Análise: Assassin’s Creed Shadows - um port ambicioso que surpreende e tropeça

A Ubisoft entrega um port impressionante para o console híbrido, mas que ainda apresenta problemas técnicos que precisam de ajustes.

em 08/12/2025

Milagres acontecem, basta acreditar. Vi essa frase em uma série recentemente e ela combina perfeitamente com Assassin’s Creed Shadows. Um jogo que nasceu pensando no poder do PlayStation 5, mas que surpreendentemente ganhou vida também no Switch 2. Ver um título desse porte rodar em um console híbrido — e até mesmo em modo portátil — parecia algo impensável.

Mas a Ubisoft fez acontecer. Assim como ocorreu com o port de Star Wars: Outlaws, o estúdio mostrou novamente do que o Switch 2 é capaz. A adaptação de Assassin’s Creed Shadows prova que o novo console da Nintendo veio para entregar experiências ambiciosas sem abrir mão da mobilidade. No entanto, nem tudo são flores. O port impressiona, mas também apresenta alguns problemas que não podem ser ignorados.

Dois caminhos que se entrelaçam

A história se inicia com Yasuke, que acompanha padres jesuítas portugueses em uma audiência com Oda Nobunaga. O objetivo dos missionários é obter permissão para circular entre o povo japonês. Nesse momento, Yasuke ainda é um escravo, mas Nobunaga reconhece seu potencial e permite a circulação dos jesuítas sob a condição de que Yasuke permaneça com ele. 

Após seis meses, Yasuke já atua como samurai ao lado de Nobunaga. O líder conduz um ataque à região de Iga, território dos shinobis, que se encontram em rebelião contra ele. Esse evento marca o ponto de transição para o segundo núcleo da narrativa.

Do outro lado, acompanhamos Naoe. Na mesma noite do ataque, ela recebe de seu pai a missão de recuperar uma caixa oculta em um túmulo próximo. Durante a execução da tarefa, um samurai mascarado aparece, derrota Naoe e rouba a caixa, afirmando que seu conteúdo é capaz de alterar o rumo da história. Naoe o persegue, o elimina e recupera o item. 

Ao tentar escapar, Naoe é confrontada por onze samurais mascarados. Seu pai intervém, mas acaba morto, o que estabelece a motivação central da personagem: recuperar a caixa e buscar vingança contra esses onze guerreiros. 

A partir dessas duas frentes, a narrativa constrói o caminho que eventualmente conecta os destinos de Yasuke e Naoe. Como isso acontece? Fica para ser descoberto durante a sua jogatina.

Um mundo belo, mas com barreiras invisíveis

Sou um entusiasta da cultura japonesa e gostei bastante de como Assassin’s Creed Shadows nos transporta para o Japão feudal. O jogo demonstra um cuidado especial nesse aspecto: em vários pontos do mapa é possível observar um local específico, abrir o códice e acessar informações históricas e curiosidades que contextualizam o ambiente. Esse recurso cria uma conexão maior com o que estamos explorando.

Falando no mapa, ele é enorme e visualmente impressionante — ainda que alguns problemas de desempenho apareçam, como comento mais adiante. A exploração, porém, acaba limitada. Quando seguimos pelas estradas principais, tudo é muito bem construído: o mundo é vivo, com animais que podem ser observados para pinturas, pequenos santuários, templos, acampamentos inimigos e diversos pontos de interesse. Mas, ao tentar cortar caminho fora das rotas, o jogo frequentemente bloqueia o avanço com excesso de folhagem, árvores que travam a movimentação ou montanhas que não podem ser escaladas. Isso reduz um pouco a sensação de liberdade que se espera de um mundo aberto desse porte.

Apesar do tamanho do mapa e da variedade de regiões, há uma limitação estrutural que afeta quem gosta de explorar à vontade: as áreas são separadas por níveis recomendados. Regiões com nível muito acima do seu apresentam inimigos extremamente fortes, que podem derrotá-lo rapidamente. Na prática, isso força o jogador a seguir a narrativa para liberar novas áreas, o que reduz a liberdade típica de um mundo aberto.

Um diferencial da versão de Switch é o modo tablet: nele, podemos usar a tela de toque para navegar pelo mapa, algo que não está disponível em outras plataformas. É um detalhe simples, mas que torna a experiência mais prática e intuitiva no console híbrido.

Modos que enriquecem a imersão

O jogo oferece dois modos de experiência: o canônico e o imersivo. No canônico, não há escolha de diálogos e tudo segue uma linha narrativa pensada pelos desenvolvedores. Já no imersivo, é possível selecionar respostas que alteram a afinidade com alguns personagens — ainda que essas decisões não modifiquem a história principal nem o final. É uma camada adicional interessante, mas com impacto limitado.

Falando ainda do modo imersivo, esse modo faz com que as vozes dos personagens sejam faladas em seus idiomas originais. Assim, temos momentos em que os padres jesuítas falam em português de Portugal, enquanto Naoe e seus aliados conversam em japonês. É um recurso muito interessante e que me agradou bastante. Como eu gosto muito de dublagem japonesa, essa mecânica acabou me conquistando de imediato.

Mas não se preocupe: se você preferir jogar em português, o jogo oferece dublagem completa no nosso idioma. As legendas e os menus também estão totalmente em português em qualquer modo que você escolher.

