Jogos de sobrevivência geralmente procuram despertar certas sensações nos jogadores, que podem ir de uma certa tensão até pura ansiedade. Ter que lidar com gerenciamento de vários atributos do seu personagem, como fome, sede, frio, calor, dor, cansaço pode acabar sendo estressante. Porém, ainda assim, é possível ter sensações de paz e dever cumprido ao jogar, já que as mecânicas podem ser bem viciantes e divertidas. Pensando nessa dualidade, o estúdio Pine Creek Games decidiu tentar trazer esse estilo de jogo ainda mais para o lado aconchegante e tranquilo com Winter Burrow.
Salve seu antigo lar
A história do jogo tem uma abertura como um conto clássico: uma família feliz vivendo em um lugar florido e agradável. No entanto, o tempo passa e ter que lidar com o inverno intenso da região está cada vez mais difícil. É quando a família do nosso camundongo protagonista decide se mudar para a cidade grande e tentar a vida, o que acaba não dando certo.
Não tendo outra escolha, ele decide voltar para sua toca e tentar levar a vida no interior como de costume, mas primeiro terá que restaurar o seu lar, destruído pela neve.
Assim começa a clássica jogabilidade de sobrevivência. Primeiro, você precisa coletar recursos, como madeira e pedras, para restaurar a casa, enquanto também busca se manter alimentado e protegido do frio intenso.
Um conto infantil virando jogo
Segundo os desenvolvedores, Winter Burrow traz muita inspiração em obras literárias clássicas como “O Vento nos Salgueiros” e “Os Pequenos Guardiões”. Para mim, foi como uma tarde de infância ligando a TV para assistir um episódio de “Os Camundongos Aventureiros” ou “O Pequeno Urso”. Toda a arte feita à mão entrega um design que consegue ser simples na maior parte, porém ainda é rebuscado em pequenos aspectos, desde roupas até os móveis que decoram a toca do protagonista.
Por ser tratar de um jogo de escopo menor, a ambientação se limita a três ambientes em volta da toca, mas que ainda consegue entregar cenários interessantes que vão desde uma escura floresta de pinheiros até um pequeno vale de árvores secas infestado de aranhas.
Ao explorar por aí, o camundongo pode encontrar mais moradores que também estão tentando sobreviver ao inverno. A história faz um bom trabalho de apresentar as dificuldades de tentar sobreviver em locais decadentes, porém sem tirar dos personagens oportunidade de sorrisos e cooperação.
Sem dúvida foi um acerto bem grande de Winter Burrow em fazer da história o guia da aventura. Durante toda a campanha, suas missões e melhorias sempre estarão ligadas aos NPCs com quem você interage enquanto explora.
Aprenda a sobreviver, mas sem estresse
As mecânicas de sobrevivência do jogo serão focadas especialmente em lidar com o frio e a fome. No entanto, como a ideia é fazer o jogador curtir a história e poder jogar em um ritmo mais lento, nenhum desses aspectos acaba afetando demais sua capacidade de progredir.
Ou seja, Winter Burrow é um jogo bem fácil. O que não é necessariamente um problema, porém é importante que aqueles que gostam do gênero entendam que não será exigido quase nenhum esforço para manter o personagem bem.
Na sua toca, é possível dormir, preparar alimentos (alguns também enchem a barra de calor), aquecer-se e decorar o espaço com alguns móveis que podem ser criados utilizando a bancada e tricotando na poltrona.
O frio é o aspecto que exige um pouco mais de cuidado do jogador. Ao sair da toca para coletar recursos e explorar o mapa, a barra de calor vai diminuindo, a ponto que flocos de neve se formam ao redor da tela quanto mais frio estiver. E se a barra se esgotar, o camundongo desmaia, deixando para trás todos os itens.
Mas nenhum item é de fato perdido, já que eles podem ser recuperados ao retornar ao local onde o personagem desmaiou. Além desses aspectos, existem alguns poucos momentos de combate contra insetos, que apenas exigem um pouco mais do jogador ao enfrentar as aranhas. Elas são maiores e demoram mais para morrer, porém, não é nenhum combate super estratégico, somente toma um pouco mais de tempo do que os outros.
