Análise: Neon Inferno é diversão arcade com muito estilo, mas pouca profundidade

Prove as suas habilidades de tiro neste belo shooter 2D de estilo retrô.

em 27/11/2025
Desenvolvido pelo estúdio independente Zenovia Interactive (Steel Assault) e publicado pela Retroware, Neon Inferno é um shooter 2D que convida os jogadores a embarcar em uma bela, mas opressora Nova York cyberpunk, para uma aventura estilo arcade noventista. Graças aos seus belos visuais e jogabilidade refinada, o título entrega uma experiência retrô divertida, embora alguns deslizes impeçam uma recomendação mais ampla no Switch.

Nova York, 2055

Em Neon Inferno, podemos escolher entre dois protagonistas: Angelo Morano ou Mariana Vitti, dois talentosos assassinos a serviço da “Família” — uma conhecida organização criminosa cuja base de operações está localizada em Nova York.

Conforme exploramos a narrativa, descobrimos que Angelo e Mariana escolheram o caminho do crime por diferentes motivos, mas é fato que agora suas vidas estão ligadas definitivamente a isso, transformando a ação e os tiroteios em parte inegociável das suas rotinas.

E, em 2055, suas habilidades são mais necessárias do que nunca. Apesar de a Família reunir remanescentes da máfia italiana, das gangues irlandesas e de vários outros grupos menores, não são poucos os seus inimigos pelas ruas, sendo os principais a Yakuza, a Pangeia e a NYPD — organização devastada, neste universo, pela corrupção.

Neste complexo cenário, a sua missão principal é localizar alvos preciosos e, por fim, as tramas que possam comprometer o desenvolvimento da Família, usando das suas armas e habilidades conforme necessário. Pronto para embarcar em um verdadeiro inferno de balas banhado em luzes neon?

Eu poderia fazer isso o dia todo

Na prática, Neon Inferno é um shooter 2D aos moldes dos clássicos, com muita ação e pouca conversa. Praticamente não há pausas entre as fases, que contam sempre com muitos inimigos e perigos na tela, exigindo reflexos e precisão nas esquivas e disparos para que o jogador consiga avançar, bem ao estilo arcade.

Com a pegada retrô marcando presença — sem dúvidas, um grande ponto positivo para os entusiastas de jogos como Contra e Wild Guns —, o grande diferencial do título está no bom uso dos cenários, ou melhor, das suas camadas. É que, além do plano frontal, é possível atirar no que está no fundo das fases a qualquer momento, o que acaba impactando toda a jogabilidade, pois os adversários também podem aparecer no background e atirar em você de lá.

Esse recurso acaba impondo uma interessante dinâmica de tensão ao game, com o jogador frequentemente tendo que se atentar a duas camadas de perigo, e não apenas uma, como na maioria dos jogos clássicos de correr e atirar. Para ajudar nessa tarefa, que é difícil por si só, tanto Angelo quanto Mariana dispõem de vários recursos especiais, sendo o principal a possibilidade de rebater alguns dos projéteis inimigos de volta para os atiradores.

O interessante é que, ao rebater esses tiros, abrimos uma curta janela temporal que torna possível alterar a trajetória das balas conforme for mais interessante. Há, então, um interessante elemento tático no meio da trocação, pois muitas vezes é melhor mirar em um inimigo específico em vez de outro, e essa tomada de decisão precisa ser bem rápida para ser eficiente, enriquecendo e combinando com a proposta arcade do título.

Sem choro, só replay

Para variar a jogabilidade, Neon Inferno vai aos poucos inserindo surpresas em suas fases — há algumas seções de plataforma, outras de fuga, e partes nas quais é preciso pilotar veículos, como as esperadas motos e até jet skis. As batalhas com os chefes também são um destaque à parte, com os adversários muitas vezes ocupando a tela toda em sua tentativa de dar fim aos protagonistas.

