O primeiro jogo da série de RPG estrelada pelos irmãos Mario, Mario & Luigi: Superstar Saga, é considerado um dos melhores RPGs do encanador até hoje. Em meio ao histórico lançamento do Nintendo DS em 2004, a Nintendo e a finada desenvolvedora AlphaDream tomaram para si a difícil tarefa de criar uma sequência para Superstar Saga no portátil de duas telas.
Dessa forma, no final de novembro de 2005, há vinte anos, Mario & Luigi: Partners in Time chegava ao DS com novos personagens, novas mecânicas e um dos enredos mais sombrios vistos até hoje em algum jogo do encanador – tudo isso em meio à inúmeras viagens através do tempo. Para relembrarmos essa aventura, aperte os cintos: citando o excêntrico Dr. Emmet Brown de De Volta para o Futuro, “para onde vamos, não precisamos de estradas”!
Encanadores viajantes do tempo
Partners in Time já demonstrava uma certa maturidade em seu enredo logo nos primeiros segundos: somos apresentados a um planetoide macabro e silencioso, onde tudo parece estar apodrecendo. Trata-se de um mundo habitado pelos arroxeados Shroobs, raça de cogumelos malignos e violentos, que partem em busca de uma nova casa. Seu próximo destino? O Reino Cogumelo.
Porém, é importante destacar que os Shroobs começam sua invasão ao reino em um tempo passado. Sendo assim, o primeiro contato dos alienígenas, ao chegarem no castelo da princesa Peach, não poderia ser com outra dupla: Mario e Luigi, ainda bebês – mas que já lutavam contra Bowser desde então. Superados em número pelo exército de cogumelos roxos, os irmãos e a princesa se veem obrigados a fugir no Koopa Cruiser, clássica nave do (então pequenino) rei dos Koopas.
Voltando ao tempo presente, o genial professor E. Gadd apresenta ao reino sua mais nova invenção: uma máquina do tempo. A princesa Peach e dois acompanhantes (Toadiko e Toadbert) fazem o primeiro teste na máquina, mas algo dá terrivelmente errado – ao retornar ao castelo, as portas da (agora quase destruída) da máquina se abrem, e... um Shroob monstruoso pula de dentro, para o horror de todos. Após uma breve batalha com a dupla de encanadores, o alienígena é aprisionado para ser estudado por E. Gadd, que conecta o ocorrido ao sumiço da Cobalt Star – estrela azulada que serve de fonte de energia para a máquina do tempo.
Partindo em busca da princesa, Mario e Luigi pulam em um portal temporal aberto pela Cobalt Star (que foi misteriosamente partida em pedaços). A partir daí, a dupla viaja pelo reino entre passado e presente, buscando os pedaços da estrela para impedir que os Shroobs dominem o Reino Cogumelo. Mas eles não estão sozinhos, claro: desafiando todas as leis do tempo, se encontram com suas versões do passado e unem forças para vencer o mal. Nasce então a principal mecânica do título – o controle simultâneo de Mario, Luigi, Baby Mario e Baby Luigi.
Dois é pouco, quatro é demais
Em Superstar Saga, Mario e Luigi tinham botões próprios para realizar ações: A e B, respectivamente. Porém, o Nintendo DS contava com os novos botões X e Y – e Baby Mario e Baby Luigi receberam seus próprios comandos por esses botões. No geral, Mario e Luigi carregavam seus parceiros bebês nas costas; mas qualquer toque nos botões X e Y faziam os bebês saltarem e entrarem em ação, com movimentos e mecânicas próprias.
Para a exploração, ter quatro personagens abriu diversas possibilidades. Os bebês conseguiam passar por espaços pequenos, pular em trampolins que não suportavam o peso dos adultos e usar habilidades próprias, bem parecidas com algumas vistas em Superstar Saga: só Baby Mario e Baby Luigi conseguiam se enterrar no chão com a habilidade Drill Bros. ou usar os clássicos martelos dos encanadores.
Enquanto isso, Mario e Luigi mantiveram o icônico Spin Jump do título anterior (que permitia atravessar abismos pelo ar), além da nova habilidade Bros. Ball, que os fazia rolar pelo cenário em uma bola. A grande sacada estava na combinação das habilidades dos adultos e dos bebês: o Spin Jump dos irmãos podia fazer Baby Mario e Baby Luigi voarem para alcançar plataformas altas, enquanto o Bros. Ball achatava os bebês, permitindo que eles atravessassem passagens minúsculas.
Mas o quarteto brilhou mesmo nas batalhas: agora, vários movimentos ganharam novos passos, tornando os ataques mais fortes. Ao selecionar o comando de pulo, por exemplo, o respectivo bebê pulava no inimigo antes da sua versão adulta, adicionando um ataque a mais no movimento. Isso se aplicava aos ataques com martelo e aos conhecidos Bros. Attacks (que aqui foram substituídos pelos Bros. Items). A mudança foi tão significativa que, de Partners in Time em diante, Mario e Luigi passaram a pular duas vezes nos inimigos nos jogos da série.
