Kung Fu Kid
Inspirado nos filmes clássicos de artes marciais, Forestrike nos apresenta ao governo do Império Mandai, reino outrora grandioso, mas que hoje se encontra à beira do colapso. A decadência é explicada pela ascensão da misteriosa figura conhecida como “Almirante” — um mercenário estrangeiro que infiltrou-se na corte real, almejando controlar todas as forças imperiais.
Graças à capacidade de manipulação do Almirante, o Palácio Celestial hoje é vigiado por soldados traidores e acadêmicos corruptos, e as ruas, antes tranquilas, são controladas por uma violenta milícia. Para completar o cenário de caos, a miséria assola os campos, preparando o terreno para rebeliões.
Nesse complicado contexto, o Imperador, cada vez mais isolado, continua resistindo. No entanto, há motivos para ter esperança: a antiga Ordem da Presciência, cujo único propósito é servir ao Império e proteger a corte, prepara-se para agir.
E é aí que você entra: no papel de Yu, último aprendiz da Ordem e o mais jovem a herdar sua poderosa técnica secreta, a sua missão é viajar pelo país para expurgar a corrupção, tirar o Almirante do poder e, finalmente, impedir que o mal triunfe. Pronto para a tarefa?
A arte da guerra
Como um membro da Ordem da Presciência, Yu é um dos pouquíssimos combatentes marciais vivos com acesso à poderosa técnica milenar que dá nome à organização. Surpreendentemente, os “prescientes” — como são conhecidos os integrantes da Ordem — são capazes de praticar um confronto antes mesmo que ele aconteça, tudo dentro da fortaleza de suas mentes.
Será que aquele inimigo te atacará com um golpe rápido? Será que o outro arremessará um bastão? E se aquele esquivar de um soco? Graças à presciência, é possível antever todas essas situações, e, o mais importante, testar e aprender como reagir a elas de forma verdadeiramente efetiva.
Como mecânica de jogo, a presciência é bastante criativa e interessante, além de casar bem com a temática de artes marciais. Isso porque, na prática, Yu frequentemente estará cercado por muitos inimigos, cada um mais forte do que o outro, e aprender como reagir a eles é a chave para o sucesso — sair batendo sem um plano é, invariavelmente, o mesmo que pedir para fracassar.
Logo, antes de cada combate, é imperativo testar diferentes abordagens para só então partir para a luta real. Graças ao bom número de ações disponíveis para Yu — é possível bloquear, esquivar e até usar itens do cenário para atacar ou defender — e à progressão roguelite, nenhum confronto em Forestrike é exatamente igual ao anterior, resultando em uma infinitude de quebra-cabeças marciais e garantindo o fator replay para quem apreciar a proposta.
Eu posso fazer isso o dia todo
Como roguelite, Forestrike não faz feio, muito pelo contrário. As partidas são divididas em pequenos estágios gerados aleatoriamente, sendo que os objetivos específicos de cada um deles podem variar: uma fase pode obrigar Yu a derrotar todos os inimigos, enquanto outra pode envolver a proteção de um membro da Ordem. Completar tais objetivos permite avançar para o próximo estágio e escolher uma melhoria temporária, enquanto falhar significa começar novamente do zero — ou quase isso.
Eu digo “quase”, pois apesar de não contar com níveis selecionáveis de dificuldade (há somente modificadores simples e um nível extra, que abole a presciência no pós-jogo), Forestrike oferece uma série de vantagens permanentes, desbloqueáveis conforme o jogador progride nas partidas e avança na narrativa.
A principal delas é a mecânica dos mestres: inicialmente, somente o mestre Talgun está disponível como guia, mas logo outros aparecem no Templo da Ordem e passam a fornecer alternativas de jogabilidade para Yu, como bônus de esquiva ou bloqueio e até golpes novos para serem usados nas partidas.
Tudo isso é complementado por uma história surpreendentemente cativante para os padrões do gênero. Dos confrontos com chefes às interações com os personagens no Templo (que funciona como um hub entre as partidas), há várias linhas de diálogo presentes aqui, contribuindo para a imersão e fazendo com que Forestrike se destaque também nesse quesito.
