15 anos de Game Boy Advance SP: relembre uma das mais objetivas revisões de console da Nintendo

A primeira revisão do Game Boy Advance é um exemplo de otimização de um aparelho e ainda ajudou a nortear o mercado de consoles portáteis por pelo menos dez anos.


O Game Boy Advance foi lançado em 2001 como sucessor do Game Boy Color. Conhecido originalmente como Projeto Atlantis, o sucessor da pequena máquina — que naquela época tinha alcançado um estrondoso índice de popularidade por conta do auge da série Pokémon — impressionava. No começo do milênio, um aparelho capaz de reproduzir jogos do Super Nintendo de maneira portátil era algo surpreendente, uma vez que o SNES não pertencia a uma realidade passada tão distante assim.


Apesar de logo ter conquistado seu lugar ao sol e ter marcado por seu design que colocava os botões nas laterais da tela no intuito de otimizar a empunhadura, era nítido que o aparelho ainda tinha seus problemas. Os botões ainda eram duros e o jogador assíduo ainda precisava comprar um caminhão de pilhas AA. Isso sem falar do mais incômodo dos defeitos: a tela de cristal líquido.

Embora o novo ecrã fosse capaz de reproduzir uma vasta gama de cores de maneira tão vívida, ele carecia de brilho próprio. Por conta disso, tornou-se uma prática comum no desenvolvimento de jogos para o aparelho utilizar paletas claras e berrantes, além de tons contrastantes, no intuito de facilitar a visão do jogador. Pokémon Ruby/Sapphire (GBA) e Mother 3 (GBA) se utilizaram de tal estratégia em sua concepção para tentar contornar esse empecilho, enquanto outros jogos, sendo Castlevania: Circle of the Moon (GBA) um dos mais notórios exemplos, se tornaram praticamente injogáveis.

A segunda melhor coisa de se fazer no escuro

Com o objetivo de sanar as deficiências apresentadas pelo modelo original, o Game Boy Advance passou por uma revisão. Lançado em 2003, apenas dois anos após o original, chega ao mercado o Game Boy Advance Special, conhecido também apenas por Game Boy Advance SP, e logo torna o GBA original completamente obsoleto.

O GBA SP tinha uma estética ergonômica e um acabamento arrojado que permitia que o console fosse aberto e fechado, protegendo a tela e alinhado à tendência da época que eram celulares de flip. Por conta desse design comumente chamado de clamshell (em português é algo próximo a concha de mexilhão), o Game Boy nunca tinha sido tão compacto, ocupando um volume de menos da metade do modelo original do GBA, que já era menor do que seus antecessores. Detalhe: posteriormente, a Nintendo lançaria o Game Boy Micro, que é ainda menor, mas a tela diminuta e o incômodo que era jogar em botões tão pequenos não impediram que o SP continuasse a reinar praticamente sozinho até mesmo algum tempo depois do lançamento do Nintendo DS.

O principal atrativo do SP era responsável por sanar o problema da tela impossível de se ver: a iluminação própria do ecrã de LCD. As noites de jogatina ao lado do abajur da cabeceira da cama se foram, uma vez que agora o visor era autossuficiente e não precisava mais de fatores externos para tornar seu conteúdo nítido. O simples toque do botão centralizado no aparelho fazia com que o rosto do jogador fosse banhado de luz.

O marketing da Nintendo, que antigamente era responsável por memoráveis propagandas minimalistas — como o bordão “tocar é legal” (touching is good, no original) para divulgar o Nintendo DS —, obviamente centrou todo o foco no novo recurso. Visando um público-alvo masculino, uma peça publicitária para revistas com um toque apimentado. Em uma das páginas, um casal deitado numa cama com o GBA SP em cima do travesseiro. Na outra, o próprio console em destaque num fundo preto com os dizeres “a segunda melhor coisa para se fazer no escuro”.



