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Análise: DAEMON X MACHINA (Switch) é um diamante bruto

Apesar de bem idealizado e muito divertido, o novo exclusivo do Switch ainda precisa ser lapidado para mostrar todo o seu potencial.





DAEMON X MACHINA traz novos ares ao console híbrido da Nintendo. Diferente das lendárias séries estabelecidas pela Big N, o game tem uma pegada mais intensa e complexa em suas mecânicas de jogatina. Aliadas às batalhas extremamente velozes e caóticas, ele pode assustar à primeira vista, mas não chega, nem mesmo longe, a ser um título de estreia desprezível.


O nome do título vem do termo “Deus Ex Machina”, que se traduz como “deus surgido da máquina”, um recurso literário cunhado pela primeira vez por Aristóteles em sua Poética que se refere a uma solução divina para casos complexos em uma peça ficcional. O nome é uma boa sacada, pois as máquinas corrompidas de DAEMON X MACHINA são demoníacas e, ironicamente, uma aliança delas com os humanos é a única solução para a guerra instaurada no universo do jogo.

O dia em que a Lua se despedaçou

Sim, o inicio do game é dramático! O jogador irá se encontrar em um mundo caótico no qual, após a data fatídica em que os seres humanos viram o seu satélite se destruir em pedaços e sumir dos céus, as máquinas se revoltaram e iniciaram uma guerra para dizimá-los. Cabe à central Orbital e outras instituições de nomes imponentes recrutar mercenários para destruir essas máquinas corrompidas e recuperar a paz.

Os mercenários são divididos em facções espalhadas pelos cantos do mundo que sobreviveram à catástrofe, e cada facção possui mercenários com uma linha de pensamento e conduta moral que rege as ações de seus membros.


A Bullet Works, por exemplo, é uma facção com personagens que possuem uma conduta moral bastante edificada e nobre, enquanto a Western IV é composta por mercenários criminosos e bastante agressivos que além de buscar diminuir seus anos de cadeia através dos trabalhos nas missões, possuem uma sede de destruição assustadora. Além dessas há outras facções e diversos personagens, o problema é lembrar de todos eles.

Orbital é apresentada como uma facção, mas parece mais uma central governamental. Sua única integrante é Four, uma inteligência artificial que mede as missões entre a organização e os mercenários. Podemos acessá-la no galpão onde o nosso Arsenal, a máquina-robô que controlamos, se encontra. Esse cenário é bem interessante à primeira vista, mas acaba perdendo a graça por ser vazio até demais.

Através do console de Four, podemos acessar as missões disponíveis. A customização do robô inclui o hangar, onde é possível realizar as modificações e salvar até 10 versões do seu Arsenal, a loja e a fábrica, locais onde são adquiridas novas peças para tunar o seu robô. Além disso, é possível acompanhar a sua progressão e olhar mensagens enviadas pelos NPCs do jogo, o que contribui para a história do game.

Há dois tipos de missões no jogo; as principais e as livres. As primeiras são obrigatórias para a evolução da jogatina, pois através delas entramos em contato com outros personagens e começamos a desvendar a extensa e entrelaçada trama diante de nós.

Eu, pessoalmente, achei muito interessante ter uma história que se inicia in media res, e vai evoluindo gradativamente e de forma mais fragmentada, com pequenas adições através das falas dos personagens. Diversos assuntos serão evocados ao longo das missões, como fatos históricos sobre a queda da Lua, o passado dos outros mercenários, e também são trazidas à tona questões como inteligência artificial e a sua “servidão” aos seres humanos.


Apesar de ter uma pegada mais adulta em seus temas e diálogos, o game traz essa sensação sem entrar num nível Bayonetta. Ou seja, não há palavrões, muito menos vísceras e sangue jorrando pela tela. Até porque a maioria dos inimigos são máquinas independentes.

O meu problema com a história é que ela é apresentada de uma forma pouco palatável. As cutscenes são, geralmente, apresentadas no galpão onde acessamos as missões através de Four, e os personagens estão lá de pé ouvindo a inteligência artificial e adicionando comentários aqui e ali. Depois, a história passa para uma conversa tipo chat de WhastApp. Eu achei um tanto cansativa essa dinâmica, e por vezes me pegava perdendo a atenção às falas, pois elas são apresentadas de maneira pouco instigante.

Lembra que eu falei que os personagens são muitos? Além da quantidade, eles possuem histórias individuais e muitas delas são interessantes, mas a dinâmica na qual elas são apresentadas acaba tirando muito da graça e levando interesse do jogador para longe. Imagino que um dos motivos para isso é a falta de autonomia do jogador para acessar as outras facções.

