Jogamos

Análise: Untitled Goose Game (Switch) e a arte de chatear

Quem poderia imaginar que um jogo em que o protagonista é um ganso seria tão divertido.


Tenho quase certeza que você não gosta do comportamento de pessoas inconvenientes. Sabe aquela pessoa que tira tudo do lugar, faz brincadeira fora de hora e não deixa de encher a paciência de todos a sua volta? Então, é horrível. Mas e se você fosse um ganso com essas características? Por mais estranho que pareça, foi essa a ideia que os desenvolvedores da House House tiveram quando decidiram criar Untitled Goose Game. E o resultado foi muito bom.

É uma manhã adorável...

… e você é um ganso terrível. É assim que começa esse game, tão estranho quanto encantador. A primeira impressão que se tem ao iniciar a aventura é que estamos diante de um simulador de mundo aberto, um tipo de jogo em que você pode percorrer o ambiente livremente, interagir com os objetos e cumprir algumas missões no ritmo que quiser. No entanto, não é bem assim que Untitled Goose Game funciona.

Logo no início, somos apresentados às mecânicas básicas do jogo. Podemos mover o ganso com o analógico, pegar itens com o “A”, correr com o “B”, grasnar com o “Y”, agachar com o “ZL”, e esvoaçar (balançar as asas) com o “ZR”. Além disso, é possível também aproximar e afastar a visão usando “L” e “R”, respectivamente. Como a câmera fica sempre focada no animal, em alguns momentos a utilização das variações do zoom são necessárias.


Após aprender como se movimentar e interagir com o mundo, nos vemos em uma vila, diante da propriedade de alguém, e é aí que o jogo realmente começa. Apertando o “–” podemos ver as missões para essa área específica, e é preciso cumpri-las para avançar para a próxima fase. As tarefas do ganso envolvem desde ações simples (como entrar no jardim), até coisas menos intuitivas, como fazer o jardineiro (o humano que interage conosco na primeira área) trocar o seu chapéu por um chapéu de sol. São nesses momentos que o título realmente brilha, já que é preciso criar alternativas, a partir dos elementos presentes no estágio, para que determinados fatos ocorram.

Importante dizer que a inteligência artificial dos humanos é bem ruim. Eles detestam o ganso e fazem de tudo para afastá-lo de suas propriedades. No entanto, repetem sempre as mesmas rotinas ininterruptamente. Por isso, uma boa dica é observar a maneira como se comportam e o modo como se relacionam com os objetos na fase. Assim, vai ficando mais simples descobrir o que fazer. Na primeira área, temos seis missões iniciais e ao completá-las, mais uma é desbloqueada. Para avançar para o próximo ambiente, é preciso concluir essa última tarefa. Um problema que foi possível observar em relação a isso é que o jogo possui alguns bugs e, às vezes, dependendo do tipo de ação feita pelo ganso nas proximidades da barreira que o separa do caminho que ele precisa seguir, acontece de passarmos para a outra área sem cumprir todas os objetivos. Nesses casos, é preciso reiniciar a partida para retomar as atividades.


Eterno retorno

Neste jogo, estamos presos em um mundo repetitivo. Como dito anteriormente, ao reiniciar é possível refazer as missões ou buscar algumas ainda não desbloqueadas. E sempre que você volta, tudo está na posição inicial, sem as intervenções que você tenha feito antes. O sistema de salvamento é automático e esse tipo de organização das fases e tarefas funciona muito bem também por isso.

Untitled Goose Game possui apenas cinco áreas para explorar, sendo realmente um jogo muito curto. Claro que tudo depende do tempo que você vai levar para descobrir como resolver os puzzles, mas ainda assim existe muito pouco para se fazer, pelo menos no que se refere às metas centrais. Dos cinco ambientes do game, três possuem sete objetivos cada. A quarta área possui oito missões, e a última, apenas três. Além dessas tarefas, que compõem a campanha central, existem outras 20 que são extras. Diferentemente daquelas que são obrigatórias, essas não ficam descritas na lista, mas você pode realizá-las por acaso ainda assim. Após o término da campanha elas aparecem explicitamente, e isso oferece alguma sobrevida ao jogo. Mas, a não ser que você tenha compulsão por completar todos os objetivos, voltar sempre às mesmas cenas, interagindo com as mesmas pessoas, não é algo realmente estimulante a ponto de justificar o fator replay por muito tempo.



Sobre o desempenho do game, ele funciona muito bem no Switch. Tanto no modo portátil quanto jogando na televisão e utilizando o Pro Controller. Os gráficos cartunescos combinam muito bem com o estilo do jogo e a trilha sonora é ótima, alternando entre composições jazzísticas e sons e ambientações da natureza.

O humor no caos

Uma coisa que funciona muito bem em Untitled Goose Game é a sensação de diversão permanente. Poucas tarefas envolvem apenas movimentos e ações mecânicas. No geral, é preciso irritar, atazanar, enlouquecer os humanos ao seu redor para conseguir o que você precisa. Isso sem falar nas coisas realmente mal-educadas que é preciso fazer, como puxar um banco de um velhinho antes dele sentar, roubar os óculos de uma criança e depois prendê-la em uma cabine telefônica, derrubar um balde na cabeça de um homem e coisas do tipo.

Apesar de entender que se trata de um comportamento reprovável, e saber que você não gostaria de estar na pele daquelas pessoas, parte do humor vem do fato que ali você não é uma pessoa sendo chata com outras, mas um ganso. E por que um ganso não poderia fazer essas coisas? Ora, não sabemos o que esse animal pensa. Então, acaba sendo fácil nos entregarmos a esse espírito caótico e enlouquecedor.

Apesar da campanha curta e dos poucos bugs presentes no jogo, Untitled Goose Game é uma experiência muito divertida e, em alguns momentos, realmente desafiadora. É preciso utilizar estratégia, planejar ações, saber agir na surdina, induzir o comportamento dos humanos e combinar os objetos disponíveis para realizar a maior parte das tarefas. E quando tudo dá certo, a sensação é realmente gratificante. Na internet muitas pessoas brincam que esse será o jogo do ano. Não é para tanto, mas ninguém pode negar que se trata de uma proposta única e que faz muito bem o que se propõe: entreter.

Prós

  • Humor na resolução das tarefas;
  • Puzzles desafiadores;
  • Ótima trilha sonora.

Contras

  • Alguns bugs em pontos específicos das fases;
  • Campanha curta e pouco fator de replay.
Untitled Goose Game — Switch — Nota: 9.0
 Untitled Goose Game está disponível na Loja Nintendo
Análise produzida com cópia digital cedida pela Nintendo

Pesquisador nas áreas de estética e cibercultura com Mestrado em Cultura e Sociedade (UFMA) e Doutorado em Comunicação (UnB). Além de escrever sobre jogos, produz o Podcast Ficções e tem um blog sobre literatura, filosofia e cotidiano.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


Disqus
Facebook
Google