Explorando valiosas relíquias do passado
No universo sci-fi de Battle Suit Aces, seguimos a jornada de Heathcliff, um talentoso engenheiro responsável pela manutenção das ferramentas popularmente conhecidas como “Suits”: robôs gigantes, controlados individualmente por pilotos capacitados para tal.
No início da campanha, Heathcliff está particularmente feliz devido a uma importante conquista pessoal. Porém, a alegria dura muito pouco, pois, durante uma missão espacial de rotina, ele e seu companheiro de trabalho (o habilidoso piloto de testes Felix) testemunham um violento atentado alienígena à estação em que trabalham.
Após escaparem por muito pouco, a tragédia obriga os dois profissionais a fazerem um pouso forçado em um planeta próximo. Mas, como do caos sempre pode surgir algo positivo, a aterrissagem os leva a encontrar algo com potencial de mudar toda a trajetória da humanidade: uma Relic Suit — um robô pilotável criado pela antiga, hoje extinta, civilização Pholian.
A tecnologia ímpar e o grande poder da relíquia do passado em comparação com os mechas criados pela humanidade surge como um raio de esperança para todos, principalmente frente à crescente incidência dos Frenzied Attacks: ataques alienígenas que têm se dado em todo o Cosmos, dizimando vidas onde ocorrem.
Graças à descoberta ancestral, Heathcliff e Felix são então convocados a liderar uma tripulação escolhida a dedo em uma missão especial. O objetivo? Encontrar outras Relic Suits, para assim eliminar, de uma vez por todas, os perigosos enxames alienígenas. Pronto para ajudá-los nessa tarefa?
Todos a postos, é hora de batalhar!
Na prática, Battle Suit Aces une estratégia em turnos com construção de baralhos (deckbuilding). Na missão espacial liderada por Heathcliff, cada piloto que compõe a tripulação da nave — chamada de USS Zephyr — tem uma carta com suas próprias particularidades, como custo para atacar e dano, sendo que algumas ainda possuem habilidades especiais, como um escudo.
Conforme a campanha e a história avançam, engajamos em vários conflitos contra diferentes ameaças alienígenas e humanas, sendo que as batalhas sempre se dão em um campo de cinco contra cinco (5x5). A cada novo turno, é possível escolher uma das cartas sacadas do baralho em sua posse para entrar em uma das cinco posições do campo, além de usar ações de acordo com a energia armazenada.
Mais importante do que derrotar todos os inimigos do tabuleiro virtual, porém, é derrotar o adversário em si, que pode ser desde uma nave espacial até um chefe mitológico, como uma hidra ou outra criatura fantástica. Nesse quesito, a verdade é que Battle Suit Aces acaba lembrando outro jogo de cartas muito famoso: Yu-Gi-Oh. Isso porque tanto você quanto o oponente possuem pontos de vida visíveis, e o vencedor é quem faz os pontos do rival chegarem a zero primeiro.
Para isso, é imprescindível atacar diretamente o inimigo, o que é possível em espaços do tabuleiro onde não há cartas, nem escudos. Naturalmente, essa condição cria uma dinâmica muito interessante e expande as possibilidades estratégicas de cada batalha, impedindo que dois conflitos sejam exatamente iguais e aumentando a diversão envolvida.
Por exemplo, digamos que um adversário só possui cartas na metade à direita do seu campo. Se você, notando isso, focar seus ataques somente no lado esquerdo, provavelmente encerrará o confronto sem precisar destruir uma única carta inimiga. Porém, como o contrário também se aplica, é fundamental buscar equilíbrio no posicionamento e saber quando atacar e quando se defender, inclusive usando os mechas à disposição como escudos vivos, se preciso.
Junte a tudo isso habilidades especiais (algumas cartas conseguem atacar vários espaços ao mesmo tempo, enquanto outras dão mais poder aos companheiros assim que são colocadas em jogo, por exemplo), mods que podem ser confeccionados na oficina da nave com os recursos obtidos após cada batalha, mais oponentes e desafios de crescente complexidade, e temos a receita para uma fórmula de sucesso.
O único problema é que, dada a originalidade do sistema de combate, inicialmente, as mecânicas e descrições podem parecer um pouco confusas até mesmo para os veteranos do gênero. Porém, se você é daqueles que gostam de “quebrar a cabeça” para escolher a melhor jogada em cada turno, vale a pena exercitar a paciência e enfrentar a curva de aprendizado — e a presença de três níveis distintos de dificuldade para a campanha garante uma experiência que transita do fácil ao desafiador de acordo com a vontade do jogador.
