compreensão dos efeitos de cada esfera, habilidade passiva e construção. Só devo mencionar a trilha sonora genérica — vale preparar uma playlist alternativa, pois embora a sonoplastia seja de alto nível no que tange às explosões das esferas, este é um bom título para se jogar enquanto se ouve outra coisa.
Sim, há luz — e ela brilha — no fundo do poço
BALL x PIT encanta principalmente por sua originalidade; misturar gêneros é sempre uma decisão arriscada no mundo dos games, mas Kenny Sun e a Devolver Digital provaram com sua obra que disparar esferas e quebrar blocos pode ser, sim, extremamente viciante e envolvente, além de uma experiência hipnotizante quando todas as suas peças se encaixam.
No fim, mesmo os deslizes em relação ao grinding e o caráter repetitivo do título não são o suficiente para impedir uma recomendação generosa. BALL x PIT merece figurar na biblioteca de todo nintendista que aprecia roguelites criativos e jogos que pensam fora da caixa. A verdade é que há luz no fundo do poço — e vale a pena lutar para encontrá-la.
Prós
- Entrega uma verdadeira salada mista de gêneros, que surpreendentemente funciona na prática, provando que ideias originais sempre terão seu valor;
- Uma vez que a proposta é entendida, prova-se um jogo altamente viciante;
- Bom número de combinações e segredos, como esferas especiais e personagens desbloqueáveis, impulsionam o fator replay;
- Ótima performance no Switch, com promessa de upgrade gratuito para o Switch 2, quando a versão para o console mais moderno for lançada;
- Localizado em português brasileiro.
Contras
- O grinding constante permeia negativamente a experiência, ofuscando parcialmente o brilho do jogo;
- Mesmo com as várias combinações possíveis em combate e os vários personagens à disposição do jogador, não está imune à sensação de repetição, que acaba potencializada pelo grinding citado acima;
- A mecânica de ter que arremessar os habitantes para terminar as construções na cidade é incômoda, falhando em justificar sua inclusão;
- Trilha sonora genérica e esquecível.
BALL x PIT — PC/PS5/XSX/Switch — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Vitor Tibério
Análise produzida com cópia digital cedida pela Devolver Digital













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