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Análise: Apollo Justice: Ace Attorney (DS)

O universo da advocacia é fascinante, mas um pouco restrito. Para entrar nele, precisa-se de uma faculdade, de muito estudo e, além disso, ... (por Fábio Garcia em 26/04/2012, via Nintendo Blast)

Apontar para os outros é feio, Apollo. O universo da advocacia é fascinante, mas um pouco restrito. Para entrar nele, precisa-se de uma faculdade, de muito estudo e, além disso, passar na prova da OAB. Ou então, basta arranjar um cartucho de Apollo Justice: Ace Attorney e se divertir com o simulador de advocacia, lançado pela Capcom em 2007 para o Nintendo DS. A experiência pode surpreender aqueles que esperam apenas um jogo simples sobre um advogado de cabelo esquisito. Pode apostar.

Objections em duas telas

O Phoenix fez curso para se vestir tão mal assim? Após uma trilogia de sucesso com a série Phoenix Wright – Ace Attorney, as batalhas judiciais finalmente estrearam no DS. Sim, porque os três jogos estrelados pelo advogado do terno azul eram simples ports de jogos de Game Boy Advance que não aproveitavam todas as capacidades do novo console.

Como nos jogos anteriores, você está no papel de um advogado de defesa cuja tarefa é defender os mais curiosos acusados de crimes e ajudá-los a escapar da vida de ver o Sol nascer quadrado. Mas, ao contrário do carismático Phoenix Wright, o advogado da vez é Apollo Justice, um recém formado com um cabelinho igualmente ridículo.

Lançado em 2007 no Japão e no ano seguinte nos EUA, Apollo Justice: Ace Attorney também traz outra marca comum da série: a excelente localização. Todos os diálogos estão traduzidos com competência, e referências culturais foram adaptadas para uma cultura mais geral. Então não se preocupe, este jogo te fará rir tanto quanto os outros.

Gotcha! Tem inovações!

E agora, Lamoire cantando "Ragatanga". Por ter sido o primeiro jogo da série a ser produzido para o Nintendo DS, a Capcom conseguiu implementar muitas boas ideias que haviam sido testadas no capítulo extra do primeiro Ace Attorney. Retornam então a busca por impressões digitais com luminol através da tela de toque, os modelos tridimensionais dos objetos encontrados nas cenas do crime e vídeos mais elaborados do delito.

Um novo personagem traz a necessidade de um sistema diferente de jogo. Apollo introduz um bracelete às famosas batalhas nos tribunais que funciona como um detector de mentira. Com este item, o jogador precisa identificar algum “tique” ou “mania” da pessoa prestando um depoimento e, com isso, identificar uma falácia. O sistema é um pouco parecido com a Magatama da trilogia original, mas mais dinâmico.

Que CSI o quê! O legal é solucionar crimes com um secador de cabelo! O jogo ainda se divide em duas jogabilidades diferentes, sendo que primeiro tem a investigação do crime e depois a batalha no tribunal. O antigo jogador da série não vai se perder neste jogo, e para quem está começando há o sempre bem-vindo primeiro caso, que sempre traz alguma “desculpa” para introduzir o sistema de jogo ao jogador.

Outra inovação criativa, embora esta não possa ser muito detalhada por ser considerada spoiler, aparece no último capítulo, quando o jogador precisa fazer uma investigação em dois tempos diferentes. Uma ideia ótima, que infelizmente só foi posta no finalzinho do jogo.

Claro que a Capcom manteve o uso do microfone para as frases icônicas dos advogados de plantão, então você ainda pode se empolgar e gritar “Objection” para mudar o rumo de um tribunal. Se você é tímido (ao contrário do redator que não sente vergonha de falar essas frases nem no metrô), o jogo te permite usar a ação sem gritar nada, apenas apertando um botão. Não precisa se assustar. O único campo técnico que teve um avanço considerável foi o gráfico, pois os personagens são muito mais detalhados e expressivos que no jogo original de Game Boy Advance.

Isto é uma calcinha. Assim como os outros jogos da franquia, Apollo Justice: Ace Attorney é um visual novel, então terá muito texto para ler. Por suas características, os jogos costumam se assemelhar muito a livros, acrescentando um toque de interatividade. Mas, já que pode ser visto como um livro, o que se tem a dizer sobre a história?

Hold It! E o roteiro?

Trucy é a cheerleader do tribunal. O jogo se passa sete anos após o emocionante término de Phoenix Wright Ace Attorney – Trials and Tribulations e agora você se vê controlando Apollo Justice em seu primeiro caso. E já começa em um caso difícil, pois o acusado de assassinato é justamente o grande Phoenix Wright, que deixou de advogar após um problema e hoje sobrevive jogando baralho e tocando piano.

Após o primeiro caso, Apollo passa a trabalhar no velho escritório de Phoenix Wright, ao lado de Trucy Wright, uma mágica (daquelas que tiram coelhos da cartola) que se apresenta como filha do ex-advogado. Apollo então passará por vários casos e, no meio das investigações, descobrirá mais sobre o passado de Phoenix e Trucy. Se você  jogou os jogos anteriores da série, a primeira e novelesca pergunta que virá à mente é: quem é a mãe da Trucy?

