Sheikah — as sombras de Hyrule

Uma das raças mais misteriosas da franquia e também uma das mais importantes

em 28/11/2025
A franquia The Legend of Zelda tem como uma de suas maiores qualidades o rico universo repleto das mais únicas raças do mundo dos jogos — Hylians, Gorons, Zoras, Dekus, entre outras. Entretanto, uma dessas raças não compartilha da leveza e alegria que costuma acompanhar as demais. Envoltos em mistérios, deveres e um passado sombrio, temos os Sheikah, um dos povos mais enigmáticos da franquia.

Origem das sombras


Apresentados outrora, no que era o início da lenda, em Ocarina of Time, Impa, que havia sido a principal guardiã da Princesa Zelda, debutou como primeira e mais importante membro da raça de guerreiros do Reino de Hyrule.

Compartilhando as orelhas pontudas com os Hylians e ostentando os únicos olhos vermelhos de sua raça, Impa nos mostrou que os guardiões do reino têm o objetivo de servir e proteger a família real, algo que caiu em suas costas pois foi apresentada na época como a única de sua tribo ainda viva.

Além dela, outro ninja se apresentou como auxílio do Herói do Tempo, sob o nome de Sheik. Servindo como guia e amigo, ele forneceu dicas de sabedoria e canções que ajudavam a transitar no reino e nos tempos.

Juntos, os jovens utilizam as canções tocadas na Ocarina e na Harpa em duetos. Embora a representação visual e sonora fosse limitada pelas capacidades do Nintendo 64, a música consegue transmitir a melancolia e a esperança de um futuro melhor para o reino que ambos anseiam.

Uma história de servidão

Ao contrário de outras raças que prosperam à luz do dia, os Sheikah sempre atuaram nas sombras. Sua função dentro do reino é marcada por espionagem, vigilância e absoluto sigilo — qualidades que os transformaram nos olhos invisíveis de Hyrule. Eles observam, investigam e intervêm apenas quando necessário, garantindo que ameaças ao equilíbrio do reino sejam identificadas antes mesmo de se manifestarem.

Essa dedicação não é casual: os Sheikah possuem uma relação direta e quase sagrada com a Família Real. Desde eras antigas, juraram lealdade à linhagem de Hylia, prometendo proteger Zelda e seus antepassados a qualquer custo. Não são apenas guardiões; são conselheiros, agentes especiais e a última barreira contra forças que nem o próprio reino reconhece até ser tarde demais.
Esse vínculo cria um contraste forte em sua existência: os Sheikah dominam técnicas avançadas de combate, manipulação de sombras e, em determinados períodos, até tecnologias complexas — mas carregam também uma pesada responsabilidade moral. Eles não lutam por glória ou notoriedade; lutam silenciosamente, muitas vezes abrindo mão de sua própria identidade, liberdade ou destino em nome do bem maior.

👁️ O Símbolo que tudo vê


O principal símbolo da raça é o Olho Sheikah – um olho aberto com uma lágrima caindo. Ele representa a vigilância, a busca incessante pela verdade e a oferta de conhecimento àqueles dispostos a ouvir. Essa iconografia é proeminente nas vestimentas dos personagens e em importantes artefatos do universo, como:
Gossip Stones (Pedras Fofoqueiras)
Lens of Truth (Lente da Verdade)












Escolhidos pela Deusa Hylia para serem seus protetores, o símbolo Sheikah se espalha por todo o reino em diversos jogos. Sua presença se torna especialmente intensa em Breath of the Wild e Tears of the Kingdom, onde a tribo tem uma participação central na tecnologia e na história de Hyrule.

O Shadow Temple e o enigma de Bongo Bongo

Se a cultura Sheikah é marcada por devoção, disciplina e responsabilidade, existe um fragmento de sua história que carrega o peso de uma verdade que poucos em Hyrule ousam encarar: o Shadow Temple. Em Ocarina of Time, ele surge como um dos lugares mais sombrios de toda a franquia — um monumento subterrâneo construído não para proteger, mas para conter. Um depósito de segredos, arrependimentos e horrores do passado.

