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Análise: Creature In The Well (Switch) é um inusitado e cativante jogo que mescla três gêneros de forma única

Titulo entrega jogabilidade recompensadora e divertida, além de história interessante.



A Flyght School Studios traz ao Switch Creature in the Well, um jogo que consegue a atenção de quem o joga, não só por ser um dungeon crawler — que é muito competente em mesclar hack and slash, Pinball e puzzle de forma única —, mas também por cativar o jogador com os seus personagens e história misteriosa.

Existe algo além da tempestade?



Creature In The Well se passa na pequena cidade de Mirage, onde, há mais de uma década, uma previsão catastrófica se cumpriu: uma densa tempestade de areia chegou e engoliu toda a região . Na época fatídica, a única esperança dos moradores locais era que uma máquina mirabolante construída na montanha conseguisse dissipar a tempestade. Os esforços falharam, a máquina nunca chegou a ser ligada e lendas e suposições foram criadas tentando achar uma resposta para o que aconteceu.

Tudo que restou aos moradores foi o isolamento e o medo, já que mitos a respeito de uma criatura morando na máquina se propagaram durante os anos. E, com a falta de um engenheiro para poder tentar religar o equipamento, só restava mesmo viver sem ao menos saber se havia algo além da tempestade.

O jogo começa com um engenheiro acordando no meio do nada: Bot-C é um dos robôs que foram construídos para construir e manusear a máquina e, aparentemente, o único que ainda funciona. Logo após o despertar, Bot-C segue para dentro de uma instalação na montanha e lá recebe o primeiro alerta para se afastar do local, mas a única coisa visível são olhos que o observam na escuridão. O que esses olhos têm a ver com a máquina e o resto da história é explicado com o decorrer do jogo.

Rebatidas

Bot-C é engenheiro, e para poder explorar as entranhas da máquina, temos que energizar portas e dispositivos, rebatendo bolas em determinados pontos energizadores. Desta forma, iremos extrair energia para o núcleo de armazenamento que o nosso robô possui. É importante encontrar novos núcleos nas fases, que permitem que o nosso robô armazene uma quantidade maior de energia. Com a quantidade certa de energia, podemos depositá-la em portas e em outros mecanismos específicos para termos acesso a outras áreas do cenário.



Para abrirmos passagem e ganhar energia, que é essencial para a exploração, temos dois tipos de equipamentos. O primeiro são ferramentas de ataque para rebatermos as bolas, como martelo e machado, por exemplo, que têm efeitos variados, desde manter a estabilidade do personagem até deixar o tempo mais lento. O segundo tipo são ferramentas energizadoras, que são espadas e outras armas com a capacidade de concentrar energia e puxar as esferas para perto de Bot-C, para que possamos rebatê-las. São estas bolas rebatidas que usamos para atingir mecanismos específicos que liberam nosso caminho durante a exploração do ambiente.



Bot-C também é capaz de dar um dash, que é extremamente útil nas fases finais do jogo. Existem ainda outros acessórios, as capas, mas o único propósito destes itens é cosmético, e não adicionam nada de relevante ao gameplay.

De fato, a mecânica é simples e direta, mas funciona muito bem. Alternando entre as ferramentas, conseguimos um bom controle para os diversos desafios que encontramos ao longo do caminho, desde puzzles que exigem mais reflexos até os desafios cronometrados que exigem precisão e cálculo para serem superados. Temos uma variedade considerável de armas para rebater as esferas e espadas para concentrar energia nas bolas, mas infelizmente nem todas têm um efeito especial que justifique o seu uso.

Quanto aos equipamentos que adquirimos na aventura, alguns são bem criativos, funcionais e adicionam algo novo à mecânica do jogo. Infelizmente, a sensação é que esses são minoria. Grande parte dos itens são parecidos, mudando apenas a estética, e só têm utilidade até encontrar um melhor que provavelmente será usado pelo resto da aventura.


Puzzles e Reflexos

Os puzzles e desafios implementados têm uma dificuldade razoável. Não são simples demais, mas não são fáceis o suficiente para que qualquer um supere sem dominar completamente todas as mecânicas do jogo, o que torna extremamente satisfatório conseguir superar um puzzle ou vencer as batalhas contra chefes. Por exemplo: existem puzzles que temos que dar uma tacada certeira em torres de energia que desaparecem em poucos segundos. Cada vez que o jogador acerta uma, outra aparece, e se não tiver bons reflexos e precisão, passará um tempo considerável para superar estes desafios. Estes são os mais complicados mas também os mais prazerosos de se realizar.

