Quando pensamos em Nintendo 64, é comum lembrarmos de clássicos como Ocarina of Time, Super Mario 64 e GoldenEye 007 — jogos que definiram o console e marcaram gerações. Mas o N64 foi mais do que suas grandes franquias: ele também serviu de lar para experiências ousadas e menos conhecidas. Entre elas está Forsaken 64, um shooter futurista lançado em 1998 que fugia completamente do estilo tradicional da Nintendo.
Com atmosfera sombria, ação intensa e liberdade total de movimento em ambientes tridimensionais, o jogo oferecia algo único para a época. Hoje, ele é lembrado como uma das joias obscuras do console.
O fim do mundo
A narrativa de Forsaken 64 se passa em um futuro sombrio, onde a Terra foi devastada por um desastre tecnológico — um experimento de energia que deu terrivelmente errado, deixando o planeta inabitável e mergulhado em ruínas radioativas. Com a humanidade praticamente extinta, o mundo se torna um campo de caça para mercenários, saqueadores e caçadores de recompensas que vasculham os destroços em busca de tecnologia perdida e riquezas escondidas nas antigas cidades subterrâneas.
Você assume o papel de um desses mercenários, pilotando uma hoverbike armada até os dentes e explorando túneis e bases militares abandonadas, enfrentando defesas automáticas, drones e outros saqueadores pelo controle dos recursos que restaram. A trama é simples, mas eficaz: um pano de fundo apocalíptico que dá sentido à ação frenética e à atmosfera opressiva do jogo, reforçando a sensação de que cada missão é uma corrida por sobrevivência e lucro em um planeta condenado.
O jogo e sua jogabilidade: túnel, armas e sensação de Descent
Forsaken 64 é, na superfície, um shooter 3D no melhor estilo túnel — você pilota uma nave por complexos labirintos tridimensionais, enfrenta inimigos em corredores apertados e precisa estar sempre atento à gravidade local, aos power-ups e às armas secundárias.
O jogo se inspira na jogabilidade de Descent (1995), com liberdade de movimento em todos os eixos e ênfase em espacialidade e mapeamento. Essa combinação entrega uma sensação claustrofóbica e veloz que, na época do N64, soava diferente do que os jogadores esperavam de um console que associavam muito a plataformas e aventuras específicas.
No Nintendo 64, o título chegou com modo para vários jogadores e um foco maior em combate direto. A versão N64 foi desenvolvida por um estúdio diferente das versões de PC e PlayStation, o que ajuda a explicar algumas diferenças de objetivo e balanceamento entre plataformas.
Do ponto de vista do jogador, o arsenal é variado: lasers, mísseis, minas e power-ups que mudam dramaticamente a forma de abordar cada fase. A sensação de “tudo pode acontecer”, inimigos que surgem de todos os lados, switches escondidos que abrem rotas alternativas e etapas com design vertical tornou Forsaken 64 um exemplar de shooter que exige memória espacial e reflexos, e que se beneficia (muito) de sessões de jogo repetidas, ainda mais se você não tivesse um Controller Pak (o memory card do n64) para salvar o seu progresso.
As múltiplas versões
Forsaken nasceu em 1998 como um projeto multiplataforma: Probe Entertainment cuidou das versões para PC e PlayStation, enquanto a port do Nintendo 64 ficou a cargo da Iguana Entertainment.
Essa divisão não era incomum na época, portar jogos 3D complexos para o N64 exigia adaptações substanciais, tanto por limitações de memória quanto por diferenças no pipeline gráfico e de áudio. Por isso, a experiência entre as versões varia; o N64 conciliou performance e fidelidade visual com decisões próprias de design.
O estúdio responsável pelo porte teve a missão de preservar o espírito frenético do original ao mesmo tempo em que ajustava controles e câmera para o joystick do N64. Créditos e registros mostram uma equipe robusta — algo que reflete no polimento técnico que muitos jogadores lembram até hoje.
Embora o projeto não tenha sido um dos “blockbusters” do console, sua produção evidenciou a prática comum da época: equipes diferentes, prazos apertados e a necessidade de otimizar o código para arquitetura do console.
Rodando no N64
O maior trunfo de Forsaken 64 é a sua atmosfera: corredores escuros, música tensa, inimigos que surgem com violência e um ritmo que combina exploração com combate frenético. Para um console que muitas vezes priorizava títulos de plataforma e aventura, ter um shooter tridimensional com essa pegada era refrescante — e a versão do N64 entregou essa experiência com competência técnica e que se beneficiou do joystick do console.
Por outro lado, o jogo sofre em alguns aspectos inerentes ao gênero e à época: mapas que podem confundir, checkpoints pouco generosos em dificuldades maiores e uma curva que, para novatos, pode ser punitiva.
A câmera e os controles, mesmo adaptados ao joystick do N64, exigem prática — e isso nem sempre agradava jogadores acostumados a shooters mais “tradicionais” com mira fixa e menos liberdade de eixo. No entanto, para quem encarava o desafio, a recompensa vinha na forma de domínio espacial e partidas intensas, especialmente em sessões multiplayer locais.
Hoje, ao revisitarmos o jogo, é fácil perceber tanto os méritos de design quanto as limitações técnicas próprias do hardware da época. A remasterização lançada em 2018 e os relançamentos ajudam a revitalizar o título: o núcleo de gameplay ainda diverte, mas a ergonomia de jogabilidade e alguns artifícios de nível envelheceram de maneira desigual. Para fãs de shooters clássicos e curiosos do N64, Forsaken 64 é uma peça obrigatória para entender essa fatia experimental do catálogo.
Forsaken 64 no Switch Online
Embora muitos o identifiquem como “um clone de Descent”, Forsaken trouxe elementos próprios — tanto no tom narrativo (um futuro pós-apocalíptico com cidades saqueadas) quanto nos modos de jogo e power-ups. Além disso, o N64 teve edições e marketing voltados para um público “mature” em alguns países, o que é perceptível nos selos e na embalagem; foi uma era em que o rótulo “M” ajudava a posicionar títulos mais violentos/temáticos para um público mais velho
Finalmente, o catálogo Nintendo Classics do Switch Online (pacote Expansion/Mature) incluiu Forsaken 64, reintroduzindo a versão original do título para uma nova geração de jogadores e garantindo que o legado do jogo seja facilmente acessível. Esse relançamento também reacendeu discussões sobre como o N64 abrigou experimentos de gêneros menos convencionais para consoles e questiona o estigma de que consoles Nintendo não tinham jogos com temática mais sombria e madura.
Por que revisitar Forsaken 64 hoje?
Forsaken 64 é um daqueles títulos que funciona como uma cápsula do tempo: reúne ambição técnica, vontade de experimentar gêneros pouco populares em consoles e um design que recompensa paciência e memorização de rotas. Se você é fã de shooters 3D antigos, quer sentir o sabor dos “laboratórios” do N64 ou simplesmente busca algo diferente da cartela usual do console, a versão N64 merece, no mínimo, ser conferida especialmente agora que está em serviços oficiais para quem assina o Switch Online com Expansion Pack.
Revisão: Beatriz Castro