O polígrafo indica que Kristoph está mentindo. Ele que roubou a torta! As narrativas da trilogia Phoenix Wright sempre foram fantásticas, bem amarradas e com desfechos surpreendentes, e Apollo Justice mantém a tradição da série. O problema é que Apollo, por mais esforço que faça, tem seu destaque apagado em seu próprio jogo por Phoenix, desta vez apenas no papel de coadjuvante. A história é tão centrada em Phoenix, que este título funciona como um epílogo para a trilogia original, e não como uma história nova de uma eventual nova série de games.

Nos personagens, se vê bastante a repetição dos clichês. Apollo tem um pouco da personalidade inquieta de seu mentor e sua relação com Trucy é um Copiar e Colar do que Phoenix tinha com Maya. Aliás, Trucy é muito parecida mesmo com a ex-assistente de Phoenix, principalmente quando se trata de sair fuçando nos objetos de uma cena de crime sem se importar tanto com a investigação forense.

Existem alguns rostos conhecidos da trilogia Phoenix Wright, mas poucos. Há alguns personagens fundamentais que nem dão as caras, e o jogador fica com cara de tacho querendo saber o que aconteceu com eles durante estes sete anos que separaram as séries. E dos novos rostos, alguns desapontam por serem comuns demais. O promotor Klavier não tem a personalidade marcante do Miles Edgeworth, da Franziska Von Karma ou do Godot; assim como Emma Skye não funciona tanto no lugar do paspalho Dick Gunshoe.

Take That! O jogo é bom sim!

Pose dramática. Confesso ter tido uma pequena birra com Apollo Justice. Após me envolver completamente com a história de “Phoenix Wright: Ace Attorney - Trials and Tribulations”, apenas a ideia de se controlar um outro personagem me descia com asco. Ao jogar, procurei todos os problemas para não gostar mesmo do novo protagonista e esta birra infantil me fez demorar a jogar este game incrível. Felizmente, já enxergo Apollo Justice: Ace Attorney como um jogo fundamental à franquia e um sucessor digno da trilogia original.

Por favor, ignorem esta fala da Trucy. Os casos são divertidíssimos, cheios de reviravoltas e não tem como não se sentir no meio de um daqueles seriados de advogados da televisão americana. O capítulo final, como tradição da série, é um destaque e consegue deixar o jogador ansioso pela resolução do caso. E, neste caso em especial, o jogo coloca o jogador para tomar uma importante decisão, que decidirá o futuro dos personagens. A ideia de final interativo caiu muito bem e fechou a história de maneira brilhante.

Infelizmente, este foi o último jogo da série normal lançado. Há muito tempo promete-se um Ace Attorney 5, mas até hoje não há muitas informações sobre o jogo. O jeito é esperar o lançamento de Professor Layton VS Phoenix Wright para saciar nossa vontade de advogar.

Ficou curioso quanto a Apollo Justice? Basta ir atrás deste jogão e se divertir com as aventuras de Apollo Justice e Trucy Wright. Mas lembre-se que é necessário um bom conhecimento de inglês, porque o jogo é basicamente leitura. Se você já jogou, compartilhe com a gente nos comentários sua opinião e conte seu episódio favorito.

Prós:

  • Gráficos melhores;
  • Utilização dos recursos do DS, como microfone e tela de toque;
  • História bem escrita.

Contras:

  • A dupla Apollo e Trucy ainda lembra muito a dupla Phoenix e Maya;
  • Falta de carisma em muitos personagens.

Apolo Justice: Ace Attorney – Nintendo DS – Nota final: 8,0

Gráficos: 8,5 | Som: 8,5 | Jogabilidade: 8,5 | Diversão: 9

Revisão: Marcos Vargas Silveira


Escreve para o Nintendo Blast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


  1. Eu não gostei do personagem que deram pro Naruhodou Ryuuichi/Phoenix Wright. Essa mudança de personalidade de um game pro outro tirou bastante o carisma da trilogia original. Eu também não gostei do jogo de início, mas joguei fervorosamente até o final no DS do meu primo, e mesmo assim queria que o personagem principal fosse o Ryuuichi novamente.
    Quanto à localização, eu realmente não consigo gostar disso. Mesmo eles tendo feito um bom trabalho na adaptação, não consigo sentir tanta graça e nem carisma nos diálogos ("Here goes Justice!" não me empolga muito, não...). Isso fora o fato da mudança dos nomes e da nacionalidade dos personagens. No original, eles são japoneses, enquanto que na versão americana, todos são norte americanos. Mesmo tendo uma vila japonesa tradicional em um dos títulos. Aqui vai uma lista de alguns nomes:

    Phoenix Wright / Ryuuichi Naruhodou
    Maya Fey / Mayoi Ayasato (gosta de Ramen, e não hambúrgeres, como na versão americana)
    Pearl Fey / Harumi Ayasato
    Ema Skye / Akane Houdzuki
    Franziska von Karma / Mei Karuma (foi para os EUA, e não para a alemanha como na versão americana)

    Eu acho que "localização" serve mais para censura do que qualquer outra coisa!

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