Análise: Captain Toad: Treasure Tracker (Switch) — carismático, desafiador e híbrido

Mesmo sendo um port de um título de 2014, Toad consegue brilhar novamente.

em 28/07/2018
Dizem que jogos são como o vinho: com o passar dos anos desde o lançamento, os que são de excelência se fortalecem, se “refinam”, enquanto os ruins, podemos dizer que “azedam” cada vez mais. O caso de Captain Toad: Treasure Tracker (Switch) é o mais positivo possível. Mesmo após quase 4 anos desde o seu lançamento para Wii U, é extremamente positivo ver que a Nintendo criou um jogo que poderá ser primorosamente aproveitado com o passar dos anos pela sua qualidade e desafio.

Nem todo herói sabe pular


Inicialmente, Captain Toad: Treasure Tracker foi classificado como uma ramificação de Super Mario 3D World (Wii U), sendo um jogo de plataforma e aventura simples e com premissas compreendidas por qualquer um. Entretanto, com seu relançamento em 2018 para 3DS e Switch, os desenvolvedores, de certa forma, apagaram os laços com o 3D World, já que não está presente em nenhuma das duas plataformas, e, aparentemente, desejaram atualizar a versão.

O jogo continua o mesmo, basicamente. Toad, a princípio, tem que salvar Toadette do corvo Wingo, e a narrativa brinca com essa ideia de um salvando o outro, uma vez que há a inversão dos papéis com o desenvolver da trama dos dois cogumelinhos. Os mais de 70 níveis são mantidos e divididos em quatro livros para facilitar a busca pelo jogador.

Novos livros são desbloqueados com o tempo.
É bom ver que Toad e Toadette têm características diferentes dos principais personagens de jogos de plataforma. Como estamos acostumados a jogar Donkey Kong ou Super Mario, temos a ideia de que pular em um jogo assim é essencial – mas Treasure Tracker nos mostra o contrário. Como os dois cogumelos não podem pular e são relativamente lentos – mesmo correndo –, o game consegue tornar pequenas ações recompensadoras e mostra o desafio enfrentado pelos dois, conseguindo gerar o reconhecimento das personagens, até então secundárias, com êxito.

Os puzzles são, no geral, inteligentes e exigem o raciocínio do jogador, mas apenas se ele estiver interessado em coletar todos os diamantes e cumprir a missão especial. Cada fase contém três diamantes escondidos, além da estrela no final, que podem fazer com que o jogador gaste muitos minutos (horas, talvez?) até descobrir uma maneira de encontrá-los em desafios mais complexos. Além disso, objetivos secundários estendem a jogatina, como encontrar o cogumelo dourado ou completar uma meta de moedas, por exemplo.

Essa dosagem entre fácil e complicado é positiva, principalmente porque torna o jogo apreciável para todos os públicos. Crianças podem jogar Captain Toad: Treasure Tracker sem problemas, e caso pessoas mais velhas sintam vontade de tentar também, elas podem ter a certeza de que não irão se arrepender, uma vez que níveis mais avançados, como os do livro 3, são extremamente trabalhosos, caso o objetivo seja completar o jogo 100%.

Como Charlie Chaplin

É interessante perceber que Treasure Tracker não utiliza uma sentença sequer para expressar os acontecimentos da narrativa – praticamente um cinema mudo. Claro, é uma premissa bem simples: o jogador tem que completar o nível e resgatar seu parceiro ou parceira. Porém, a maneira que isso é executado pelo game merece uma atenção especial.

Apenas gestos e sons suaves são necessários para construir um padrão narrativo simples, inclusive já usado diversas vezes, mas que consegue cativar, principalmente por se tratar de dois personagens que conseguem brilhar com o material que possuem – seja pela qualidade aplicada pelos desenvolvedores ou pelo cuidado em transformá-los em símbolos de fofura e adoração do público.

No entanto, sabemos que o forte de Captain Toad: Treasure Tracker não é a história, como entendemos a importância narrativa em jogos como Wolfenstein II: The New Colossus, mas sim o cuidado minimalista aplicado em mais de 70 níveis extremamente bem feitos e, por incrível que pareça, cada um exclusivamente único – evitando que a experiência do jogador se torne repetitiva.

Para isso, a variação dos níveis tem destaque no jogo. Além das fases de plataformas propriamente ditas, que são a maioria, Captain Toad e Toadette têm que enfrentar chefes, como dragões e o Wingo, atravessar áreas com um carrinho de mineração atirando nabos nos inimigos e completar bônus alternativos para ganhar moedas. Wingo é um vilão fraco, justamente pela estrutura do jogo, mas não é um grande problema, já que o maior interesse do jogador é completar os obstáculos oferecidos que são, sem dúvidas, o destaque de Treasure Tracker.

Toadalmente Aventureiro

Da mesma forma que as moedas estão presentes em New Super Mario Bros. 2 (3DS), em Captain Toad não é diferente. Temos bônus temáticos focados em coletar moedas e grande parte dos níveis estão repletos delas. Porém, a sensação é de que tais moedas não têm muita utilidade.

Na teoria, quando o jogador junta 100 moedas, ele ganha uma vida extra. Entretanto, como o jogo te recompensa com vidas muito facilmente, justamente por ser focado na exploração, não há uma grande preocupação em juntá-las, apenas quando a missão secundária estabelece uma meta de coleta – que não ocorre com muita frequência. Por que não adicionar roupas alternativas vendidas por moedas ou níveis desbloqueados apenas pela troca dessas? Toad é um caçador de tesouros sem valor, então?

