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Análise: Astral Chain (Switch) traz ação estonteante em um elaborado mundo futurista

Um policial e criaturas de outra dimensão trabalham em conjunto nesta variada e frenética aventura.


Astral Chain, novo jogo de ação da desenvolvedora nipônica PlatinumGames, aposta em um conceito criativo: controlamos simultaneamente um herói humano e uma besta de outra dimensão, ambos ligados por uma corrente especial. Pode parecer um pouco complicado, mas essa configuração inusitada cria um combate dinâmico, estiloso e divertido, como é de praxe da desenvolvedora. Além disso, há várias outras atividades fora da batalha na forma de investigação e inúmeros casos paralelos espalhados pelo mundo. A combinação desses elementos faz com que Astral Chain seja uma experiência estranha, diferente e empolgante.

Uma força policial contra monstros de um universo paralelo

No futuro, no ano de 2078, a Terra foi atacada por criaturas de outra dimensão chamadas de Chimeras. A investida tornou o planeta inabitável e os sobreviventes se refugiaram em The Ark, uma ilha artificial criada especialmente para esse fim. Os ataques das Chimeras não pararam, e para combatê-las foi criada a Neuron, uma força policial que tem como maior trunfo os Legions: Chimeras capturadas e controladas por meio de uma corrente especial, a Astral Chain.

No jogo acompanhamos uma dupla de irmãos gêmeos que acabou de entrar para a Neuron por serem um dos poucos que apresentam aptidão para controlar os Legions. O trabalho parecia trivial, no entanto um problema acontece e praticamente todos os membros da força-tarefa perdem o controle de seus Legions — menos o nosso protagonista, é claro. Para piorar, uma terrorista aparece e espalha o caos pela The Ark. Sem outra opção, nosso herói é a última esperança de sobrevivência da humanidade contra as criaturas de outra dimensão.


Já nos primeiros minutos de Astral Chain eu senti que eu estava dentro de um estiloso anime com suas cenas de ação impressionantes e trama que explora conceitos já conhecidos. No decorrer dos capítulos, acompanhamos uma história repleta de reviravoltas que tenta explicar o que aconteceu com o mundo e quais são as motivações dos vilões. A trama até é instigante e tem bom andamento, contudo aos poucos fui me cansando com os clichês e as revelações previsíveis. No fim, a história até diverte ao lembrar bastante animes de ação — tanto para o bem quanto para o mal.

A temática de animações japonesas também se reflete nos personagens, que apresentam personalidades diversas e exageradas. A narrativa até tenta dar espaço para cada um deles, mas não há profundidade suficiente para torná-los interessantes. O caso mais notável é o protagonista: o personagem que escolhemos é completamente silencioso e sem graça, afinal ele representa o jogador dentro da história. Para tentar compensar, o irmão do herói tem mais espaço na trama com inúmeras falas e personalidade bem desenvolvida, até parece que ele é o centro da história. Outros jogos já fizeram algo parecido com sucesso, mas em Astral Chain ficou meio desconexo e estranho — particularmente eu gostaria que o meu protagonista tivesse maior participação e voz dentro da história.


A variedade da investigação futurista

Uma cena visualmente impressionante de perseguição em uma moto abre Astral Chain e já dá uma dica do tom frenético da aventura. De fato o jogo da PlatinumGames tem muitos desses trechos, mas há mais do que luta e ação na jornada dos policiais da Neuron. O título se foca em dois momentos distintos: exploração do mundo na forma de investigação e combates contra as Chimeras de outra dimensão. Em ambos os estilos de jogo, a relação entre o protagonista e os Legions é o ponto central.

Durante cada um dos capítulos do jogo, o herói visita uma área e precisa realizar uma investigação. Esses momentos lembram puzzles e precisamos descobrir a causa de algum problema. Logo no começo, por exemplo, o policial recebe a tarefa de encontrar o desabamento de uma passarela. Para isso, ele observa gravações de câmeras próximas na forma de um holograma interativo, colhe informações conversando com pessoas, observa possíveis objetos que possam ter relação com o fato e mais. Depois de obtidas algumas evidências, utilizamos palavras-chaves obtidas na investigação para chegar à conclusão do problema. Algo legal é que os poderes dos Legions são cruciais nas averiguações: as criaturas podem ser utilizadas para encontrar rastros de Chimeras e para ouvir conversas distantes; o Beast Legion é capaz de procurar pessoas ao farejar objetos; fugitivos podem ser imobilizados por meio da corrente astral.


