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Análise: My Big Sister (Switch) é uma sinistra, porém confusa aventura entre irmãs

Enquanto tentam voltar para casa, Luzia e Sombria passam por vários problemas, e cabe à irmã caçula resolvê-los.




Lançado no dia 10 de maio deste ano para Nintendo Switch, My Big Sister narra as aventuras das irmãs Luzia, de 12 anos, e Sombria, que é alguns anos mais velha. Dividido em 11 capítulos, o game conta a história das meninas tentando voltar para casa após serem sequestradas por estranhos. Com visuais sombrios e diálogos inteligentes, o indie possui uma gameplay bem genérica, mas surpreende na narrativa, instigando quem joga a querer saber mais sobre a jornada das irmãs.

O lobo e a ovelha

Durante os capítulos, o jogador assume o controle de Luzia, a irmã mais nova. Ela é uma menina bem ingênua e inocente, mas, ao mesmo tempo, muito esperta. Ao contrário de Sombria, a caçula tenta lidar com tudo de forma positiva e descontraída, o que chega a irritar a jovem em alguns momentos do jogo. Luzia tem um cabelo preto não muito longo, e usa um laço vermelho. Já sua irmã possui longos cabelos da mesma cor, mas com dois coques amarrados por fitas vermelhas.

A criança, além de inquieta, é bem curiosa, sendo essa a explicação para que o jogador, por exemplo, abandone a irmã no estabelecimento para onde vão durante o sequestro e saia para explorar o ambiente. Não é uma justificativa muito plausível para os momentos de exploração de Luzia, mas é essencial para que haja o desenvolvimento do enredo. Nessas situações, Sombria costuma manter-se no mesmo lugar, geralmente fumando ou refletindo sobre sua condição.

Luzia está sempre faminta


Ela (Sombria) é uma linda jovem que vive reclamando. Após certo ponto do jogo, isso se intensifica, dado que seus problemas também pioram consideravelmente. Enquanto humana (explicarei isso em breve), ela gosta de fumar e dar ordens na irmã. Já como fantasma, estado no qual se encontra após um acontecimento sobrenatural (e bem sinistro), seu único pensamento é voltado para como conseguir seu corpo de volta, com ajuda de Luzia.

As irmãs vivem brigando, principalmente, por conta da falta de paciência da mais velha em ter que aguentar o comportamento de Luzia, sendo sua figura materna durante a ausência da mãe (o jogo inteiro, diga-se de passagem). Conforme a história avança, a dupla mostra-se mais unida, ainda que com alguns momentos de tensão, pois precisam juntar forças para superar as condições lamentáveis em que estão.

Uma jornada bem Sombria

Como dito anteriormente, a história é contada em 11 capítulos. Após finalizar o jogo, no menu principal surge a opção de retornar a qualquer capítulo da escolha do jogador. Ao levar em conta que o game possui uma breve rejogabilidade (aliás, toda sua campanha é muito curta), isso é uma adição muito bem-vinda, possibilitando ao jogador ver os vários finais com mais praticidade.

A jogabilidade consiste em movimentar a personagem (com a opção de correr ao segurar o botão B), interagir com elementos do mapa ou conversar com NPCs com o botão A e, por fim, utilizar itens armazenados em um inventário com o botão X. Não há muita dificuldade em progredir pelos níveis, já que maioria dos objetivos são indicados pelos demais personagens, basta prestar atenção nos diálogos. Vale dizer que o jogo está disponível em português.
O jogo possui vários capítulos, mas tem uma duração curta
Os primeiros capítulos retratam a convivência de Luzia e Sombria antes do sequestro, além de um sonho estranho que a caçula sempre tem relacionado com um centro comercial chinês. Em determinada parte do jogo, acontece o sequestro, daí a exploração passa a fazer mais sentido e aparecem puzzles mais complexos.

Não irei revelar muitos detalhes sobre a história, até porque ela é bem confusa de se entender, mas vale a experiência para tentar decifrá-la. Posso afirmar que o jogo segue um enredo fixo, cujas (pouquíssimas) escolhas do jogador durante os dez primeiros capítulos não interferem muito na narrativa.
A exploração envolve conversar com o máximo de NPCs possível para obter informações
O destaque está nos diálogos, nos quais a contradição entre a ingenuidade de Luzia e a seriedade da situação na qual as irmãs se encontram tornam as interações entre os seres desse universo algo sinistramente cômico, mas que pode proporcionar alguns calafrios de medo.

