Com Pokémon Legends: Z-A no horizonte, teremos a oportunidade de voltar à região apresentada na sexta geração, Kalos. Nem parece, mas isso foi em 2013. Se alguém me perguntar algo de 12 anos atrás, meu cérebro automaticamente posiciona o ano de 2003, não 2013.
As versões X e Y foram um grande marco na história da franquia ao migrarem do universo 2D para o plano tridimensional, inaugurando assim uma nova fase dos monstrinhos de bolso. Esse novo capítulo trouxe consigo uma das mecânicas mais aclamadas pela comunidade: a Megaevolução.
Isso ajudou a não só revigorar os Pokémon como também adicionar uma camada extra de estratégia e game design. Tivemos também a inclusão do sistema de Affection por meio do Pokémon Amie, um novo recurso de interação entre o jogador e seus Pokémon.
Pensando nisso, separamos algumas curiosidades sobre a sexta geração e também para relembrar as mecânicas deste universo. Boa leitura!
Lançamento Global
Até a quinta geração, os jogos de Pokémon eram lançados primeiro no Japão para depois chegarem aos Estados Unidos e, por fim, à Europa. Nas semanas anteriores ao lançamento e alguns dias após, fotos vazadas da revista CoroCoro ou pela internet acabavam “estragando a surpresa”.
Antigamente, a tecnologia dos portáteis da Nintendo não era capaz de acessar a internet para baixar um jogo do tamanho de Pokémon. Desse modo, milhares de cópias físicas eram produzidas para atender a essa demanda.
A tradução do jogo também era importantíssima no processo, pois expressões, movimentos e mecânicas em geral precisaram ser adaptadas para a versão do país em questão. Inclusive, o excelente trabalho da equipe francesa serviu como uma das motivações de Masuda para criar um jogo inspirado em um país europeu.
Com as versões X/Y, foi tudo diferente: o lançamento ocorreu de forma global no dia 12 de outubro de 2013, que, para nós brasileiros, é o famoso Dia das crianças. Lembro-me de nesse dia me sentir como uma ao iniciar minha cópia da versão X.
Desse modo, os jogadores não sabiam o que esperar, já que todos seguiam o mesmo ponto de partida. No dia do lançamento, passei perto da antiga FNAC e a fila estava imensa, dobrando quarteirões. Quando cheguei em casa, notei um pacote em cima da minha cama, e, ao abrir, lá estava ele, o tão esperado cartucho de 3DS adquirido na pré-venda.
Essa atitude estabeleceu um novo padrão na franquia, e desde então, todas as versões foram lançadas globalmente. Ainda assim, mesmo que os países do oriente, como Japão e Austrália, tenham acesso “antecipado” em virtude do fuso, o restante do mundo não terá um grande atraso como no passado.
X, Y e… Z?
As letras X e Y, na matemática, são coordenadas que formam um eixo e que, em algum momento, se encontram. Isso está relacionado diretamente a um dos temas da sexta geração, que será abordado no próximo tópico.
Agora, o X da questão (piada intencional) é que o plano tridimensional é composto também pelo eixo Z. Três dimensões. Nintendo 3DS. Entendeu? Tudo foi minuciosamente planejado para ir ao encontro do portátil de duas telas da Big N capaz de reproduzir imagens em 3D sem a necessidade dos óculos especiais.
Na época, era uma coisa fora da caixa. Vale lembrar que a tecnologia avança a cada segundo. Porém, quando paramos para analisar, há 12 anos era o ápice, ainda mais para um console portátil. Xerneas, Yveltal e Zygarde são os três Pokémon lendários que possuem as iniciais com as letras do plano tridimensional.
Beleza, laços e evolução
Essas três palavras foram usadas pelo então diretor da Game Freak, Junichi Masuda, para descrever o que a sexta geração representa para a franquia. Para organizar melhor as ideias, separamos em tópicos com uma breve explicação:
- Beleza: o termo que dá nome à região, Kalos, é uma palavra grega (kállos) que, literalmente, significa beleza. Esse termo é o principal slogan da equipe vilã, o Team Flare, que busca um mundo belo à sua imagem;
- Laços: os eixos X e Y possuem uma direção, e em um dado momento, se cruzarão. Nesse ponto de intersecção ocorre a conexão entre os eixos, ou seja, ainda que cada um esteja seguindo o seu próprio caminho, eventualmente estarão no mesmo ponto;
- Evolução: o salto técnico entre o Nintendo DS e o 3DS é o principal fator de motivação, sem contar que o portátil tridimensional pode ser considerado uma “Megaevolução” do DS, pois, em suma, mantém-se a essência de duas telas, uma delas sensível ao toque, no entanto, com um toque a mais.