Porém, uma das mudanças mais significativas no sistema de batalha foi, como comentei, o uso dos Bros. Items: até então, Mario e Luigi usavam Bros. Points (ou BP – uma espécie de mana, por assim dizer) para usar ataques especiais em conjunto, os Bros. Attacks. Porém, Partners in Time removeu completamente o stat de BP. Esses ataques em conjunto (como cascos, flores de fogo e canhões) precisavam ser comprados em lojas espalhadas pelas áreas do jogo – ou seja, depois de usados, eram consumidos como qualquer outro item – o que não foi tão bem recebido pelos jogadores.
Mesmo com as mudanças polêmicas, o título introduziu algumas mecânicas que se manteriam até os jogos mais recentes, além de colocar em prática o controle (quase) simultâneo de vários personagens – o que se repetiria no título seguinte, Mario & Luigi: Bowser’s Inside Story, ao controlarmos os encanadores com os botões A e B e Bowser com os botões X e Y.
Uma história atemporal
O ponto mais alto de Partners in Time é, sem dúvida, a forma como seu enredo se desenrola. Mario, Luigi, Baby Mario e Baby Luigi viajam por locais dos mais diversos: um vulcão habitado por diversos Tumbos, a famosa ilha dos Yoshis, o castelo do rei dos Koopas no passado, e até mesmo uma versão completamente infectada do castelo da princesa Peach depois de ser dominado pelos Shroobs, são só algumas das áreas do jogo.
Em cada um desses lugares, os irmãos encontram personagens peculiares que dão vida a um mundo grande – o próprio Baby Bowser, mimado e protegido pelo seu fiel feiticeiro Kamek, versões do passado de Toadsworth e E. Gadd, a agitada repórter Kylie Koopa e até mesmo Fawful, vilão secundário em Superstar Saga que se tornaria o grande antagonista de Bowser’s Inside Story.
Apesar dos personagens cômicos e locais típicos das aventuras do encanador, Partners in Time segue uma trama macabra, reforçando frequentemente que os Shroobs estão dominando o reino aos poucos e implementando seus planos malignos. Há alguns momentos que são realmente de arrepiar: uma das localidades visitadas pelos irmãos é a Toadwood Forest, onde os malignos cogumelos roxos estão aprisionando Toads e sugando sua energia vital para alimentar as fábricas que abastecem seus discos voadores.
Toad Town, a cidade principal em vários títulos da franquia, está completamente destruída no passado: há casas abandonadas por todos os lados, destroços de todos os tipos e cogumelos roxos crescendo em todos os cantos. Só um inocente casal de Toads idosos mantém uma loja no local, escondidos e apavorados até serem encontrados pelo quarteto de protagonistas.
Nesse contexto, os Shroobs se apresentaram como os vilões mais inescrupulosos da série Mario até então, liderados pela sua própria princesa. A governante maligna não mediu esforços para destruir o reino, transformar o máximo de Toads em cogumelos roxos sem vida, se passar por Peach para enganar os protagonistas e, em seu último suspiro após ser derrotada, prometer que destruiria tudo e todos. Ainda bem que, ao final da aventura, E. Gadd descobre que as lágrimas de Baby Luigi são capazes de curar os estragos feitos pelos Shroobs e os Toads infectados. Ufa!
Só o tempo dirá
Apesar de ter ousado arriscar em uma trama mais madura e em novas mecânicas de exploração e combate, Mario & Luigi: Partners in Time não costuma figurar entre os títulos favoritos da série para a maior parte dos fãs de Mario & Luigi. O título se mantém, inclusive, como o único da trilogia original a não ter recebido um remake (como ocorreu com Superstar Saga e Bowser’s Inside Story). Por outro lado, é impossível não notar o impacto que o título teve nos jogos que o seguiram. Os Shroobs até mesmo fizeram uma ponta como chefões opcionais em Bowser’s Inside Story!
Por fim, Partners in Time foi responsável por introduzir definitivamente a série Mario & Luigi aos portáteis de duas telas. Apesar de alguns furos de roteiro – afinal, muitos dos acontecimentos ocorridos no passado não afetaram o Reino Cogumelo do presente – o título tem um espaço especial no coração de alguns fãs da série, que ainda torcem por um relançamento digno da viagem temporal dos encanadores.
E você, leitor, já viajou pelo tempo com Mario, Luigi e suas versões bebês? Qual seu momento favorito da aventura? Conte para a gente nos comentários.
Revisão: Johnnie Brian






