Análise: Dunjungle — um roguelite animal no Switch

Liberte a selva de um poder corrupto neste roguelite de ação.

em 10/12/2025
Criado pelo desenvolvedor solo Bruno Lombardi, Dunjungle é um carismático roguelite 2D que põe o jogador no papel de um macaco com o dever de proteger a selva da ascensão de um poder maligno. Repleto de ação e itens desbloqueáveis, este é um título que merece ser conferido pelos fãs do gênero no Switch, console ao qual o título chega após um longo período no programa Acesso Antecipado no Steam. Confira a análise!

O rei da selva

Apesar de traços narrativos existirem no jogo, Dunjungle não possui um grande foco na história. Tanto que tudo que o jogador precisa saber para começar a aventura é que a densa floresta na qual o game se passa está sob um grande risco, com uma misteriosa corrupção mágica se espalhando e comprometendo tanto a fauna quanto a flora.

Nesse complexo cenário, poucos são os que ousam tentar encontrar uma cura para o mal, mas você está entre eles. No papel do macaquinho protagonista, você viajará por masmorras, templos e criptas gerados aleatoriamente, enfrentando inimigos progressivamente mais poderosos e desbloqueando recursos que podem ajudá-lo a chegar cada vez mais longe.

Logicamente, a jornada não será fácil, e o seu caráter um tanto quanto imprevisível (característico da abordagem roguelite) deixa claro que será preciso paciência tanto para progredir nas partidas quanto para, no fim, liberar a floresta do poder maligno que a atormenta. Preparado para a missão?

Homem primata, capitalismo selvagem

Na prática, Dunjungle se baseia na progressão lateral com foco na ação — é possível perceber uma clara influência de obras aclamadas do gênero, como Dead Cells e The Rogue Prince of Persia. A cada nova partida, podemos escolher e equipar armas como espadas e magias, e explorar o mundo gerado aleatoriamente em busca de upgrades.

Sobre isso, a selva onde o jogo se passa é dividida em estruturas que lembram salas de um metroidvania, sendo que frequentemente é necessário escolher um caminho em vez de outro para poder prosseguir. Para ajudar nessa decisão, desenhos rupestres em cima das portas dão uma pista (nem sempre clara, diga-se de passagem) do que aguarda o protagonista — há salas de confrontos, encontros com NPCs, lojas e até estátuas ancestrais que criam pactos temporários, como uma entidade mágica que persegue o protagonista por algum tempo (sobreviver ou derrotá-la presenteia o jogador com alguns bônus).

Para dar conta da missão e da grande quantidade de inimigos em cada sala, o nosso herói tem todo um leque de habilidades à disposição: é possível esquivar, pular duas vezes, atacar à distância, carregar golpes mais fortes e até arremessar pedras (se for preciso e a habilidade estiver equipada). Reforçando o foco na ação, acertar um bom número de oponentes seguidamente permite recuperar a vida automaticamente de tempos em tempos, incentivando e recompensando uma jogabilidade ofensiva. 

Por fim, a grande variedade de itens — há um pouco de tudo aqui, de cebolas e frutas tropicais a macaquinhos que, se libertados, viram ajudantes — garante que nenhuma partida será 100% igual à anterior. E, como esperado, morrer em combate não é o fim: no hub do game, é possível comprar uma série de melhorias permanentes com os recursos adquiridos em cada partida, desde melhorias na barra de vida até artefatos como espadas e feitiços, que poderão aparecer em jogatinas futuras.

Um problema sério: a repetição

Dito isso, há alguns problemas com Dunjungle. O primeiro (e mais sério, na minha opinião) é a sensação de repetição. Por mais que as mecânicas de combate sejam sólidas e a boa quantidade de itens e recursos desbloqueáveis seja elogiável (há até novas classes para o protagonista), o título sofre por se mostrar repetitivo já nas primeiras horas de jogo.