Kalos ou Kanto?
Quando o assunto são os jogos de Pokémon, dificilmente alguma versão conseguirá superar o que foi feito em Red/Blue. A cada nova geração, certos elementos desses jogos são adaptados para a época em que se encontram e, com isso, ativam o fator nostalgia dos fãs antigos e podem cativar novos jogadores.
Analisamos os elementos em comum entre as versões e identificamos diversos pontos herdados da primeira geração, são eles:
- Na Route 1, o primeiro encontro de Pokémon selvagem está fixado para ser um Pidgey;
- Logo após a segunda cidade, Aquacorde, há a Santalune Forest, uma floresta densa e com probabilidade de encontrarmos Pikachu. A saída dessa floresta é na cidade do primeiro ginásio (Santalune), assim como a Viridian Forest e a cidade de Pewter;
- Em Riviere Walk, há um Snorlax dormindo e bloqueando a passagem. Para acordá-lo, é necessário obter o item Poké Flute;
- A base de operações do Team Flare é disfarçada por um estabelecimento comercial, o Lysandre Café, assim como o Team Rocket no cassino em Celadon;
- Há uma fábrica de Pokéball próximo do que seria o sexto ginásio na ordem cronológica de desafios. Em Saffron, há a Silph Co., e em Kalos, a Pokéball Factory. Ambas são alvos das organizações criminosas de suas respectivas regiões;
- O acesso à Victory Road está localizado em uma cidade visitada nos instantes iniciais da aventura, e que, após a obtenção das oito insígnias, permite o avanço para a caverna da liga;
Adicionalmente, além dos iniciais de Kalos, podemos obter durante a aventura um dos integrantes do trio de Pokémon iniciais da primeira geração.
Os melhores perfumes
A França é conhecida por produzir os melhores perfumes de nosso planeta, logo, é natural que nas versões X/Y haja uma relação direta com essa qualidade. E é por isso que adoro essa franquia: os detalhes são meticulosamente pensados para ir ao encontro da temática. Não entendeu? A gente explica!
Cada cidade possui um nome característico, e o padrão para essa definição caminha lado a lado com origem e inspiração para uma determinada região. Em Kanto, por exemplo, as cidades possuem nomes de uma paleta de cores.
Em Kalos, esse padrão se manteve, pois a grande maioria das cidades está relacionada com ingredientes que compõem um perfume. Abaixo, segue a relação de cidades e suas inspirações:
- Vaniville Town: A primeira cidade do jogo é basicamente a palavra Vanilla (Baunilha), uma espécie de flor orquídea muito usada como aromatizante artificial. Originária do México, a planta é comumente usada para atribuir o aroma próximo ao caramelo;
- Aquacorde Town: todo perfume possui água em sua composição para que possa se tornar um aerosol, e o nome dessa cidade é uma referência à palavra água nos idiomas francês, inglês e alemão;
- Santalune City: o nome dessa cidade é baseado na planta chamada sândalo, que possui aroma amadeirado e suave. Na Índia, é considerada como uma flor sagrada e é usada para alcançar a harmonia espiritual;
- Camphrier Town: tradução literal da cânfora, flor usada no meio medicinal para alívio de dores musculares e para as articulações. Nos perfumes, ressalta a sensação de frescor de suas fragrâncias;
- Cyllage City: o termo “silagem” é uma das qualidades mais importantes de um perfume. Essa palavra descreve o quão forte é o “rastro” deixado por um perfume. Durante minhas pesquisas sobre o tema, descobri que a palavra sillage é rastro e francês;
- Ambrette Town: tradução literal da flor ambreta (almíscar), outra de origem indiana com aroma doce, envolvente e toques frutados, além de ser usado para aumentar o tempo de fixação dos perfumes em nossa pele;
- Shalour City: conhecida também como shorea, esta flor é a inspiração para marcas famosas de perfumes, como Home by Shala. Ainda, o termo “shala” significa exalar, no sentido de transmitir uma sensação específica, e geralmente é associado ao luxo;
- Coumarine City: cumarina é uma substância aromática encontrada em diversas plantas e seu aroma é bem similar ao da baunilha. Outro detalhe importante — a cidade de Coumarine é litorânea. Em português, o termo “marina” é usado para indicar o local onde são estacionados os barcos e, além disso, é o nome da minha filha!