Para tantos bônus, temos variações positivas que estendem a jogatina. Para começar, o bônus Pixel Toad, que é jogável em alguns níveis depois que o jogador termina a fase, está disponível para a versão de Wii U apenas com o uso de amiibo específicos. Felizmente, as novas versões não requerem o uso do acessório para o extra de esconde-esconde do boneco 8-bit de Toad escondida no mapa. Mummy-Me é igualmente divertido, se tratando de um pega-pega com o objetivo de fugir da múmia enquanto o jogador coleta a maior quantidade de moedas possível.

Os níveis que requerem Power-ups são agradáveis também. As fases que apresentam a Double Cherry, que cria um clone que imita seus movimentos, são desafiadoras e inteligentes, principalmente quando o objetivo final é completá-las com todos os clones vivos. Além da cereja, a Super Pickax também marca presença em muitos níveis que exigem uma percepção rápida de onde escavar.

A versão definitiva dos exploradores

É impossível não mencionar as mudanças feitas para que essa versão chegasse ao Switch. Como o jogo foi primeiramente desenvolvido para Wii U, com o uso de recursos do GamePad como a tela touch screen e a interação de voz, foi questionado se realmente seria decente lançá-lo para o híbrido da Big N. Felizmente, essa nova versão é extremamente bem estruturada para o novo console e, por mais estranho que pareça, entrega duas experiências particulares – tanto no modo portátil como conectado ao dock.

A princípio, a jogatina no modo dock é a mais bonita ao comportar uma resolução de 1080p e 60 FPS. Sim, é visualmente colorido, polido e com seu charme. Porém, a experiência com os Joy-Con conectados no grip ou usando o Pro Controller não é adequada. A solução encontrada para substituir as interações com o touch screen foi utilizar os motion controls com uma mira direcionada para a tela. Por mais que funcione, com a configuração dos controles citados não parece ser a melhor maneira de jogar.

Para isso, a maneira recomendada é utilizar um Joy-Con em cada mão, o que dá mais liberdade para mirar nos alvos com o controle direito – que possui a funcionalidade de “pontaria” na tela. Assim, consegui progredir no jogo sem muitas dificuldades com o controle da câmera, que é fundamental nesse jogo, e tive experiências bastante positivas jogando na televisão a respeito dos modos alternativos, incluindo o Co-op.
Girar o Joy-Con direito para mover uma alavanca é um exemplo das diferenças do modo dock.
Falando nisso, o modo cooperativo é uma adição apreciável em Treasure Tracker. Com um Joy-Con para cada jogador, o jogo continua o mesmo, mas, dessa forma, Toad é controlado com o controle esquerdo, enquanto a câmera é orientada com o controle direito. Além disso, para que a experiência se torne agradável para ambos – já que apenas um controla o personagem –, o jogador que controla a câmera interage, também, com os objetos e tem a habilidade de lançar rabanetes nos inimigos, tornando a experiência bem divertida e interativa, mas que de certa forma tira um pouco do desafio que o jogador teria jogando sozinho.

Além do mais, o modo portátil diminui a resolução para 720p, mas isso não atrapalha. Como o Switch possui a funcionalidade touch screen, a experiência se assemelha muito à jogatina no GamePad. É agradável, intuitivo e se diferencia do modo anteriormente citado neste aspecto, um ponto positivo de qualidade e cuidado com os dois modos disponíveis para o jogador.

Para atribuir mudanças desde o seu primeiro lançamento em 2014, foram adicionadas quatro fases temáticas de Super Mario Odyssey (Switch) que são inspiradas no Luncheon, Wooded, Sand e Cascade Kingdom. São bons níveis, mas que são rapidamente concluídos e eu não acredito que tenha sido realmente necessário a remoção dos outros quatro níveis inspirados no Super Mario 3D World, presentes na versão de Wii U.

Em síntese, Captain Toad: Treasure Tracker consegue cumprir sua proposta e entrega um prato cheio de níveis e atividades que estimulam a volta do jogador. O trabalho carismático das personagens em entreter on the go é, sem dúvidas, convincente e funciona muito bem em todos os modos oferecidos pelo Switch. Por mais que houveram oportunidades para incrementar o uso das moedas e adicionar mais novidades ao game, isso não tira o brilho de Toad e Toadette em torná-los agradáveis e quase uma obrigação para quem não teve a oportunidade de jogá-los anteriormente no Wii U.

Prós

  • Port não prejudicou a jogabilidade nem a qualidade;
  • Grande quantidade de puzzles disponíveis;
  • Personagens cativantes e únicos;
  • Apreciável por todas as idades;
  • Modo Co-Op intuitivo e divertido;
  • Bônus Pixel Toad não requer mais o uso de amiibo específicos;
  • Funciona bem tanto no modo portátil quanto ligado à TV.

Contras

  • Moedas não possuem muitas utilidades;
  • Experiência com o Pro Controller ou com o grip não é agradável;
  • Sem uma quantidade significativa de novidades desde a versão de Wii U;
  • Remoção de níveis inspirados no Super Mario 3D World.

Captain Toad: Treasure Tracker - Switch - Nota: 9.0



Revisor: Vinícius Rutes
Captain Toad: Treasure Tracker está disponível na Loja Nintendo
Análise produzida com cópia digital cedida pela Nintendo

É estudante e apaixonado por games desde seu primeiro contato com Duck Hunt e Ice Climbers do nintendinho em 2002. Fanático por Pokémon e admirador de diversas franquias, reúne seu tempo livre para escrever e tentar colocar as matérias da faculdade em dia.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.