Agora, uma pergunta séria: há como não gostar da junção de anime e mechas?
Além do combate, outro destaque positivo de Battle Suit Aces é a história ou, mais especificamente, as interações entre os personagens que ocorrem no decorrer dela. Isso porque cada um dos tripulantes da USS Zephyr é bastante carismático e embora alguns estereótipos previsíveis se façam presentes aqui e acolá (e no início a trama pareça um pouco desarranjada, com vários termos próprios e informações sendo introduzidas de forma um pouco abrupta), vale a pena persistir e conferir os diálogos e as cenas características de RPG entre as batalhas.
Conforme o jogador ganha confrontos e avança na campanha, torna-se possível recrutar novos personagens para a missão, fazendo com que tanto o baralho de jogo quanto a base de operações melhorem juntos. Alguns episódios especiais, focados nas interações do time, também são liberados no mapa quando se completam requisitos específicos em batalha — uma grata surpresa e, juntamente com as já citadas opções de dificuldade, um incentivo ao fator replay.
No mais, devo dizer que a dinâmica de observar as relações que se formam ou se aprimoram em tempos de crise acabou me lembrando um pouco as franquias Persona e Fire Emblem em sua condução — uma impressão sem dúvidas favorecida pela estética anime de alto padrão escolhida pelos desenvolvedores. Aliás, graças às artes detalhadas e à temática de mechas, devo dizer que Battle Suit Aces lembra bastante obras como Mobile Suit Gundam (1979) e Neon Genesis Evangelion (1995), o que deve agradar particularmente os entusiastas dessas criações e de outros animes similares.
Tudo isso é complementado pela excelente dublagem e por uma performance tecnicamente impecável no Switch. Inclusive, a versatilidade do console da Nintendo combina bastante com a jogabilidade do título; é bem agradável conferir as interações sociais ou avançar alguns turnos dos confrontos no modo portátil, sabendo que a jogatina na TV também estará lá à disposição quando assim desejarmos.
O único porém aqui é a ausência de localização em português brasileiro: é necessário dominar inglês ou outro idioma suportado para entender 100% da narrativa e dos diálogos. Considerando que cada vez mais desenvolvedores independentes têm feito esforços para localizar os títulos para o nosso idioma, fica a sugestão e a esperança de que o Trinket Studios faça o mesmo em breve; o público brasileiro certamente agradeceria.
Uma grata surpresa, digna de suas ambições espaciais
Sendo muito sincero, Battle Suit Aces logo se tornou um dos meus jogos favoritos de 2025. Apoiada no carisma dos seus personagens, esta jornada espacial prova que a aposta de unir cartas, mechas e RPG foi acertada, resultando em uma obra divertida e viciante que, tanto pelas interações virtuais quanto pelos combates estratégicos, merece ser vivenciada no Switch. No fim, então, a conclusão é uma só: vale a pena escutar o chamado da Segunda Voz e embarcar nesta aventura intergaláctica em busca das Relic Suits. Nós nos vemos a bordo da USS Zephyr?
Prós
- Apresenta um elenco de personagens bastante carismático, com uma história sci-fi envolvente e boa dinâmica de interações e recrutamento para o time;
- O sistema de batalha com cartas e no formato 5x5 se prova divertido e desafiador, com várias possibilidades estratégicas garantindo que nenhum conflito será 100% igual ao anterior;
- A presença de três opções de dificuldade garante desafio para os veteranos, mas também acolhe quem só quer conferir a narrativa sem muita dor de cabeça no processo;
- Estética anime de alto padrão e performance impecável no Switch elevam o valor da experiência.
Contras
- Inicialmente, a história pode parecer um pouco desarranjada, com muitos termos próprios e informações sendo introduzidas de forma abrupta;
- Dada a originalidade do sistema de combate, é preciso um pouco de tempo e paciência para se acostumar com as mecânicas e efeitos;
- Ausência de localização em PT-BR.
Battle Suit Aces — PC/Switch/PS5 — Nota: 9.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Beatriz Castro
Análise produzida com cópia digital cedida pelo Trinket Studios