- Laverre City: inspiração total na flor de lavanda. Seu aroma passa uma sensação de tranquilidade, calma e serenidade. Os perfumes de lavanda possuem aroma suave e promovem o bem-estar do ambiente;
- Anistar City: combinação das palavras que formam o anis estrelado, uma flor aromática e doce, bem próxima do alcaçuz. Promove a intensidade de um perfume em virtude do Anetol;
- Couriway Town: inspiração da flor de alcaravia, de aroma quente, apimentado e com um toque leve de casca de laranja, logo, também é refrescante. Na culinária, a flor é a origem do cominho, amplamente usado para saborizar salgados;
- Kiloude City: o nome dessa cidade está ligado à flor de ágar, um dos ingredientes mais cobiçados e caros da indústria de perfumes. Seu aroma amadeirado e picante é considerado um dos mais luxuosos do mundo, segundo o portal Fragrantica;
Vilania profunda
Kalos é uma região muito ligada à tecnologia. Para facilitar a interação entre as pessoas, o Team Flare desenvolveu o Holo Caster, um sistema de comunicação via holograma. Durante o jogo, somos acionados diversas vezes pelo aplicativo, seja para informações pertinentes à história ou para um simples desafio.
No entanto, há um significado mais obscuro por trás disso: o objetivo da equipe é destruir a região de Kalos utilizando a Ultimate Weapon e reconstruí-la à imagem de seu líder, Lysandre. Para isso, monitora as conversas das pessoas por meio de seu aplicativo para identificar pontos de interesse.
Um outro detalhe interessante, que pode ter relação com a ferramenta, é o Holocausto, o maior genocídio da história da humanidade ocorrido durante a Segunda Guerra Mundial. Embora não haja uma fonte oficial para confirmar essa teoria, a pronúncia das duas palavras, Holo Caster e Holocaust (em inglês) é similar.
Se considerarmos o objetivo do Team Flare com o evento real, há, de certa forma, uma relação entre os dois. E como a finalidade do sistema é a espionagem, faz ainda mais sentido.
Três Pokédex em uma
A região de Kalos é detentora da maior Pokédex regional da franquia, com 457 espécies divididas em três segmentos: Central, Coastal e Mountain. Ironicamente, esta foi a região que menos introduziu criaturas novas, com apenas 72 Pokémon.
Ainda, sua predecessora, Unova, foi a região que mais incluiu monstrinhos, totalizando 156. Ou seja, mais do que o dobro. Até então, Johto era a região com menor número de novas criaturas, totalizando 100.
É importante analisar o momento dessa mudança: em vez de sprites animados, a criação de modelos 3D para 721 criaturas não é uma tarefa fácil, ainda mais em um período de transição. Evidentemente, não é uma “desculpa”, e sim uma decisão (duvidosa?) de negócio.
Há uma clara diferença entre criar sprites e modelos tridimensionais. Um sprite é estático e precisa ser animado para que tenha algum movimento. Basta olhar para versões Gold/Silver e, posteriormente, Crystal para se ter uma ideia. Outro ponto crucial é que, além da imagem frontal, é necessário criar a imagem de costas.
Em Black/White, isso fica evidente no sprite de Marowak, pois, de frente, o osso está na mão direita, enquanto que o sprite de costas está com o osso na mão esquerda.
Isso, no entanto, não acontece com um modelo 3D, pois não importa a direção em que esteja, terá sempre a mesma forma e/ou orientação, evitando que casos como o de Marowak ocorram.
E você, caro leitor, sabia de tudo isso sobre a sexta geração? Lembra de como foi o dia do lançamento na sua região? Deixe seu comentário para relembrarmos as experiências vividas na região de Kalos.
Revisão: Cristiane Amarante
Referências: HoopsandHipHop
