Como o protagonista é um novato que está na Orbital, só é possível entrar em contato com os outros personagens através das missões. Seria bem mais interessante se comunicar com eles se houvesse mais acesso a outros hangares e localidades do jogo, mas o único cenário acessível é a central de Orbital.


A história acaba ficando fragmentada demais, além de repetitiva para a apresentação e desenvolvimento dos personagens e do mundo criado para o jogo. Além disso, o protagonista é praticamente mudo e com zero desenvolvimento. Acredito que, por ser inteiramente customizável, incluindo o nome, o sacrifício foi tirar relevância da sua participação na história. Talvez ter um protagonista mais ativo na trama seria a chave para uma história mais coesa e instigante.

Caótico e divertido

De inicio, DAEMON X MACHINA pode ser um tanto complexo para jogadores pouco acostumados com o gênero. Não há sequer um único botão inútil nos controles e aprender os Arsenals pode ser um pouco desafiador nas primeiras missões. O jogo tem ciência disso, contando com missões simples para que o jogador se inteire de cada comando que é possível realizar com o seu robô.

As missões, em sua maioria, se resumem a batalhas contra Immortals - os robôs corrompidos e dispostos a matar qualquer ser humano - e outros mercenários em seus Arsenals. Como o game é extremamente dinâmico, as batalhas quanto os inimigos são rápidos e intensos. Se perder é uma coisa extremamente fácil, até mesmo nas fases mais avançadas. Morrer, então… não é nem um pouco difícil.


No geral as missões são bem previsíveis, começando com batalhas contra Immortals de baixo escalão e, aos poucos, aumentando a dificuldade com novas hordas de inimigos se aproximando. Até as reviravoltas se tornam previsíveis, como a aparição de outros mercenários como inimigos. Mesmo que as missões sejam desafiadoras, os seus objetivos costumam se repetir.

É também o caso das missões livres, que são melhores para fazer seu pé de meia e garantir melhorias constantes à máquina. Elas costumam ser uma versão modificada da missão principal, mas com objetivos mais desafiadores que costumam envolver tempo e quantidade de inimigos a serem abatidos. Quanto maior for o número de objetivos alcançados, maior a compensação monetária.Há também missões que você jogará fora dos robôs, mas não são muito chamativas. Aqui, é preciso ser furtivo, pois o mercenário fora de seu robô é bem vulnerável aos Immortals.

O que não falta são cenários repletos de Immortals, sejam armas e tanques no chão ou drones e Arsenals sem pilotos. Haverá sempre um alvo para atirar e destruir, portanto aconselho que o jogador fique atento ao mapa no canto superior direito da tela. É um ícone redondo estilo bússola que mostra a posição de tudo ao seu redor. Ele pode parecer tão caótico quanto a cena de batalha, mas ajuda para encontrar campos de recuperação de vida, por exemplo.

Para ajudar a se preparar para as batalhas o jogador também possuirá um arsenal extenso para equipar o seu Arsenal (pegaram o trocadilho?), e nesse aspecto eu devo dar os meus parabéns à equipe de desenvolvimento. As possibilidades de customização dos robôs chegam a ser infinitas de tão vastas.


Além do armamento, que envolve quatro armas intercambiáveis, uma arma auxiliar e outra presa ao ombro, as partes dos robôs podem ser trocadas e melhoradas para aumentar a performance do Arsenal em batalha. Ter uma boa noção de customização é crucial, pois impacta na velocidade, resistência e poder de fogo, elementos fundamentais tanto para a evolução na campanha principal como no multiplayer online.

Conforme mencionei nas Dicas para Iniciantes desse jogo, eu encontrei uma combinação de armas que funciona para o meu estilo de luta: um par de metralhadoras com um par de bazucas, e junto delas um lança-mísseis como arma de ombro, sempre tentando tornar o meu Arsenal o mais potente possível.

Para que o seu robô fique cada vez mais tunado, é preciso aproveitar os itens que podem ser recolhidos durante as missões, e o principal fonte deles são os Arsenals inimigos após serem derrotados; as carcaças deles caem no chão, e você pode recolher as partes para reaproveitá-las na sua máquina.

Um dos equipamentos mais interessantes são os processadores, chips adicionados aos Arsenals que melhoram habilidades como cadência de tiros, velocidade, menor desgaste ao usar os propulsores e ajuda para rastreio de inimigos com a mira dedicada. Esse último é um favorito pessoal meu, pois ajuda muito para acompanhar inimigos velozes.

