No fim de setembro, a Nintendo pegou muita gente de surpresa ao anunciar uma grande mudança em sua liderança: Doug Bowser, presidente da Nintendo of America (NOA) desde 2019, deixará o cargo no final de 2025. A partir de 31 de dezembro, quem assumirá o posto será Devon Pritchard, uma executiva de longa data da companhia e, pela primeira vez na história da subsidiária, uma mulher estará à frente da NOA.
A notícia marca o fim de uma era e o início de outra e levanta a curiosidade de muitos fãs e profissionais da indústria: afinal, quem é Devon Pritchard e o que podemos esperar de sua gestão?
Uma veterana da casa
Apesar de seu nome não ser tão conhecido fora dos bastidores, Pritchard está na Nintendo of America há quase duas décadas. Ela entrou para a empresa em 2006, liderando o departamento jurídico durante uma fase de transição de presidência, que passou de Tatsumi Kimishima para Reggie Fils-Aimé — sim, o lendário Reggie.
Antes de ingressar na Nintendo, Pritchard já acumulava uma formação impressionante. Ela é doutora em Direito pela Gonzaga University School of Law desde 2001, e possui Bacharelado em Ciências Biológicas pela Kansas State University, onde também foi jogadora do time universitário de vôlei.
Após ingressar na Nintendo, Pritchard expandiu seu papel na empresa, assumindo funções nas áreas de Marketing, relações com publicadoras e assuntos corporativos. Desde 2021, ela ocupa o cargo de vice-presidente executiva de Receita, Marketing e Experiência do Consumidor — um título que já deixava claro seu envolvimento direto nas operações mais estratégicas da Nintendo na América.
Esse percurso segue um padrão comum entre os líderes da NOA. Tanto Reggie Fils-Aimé quanto Doug Bowser começaram suas carreiras na empresa como vice-presidentes de vendas e marketing, e até Kimishima chegou à presidência com forte bagagem em finanças. A história mostra que, quando a Nintendo procura um novo presidente para sua subsidiária americana, costuma olhar primeiro para dentro de casa, especialmente para seus setores de marketing e negócios.
Essa combinação de formação científica, jurídica e esportiva reflete bem o perfil analítico e disciplinado que ela traz para a Nintendo, características que, segundo colegas de trabalho, sempre se destacaram em sua liderança.
Nem todo presidente precisa ser um “gamer hardcore”
Se o nome Reggie Fils-Aimé evoca lembranças de memes, carisma e aparições marcantes em Directs e eventos, a era de Doug Bowser foi mais discreta e estável. E tudo indica que Devon Pritchard seguirá uma linha parecida.
Ex-funcionários da NOA, como Kit Ellis e Krysta Yang, comentaram recentemente sobre o perfil da nova presidente. Segundo eles, Pritchard entende profundamente o papel da Nintendo na indústria, mesmo não sendo uma jogadora assídua.
“Ela definitivamente ama a Nintendo”, disse Krysta. “Como todos nós, tem memórias de infância com os jogos da empresa. Talvez não jogue por muitas horas todos os dias, mas entende o mercado e o que torna a Nintendo única.”
Kit complementa que Pritchard costuma enxergar a marca também através da visão de seus filhos mais jovens, o que a ajuda a manter uma percepção sensível sobre o público-família da empresa.
Um detalhe curioso que chamou a atenção entre os fãs é uma foto antiga de Pritchard segurando um Bulborb de pelúcia, de Pikmin. Imagem que chegou a ser sua foto de perfil no LinkedIn. Embora isso tenha alimentado especulações sobre ela ser fã da franquia, Krysta Yang esclareceu que “ela não é particularmente fã de Pikmin”.
Ainda assim, é interessante ver uma executiva de alto escalão da Nintendo expressando afeto por elementos da marca, mesmo que de forma simbólica — um contraste sutil, mas bem-vindo, num mundo corporativo que costuma ser frio e impessoal.
New NoA president is a Pikmin fan. We’re in good hands.
— Harrison Milfeld (@hmilfeld.bsky.social) 25 de setembro de 2025 às 18:56
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O legado de Doug Bowser
Antes de olhar para o futuro, vale relembrar a era Bowser. Quando assumiu o cargo em 2019, ele herdou uma Nintendo em meio ao auge do sucesso do Switch e conduziu a empresa por seis anos de estabilidade e crescimento.
Bowser pode não ter sido uma figura midiática como Reggie, mas foi eficiente. Sob sua liderança, a NOA atravessou o lançamento do Nintendo Switch 2, que bateu recordes de vendas, e manteve a imagem da marca sólida e positiva, mesmo durante um período turbulento para a indústria de games.
Pritchard fez questão de deixar uma mensagem pública de agradecimento a Bowser em seu LinkedIn, dizendo:
“Parabéns por uma carreira incrível, Doug! Você foi um líder fantástico, e é uma honra continuar construindo sobre a base que você criou aqui na Nintendo. Em nome de toda a equipe da Nintendo of America, desejo a você uma aposentadoria merecida e feliz!”
O futuro da Nintendo of America
Com a chegada de Devon Pritchard, a expectativa é de continuidade e não de ruptura. A Nintendo atual prefere uma liderança discreta, estável e estratégica, longe dos holofotes e próxima das decisões práticas.
Nos últimos anos, a empresa tornou-se menos dependente de “rostos públicos” e mais centrada em sua própria marca e produtos. Assim, é provável que Pritchard siga o mesmo caminho de Bowser: aparecendo ocasionalmente em eventos e transmissões, mas mantendo o foco nos bastidores.
Mesmo assim, o simples fato de ser a primeira mulher a liderar a Nintendo of America já carrega um peso histórico importante e pode inspirar uma nova geração de profissionais dentro e fora da indústria dos games.
Em um momento em que a Nintendo entra em uma nova fase, com o Switch 2 consolidado e franquias como Mario, Zelda e Pokémon mais fortes do que nunca, Devon Pritchard assume o comando com a missão de preservar o equilíbrio entre tradição e inovação.
E como fica o Brasil?
O Brasil não possui uma sede própria da Nintendo, então o país está sob a responsabilidade da Nintendo of America. Na verdade, toda a América Latina está sob a supervisão deles — todas as ações e diretrizes aplicadas na região passam por lá. Ou seja, tudo o que acontece no Brasil é autorizado diretamente pela Nintendo of America.
Nosso querido Doug Bowser, quando assumiu a presidência da Nintendo of America, foi o grande responsável por trazer a Nintendo de volta ao Brasil. Primeiro com algumas participações modestas, depois com a venda oficial dos consoles, a abertura da eShop brasileira e, mais tarde, o retorno das mídias físicas ao país. Também tivemos presença da marca em grandes eventos como a BGS, a Gamescom e até a CCXP, além do início das traduções de jogos para o português. Agora, com o Switch 2 sendo lançado de forma simultânea no mundo todo — mesmo que algumas coisas ainda não estejam totalmente disponíveis por aqui —, é possível dizer que tudo isso aconteceu dentro da gestão do Doug Bowser.
Com a troca de presidência, é natural que algumas diretrizes mudem, mas acredito que podemos ficar tranquilos quanto a isso. A Nintendo tem uma estratégia clara e deve continuar seguindo o plano de expandir suas atividades no Brasil. Se a nova liderança mantiver a mesma linha de pensamento e estratégia, não devemos ver grandes mudanças nesse sentido.
Espero de verdade que a Nintendo continue crescendo por aqui e que os jogos sigam sendo localizados para o português do Brasil — e, quem sabe, que os preços também fiquem um pouco mais acessíveis para os jogadores brasileiros.
Revisão: Cristiane Amarante