Por fim, há uma série de colecionáveis, como artes conceituais para encontrar e coletar, e também um sistema que permite gravar as batalhas passadas. Considerando que há sempre mais de uma maneira de resolver as batalhas, Forestrike é então um prato cheio para quem gosta de quebrar a cabeça e encontrar soluções com as ferramentas à disposição, com a roupagem roguelite e a temática marcial se provando diferenciais importantes.
O maior inimigo: a performance
Agora é a hora de falar daquele que talvez seja o grande adversário de Forestrike no Switch: a performance. Infelizmente, em sua versão 1.0, o título do Skeleton Crew Studio sofre com frequentes quedas na taxa de quadros no console da Nintendo (mais aparentes no templo da Ordem, embora perceptíveis em várias instâncias) e também com crashes — mais de uma vez, o game se encerrou de forma inesperada enquanto eu jogava, comprometendo o meu progresso na campanha e prejudicando a experiência.
Também preciso mencionar os tempos de carregamento gerais, que achei um pouco longos demais. Normalmente, busco ser compreensivo quanto a esse aspecto em específico, mas como a mecânica de presciência acaba exigindo que o jogador reinicie várias vezes um confronto, os loading times acabam sendo bastante aparentes (e incômodos) no dispositivo híbrido, tanto no modo TV quanto no modo portátil.
É realmente uma pena, pois Forestrike certamente se destaca em outros quesitos, como a apresentação em pixel-art, que é bastante detalhada, e a trilha sonora, que consegue entregar com qualidade a tão importante ambiência oriental. E, como de praxe nos jogos publicados pela Devolver Digital, também há suporte ao português brasileiro nas legendas e menus.
A bem da verdade, para quem vai jogar no Switch 2 — não foi o meu caso, pois esta análise foi preparada jogando em um Switch OLED — talvez os tempos de carregamento não incomodem tanto assim. Mas é inegável que Forestrike merecia uma adaptação um tantinho melhor no console da Nintendo (e já que toquei no assunto, uma “Switch 2 Edition” propriamente dita).
No fim, como updates futuros podem melhorar e até mesmo resolver completamente essa situação, fica registrada a esperança por atualizações que resolvam os crashes e aprimorem a performance do jogo. Os entusiastas de roguelites nos consoles da Nintendo, como eu, certamente agradecerão.
Um golpe quase certeiro
Forestrike acerta em cheio na diversão, mas acaba errando a mão na parte técnica, comprometendo uma recomendação mais ampla no Switch. Ainda assim, se você gosta de resolver quebra-cabeças de crescente complexidade e curte roguelites que prezam pela criatividade em suas mecânicas, vale a pena conferir esta obra. Só é preciso avisar: no console da Nintendo, a performance técnica se mostra uma inimiga poderosa — e, infelizmente, a presciência não foi o suficiente para detê-la.
Prós
- Apresenta uma narrativa surpreendentemente rica para o gênero, que deverá agradar bastante aos fãs de artes marciais e da cultura oriental;
- A mecânica de presciência é divertida, e seu uso casa perfeitamente com a temática, transformando cada confronto em um quebra-cabeça diferente para solucionar;
- A natureza roguelite do game e o bom número de colecionáveis impulsionam o fator replay e incentivam múltiplas partidas;
- A estética em pixel-art é agradável e bastante detalhada;
- Localização em PT-BR.
Contras
- Problemas técnicos consideráveis, como crashes frequentes e quedas na taxa de quadros, tornam a experiência frustrante e podem chegar a comprometer partidas promissoras;
- Os tempos de carregamento relativamente longos podem tornar cansativo o ciclo da mecânica de presciência;
- A ausência de opções preestabelecidas de dificuldade pode desanimar.
Forestrike — PC/Switch — Nota: 7.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Vitor Tibério
Análise produzida com cópia digital cedida pela Devolver Digital










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