Análise: DRAGON QUEST I & II HD-2D Remake: dois clássicos em uma nova roupagem

Edição HD-2D Remake reprojeta os dois primeiros jogos da franquia e os torna experiências modernas e mais robustas.

em 29/10/2025
Dragon Quest é uma franquia clássica que desde seu lançamento é um dos grandes pilares dos RPGs japoneses, dando cara e forma ao gênero desde o fim da década de 1980. Com o lançamento de DRAGON QUEST I & II HD-2D Remake (e de seu antecessor cronológico III HD-2D Remake), a Square Enix traz uma nova forma de apreciar a trilogia Erdrick nas plataformas modernas e trata-se de uma oportunidade de ouro.

Amarrando uma trilogia

Embora cada jogo da série Dragon Quest possa ser jogado separadamente, os três primeiros compõem a trilogia Erdrick. A ideia é que cada um dos três jogos conta a saga de uma certa geração de heróis advindos da mesma linhagem que acabam tendo que defender o mundo das forças do mal que aparecem. Entre os três títulos, Dragon Quest III é o primeiro e a trama mais robusta do trio, com o primeiro e o segundo jogo focando-se nos descendentes desse herói.

Um dos primeiros pontos que chamam a atenção em DRAGON QUEST I & II HD-2D Remake é justamente que a obra se esforça em deixar as conexões entre os títulos ainda mais evidentes e fortes. Embora ambos os jogos sejam jornadas relativamente simples para o gênero, há uma ênfase mais forte em apresentar a narrativa e os personagens em detalhes.

Graças às conexões narrativas mais claras entre cada jogo e o detalhamento da trama e dos personagens, certos momentos ganham uma carga dramática mais forte. O aumento do texto é acompanhado de uma excelente direção audiovisual das cenas focada na teatralidade dos eventos.

A primeira coisa que salta aos olhos é o aspecto estético HD-2D, que combina sprites 2D com fundos tridimensionais e efeitos de iluminação para criar um estilo atrativo entre o retrô e o moderno. Os detalhes dos ambientes são bem interessantes de conferir e o visual de forma geral é bem agradável no Switch, tanto na forma portátil quanto na dock.

No aspecto sonoro, além da trilha sonora orquestrada de alta qualidade, temos a dublagem em inglês e japonês de algumas das cenas das histórias dos dois jogos. Embora seja apenas parcial, as escolhas de quais momentos destacar são ótimas com as duas versões de língua para as vozes tendo alta qualidade. Graças a essa adição, vários momentos conseguem transmitir com muito mais força o seu peso emocional.

Vale um destaque especial aqui para a forma como o segundo jogo consegue reforçar a conexão dos membros da equipe usando falas adicionais após algumas batalhas selecionadas como uma forma de destacar o aspecto emocional dos mesmos. É uma pena, porém, que esses momentos não contem com nenhuma legenda, uma escolha especialmente ruim quando se leva em conta que há mais opções de língua para o texto do que o áudio (embora o português brasileiro infelizmente não esteja presente em nenhum dos dois casos).

Duas jornadas

Como DRAGON QUEST I & II HD-2D Remake inclui dois jogos, há algumas peculiaridades entre eles para se ter em mente. Embora ambos sejam títulos com combate baseado em turnos, no primeiro jogo controlamos apenas um herói e no segundo temos acesso a um grupo de descendentes que partem ainda jovens na missão de salvar o mundo após uma terrível tragédia.
 
Além da diferença significativa no tamanho da equipe, há uma distribuição diferente de habilidades entre eles. Enquanto o herói do primeiro jogo tende a ter competências bem equilibradas, o príncipe de Midenhall não tem nenhuma habilidade com magia e depende de seus companheiros de equipe para o uso de técnicas variadas (de ataque, cura e suporte). Também vale destacar que os inimigos são distribuídos em grupos e o jogador não tem um controle preciso de qual membro será atacado no caso de golpes individuais.

Em ambos os jogos, cada personagem aprende mais técnicas (Spells ou Abilities) conforme ganha níveis nas batalhas, o que também aumenta os seus parâmetros (HP, ataque, agilidade etc). É possível também usar sementes para melhorar a performance dos aliados e pergaminhos para ampliar o leque de técnicas disponíveis.

Em comparação com Dragon Quest III, o papel de cada personagem é mais fixo, não havendo nenhum sistema de classes. Porém, ainda há liberdade de escolher como priorizar a evolução de equipamentos e a distribuição das técnicas encontradas nos pergaminhos. Por exemplo, algumas armas são mais efetivas contra certos tipos de inimigos ou podem ser usadas contra múltiplos monstros e a possibilidade de trocar de equipamento no meio da batalha faz com que o jogador possa se reorganizar de acordo com o momento.