A própria arquitetura do templo — túneis intermináveis, dispositivos de tortura, câmaras de espíritos inquietos — denuncia que ele não foi concebido como um simples santuário. Os Sheikah, conhecidos por sua lealdade à Família Real, eram também os responsáveis por lidar com tudo o que precisava ser escondido do resto do reino: traidores, criminosos, experimentos, rituais de purificação e até forças que ameaçavam o equilíbrio de Hyrule.O Shadow Temple é, portanto, a face que ninguém vê — mas que sustenta a segurança do reino.

A ligação inevitável com Kakariko

O mais perturbador é que o acesso ao Shadow Temple fica logo abaixo de Kakariko Village, a vila Sheikah. Isso simboliza que, mesmo vivendo em paz, cercados de tradição, arquitetura humilde e rituais de devoção, os Sheikah carregam um passado que nunca desapareceu completamente. A vila é o rosto gentil; o templo é o segredo profundo.

O incêndio em Kakariko, desencadeado pelo espírito maligno, funciona narrativamente como a prova de que o passado sempre encontra um jeito de retornar — e que cabe aos Sheikah lidar com as consequências de sua própria sombra.

O templo como espelho da tribo


O Shadow Temple é, em muitos sentidos, o oposto perfeito do que vemos de Impa, Paya, Purah ou Robbie. Enquanto eles representam sabedoria, tecnologia, tradição e humor, o templo representa:
  • Culpa;
  • Silêncio;
  • Repressão;
  • Segredos antigos.
É o lembrete de que toda luz carrega uma sombra — e no caso dos Sheikah, essa sombra é profunda, ritualística e perigosa.

Como surgiu o Clã Yiga


Se os Sheikah representam proteção, sigilo e devoção à Família Real, o Clã Yiga é o espelho distorcido dessa mesma linhagem. Eles são, essencialmente, Sheikah dissidentes — guerreiros que, diante de séculos de perseguição, medo e desconfiança sobre sua própria raça, abandonaram seu propósito original e juraram lealdade ao pior inimigo de Hyrule: Ganon.

Os Yiga são remanescentes dos Sheikah que, após o uso da tecnologia ancestral causar pânico em épocas antigas, foram rejeitados e temidos pelo próprio reino que juraram proteger. Sentindo-se traídos, esses exilados transformaram seu ressentimento em uma nova identidade — mais agressiva, caótica e obsessiva. Hoje, seus membros surgem em forma de assassinos mascarados, espiões infiltrados e figuras ridículas que escondem um fanatismo perigoso atrás de humor estranho.

Enquanto os Sheikah tradicionais vivem para preservar a paz de Hyrule, os Yiga dedicam cada fibra de seu ser a destruí-la. Eles acreditam, de forma quase religiosa, que Ganon é a verdadeira força destinada a reger o mundo. Sua missão? Eliminar o Herói, capturar a Sheikah Slate, sabotar a resistência e espalhar destruição — sempre com um misto de humor, teatralidade e violência.

O papel de Master Kohga

No centro dessa seita desajustada está Master Kohga, líder excêntrico e carismático do clã. Ele é ao mesmo tempo ridículo e perigoso — uma figura que combina piadas e ataques mortais com a mesma naturalidade. Sua presença reforça a ideia de que os Yiga não são apenas inimigos comuns: são uma força imprevisível, guiada por um líder que mistura incompetência aparente com habilidades letais.

Kohga funciona como o símbolo vivo da queda Sheikah: alguém que herdou poder, técnicas secretas e tradição, mas as usa para fins completamente opostos aos seus ancestrais.

A existência dos Yiga destaca uma ruptura profunda dentro da raça:
  • Sheikah tradicionais: honra, serviço, sacrifício, vigilância.
  • Yiga: ressentimento, fanatismo, caos, devoção cega ao mal.
Essa divisão mostra que, mesmo entre uma tribo tão disciplinada e devota, o peso da história pode gerar cicatrizes — cicatrizes capazes de transformar protetores em assassinos, e guardiões do segredo em agentes da destruição.

Outras figuras importantes da tribo

Embora os Sheikah carreguem uma história extensa e marcada por segredos, sua presença em Hyrule também é moldada por figuras que representam diferentes facetas da tribo. Cada uma delas expõe nuances únicas — do peso da tradição ao avanço científico — criando um mosaico rico sobre quem realmente são os guardiões das sombras.