Vários personagens nos contam sobre uma decisão importante que deve ser feita no fim da jornada, sem explicar muito sobre ela a princípio. Depois, essa escolha fica mais clara, mas o jeito como ela deve ser executada no fim não é nem um pouco intuitivo. Isso não é necessariamente algo negativo, mas não segue o padrão até então estabelecido pelo restante do game, o que torna o desfecho meio confuso.

Outro ponto relevante é o impacto que esse último capítulo tem no resto do jogo, visto que cada final realizado pelo jogador leva a uma interpretação completamente diferente da experiência proporcionada por My Big Sister. Dessa forma, a aventura abrange várias temáticas, como depressão e o relacionamento entre irmãs, com bastante subjetividade e sem manter-se apenas a uma explicação definitiva.

Mais do que amigas, irmãs

Nem tudo no game são flores

Os aspectos tratados anteriormente tornam o jogo uma experiência única e fora do padrão para quem a vivencia, dado o nível de bizarrice e aleatoriedade que tem sua história. Isso pode ser um fator positivo ou negativo para a avaliação do game, cabe ao jogador essa decisão (no meu caso isso não foi um problema, inclusive me instigou a buscar mais explicações nos capítulos posteriores). Porém, existem alguns problemas no jogo que decepcionam a todos.

Um desses empecilhos está na tradução para português, que por mais surpreendente que seja a sua existência, ainda assim apresenta uma série de falhas. Algumas palavras não se encaixam bem nos diálogos, mas não é nada que prejudique diretamente a compreensão da história. O principal problema aqui está em breves transições nas falas do português para o inglês, o que não somente incomoda o fluxo do diálogo mas também pode dificultar consideravelmente o entendimento do texto por pessoas que não dominam a língua.

Outro obstáculo presente na jogabilidade são alguns problemas no visual do jogo. Para combinar com a natureza sombria do enredo, a maioria dos cenários são consideravelmente escuros. O problema é que os itens que o jogador deve encontrar para progredir nos puzzles não se destacam no ambiente, e isso pode dificultar (bastante) a procura. Além disso, o ponto de exclamação que aparece sobre Luzia quando ela se aproxima de elementos interativos no mapa, em determinado ponto do jogo, parou de aparecer no lugar certo e passou a ocupar um espaço na tela que definitivamente não era o ideal.

Apesar do clima do jogo, nem todos os ambientes são escuros ou macabros

Um jogo diferente

Se o que mais pesa para você em um bom jogo de aventura é a história, My Big Sister é uma escolha a ser considerada. O preço é bem acessível ($5,99 na loja digital americana da Nintendo), mesmo com uma campanha curta, durando de três a quatro horas caso o jogador goste de explorar todos os ambientes (o que vale a pena, sério). Não é um game difícil de ser terminado, mas sim de ser compreendido, e o(s) final(is) apenas colaboram para essa confusão. É uma experiência diferente e que demanda pouco tempo e dinheiro, logo não há porque não experimentá-la.

Pros

  • Personagens carismáticos, principalmente as protagonistas;
  • Diálogos interessantes e que possibilitam várias interpretações;
  • Possibilidade de revisitar os capítulos após terminar o jogo;
  • Variedade de finais e de interpretações para o enredo;
  • Tradução para português disponível;
  • Ótimo trabalho com pixel art, além de uma trilha sonora envolvente.

Contras

  • Campanha muito curta (três a quatro horas com a exploração completa);
  • Bugs visuais e nos diálogos (principalmente com a tradução) podem incomodar;
  • A história pode ser bastante confusa, e a possibilidade de várias interpretações não contribui para esse fator;
  • Puzzles muito simples, a maior dificuldade está em lidar com a escuridão dos cenários.
My Big Sister - Switch/PS4/XBO/PC - Nota: 7.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Vinícius Veloso
Análise produzida com cópia digital cedida pela Ratalaika Games


Estudante de publicidade que saiu do interior de Goiás para viver na cidade grande. Apaixonado por jogos, musicais e animações, passa bastante tempo no Twitter comentando sobre esses assuntos.
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