Aproveitando esse ponto, muitos run and guns acabam pecando no desafio, pesando a mão desnecessariamente nesse quesito em nome da nostalgia. Não é o caso aqui: Neon Inferno conta com três opções de dificuldade inicialmente, e há sempre a possibilidade de chamar um player 2 para ajudar na jogatina localmente — sem dúvidas, uma das melhores formas de experimentar o game, se houver um parceiro disposto a explorar com você este mundo cyberpunk.

Se, ainda assim, sobreviver nas ruas se provar difícil demais, também é possível adquirir algumas melhorias entre as fases, como armas de disparo mais rápido ou escudos que aumentam a longevidade, mas achei o impacto desses upgrades um pouco limitado, tendo em vista a brevidade da campanha. E, por tocar no assunto…

Deslizes que comprometem a operação

Neon Inferno, infelizmente, deslizou em alguns pontos cruciais para mim. O primeiro é a sua duração — é possível concluir a campanha em menos de três horas, e por mais que existam desafios extras e um modo arcade com tentativas preestabelecidas, o fator replay se prova bem limitado para quem não curte jogar a mesma coisa várias vezes em busca de pontuações mais altas ou da mítica partida perfeita.

Também há a questão da performance. Por mais que o título da Zenovia Interactive forneça um verdadeiro espetáculo visual em termos de pixel-art (basta olhar as minhas capturas de tela que acompanham esta análise), o seu desempenho no Switch se sai bastante aquém do esperado, tanto no modo TV quanto no modo portátil.

O resultado prático é uma experiência que mira nos 60 quadros por segundo, mas raramente alcança esse alvo de forma estável no console da Nintendo — um problema sério para um jogo que exige reflexos quase instantâneos nas dificuldades mais altas. Com a possibilidade de mexer e até de desabilitar o filtro CRT e outras configurações visuais nas configurações do game, há margem de melhora se o jogador decidir otimizar o jogo por conta própria, mas essa é uma “solução” muito longe do ideal, na minha visão.

Como resultado, confesso que inclusive me peguei pensando se alguns desenvolvedores estão deixando de otimizar seus jogos para Switch, e se apoiando na retrocompatibilidade do Switch 2 para “forçar” seus títulos a rodar a 60 fps, visto que, pelo que pesquisei, Neon Inferno não apresenta quaisquer problemas de performance no console mais novo da Nintendo. Seria uma pena se fosse esse o caso, mas de todo modo, fica o aviso — no momento, dominar esta Nova York futurista não é a melhor experiência técnica no console mais antigo da Big N. Quem sabe com patches futuros?

Muito estilo, mas pouca profundidade

Neon Inferno entrega uma experiência digna dos shooters clássicos, mas acaba deslizando em aspectos cruciais como a duração da campanha e a performance no console da Nintendo. No fim, saudosistas dos tempos dos arcades e entusiastas de uma boa e vibrante pixel-art certamente encontrarão valor aqui, mas é inegável que Angelo e Mariana mereciam uma aventura um pouquinho mais polida. Quem sabe na próxima?

Prós

  • Bem ao estilo dos shooters clássicos de arcade, oferece uma experiência marcada pela ação a todo instante, que certamente agradará os veteranos e entusiastas do gênero;
  • A possibilidade de rebater projéteis e atirar no fundo das fases traz um bem-vindo frescor à jogabilidade;
  • Três opções distintas de dificuldade, mais o modo multiplayer local, garantem escalabilidade no quesito desafio;
  • Personagens carismáticos e ambientação cyberpunk são um destaque à parte;
  • Estética pixel-art de altíssimo padrão.

Contras

  • Performance aquém do esperado no Switch compromete a recomendação desta versão na forma atual, visto que o jogo exige reflexos e precisão;
  • Campanha curta para os padrões atuais compromete o fator replay;
  • Poderia contar com multiplayer online, além do local.
Neon Inferno — PC/Switch/PS4/PS5/XBO/XSX — Nota: 7.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Cristiane Amarante
Análise produzida com cópia digital cedida pela Retroware
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Alan Murilo
é publicitário e copywriter que aprecia um bom jogo tanto quanto um bom café. Gamer desde que segurou um controle de Super Nintendo pela primeira vez, tem um apreço especial pelos títulos independentes e pelas diversas franquias da Big N.
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