Um exemplo são os padrões de sala. Embora pareçam muitos no começo, eles se repetem com frequência, reduzindo o fator surpresa que julgo ser essencial a um roguelite convincente. O mesmo vale para os inimigos: apesar de simpáticos, muitos deles se comportam de maneira excessivamente similar, limitando a necessidade de adaptação tática.

Mesmo com o emprego de pixel art, também não há muita variedade estética nem mesmo quando saímos das zonas iniciais, criando a receita de uma perigosa monotonia visual e mecânica. Como resultado, em pouco tempo confesso que me peguei me forçando a continuar a jogatina — algo que raramente presenciei em outros jogos do gênero.

É bem verdade que há contrapontos positivos quando analisamos a obra como um todo, com os chefes em especial merecendo uma menção positiva. As batalhas contra as criaturas épicas que protegem os biomas frequentemente fazem valer o ingresso, exigindo tanto a identificação dos seus padrões de ataque quanto reflexos rápidos para poder sair com a vitória. Mas, falando em reflexos…

E a performance, hein?

Infelizmente, Dunjungle também peca em outro aspecto crucial: a performance no Switch. Embora longe de ser injogável, a taxa de quadros não se comporta de modo 100% estável no console da Nintendo, prejudicando a ação quando há muitos inimigos na tela — o que é mais comum do que parece — ou quando há muitas combinações elementais juntas.

O resultado final não chega a comprometer totalmente a jogabilidade, mas afeta a percepção de fluidez da qual um roguelite de ação depende para brilhar. A boa notícia é que, no Switch 2, tais quedas de frames não acontecem, então se você já possui o novo console da Nintendo, pode desconsiderar esse problema — mas, para quem ainda não o tem, fica o aviso.

Por fim, felizmente, o jogo está localizado em português brasileiro, o que facilita bastante a compreensão dos efeitos e descrições de cada item e possibilita um envolvimento um pouco maior com a narrativa e o universo do game, ainda que, como mencionado no início da análise, eles nunca se desenvolvam como esperado.

E essa é a conclusão final a que cheguei: Dunjungle é promissor, mas não se desenvolve como merecido, caindo facilmente na perigosa armadilha da repetição visual e mecânica. Como resultado, fãs de roguelites de ação certamente se divertirão com o que é apresentado aqui (afinal, é inegável que há um carinho por trás da obra), mas, para todos os outros jogadores, a criação passa longe de ser essencial como outras alternativas do gênero.

A conquista do planeta dos macacos

Dunjungle é um simpático roguelite que merece ser conferido pelos fãs de jogos de ação 2D. Infelizmente, seu constante flerte com a repetição visual e mecânica e o desempenho aquém do esperado no Switch impedem que a obra alcance um status maior no console da Nintendo. No fim, para quem se interessa pelo gênero e pela proposta e está disposto a aceitar de coração aberto as limitações comentadas, há aqui uma jornada desafiadora e divertida — para todos os outros, porém, é inegável que há alternativas mais essenciais no mercado.

Prós

  • O bom número de habilidades à disposição do protagonista e o foco na ação tem potencial de render bons momentos para os fãs de combates em 2D;
  • Grande variedade de itens e recursos desbloqueáveis;
  • Apresenta chefes criativos e desafiadores, com padrões mais interessantes que os inimigos comuns;
  • Localizado em português brasileiro.

Contras

  • Sofre com a repetição perceptível de salas e padrões de inimigos após poucas horas de jogo;
  • Visualmente, também não se prova muito variado em sua pixel art, aumentando a sensação de mesmice;
  • Desempenho inconsistente no Switch quando há muitos inimigos ou efeitos visuais na tela.
Dunjungle — PC/Switch/PS4/PS5/XSX — Nota: 7.5
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Vitor Tibério
Análise produzida com cópia digital cedida pela Astrolabe Games
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Alan Murilo
é publicitário e copywriter que aprecia um bom jogo tanto quanto um bom café. Gamer desde que segurou um controle de Super Nintendo pela primeira vez, tem um apreço especial pelos títulos independentes e pelas diversas franquias da Big N.
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