Análise: Skate Story é profundo, intrigante e eleva a prática do esporte para uma experiência sensorial única

Um conto surreal sobre dor, redenção e liberdade, transformado em uma das experiências de skate mais únicas já vistas nos videogames.

em 09/12/2025

Skate Story, desenvolvido por Sam Eng e publicado pela Devolver Digital, surge como uma obra singular capaz de transformar a prática do skate em uma jornada emocional repleta de poesia. Combinando uma estética surreal, narrativa simbólica e controles fluidos, o jogo convida o jogador a assumir o papel de uma criatura feita de vidro que precisa atravessar o submundo para alcançar a libertação. 

Cada manobra, cada grind e cada queda carregam peso narrativo, refletindo dor, superação e autodescoberta. Mais do que um simples título de esportes, Skate Story combina arte, música e movimento para criar uma experiência contemplativa, na qual o skate deixa de ser apenas um esporte e se torna parte de um ritual de transformação. Boa leitura!

O skatista de vidro

A premissa do jogo é simples e  apresentada logo de cara: um demônio de vidro recebe uma oferta do diabo para redimir sua alma, ajudando outros seres condenados do submundo com seu skate.

A ideia do vidro foi genial, pois sua simbologia representa justamente a pureza, a clareza e, o principal, transmite luz. Ou seja, é como se o personagem principal, o skatista, fosse a salvação para todo o mal que aflige o submundo.

Nos primeiros instantes da aventura, temos que assinar um contrato de quatro páginas para obter o skate. A forma como o objeto é apresentado denota uma presença divina e com poderes sobrenaturais. Assim que subimos no skate, uma sensação de libertação e esperança atinge o jogador de maneira sutil com a incrível faixa sonora que toca.


Ao longo de todo o jogo, diversas músicas com ecos nas letras imprimem uma vibe intrigante e que estimula o jogador a seguir em frente, não importa o preço. A simplicidade dos cenários, poligonais e escuros, é intencional. Afinal, estamos no submundo repleto de almas atormentadas.

Nosso objetivo é ajudar essas almas além de nós mesmos, e para isso, devemos comer todas as luas presentes nessa realidade, e o skate é o ponto máximo dessa aventura. Aqui, há uma segunda simbologia interessante e que define nossa trajetória.

Em um sentido literal, a lua está fora do nosso alcance. O ato de “comer a lua” pode simbolizar o desejo de alcançar o intangível. Além disso, a lua é conhecida como a rainha dos ciclos, como suas quatro fases, portanto, ingerir a lua pode simbolizar a aceitação ou a participação consciente nos ciclos de renovação, transformação e encerramento da vida.

Skate acorrentado à alma

Como fã da prática do skate em virtude do jogo Tony Hawk, Skate Story é o completo inverso: em vez de uma pegada arcade de combos infinitos e pessoas reais, temos uma abordagem mais próxima do que seria andar de skate na vida real.

Ainda que a realidade seja completamente distópica, a física empregada no jogo é o ponto-chave para a realização das manobras. Ao executarmos um Ollie, a manobra mais simples, dependemos da velocidade de movimento e da precisão para a execução do movimento.

Nesse instante, uma espécie de elipse é ativada e, ao apertarmos os botões indicados no momento correto, resulta na manobra perfeita. Caso isso não seja feito, ainda é possível executá-la, porém recebemos menos pontos e há perda de velocidade.


Ao final de cada manobra, podemos cravá-la para obter mais pontos e causar mais dano aos outros demônios que desafiam o jogador durante os capítulos. Quanto maior for o combo, maior a pontuação e o dano após a finalização.

No canto esquerdo, há uma barra que indica a velocidade total do skatista, que pode ser aumentada a qualquer momento pelo jogador. Caso um objeto ou degrau seja atingido, pedaços do skatista são estilhaçados e, quando todos são perdidos, a câmera gira, indicando que o personagem não pode mais seguir.

Para recuperar nossa “vida”, devemos acelerar o mais rápido possível a fim de preencher o medidor de queda e, com isso, não despedaçar facilmente após atingirmos um obstáculo.

Neste instante, percebemos o quão bem-feito é o jogo, pois quem anda de skate sabe que a chance de cair após a execução de um movimento é iminente. Cair e se levantar fazem parte do esporte. Aliás, da vida. Quando isso acontece, temos que recomeçar do ponto de partida até que seja possível superar os obstáculos e passar de fase.

Figmento

Ao longo dos capítulos, itens cosméticos são liberados para personalização do skate. Rodinhas, adesivos, trucks, shapes… tudo para tornar o skate, ponto principal da aventura, uma extensão da identidade do jogador dentro daquele mundo surreal e pulsante.

Esses itens são liberados conforme a história avança e por meio de atividades secundárias, que não são muitas. Fora a história principal, há poucas opções de tarefas para complementar a aventura. Embora o jogo dê ênfase à jornada principal, a presença de histórias paralelas agrega valor à obra.


O jogo conta com tradução em português, o que é ótimo para entender a escrita poética. Após cada fase, um poema sobre as luas é exibido na tela para resumir a experiência do skatista naquele capítulo. No entanto, há certos trechos que não foram traduzidos completamente, resultando em partes do texto em português e outras em inglês.

Para mim, isso não afetou a experiência, pois sou fluente nos dois idiomas. Isso, no entanto, não exclui a falta de cuidado com a tradução, pois para muitos jogadores, ter acesso a um jogo magnífico como esse em sua língua materna é de extrema importância.

A jornada poética de um skatista de vidro

Skate Story se apresenta como uma obra sensorial sobre movimento, fragilidade e renascimento, entregando muito mais do que uma simples experiência sobre skate. Ao unir poesia, física precisa e uma estética profundamente envolvente, o jogo transforma quedas em aprendizado, deslizes em contemplação e cada manobra em um momento de liberação emocional. 

Sua atmosfera surreal, marcada por cenários sombrios, música introspectiva e simbolismos poderosos, reforça a sensação de atravessar um ritual de autodescoberta. Mesmo com limitações pontuais, sua força narrativa e simbólica permanece intacta, deixando no jogador a sensação de ter participado de uma jornada pessoal e transformadora.

Prós:

  • História bem escrita e profunda, promovendo a reflexão a cada poema;
  • Efeitos visuais e sonoros detalhados, causando maior imersão
  • Músicas que alternam entre calmaria e euforia ambientam muito bem as fases
  • Personalização do skate, trucks e rodinhas modesta, porém bem utilizada
  • Física próxima da realidade, dificultando a realização das manobras na medida certa
  • Execução de combos com finalização para ganhar mais pontos é um show à parte, especialmente em câmera lenta;

Contras:

  • Além da história principal, há poucas atividades paralelas;
  • Certos trechos não foram traduzidos completamente, misturando frases em português com inglês.
Skate Story — Switch 2/PC/PS5/MacOS — Nota: 10.0
Versão utilizada para análise: Switch 2
Revisão: Cristiane Amarante
Análise produzida com cópia digital cedida pela Devolver Digital
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Victor Hugo Carreta
Fã de carteirinha da franquia Pokémon desde os oito anos de idade, teve seu primeiro contato com os monstrinhos de bolso no Game Boy Color e de lá para cá, são mais de 25 anos de alegria. Fanático por vídeo-games, gostaria de poder jogar mais tempo do que trabalha.
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