Estilo de combates que se complementam e missões que aprofundam a exploração

Como em outros RPGs de mundo aberto, há uma árvore de habilidades robusta. Naoe pode aprimorar armas como a Katana, Kusarigama, Tanto e ferramentas ninja como Kunai e Shuriken. Yasuke, por sua vez, utiliza Katana Longa, Naginata, Kanabo, além do arco e do Teppo, uma arma de fogo. As habilidades disponíveis variam conforme o seu estilo de jogo, dando certo espaço para personalização.

O jogo também possui uma boa quantidade de missões secundárias. É possível recrutar aliados e batedores, que desempenham um papel importante no modo imersivo. Como esse modo não aponta diretamente o destino do jogador, os batedores ajudam a localizar o alvo das missões. Isso torna a exploração mais desafiadora e contribui para a sensação de imersão, já que o jogo deixa de ser totalmente linear.


Performance que agrada, mas com ressalvas

Agora vamos ao que realmente importa: como Assassin’s Creed Shadows está rodando no Switch 2? A resposta é surpreendentemente positiva. O jogo está rodando muito bem no novo console da Nintendo. Embora não mantenha 30 FPS cravados o tempo todo, as quedas acontecem apenas em momentos com muita ação na tela. São quedas perceptíveis, mas que não chegam a comprometer a jogabilidade ou a diversão.

No modo portátil, o Switch 2 conta com VRR (Variable Refresh Rate) e isso faz muita diferença na jogabilidade. O recurso sincroniza a taxa de atualização da tela com o frame rate, o que ajuda a disfarçar aquelas quedas mais intensas de FPS. Na prática, o jogo fica bem mais estável e suave quando jogado dessa forma. Já no modo Dock, essa função não está disponível, então as quedas de desempenho ficam mais perceptíveis.

Por isso, até o momento, o modo portátil é a melhor forma de jogar Assassin’s Creed Shadows no Switch 2. Porém, há um detalhe: no portátil, a resolução diminui para manter a fluidez, o que deixa o visual menos nítido e menos bonito do que no modo Dock. Ainda assim, mesmo com essa redução gráfica, a experiência portátil acaba sendo mais consistente no geral.

Aproveitando que falamos sobre o visual… visualmente as cutscenes principais — aquelas focadas exclusivamente na narrativa — estão bem bonitas no Switch 2 e funcionam como vitrines da direção artística. Por outro lado, as cutscenes dinâmicas, especialmente as que envolvem escolhas de diálogo, são visivelmente inferiores. Nessas cenas, a renderização é mais fraca e a diferença de qualidade é gritante. Além disso, o jogo apresenta bastante serrilhado, perceptível tanto nos cenários quanto nas próprias cutscenes. Como você pode ver na imagem abaixo:

Outro ponto que influencia a experiência é um leve delay nos comandos. Em situações de combate, isso pode atrapalhar: o parry, por exemplo, tende a ser registrado alguns instantes depois, o que me fez levar vários golpes que normalmente seriam evitados. A esquiva também sofre com esse delay. Apesar disso, acredito que a Ubisoft deve lançar atualizações para corrigir o problema — é algo ajustável e que não torna o jogo injogável. Mas, no momento em que escrevo esta análise, o atraso nos comandos ainda está presente e não há uma previsão oficial para correções.

O poder do Switch 2

Assassin’s Creed Shadows se mostra um ótimo jogo no Switch 2. A performance, no geral, agrada — mesmo com suas falhas — e é seguro apostar que a Ubisoft ainda vai lançar atualizações para corrigir esses problemas. Não tenho dúvidas de que a jogabilidade no Switch 2 vai melhorar bastante, assim como aconteceu com Star Wars Outlaws.

Com esse port, deu para ver o potencial real do Switch 2 em rodar jogos de última geração, e isso me deixa bem animado para os third parties que podem chegar ao console daqui pra frente.


Prós:

  • Desempenho geral bom, modo portátil mais estável graças ao VRR;
  • Cutscenes principais com ótima direção artística;
  • Ambientação rica e detalhada do Japão feudal com informações históricas que enriquecem a exploração;
  • Dois modos de jogo (canônico e imersivo) com idiomas originais dos personagens;
  • Dublagem completa em português do Brasil e menus totalmente PT-BR;
  • Sistema de combate variado com diferentes armas e estilos com uma boa quantidade de missões secundárias;
  • Modo tablet com touch screen para navegação do mapa.

Contras:

  • Exploração limitada por barreiras invisíveis e regiões separadas por níveis recomendados reduzem a liberdade do mundo aberto;
  • Cutscenes dinâmicas têm qualidade visual bem inferior com serrilhados perceptíveis;
  • Quedas de FPS em momentos de muita ação;
  • Leve delay nos comandos prejudica parry e esquiva.
Assassin’s Creed Shadows — Switch 2/PC/PS5/XSX — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: Switch 2

Revisão: Beatriz Castro
Análise produzida com cópia digital cedida pela Ubisoft

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Renzo Raizer
Um entusiasta do universo Nintendo, com especial interesse pelas franquias Pokémon, Mario e The Legend of Zelda. No Nintendo Blast, compartilha notícias, análises, opiniões e curiosidades com um olhar dedicado ao público nintendista, sempre buscando unir informação e paixão pelo mundo dos games.
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