Jogamos

Análise: Final Fantasy X/X-2 HD Remaster (Switch) – dois clássicos tratados com o carinho que merecem

Passados mais de 15 anos de seus lançamentos, os dois clássicos JRPG's da Square Enix encontram sua casa ideal no Nintendo Switch.


Final Fantasy X — assim como sua sua sequência — chega a um console da Nintendo quase vinte anos depois de seu lançamento original. Quando surgiu no PS2, em 2001, FFX carregava consigo o peso de ser a estreia da venerada franquia da Square (ainda sem Enix) no novíssimo e poderoso console da Sony. E o título não decepcionou: era uma maravilhosa viagem a lugares fascinantes e recheados de magia, com uma trilha sonora primorosa do veterano Nobuo Uematsu.

O feito no agora distante ano de 2001 foi tão impressionante que, hoje, tanto tempo depois, Final Fantasy X/X-2 HD Remaster ainda é estimulante para os olhos e para a mente. Muito graças ao bom gosto de sua direção de arte e músicas; história e personagens cativantes; e seus acessíveis sistemas de batalhas e evoluções. No Switch, como não poderia deixar de ser, tudo fica ainda mais vibrante e prático.

Obras restauradas com capricho

Enquanto meu Switch fazia o download dos arquivos de Final Fantasy X e X-2, resolvi fazer um teste: soprei o pó das minhas caixinhas dos games originais para PlayStation 2 e liguei no antigo console, só para relembrar. É claro que a resolução baixa mostra sua idade em 2019, mas os jogos continuam bonitos mesmo no cansado console da Sony. Entretanto, quando finalmente liguei Fantasy X/X-2 HD Remaster pela primeira vez no Switch, foi um choque!

Se você já experimentou essa remasterização em alguma outra plataforma, sabe o que vou dizer: a qualidade do tratamento dado pela Square Enix nesse relançamento é estupenda. A direção de arte caprichada dos jogos originais ganha nova vida com o aumento da resolução e os retoques visuais, deixando tudo muito mais cristalino, colorido e vibrante. Os modelos das personagens também ganharam um dia no salão de beleza e estão ainda mais detalhados.


O port não perde nada em qualidade no modo TV, mas na telinha do Switch o visual parece brilhar ainda mais. Por outro lado, os gráficos remasterizados estão tão cristalinos que todas as limitações de quinze anos atrás ficam ainda mais evidentes. Algumas texturas mais pobres e animações estranhas se destacam, mas não é nada que tire a excelência desses títulos e dessa restauração.

Sobre fé, figuras paternas e trajes espalhafatosos

Ao contrário das histórias sobre rebeldes, militares ou reinos em apuros da maioria dos títulos da série, Final Fantasy X esconde uma narrativa muito mais intimista e focada na jornada pessoal de Tidus, Yuna e companhia — mesmo que os perigos sejam apocalípticos. É uma jornada mais espiritual e sentimental, que lida com temas como fé; as relações entre pais e filhos; preconceito; e os riscos do uso exagerado das tecnologias. Isso tudo sem contar o infame Blitzball, aquela mistura de futebol com polo aquático que ou você ama ou você odeia.


A evolução das missões e história, assim como o desenvolvimento das personagens, é bem linear no décimo capítulo da franquia. Apesar de o jogador poder escolher caminhos alternativos no Sphere Grid — o sistema "tabuleiro" que serve para melhorar as personagens e comprar novas habilidades —, o resultado é sempre bem parecido, havendo pouco espaço para customização.

Essa linearidade não foi vista com bons olhos por fãs mais fervorosos da série da Square, mas a verdade é que essa falta de profundidade torna esse título uma excelente porta de entrada para quem quer estrear no mundo dos JRPG's. O game perde as excentricidades dos Jobs, Magicites, Materias, Junctions e outros sistemas que marcaram os Final Fantasy. Mas ganha uma simplicidade que o deixa muito mais acessível e fácil de aprender e dominar.


Já Final Fantasy X-2 volta a Spira com uma certa influência do sucesso que o filme As Panteras fazia na época. Desta vez com Yuna como principal protagonista, a continuação transforma o clima mais sério de FFX em uma quase-comédia musical, cheia de exageros, música, dança, atitude, referências à cultura pop japonesa e sem tanto compromisso com as amarras da série.