Paya e o peso da linhagem

Paya é descendente direta da linhagem que sempre protegeu a Família Real e Kakariko. Mas, ao contrário da postura firme de Impa, ela carrega uma insegurança doce e humana. Sua marca registrada — a vergonha, o nervosismo, a timidez — não diminuem sua importância; pelo contrário, mostram que nem todo Sheikah nasce preparado para viver sob o peso de séculos de responsabilidade. Paya representa o futuro da tribo, ainda moldável e cheio de potencial.


Purah — o gênio irreverente

Em contraste total, Purah é uma tempestade de genialidade. Irreverente, humorada e absolutamente brilhante, ela é responsável por alguns dos maiores avanços tecnológicos dos Sheikah, especialmente em Breath of the Wild e Tears of the Kingdom. Sua mente funciona rápido demais para seguir protocolos — e talvez seja isso que a torna tão essencial. Purah representa a ousadia intelectual dos Sheikah, aquela parte da tribo que decide olhar para o amanhã, mesmo quando o passado pesa.

Robbie — o inventor ousado e excêntrico

Se Purah é o cérebro afiado, Robbie é o cientista destemido. Exagerado, teatral e sempre apaixonado por suas criações, ele empurra os limites da tecnologia com entusiasmo quase infantil. Muitos de seus experimentos são arriscados, mas cada um deles mostra a coragem — e loucura — necessária para reinventar Hyrule. Robbie simboliza o lado mais explosivo da inovação Sheikah.

A cultura Sheikah

Muito além de suas habilidades nas sombras e seu papel como protetores da Família Real, os Sheikah carregam consigo uma cultura rica, marcada por tradições antigas, disciplina e um profundo senso de identidade. Embora sejam uma tribo pequena e frequentemente isolada, sua presença é sentida em cada detalhe do que constroem, praticam e preservam.
Historicamente, os Sheikah encontraram em Kakariko o local ideal para estabelecer suas raízes. A vila, simples e acolhedora, reflete o espírito da tribo: discreta, silenciosa, mas carregada de significados. Suas casas de madeira, telhados angulares, lanternas vermelhas e símbolos bordados formam uma arquitetura que mistura funcionalidade com espiritualidade. Nada ali é exuberante — tudo é simbólico.
Eles valorizam o autocontrole, a observação e a humildade. Para um Sheikah, agir no momento certo é tão importante quanto permanecer imóvel no momento necessário.Esses costumes reforçam não só suas habilidades, mas também a ideia de que cada Sheikah carrega um pedaço da história de Hyrule nas mãos.

O sentido de comunidade e devoção

Talvez o traço mais bonito da cultura Sheikah seja a noção de coletividade. Eles não se veem como indivíduos isolados, mas como partes de um propósito maior — proteger, servir e manter viva a memória do que foi perdido. Enquanto outras raças se destacam pela força bruta ou pela alegria expansiva, os Sheikah brilham na delicadeza: na forma como cuidam uns dos outros, preservam suas casas, reverenciam seus antepassados e protegem Hyrule mesmo quando não recebem crédito algum por isso.

A devoção deles é silenciosa, mas poderosa. É uma cultura construída sobre o equilíbrio entre sombra e luz, tradição e inovação, passado e futuro.

As Sombras Que Moldam a Luz

Olhar para os Sheikah é compreender que Hyrule nunca foi apenas um reino de luz. Suas maiores vitórias, seus segredos mais profundos e até seus fracassos carregam a marca silenciosa dessa tribo que vive entre o visto e o invisível. Eles são o fio que costura eras inteiras, aparecendo apenas quando o destino exige — e desaparecendo antes que alguém note sua ausência.

Ser Sheikah é carregar uma história que não cabe nos livros, mas que sustenta o próprio reino: o sacrifício sem testemunhas, a sabedoria que ninguém percebe, a proteção que ninguém agradece.
No fim, talvez seja por isso que os Sheikah fascinam tanto.

Eles não são apenas uma raça do universo Zelda. São o lembrete de que, em Hyrule, a luz sempre existiu porque alguém — invisível, anônimo e preparado — ficou de guarda no escuro.


Revisão: Johnnie Brian
Referências: Zelda Wiki
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José Vítor Costa
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