Existem alguns tropeços pelo caminho
Enquanto a baixa dificuldade pode até ter sido um fator interessante para criar um jogo tranquilo, Winter Burrow acaba cometendo vários deslizes que o prejudicam, especialmente na sua proposta.
Certos aspectos, como coleta de alimentos em jogos assim, costumam ser um pouco mais escassos para justamente fazer com que o jogador saiba administrar o pouco que tem. E nesse game foi incluído um sistema de fazendinha, com um pequeno espaço de cultivo de cogumelos abaixo da toca do protagonista. Porém, também há cogumelos, nozes e frutas congeladas espalhados por todo o mapa, o que simplesmente inutiliza a mecânica de cultivo. Não faz sentido ficar plantando e regando sua horta de cogumelos se tem dezenas deles do lado de fora prontos para serem colhidos.
Ainda sobre a exploração, em alguns momentos é necessário adentrar espaços escuros utilizando uma lanterna. A luz dela nesses momentos quase não ajuda, iluminando pouco mais do que o próprio personagem na tela, ainda te deixando levemente perdido.
Além disso, um dos principais aspectos que o jogo acaba tornando a experiência de jogabilidade truncada e desnecessariamente incômoda é gerenciar seus itens. Não é tão simples quanto poderia ser percorrer entre os itens quando o inventário é muito grande, e por algum motivo o jogo separou o menu de equipar do menu de depósito, deixando tudo muito burocrático.
Ao tricotar uma calça, por exemplo, primeiro eu precisaria abrir o menu de equipar e só depois eu poderia entrar no menu de depositar e guardar a outra roupa que o personagem estava usando. Porém, ambos os menus me mostram os mesmos itens na mochila do personagem, independente de equipamentos, comida ou itens de missões.
Aspectos como esse que são só uma falta de qualidade de vida na interface (que talvez possa ser corrigida em atualizações) acabam deixando o jogo lento demais em certos momentos, até chato, porque você só vai estar trocando de menus que são quase iguais.
Por último, o registro de missões acaba deixando a desejar em certos momentos. Não precisava ser tão detalhado, até porque não há tantas missões no jogo, porém certos pontos da história não deixam claro o que precisa ser feito. Uma das primeiras missões pede para você se estabelecer na casa, que parecia ser fazer o mínimo, como montar uma cama, arrumar um fogão, etc. No entanto, mesmo após fazer tudo isso, o mesmo objetivo continuava aparecendo na tela.
Foi então que por acaso descobri que eu precisava falar com um NPC para a missão avançar. Esse problema deve ter acontecido no máximo duas vezes ao longo da campanha, mas, ainda assim, para um jogo que deseja ser simples e direto com o público, a comunicação das missões acabou falhando.
Não há lugar melhor que o lar
A jornada de Winter Burrow é agradável e, sem dúvida, é o ponto de destaque no jogo. Sua dificuldade suave pode ser uma boa introdução para quem tem interesse em jogos de sobrevivência, mas que gostaria de algo com menos complicações e que pode ser jogado em sessões curtas.
Mesmo com pequenas falhas de jogabilidade e pouco uso das próprias mecânicas, o visual nostálgico e encantador dos personagens ajuda a fazer o jogador se apegar a esse pequeno mundo perdido na neve.
Prós
- Visual cativante desenhado à mão que traz uma sensação de nostalgia;
- Boa narrativa que sabe equilibrar os momentos de dificuldades e alegrias dos personagens.
Contras
- Gerenciamento de inventário desnecessariamente burocrático;
- O uso das plantações é irrelevante no jogo, já que é fácil encontrar alimento explorando o mapa;
- Algumas missões não são claras sobre o objetivo;
- A iluminação da lanterna não é boa.
Winter Burrow — Switch/PC/XBO/XSX — Nota: 7.0Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Alessandra Ribeiro
Análise feita com cópia digital cedida pela Noodlecake