Ainda assim, se evitarmos as comparações óbvias e os preconceitos, X-2 é um ótimo jogo que traz de volta alguns elementos clássicos da franquia, como o combate ativo e as classes/Jobs — aqui no formato dos trajes das protagonistas, que podem ser trocados a qualquer momento utilizando o sistema Dressphere.

Novidades e ausências

Esse pacote remasterizado chega com um certo atraso a um console da Nintendo. Final Fantasy X/X-2 HD Remaster foi lançado para outros consoles e para PC's em 2013, mas ignorou por completo o Wii U. Agora, o título chega ao Switch num port extremamente competente. Com os mesmos gráficos cristalinos e a trilha sonora rearranjada das outras plataformas, a versão para o híbrido da Nintendo também conta com algumas novidades sutis e ausências inexplicáveis.


Logo no menu inicial podemos ver o conteúdo completo da coleção: o pacote conta com as versões internacionais dos dois títulos, assim como o vídeo The Eternal Calm (que serve de interlúdio entre as duas histórias), a "expansão" Last Mission de Final Fantasy X-2 (que apresenta uma dungeon extra no estilo rogue) e um vídeo de créditos com artes conceituais e canções bônus.

A edição internacional de Final Fantasy X traz a opção de uma Sphere Grid mais complexa e mais chefes opcionais, enquanto que em X-2 temos trajes extras, novos mini-games e o sistema de criar criaturas. Já as novidades exclusivas dessa remasterização são mais simplórias: especialmente no Switch temos a opção de tocar na lateral da tela para acessar um menu rápido de cura — um bônus para facilitar um pouco a vida do jogador, mas que podia ser mais completo e melhor explorado.


Por outro lado, no Switch não temos as facilidades presentes na versão do Steam, por exemplo. Não há a opção de acelerar a partida; batalhas automáticas; Gil máximo; e todos os outros cheats presentes nos PC's. Os jogos são, portanto, versões idênticas às lançadas para o PS2, contando apenas com os retoques visuais e sonoros já citados. Honestamente, é inexplicável a decisão da Square Enix de deixar essas opções de fora do Switch.

Outro detalhe importante: se você pretende comprar Final Fantasy X/X-2 HD Remaster através da eShop, fique ligado. O download exige assustadores 26,5GB de espaço no pequeno notável da Nintendo. Isso significa praticamente inviabilizar a instalação de outros jogos na memória interna do console, exigindo espaço externo de armazenamento para tal. Uma simples opção de escolher entre um dos dois games do pacote para fazer a instalação resolveria o problema e seria muito mais prático para o consumidor.

A fantasia continua

Foi nostalgia em doses cavalares voltar ao mundo de Spira. Assim como também foi possível comprovar que os títulos continuam muito prazerosos de jogar e com grande apelo nos dias de hoje. Com as campanhas, segredos, extras, campeonatos de Blitzball e tudo o mais que envolve esses dois enormes games, estamos falando de mais de 100 horas de conteúdo de alta qualidade.

Final Fantasy X e Final Fantasy X-2 são obras que abraçam diversas facetas e características que marcaram a série durante todos esses anos, mas também são extremamente acessíveis para quem nunca jogou. Desta forma, é fácil indicar esse pacote para veteranos e novatos: é um excelente port de dois clássicos exemplares dos RPG's japoneses. Soma-se a isso as facilidades que a portabilidade do Switch proporcionam, e Final Fantasy X/X-2 HD Remaster fica imperdível.

Prós

  • Tratamento visual fantástico que brilha na tela do Switch;
  • Opção de jogar com a trilha sonora original ou rearranjada;
  • A praticidade de poder deixar o jogo em repouso e voltar a jogar de onde parou;
  • Os dois jogos envelheceram muito bem e oferecem muitas horas de diversão de qualidade.

Contras

  • Ausência inexplicável das facilidades presentes na versão para PC;
  • O tamanho do arquivo instalado no Switch pode ser um problemão.
Final Fantasy X/X-2 HD Remaster — Switch/XBO/PS4/PS3/Vita/PC — Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: Switch
Análise produzida com cópia digital cedida pela Square Enix

Comunicador e colecionador. Já foi Sega kid e Nintendo kid, agora é retro "kid". Está no Twitter em @carloscirne e faz vídeos no YouTube no canal CirneStuff.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


Disqus
Facebook
Google