NX, um projeto rodeado por especulações e grandes expectativas

Apenas sua existência foi confirmada, mas mesmo assim o projeto do próximo console da Nintendo já está dando o que falar.

A Nintendo é uma empresa fadada ao fracasso, ou pelo menos é isso que muitos repetem por aí desde a década de 80, quando ela entrou de cabeça no mundo do entretenimento eletrônico. Sabemos que seus produtos atingem sucesso astronômico com grande frequência, mas sabemos também que muitas vezes a gigante japonesa não foi a preferência dos consumidores. Justamente por isso, aliado à grande teimosia da empresa em não seguir várias tendências da indústria dos jogos eletrônicos, pessoas não cansam de afirmar: “agora a Nintendo vai à falência”.




Em um claro momento de crise, em que a Big N por seguidas vezes não conseguiu fechar o ano fiscal com lucro e o Wii U é uma ideia que até agora não “colou” (suas vendas estão abaixo das do GameCube em comparação com o mesmo intervalo de tempo), os haters — que não são poucos — decretaram já seu fim, enquanto que alguns analistas disseram que, para a Nintendo continuar relevante no mercado de jogos, o Wii U precisaria se encontrar mais cedo que o previsto com as Deusas Nayru, Din e Farore.
Rest in peace, Wii U!
Não é de se espantar, portanto, que o pronunciamento de Satoru Iwata, saudoso ex-presidente da companhia, sobre o NX tenha causado tanto furor e especulações das mais variadas, tanto positivas quanto negativas.

NX é a resposta da resposta

Como dito anteriormente, há anos a Nintendo vinha sofrendo com prejuízos financeiros, e muitos enxergavam como saída o desenvolvimento de jogos para o mercado mobile, composto por tablets e smartphones.

Após muito tempo negando que Mario pudesse alguma vez mostrar seu bigode em uma tela mobile, eis que a Nintendo surpreende a todos e responde com o anúncio de uma parceria com a também japonesa DeNA para a produção de conteúdos para o novo mercado, trazendo frutos já para o final de 2015. Foi o suficiente para que a internet se enchesse de comentários afirmando que a gigante first party estava fugindo dos danos causados com o Wii U e se instalando de vez no formato de jogos mais “simples”.
"Toca aí, parça!"
Portanto, em resposta ao ceticismo que tomou conta da rede, a Big N resolve afirmar que a parceria com a DeNA servirá para atrair mais jogadores às suas plataformas, e que não deixará o mercado de consoles, pois já estão trabalhando em um novo produto, que por enquanto “responde” pelo nome de NX.

Console novo e o abandono de um antigo

Desenvolver um novo console não significa necessariamente que o atual está destinado a viver apenas nas memórias dos jogadores. Quer dizer, até o mais bem-sucedido produto de entretenimento eletrônico um dia será descontinuado e deles só restará a lembrança — até mesmo o PlayStation 2 precisou ser substituído —, mas o velho e o novo podem conviver mesmo que por um breve período.
Esses dois parecem conviver muito bem juntos.
A Nintendo — e ela não é a única — tem histórico em desenvolvimento de novas tecnologias enquanto seus consoles atuais dão os primeiros passos na distribuição ao redor do mundo. Desenvolver um novo console dura anos, desde o tempo de pesquisa, passando pelo desenvolvimento, até o lançamento. Imagine quanto tempo foi necessário para que a Nintendo obtivesse um desempenho satisfatório com o Wii Remote ou até mesmo com o GamePad.

Por esses motivos, não chega a ser surpresa que a casa de Mario Luigi trabalhe em uma nova plataforma. Inclusive, há tempos ela afirma ter iniciado as pesquisas para o substituto do Wii U (desde o seu lançamento, lá em 2012), tendo o mesmo acontecido com o Wii em 2006.
O Wii a todo vapor e a Nintendo já planejava o próximo passo.

Ocupando o espaço do Wii U

Tá, mas qual o lugar do NX no mercado de videogames? Em uma rápida observação, é fácil imaginar que ele viria para substituir o Wii U. Ou o 3DS. Pensando um pouco mais além, talvez uma terceira categoria que a Nintendo tenha enxergado.

Pensar que a nova plataforma virá para substituir o Wii U faz todo o sentido. Como já apontado neste texto, o atual console de mesa da companhia japonesa não vingou, amargando uma das piores vendagens que a Nintendo já teve em hardwares até hoje. Com quase nenhum apoio de thirds, a maioria das principais franquias da Nintendo já tendo aparecido na plataforma, o já notável pouco poder de fogo para acompanhar a concorrência e o baixo aproveitamento da principal novidade do console, o GamePad, além de uma rede online que não bate de frente com a Xbox Live ou a PlayStation Network, talvez a melhor saída seja mesmo a retirada do Wii U das prateleiras, já que dificilmente a empresa daria suporte a dois consoles de mesa simultaneamente (considerando o histórico da Big N, suas plataformas são praticamente abandonadas quando uma nova é lançada, vide Wii e DS).

