Blast from the Past

Relembre Hybrid Heaven, o RPG sci-fi da Konami para o Nintendo 64!

Apesar de ter sido um excelente console e de ter recebido vários jogos que até hoje são considerados alguns dos melhores já lançados e... (por Unknown em 12/04/2013, via Nintendo Blast)



Apesar de ter sido um excelente console e de ter recebido vários jogos que até hoje são considerados alguns dos melhores já lançados em todos os tempos, o Nintendo 64 sempre sofreu bastante por não ter recebido tantos jogos quanto seu concorrente, o PlayStation. Os fãs do gênero RPG foram os que mais sofreram na época, já que a Squaresoft (atual Square Enix), grande parceira da Nintendo em gerações anteriores, parou de apoiar a Big N graças à sua equivocada ideia de manter cartuchos como mídia para seu poderoso console. Dentre os poucos RPGs lançados, alguns devem ser lembrar de Hybrid Heaven, jogo produzido pela Konami que mistura elementos de thrillers sci-fi com jogos de ação e RPG tradicionais. Descubra agora as razões pelas quais este é um dos títulos mais underrated do Nintendo 64!



Ameaça subterrânea

Faltando poucos dias para o Natal, ainda no ano 2000, o presidente dos Estados Unidos viaja até Nova Iorque para negociar um tratado anti-armas nucleares com a Rússia sem saber que uma ameaça ainda maior lhe aguardava. Acontece que em algum lugar, abaixo da grande metrópole, há uma base habitada por uma raça constituída de clones geneticamente modificados que pretende dominar todo o mundo traçando um plano de conquistar inicialmente toda a América. Neste contexto, Diaz, um híbrido badass que vê tomado por misteriosas vozes em sua cabeça, assassina o clone de Johnny Slater, um agente de confiança do presidente e parte para a base subterrânea para destruir aquele lugar.

O enredo do jogo é simples, mas algumas reviravoltas durante a trama garantem que o jogador sinta-se imerso àquela sombria aventura até a sua emocionante conclusão. O que realmente chama a atenção no jogo é sua ambientação, que graças à excelente e sombria trilha sonora, possui um clima pesado e angustiante (até porque estar em uma base subterrânea cheia de monstros estranhos querendo te matar não deve ser nada muito agradável). Os cenários não são lá muito variados. Industriais e frios, os locais servem apenas de cenário para o desenrolar da trama e para as batalhas contra os mais variados e bizarros monstros já vistos em jogos para o Nintendo 64.

Progressão lenta

Hybrid Heaven não é indicado para os aficionados por jogos de tiro com ação intensa, ou mesmo jogos de ação nos moldes de Metal Gear Solid (PS). Contudo, conceitualmente, o jogo pode passar essa impressão, já que durante os momentos de exploração a jogabilidade é muito influenciada pelo clássico da Konami. Diaz pode realizar boa parte dos movimentos realizados por Snake na obra prima de Kojima, mas quando inimigos são encontrados, a dinâmica do jogo se modifica completamente. Apesar das batalhas não ocorrerem com a rigidez dos turnos de Final Fantasy, já que o jogador pode se movimentar livremente pelos cenários durante esses momentos. Para atacar, é necessário abrir um menu em que você deve selecionar a forma com que desferirá o golpe em seu inimigo. E aí entra a maior sacada da Konami na criação do título. Isso porque os ataques são corporais, e cabe ao jogador selecionar se o golpe será um chute ou um soco e se estes serão altos, baixos etc. Com isso, o jogador não treina seu personagem nas batalhas, e sim seus membros, que vão ficando mais fortes ou mais debilitados conforme você progride na aventura. Tal solução faz com que o jogador não se limite a utilizar sempre os mesmos golpes, já que isso faria com que Diaz possuísse uma força desproporcional entre seus braços e pernas, o que dificultaria bastante o progresso em certos momentos que exigiriam determinada habilidade do personagem.

Além disso, durante as batalhas, o protagonista também pode se machucar em partes específicas de seu corpo, o que estimula ainda mais o jogador a construir um personagem equilibrado. Heaven é um jogo difícil e lento, não sendo indicado para qualquer tipo de jogador, mas para os que gostam de treinar seu personagem e criar estratégias para vencer batalhas o jogo é um prato cheio. Para tornar tudo mais interessante, ainda é possível criar diferentes combos conforme se vai avançando no jogo e, se Diaz consegue sobreviver a golpes muito fortes dos inimigos, ele os aprende ao final da batalha, o que incentiva ainda mais os jogadores a não fugir das lutas, por mais difíceis que elas possam parecer.

Arquivo X em corredores genéricos

Talvez o maior problema de Heaven esteja em seus cenários genéricos e sem inspiração. Claro que não dá para esperar muita variedade quando temos um jogo que se passa em apenas um lugar e foi criado para um hardware deveras limitado se comparado aos consoles atuais aos quais estamos acostumados. Contudo, a mesma Konami que desenvolveu Hybrid Heaven desenvolveu Metal Gear Solid um ano antes em um console mais limitado que o Nintendo 64 e, mesmo se passando também em apenas um lugar, nunca deixava a impressão de que os cenários eram reciclados e genéricos. Vários jogos lançados anteriormente para o próprio console da Nintendo eram muito mais variados e possuíam uma arte mais chamativa. Mesmo assim, tecnicamente o jogo é muito belo, com efeitos de luz bastante avançados para a época.

No entanto, o que rouba a cena no jogo é o design dos inimigos, sendo alguns assustadoramente engraçados e outros apenas assustadores. A Konami quis criar monstros que passassem medo ao jogador, e admito que quando joguei o título pela primeira vez, com menos de dez anos de idade, senti um pouco do que o jogo se propunha a passar. Mas olhando direito para cada um dos inimigos do jogo atualmente, percebo que boa parte deles está muito mais para engraçado do que assustador (ou você teria medo de um monstro usando uma saia?). Mesmo assim, o clima proporcionado pela trilha sonora e a ambientação em geral é tão angustiante e claustrofóbico que os monstros acabam desempenhando bem o seu papel.

Falando em trilha sonora, a Konami sempre foi referência na criação de trilhas imersivas para os seus jogos, desde as franquias consagradas como Castlevania até jogos mais simples ou novas franquias, tal como o próprio Hybrid Heaven. Como já dito, as músicas presentes no game transmitem um clima muito pesado, que casa perfeitamente com a trama, que é muito sombria e algumas vezes até apocalíptica. O não uso de música em momentos oportunos também é um artifício pensado pela Konami para maior imersão dos jogadores, de maneira que a fantástica ambientação e melancolia de Heaven tocará os aficionados por ficção científica e tramas de dominação mundial.

Esquecido

Hybrid Heaven recebeu boas avaliações em seu lançamento, mas como quase todos os jogos de terceiras lançados para consoles da Nintendo, acabou ficando ofuscado diante dos títulos da própria desenvolvedora e das pérolas da RareWare, maior parceira da Big N no período. Contudo, para os amantes de RPG e ficção científica, Heaven é uma bela pedida, e trouxe inovações que mal foram notadas pelos jogadores da época. Uma pérola esquecida do console de 64 bits da Nintendo.


Revisão: Samuel Coelho
Capa: Douglas Fernandes e Daniel Machado

Escreve para o Nintendo Blast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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