O Game Boy Advance SP veio com outro recurso importante: uma bateria de lítio recarregável direto na tomada. A história de se surpreender com o console desligando porque as pilhas tinham acabado passou a ser coisa do passado, uma vez que a luz verde que indicava que o aparelho estava ligado se tornava vermelha quando a carga estava no fim. Quando isso acontecia, era só ligar o carregador e continuar jogando como se nada tivesse acontecido.

Por fim, os novos botões eram mais suaves e confortáveis ao toque. O único retrocesso, por uma questão de arquitetura decorrente da compactação do hardware, é a ausência de uma entrada para fones de ouvido que já estava presente nos modelos anteriores. Um periférico chegou a ser lançado para contornar o problema, mas ele ocupava a entrada de energia e, portanto, não era possível jogar de fones enquanto o console recarregava.


Um verdadeiro arco-íris de luzes

Como é de praxe na maioria dos consoles da Nintendo, o Game Boy SP recebeu diversas variações de cores. Originalmente, três modelos foram lançados no mercado americano: Cobalt Blue (azul), Platinum (prateado) e Onyx (preto). Um quarto chamado Flame Red (vermelho), chegou logo depois. Em 2005, uma nova edição do GBA SP chegou ao mercado, com um visor que emitia uma luz ainda mais intensa. Eles vieram nas cores Pearl Blue (azul perolado), Graphite (cinza) e Pearl Pink (rosa perolado).

Algumas edições especiais limitadas também chegaram a ser lançadas. Dentre as mais populares estão a Emerald — na cor verde com o Pokémon Rayquaza no “capô” do aparelho  —, o Classic NES que ostenta as cores do console retrô da Nintendo e até mesmo uma edição especial temática do Naruto.


Isso sem falar das edições de colecionador, como uma restrita ao Japão que comemorava 20 anos do Famicom e somente mil unidades foram fabricadas. Se isso não é exclusividade o suficiente, há também uma lenda a respeito de uma edição especial chamada Zelda 24K que, ao melhor estilo A Fantástica Fábrica de Chocolate, o sortudo que encontrasse um bilhete dourado em uma das cópias do bundle que continha a edição especial de Zelda do console acompanhada do game The Legend of Zelda: Minish Cap (GBA) poderia trocá-lo por um Game Boy Advance SP folheado à ouro vinte e quatro quilates de verdade.
De acordo com os relatos, apenas seis desses aparelhos foram produzidos. Entretanto, como nem mesmo a Nintendo já se pronunciou a respeito do assunto, apesar de existirem artigos da época que confirmam a realização da promoção, a existência desses consoles ainda pode ser colocada em dúvida. Apesar de alguns depoimentos e imagens em fóruns de internet, ainda não há uma comprovação e reconhecimento oficial relacionados à sua existência.

Independentemente das lendas, ainda é um console que vale ouro

O Game Boy Advance SP foi um divisor de águas que deu um passo enorme na evolução dos consoles portáteis. O elegante design clamshell perduraria até a era do 3DS, enquanto o fim das pilhas e a utilização de um ecrã luminoso se tornariam marcos essenciais e moldariam a indústria ao ponto de fazer com que os Game Boy anteriores ficassem completamente obsoletos e virtualmente injogáveis por conta da falta de tais praticidades.

O DSi pode ter sido um salto considerável que serviu de protótipo moral para o 3DS, enquanto o DS Lite simplesmente eliminou o DS original do mercado por conta de seu modelo mais prático e econômico. O Game Boy Advance SP, entretanto, se sobrepõe a todas essas revisões de hardware praticadas pela Nintendo justamente por trazer mudanças objetivas que conseguiriam pavimentar a jogabilidade de seus sucessores por pelo menos dez anos.

Revisão: Ana Krishna Peixoto

É jornalista formado pelo Mackenzie e pós-graduado em teoria da comunicação (como se isso significasse alguma coisa) pela Cásper Líbero. Tem um blog particular onde escreve um monte de groselha e também é autor de Comunicação Eletrônica, (mais um) livro que aborda história dos games, mas sob a perspectiva da cultura e da comunicação.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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