Em 2016, quando a Nintendo dará detalhes do NX, o Wii U fará quatro anos de vida. Se pensarmos num ciclo de cinco anos para cada console da empresa, até que o Wii U não terá saído de vista assim tão cedo. Se o lançamento ocorrer em 2017, o console atual ainda terá que se segurar por mais dois anos, tarefa bem difícil e improvável.
O que esperar para 2016?
O maior sinal, além da pouca vendagem, de que o NX tomará o lugar do Wii U vem dos jogos atuais. Splatoon, que está sendo bem recebido, é um game excelente, porém não chega perto de ter o apelo visual e sonoro que Mario Kart 8, por exemplo, teve. Star Fox Zero, título que era aguardado com muita ansiedade pelos fãs, derramou um barril de água fria em suas cabeças, não sendo visualmente tão interessante quanto muitos dos jogos que vimos no PS3 e X360, e muito menos do que era esperado para um título de tão grande peso de quem sempre surpreende visualmente (Super Mario Galaxy 2 e The Legend of Zelda: Skyward Sword, ambos do Wii, que o digam).
Não é ruim, mas será bom o bastante?
Até Zelda U, que arrancou gritos na E3 2014 e no gameplay exibido no Game Awards do mesmo ano, foi adiado para 2016 e sequer apareceu na E3 2015. Não é muito difícil imaginar que a Big N continue adiando seu lançamento para coincidir com o do NX, sem que isso prejudique a versão para o Wii U. Até porque isso já aconteceu no passado, quando a Nintendo adiou por diversas vezes o lançamento de Twilight Princess, que saiu junto do Wii e uns meses mais tarde apareceu no GameCube.

Ocupando o espaço do 3DS

Tomar o lugar do 3DS também não parece ser algo absurdo. Lançado em 2011, o portátil completou este ano quatro anos de vida, portanto se fosse substituído em 2016 teria cinco anos, tempo normal para um portátil da Nintendo.

De lá para cá, o console rendeu muitos rupees para a Big N, mas claramente está mostrando sinais de cansaço, já tendo recebido jogos das principais franquias nintendistas (considerando apenas The Legend of Zelda, Tri Force Heroes e Hyrule Warriors farão a quarta e quinta aparições no portátil) e com menos lançamentos third parties de peso do que víamos tempos atrás — e esse número só tende a diminuir.

Também há que se levar em conta o fator tecnológico. O PS Vita também não tem recebido muita atenção da Sony, mas de vez em quando vemos versões de jogos de consoles de mesa saindo para ele, sem nem menções para o portátil da Nintendo [e todos olham para Resident Evil: Revelations 2 (Multi)]. Não acha? Assassin’s Creed III: Liberation, Need for Speed: Most Wanted, Borderlands (dois títulos!), Child of Light, entre outros, além do já citado Revelations 2 e os jogos episódicos da Telltale Games.

Tal situação deixa claro que a Nintendo precisa de uma máquina nova e mais poderosa, capaz de surpreender e receber os jogos que as third parties preparam, até porque o cenário atual deixa claro que a Big N não está conseguindo dar conta sozinha de dois consoles.

O New 3DS parece se encaixar bem em um espaço tecnológico vazio entre o 3DS e o PS Vita, porém, ainda assim, ele não é o suficiente para dar muito mais tempo de vida ao portátil de duas telas. Isso porque, mesmo sendo mais poderoso, apenas um jogo de peso foi anunciado até o momento para ele (Xenoblade Chronicles), e que muitos já tinham tido a oportunidade de jogar no Nintendo Wii. Uma E3 se passou e nenhum outro game foi anunciado exclusivamente para o New 3DS, o que indica que o novo aparelho é mais um dispositivo para entusiastas que não se importam em dar mais alguns trocados por uma versão melhorada do que já tinham do que algo realmente novo e voltado para o futuro.

Quanto tempo de mercado terá a Nintendo reservado para esta versão?

Pulando por plataformas misteriosas

Logo, vemos que o NX seria um console perfeito, por timing ou para suprir uma falha existente, para substituir o Wii U ou o 3DS. Aliando, a isso, o apelo público por jogos com a opção cross-buy e maior interação entre os videogames da empresa, seria uma grata surpresa saber que a nova plataforma seria um híbrido entre console de mesa e portátil, e por isso os fãs não param de tocar nessa tecla.

Porém, não nos esqueçamos da recente parceria com a DeNA. Entrar no mercado de jogos mobile não será uma tarefa fácil, pois temos à disposição títulos baratos e de enorme sucesso. Seria demais imaginar que a Nintendo pudesse lançar um smartphone, unindo também nesse mercado o hardware com seus softwares?

Ou vai que ela crie um novo conceito, assim como a Apple fez com o iPad. Nesse sentido, já sabemos que em algum momento veremos uma plataforma voltada para a “qualidade de vida” e uma para “mercados emergentes”. Hum, pensando nisso, um personagem rechonchudo e de bigode… será que veremos um Mario mexicano?

Como consumidores e, principalmente, fãs, só nos resta torcer para que a Big N saiba o que está fazendo e acerte a mão desta vez, fazendo com que suas propriedades intelectuais voltem a ser tão relevantes no mercado quanto já foram antes, batendo de frente com os excelentes trabalhos feitos no PlayStation 4 e no Xbox One. Surpreenda-nos, Nintendo!


Revisão: Alberto Canen
Capa: Felipe Araujo

Escreve para o Nintendo Blast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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