Além dos processadores, é possível encontrar armamentos brilhando após destruir alguns inimigos menores. Pode não parecer nada nos primeiros momentos do game, mas são verdadeiros salva-vidas em missões que consomem seu armamento.


Falando em missões que consomem seu armamento, os chefões do game, por assim dizer, consistem em sua maioria de Immortals gigantes, máquinas de tamanhos colossais que exigem muito do armamento do jogador para serem derrotados. Atirar com as bazucas próximo aos pontos vulneráveis é uma boa pedida. É preciso muita atenção, pois esses inimigos tiram pontos de vida com facilidade.

Há também uma partícula chamada Femto, substância irradiada de pedras, que pode ser absorvida pelos Arsenals e convertida em proteções que dão melhorias em algum aspecto e um enfraquecimento em outros. Por exemplo: quando o Arsenal está com a velocidade melhorada, sua força diminui, ou quando a defesa é incrementada, o robô se torna mais lento.

Apesar de todos esses benefícios, o ponto forte do Femto é gerar a Mirage, um holograma poderoso que assume o papel de cópia do Arsenal do jogador e que não somente ocupa a CPU em batalha, mas pode causar dano e ajudar em momentos caóticos. Dependendo das fases a concentração dessa partícula pode ser maior ou menor.

Um único ponto negativo quanto à experiência de jogo com a Mirage é que o Switch acaba sofrendo uma queda de frames de um par de segundos para renderizar uma cópia do Arsenal no meio de uma batalha. Não é nada que comprometa o todo, mas não é algo que esperamos de um exclusivo do console.


Enquanto jogava, tive uma sensação parecida com a de jogar games com uma pegada mais voltada para gameplay online, estilo Fortnite (Multi), Overwatch (Multi) e até mesmo a série Splatoon. A jogabilidade não é necessariamente fácil de primeira, mas com a prática e o modo single-player, quando há um, é possível pegar as manhas e se desenvolver para enfrentar os jogadores reais.

Um diamante bruto

Dentro dos lançamentos recentes para o Switch, DAEMON X MACHINA me lembra muito de ARMS (Switch), um jogo com uma proposta interessante e bem idealizada, feito com a ideia de cativar jogadores para o modo online que a Nintendo vem se empenhando em tornar cada dia mais interessante.

Acredito que DAEMON X MACHINA é um game que, se for descoberto no modo online, pode arrastar multidões, pois é extremamente divertido de jogar, cheio de customizações e pode ser aproveitado tanto em times organizados - há até mesmo formas de mandar mensagens para os seus companheiros de batalha - quanto por jogadores solitários, além de ser aquela zona de guerra que cativa o público dos games estilo battle royale.


Infelizmente, não é possível passar despercebido que a história poderia ser melhor trabalhada. A ambientação poderia se estender para esse novo mundo que não imaginamos como é, e ao qual só temos acesso quando estamos dentro dos Arsenals.

Jogar no Pro Controller é bem mais confortável, mas até mesmo eu, que uso pouco os Joy-Cons no Switch, consegui jogar razoavelmente bem com o console no modo portátil, o que, devo admitir, é algo raro.

Deixo claro que não estamos falando de um jogo ruim. É preciso lembrar que se trata de um título de estreia muito divertido e que traz muitas horas de diversão e desafio para o jogador, além de uma ótima proposta para jogatinas online. Isso sem contar que o jogo possui uma trilha sonora que dá um tom épico à gameplay, não há como pôr defeito.


Acredito que DAEMON X MACHINA é uma semente que pode render uma longeva série aos nintendistas. A experiência de jogá-lo é deveras satisfatória, e espero que traga para mais uma franquia para nos orgulharmos.

Prós


  • Jogabilidade desafiadora;
  • Batalhas intensas e eletrizantes;
  • Vasta possibilidade de customização;
  • História extensa e com temas interessantes.

Contras


  • História com desenvolvimento pouco cativante;
  • Missões podem parecer repetitivas;
  • Alguns jogadores podem se frustrar com a complexidade dos comandos.

DAEMON X MACHINA - Switch - Nota 8.0
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Nintendo
DAEMON X MACHINA está disponível na Loja Online da Nintendo

Estudante de Sistemas da Informação que gostaria de aprender todas as línguas existentes, mal sabendo lidar com as duas que já fala. Descobriu seu amor pela Nintendo ao conhecer Super Mario 64 e desde então nunca mais largou os cogumelos, karts e rúpias que encontrou em seu caminho.
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