Análise: Despelote é a paixão por futebol pelos olhos de uma criança

Despelote mostra em uma história particular como o futebol de alguma forma é parte de todo latino-americano.

em 18/12/2025
Junho de 2001 e as eliminatórias para a Copa do Mundo estão rolando. Restam cinco partidas para o Equador poder fazer história e finalmente conseguir sua primeira classificação. Em meio à festa, crise política e lembranças vagas de uma criança, Despelote convida o jogador a conhecer o que foi esse momento marcante na vida de Julián, o criador do jogo e narrador da história.


Buscando as memórias que mais importam

Toda a história do jogo é vista pela perspectiva de Julián, que tem oito anos no jogo. É interessante ver como foi aplicada a ideia de um adulto narrando a sua experiência enquanto criança e a reflexão disso no ambiente.


Os gráficos de Despelote parecem estranhos a princípio. Imagens borradas e monocromáticas, mas com alguns elementos destacados. Parece uma representação daquilo que mais importaria para uma criança olhando o mundo em volta. Brinquedos, amigos, parentes, decorações chamativas, tudo o que realmente ficaria na memória após muitos anos é muito claro, enquanto o resto é apenas um plano de fundo sem muita textura.


De um ponto de vista de mecânica, essa decisão também ajuda o jogador a não ficar perdido. É fácil saber aonde ir e com o que interagir para progredir a história ou aprender mais sobre os personagens.

Somado a isso está a narração de Julián, que introduz a situação complexa do seu país e curiosidades sobre eventos históricos do Equador entre o final dos anos 1990 e início dos anos 2000. O país estava em crise econômica, apelando para o uso do dólar americano como moeda corrente, com a intenção de controlar a inflação.


Em contrapartida, os esportes serviam como esperança para o povo ter alguma alegria. Após vencerem a primeira medalha olímpica da história do país em 1996, vinha a chance de jogar a Copa. Com mais cinco pontos eles poderiam disputar o maior campeonato do mundo em 2002, mas mesmo que pela matemática pudesse parecer fácil ganhar cinco pontos em cinco partidas, o Equador não era um Brasil ou uma Argentina. Eram quase como novatos, os azarões, e cada jogo era uma final.

É interessante ver como essa paixão pelo esporte e o sentimento diferenciado de uma Copa do Mundo é praticamente uma unanimidade entre os países latinos. Explorar o mundo de Despelote se resume em jogar bola nas ruas decoradas, brincar no recreio, observar os mais velhos comentando sobre os jogos enquanto dão pitacos sobre os adversários ou discutindo sobre coisas que não interessam muito a uma criança, mas que as falas de Julián na narração complementam com o entendimento dele, quando ficou mais velho.

O futebol está em toda parte

A jogabilidade é simples. Não há muito com o que interagir e o jogo entra naquela categoria de um simulador de caminhada com adicional de uma partidinhas de futebol vez ou outra. Algumas vezes apenas trocas de passes, em outras é tentar acertar a bola em garrafas no alto de um muro ou em uma pirâmide de cones.


O destaque fica para o minigame Tino Tini's Soccer 99', que Julián joga em seu console, que funciona quase como os jogos de futebol do início do Super Nintendo, com comandos simples e uma câmera vista de cima.


Atualmente, já existe uma atualização para o jogo que incluiu a possibilidade de jogar Soccer 99’ fora da campanha, com direito a multiplayer local e tudo. É uma boa distração para continuar aproveitando o jogo após zerar sua curta campanha que não deve chegar a duas horas no total.

Vez ou outra é possível interagir com objetos como cartazes ou brinquedos, ou simplesmente fazer o que muitas crianças dos anos 2000 faziam, que era só sentar no sofá e assistir à televisão.

Por se tratar de época de Copa, quase toda TV disponível durante os capítulos está transmitindo algum dos jogos do Equador, com imagens reais (e o filtro do jogo aplicado por cima) que mostram alguns dos melhores momentos das cinco partidas decisivas.


Parte desses capítulos intercalam com momentos nos quais Julián está mais velho, durante a adolescência e chegando na fase adulta. São situações que acabam não agregando muito à experiência geral, pois não passam de cenários em que devemos andar por aí até o jogo cortar para a próxima cena. Como não existem sequer diálogos únicos com os personagens presentes, dá a sensação de que essas partes estão lá por capricho do criador em querer reviver momentos da própria vida.

Sí se puede!

Despelote pode não causar uma boa primeira impressão, já que a jogabilidade e estética não são as mais chamativas. No entanto, a sua proposta de ser quase um arquivo histórico do Equador e uma carta de amor ao futebol e a influência do esporte na luta de um povo, pode acabar surpreendendo muita gente.

Ainda que o título esteja falando de um país específico em um continente tão grande como a América do Sul, essa experiência deve conseguir atingir qualquer latino-americano, já que eu mesmo me senti nostálgico com cenários e situações desse mundo.

Mesmo não sendo uma narrativa perfeita, ainda é um daqueles jogos que vale a pena experimentar.


Prós

  • Experiência que serve como registro histórico de uma época importante do esporte no Equador;
  • Estilo artístico único que faz sentido na narrativa e destaca itens relevantes no jogo;
  • Tino Tini's Soccer 99' é divertido e pode ser jogado fora da campanha com modo multiplayer.

Contras

  • A história pode ser desinteressante para quem não curte futebol;
  • Alguns trechos dos capítulos não agregam muito à experiência.
Despelote — Switch/PC/PS4/PS5/XSX — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: Switch

Revisão: Vitor Tibério
Análise feita com cópia digital cedida pela Panic
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Lucas Henrique
Redator e tradutor, sempre planejando escrever sobre algo (mesmo que seja só um rascunho). Acima disso, apenas a paixão por videogames e as várias formas que essa mídia conta histórias.
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