Conforme o jogador avança na trama dos dois jogos, há um sistema especial de Sigils que foi introduzido no remake. A ideia é que, agora, conseguir esses itens é mais do que apenas um objeto-chave que simboliza o progresso no segundo jogo e sim uma forma de conseguir efeitos adicionais que melhoram o funcionamento da equipe.

Com os Sigils, críticos se tornam mais comuns, se defender de ataques pode recuperar MP e há até mesmo o desbloqueio de golpes mais poderosos chamados de Souped-Up Skills. Essas técnicas são uma forma avançada das Abilities que pode ser ativada quando, por exemplo, um personagem está com menos de 50% da sua vida.

Além de serem mais poderosos, esses golpes consomem mais MP e podem ter outras mudanças, como atingir uma área mais ampla dos inimigos. Brincando com a perspectiva de deixar o jogador aprender por conta própria o funcionamento, o jogo só introduz as possibilidades em tutoriais de texto que são desbloqueados com o tempo e não mostra os detalhes durante o combate.

O jogador pode, por exemplo, selecionar um inimigo, mas ter todos os outros atingidos também porque a versão avançada afeta uma área. Da mesma forma, é possível ter o golpe negado pela falta de MP com consumos muito acima do que é indicado no menu para a versão básica da Ability. O resultado é consideravelmente inconveniente, embora a mecânica em si seja muito interessante. 

Ainda somos os mesmos

A grosso modo, a apresentação de DRAGON QUEST I & II HD-2D Remake segue a mesma roupagem da edição HD-2D do terceiro jogo em termos de qualidade de vida. Temos agora a possibilidade de agilizar o combate, correr apertando B uma única vez e agilizar o diálogo, além de escolher entre três opções de dificuldade.

A opção mais fácil, “Dracky Quest”, por padrão, deixa os personagens do jogador impossibilitados de morrer em batalha, mas é possível optar por desligar essa invencibilidade e apenas aproveitar o balanceamento mais favorável. Ao morrer, também é possível usar o sistema de tentar novamente ou voltar a saves anteriores, sendo feito um autosave toda vez que sobrevivemos a um combate.

Também é possível aproveitar o minimapa e um sistema de indicações opcionais para que o jogador saiba para onde ir para avançar a trama em momentos mais incertos. Em algumas ocasiões, como em dungeons de múltiplos andares, a indicação de onde ir pode só ser marcada no ponto exato desejado, deixando o jogador sem direção precisa durante um bom tempo. Zonas secretas do mapa também contam com indicadores opcionais que são mais nebulosos para que o jogador ainda tenha um certo esforço em procurá-las.

O Recall, que permite gravar as falas de personagens para reler depois, também retorna, deixando o jogador relembrar de comentários úteis de NPCs a qualquer momento. Da mesma forma, em ambos os jogos, não demora muito para conseguir a magia Zoom para retornar rapidamente a áreas já visitadas a custo zero.

Um pacote que vale a pena conhecer

Reimaginados para melhor se apresentar tanto como parte da trilogia Erdrick quanto como uma experiência moderna, DRAGON QUEST I & II HD-2D Remake é uma coletânea de qualidade. Ambos os RPGs comparativamente mais simples da franquia ganharam novos contornos que fazem dessa versão uma ótima pedida tanto para fãs de longa data quanto para quem ainda nem conhece o gênero tão bem e gostaria de experimentar esses clássicos.

Prós

  • As jornadas de ambos os jogos ganharam uma nova apresentação com muito mais detalhes, com especial destaque para a equipe principal do Dragon Quest II;
  • Dublagem em japonês e inglês de alta qualidade que reforça o aspecto emocional dos eventos;
  • O gerenciamento da equipe e do combate é repleto de opções para o jogador com especial destaque para o uso dos Sigils;
  • O sistema de Scrolls e os equipamentos adicionam opções estratégicas para a equipe;
  • Vários elementos de qualidade de vida ajudam a deixar a experiência confortável.

Contras

  • A ausência de informações das Souped-Up Skills no menu de batalha é uma inconveniência significativa que pode ser fatal para o combate;
  • Falas pós-batalha em Dragon Quest II não contam com legendas;
  • Em algumas ocasiões, as marcações de direcionamento no mapa podem ser um pouco precárias.

DRAGON QUEST I & II HD-2D Remake — PC/PS5/Switch/Switch 2/XSX — Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: Switch

Revisão: Beatriz Castro
Análise produzida com cópia digital cedida pela Square Enix

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Ivanir Ignacchitti
é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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