Já alguns outros desafios cobram bastante velocidade para rebater as bolas e se esquivar das armadilhas e projéteis lançados contra o personagem. Nesse tipo de fase que se nota que o elemento de hack and slash está presente no título e introduzido de modo muito criativo e funcional. Entre rebatidas e esquivas, por diversas vezes o jogador sentirá que está realmente fazendo combos, mesmo que apertando apenas três botões.

Bonito e Dinâmico


Jogando Creature In The Well algo que chama atenção logo nos primeiros momentos de gameplay são as cores vivas e o traço forte, um estilo que lembra muito HQs É um ponto forte do título. É interessante como conseguiram misturar os tons vívidos com o negro do interior da máquina. A impressão que passa é que aos poucos a escuridão toma conta da estrutura.

Algo notável é a estabilidade do jogo: durante toda minha experiência, a taxa de frames por segundo se manteve firme, mesmo nos momentos mais dinâmicos das fases, tanto no modo portátil quanto na dock — o que é muito bom, já que o jogo exige precisão milimétrica em algumas ocasiões.

Algo que realmente me frustrou foi o level design. Embora existam de fato puzzles desafiadores e criativos, por diversas vezes consegui prever o que vinha adiante, pois as arquiteturas de todas as áreas são muito similares umas às outras. Por exemplo: existem salas onde recolhemos núcleos para que se possa fazer o upgrade do Bot-C, e todas estas salas são exatamente iguais, em todos os níveis do jogo. O mesmo vale para a sala que antecede a bossfight: o jogador passa por um ambiente idêntico em todas as fases.
Ambientes repetidos


Melancolia

A trilha sonora consegue passar bem o clima melancólico da cidade de Mirage. Dá o tom perfeito para aquilo que o jogador está observando em sua volta. Os diálogos dos moradores locais, as casas em decadência e o ambiente sem esperança são muito bem retratados pelas músicas. São poucas, é verdade. Mas na simplicidade e no modo que vão direto ao que o jogo está querendo mostrar, servem muito bem, embora repetitivas, às vezes.

Um aspecto do áudio que poderia ser melhor são os efeitos sonoros das armas. Às vezes, eles se tornam um incômodo, principalmente os das armas energizadores, que são as armas que o jogador mais irá usar e ouvir durante o gameplay. Existem partes onde terá que usá-las repetidas vezes e, com o decorrer do jogo, o som acaba se tornando um pouco desconfortável, mas nada que comprometa a experiência de alguma forma.

Motivação e Pessimismo

Um aspecto simples e escasso, mas que vale ser citado são os NPCs. Realmente, são poucos. Sendo mais exato, existem dois com quem o jogador tem um contato direto. Um deles, Roger T. Frog, mantém a estrutura inicial da máquina em ordem e também nos conta mais sobre esta. Dá para extrair bastante informações dele e também conhecê-lo melhor. Existem também documentos que nos contam mais sobre a história da máquina e de seus construtores.

O outro é Daniele. Com ela não temos conversas longas, mas ela nos ajuda dando upgrade no núcleo de energia e dando apoio moral para continuarmos nossa jornada. Por sua vez, a criatura faz exatamente o oposto, tentando sempre acabar com a moral de Bot-C, dizendo que ele irá falhar, assim como todos os outros falharam — e, realmente, às vezes ela diz coisas que abalariam o ânimo de qualquer um.

Além das rebatidas

Quando Creature In The Well foi anunciado na E3 de 2019, eu pensei que era um jogo com uma proposta diferente e criativa. E realmente é. Mas além disso, o jogo conseguiu me deixar curioso e interessado na história. Os poucos moradores com que falamos nos deixam querendo saber mais sobre o que aconteceu, e os NPCs, apesar de pouco falarem, têm um design bem carismático e divertido.

De fato, é um título memorável e, apesar de suas falhas, conseguiu de maneira interessante mesclar três gêneros muito bem. Seria muito bom ver o que os desenvolvedores poderiam fazer em uma sequência.


Prós:

  • Jogabilidade criativa e responsiva;
  • Desafio equilibrado, mas obriga o jogador a explorar e dominar a mecânica, caso queira superar os desafios;
  • Visual e o tom das cores são agradáveis e originais.

Contras:

  • Level design repetitivo e previsível;
  • Alguns dos itens não têm utilidade, sendo apenas cosméticos.
Creature in the Well - Switch/PS4/XBO/PC - Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Jorge Neto
Análise produzida com cópia digital cedida pela Flyght School Studios

Estudante de Publicidade e Propaganda, fã de games, mangás, séries, etc. Explorador de dungeons, destruidor de Mavericks e praisando o sol sempre que possível.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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