A progressão dos capítulos é linear, no entanto há bastante o que fazer em cada um deles na forma de casos paralelos e minigames. Alguns são bem simples, como encontrar um item para uma pessoa ou destruir um portal, já outros são mais elaborados e interessantes. Um caso paralelo, por exemplo, exigia que o herói determinasse quem era o ladrão em meio a uma multidão de pessoas — a habilidade dos Legions de ouvir conversas à distância foi crucial. Já em outra missão o objetivo era encontrar uma criança perdida em uma praça movimentada. Também encontrei um drone descontrolado que podia ser desativado ao cortar sua linha de comunicação por meio de um ataque do Sword Legion. E não seria um jogo japonês se não tivesse algumas coisas exóticas, como um caso em que precisamos equilibrar inúmeras bolas de sorvete ou um outro em que o balão de uma criança fica preso em uma árvore. Eu me surpreendi com a diversidade (e maluquice) das atividades paralelas.


Mesmo com grande variedade de atividades, há momentos que o ritmo de Astral Chain se torna cansativo. O principal motivo disso são algumas investigações que se arrastam por longos períodos te limitando a explorar áreas específicas. Também não ajuda muito o fato de que a conclusão de boa parte delas seja bem óbvia — muitas vezes eu sabia exatamente o que aconteceu logo no início das apurações.

Em alguns trechos exploramos o Astral Plane, o lar das Chimeras. Estas seções lembram pequenos calabouços com puzzles de navegação que exigem o uso das habilidades dos Legions, muitos combates e até mesmo algumas partes de plataforma. A diversidade de situações é boa e há até algumas pequenas investigações no mundo paralelo. Contudo, não gostei dos trechos que simulam um jogo de plataforma: para saltar em Astral Chain, precisamos mover o Legion para o ponto em que queremos ir e em seguida puxar o humano até a criatura por meio da corrente. O problema é que esse comando é impreciso e às vezes imprevisível, o que nos faz cair em buracos ou bater em obstáculos. Por sorte não é uma ação frequente, mas não deixa de ser desagradável.


Lutando em dupla em um combate intenso e frenético

O combate de Astral Chain é, de longe, a sua melhor característica. Durante os confrontos contra as Chimeras de outra dimensão, o herói luta em conjunto com um Legion. A criatura é controlada pelo computador na maior parte do tempo, entretanto podemos comandá-la diretamente ao segurar o botão ZL. Além disso, temos à disposição três diferentes armas: bastão com movimentos rápidos, pistola para ataques à distância e uma espada longa lenta e poderosa. Em um primeiro momento pode até parecer que o combate do jogo é só mais um da PlatinumGames, ainda mais por ter mecânicas já consagradas da desenvolvedora como deixar a ação lenta ao desviar no último segundo, contudo vários detalhes o tornam único e interessante.

Coordenação é a palavra que define os confrontos de Astral Chain. Até é possível derrotar os inimigos sozinho, contudo tudo fica mais fácil com a ajuda dos Legions e vários sistemas incentivam utilizá-los constantemente. Um exemplo importante são os ataques sincronizados: durante certos pontos das sequências de golpes, é possível desferir um golpe coordenado com o Legion ao apertar o botão ZL no momento correto. No começo é difícil executá-lo, mas com treino e atenção é possível dominá-lo para criar combos poderosos — é muito empolgante conseguir fazer sequências estilosas e devastadoras junto com as criaturas. Por fim, é importante ficar de olho na energia do Legion: quando ela acaba, os monstros não podem ser materializados por algum tempo.


Controlar diretamente os Legions também é essencial para sobreviver. Um toque no botão lança ou traz de volta a criatura, o que permite mudar o alvo ou atacar um inimigo distante. Além disso, os monstros podem ser amarrados com a Astral Chain — os oponentes ficam completamente vulneráveis por alguns momentos. Por fim, cada Legion tem a disposição duas habilidades especiais que podem ser ativadas manualmente, algumas são de ataque, outras são de suporte. As criaturas podem ser fortalecidas e aprendem novas técnicas e golpes, aumentando as possibilidades de estratégia durante os combates.

No decorrer do jogo, o policial adquire cinco diferentes tipos de Legion, cada qual com estilos e características de combate próprios. O Sword é capaz de interromper inimigos com um corte poderoso; o Arrow é indicado para atacar à distância; o Arm é mais lento, no entanto consegue quebrar barreiras e defesas; o Beast é muito ágil, o que o torna perfeito contra inimigos rápidos e o Axe é especializado em defesa. É possível trocar de Legion livremente durante o combate para se adaptar a novas situações.


Dominar todas essas nuances é crucial, pois diferentes tipos de inimigos atacam em conjunto na maioria das vezes, o que exige mudar a estratégia constantemente. Astral Chain não é um jogo de atacar de qualquer jeito, pelo contrário: precisamos ficar atentos para escapar de golpes na hora certa e contra-atacar. Além disso, coordenar os movimentos com o Legion é imprescindível para sair vitorioso dos combates. São muitas as mecânicas que temos que aprender, contudo é muito divertido conseguir executá-las com precisão.

Um detalhe que me incomodou bastante durante os confrontos foi a câmera do jogo. Algumas vezes ela fica próxima demais ou presa em alguma parede, o que atrapalha ver com clareza a ação no campo de batalha — com frequência fui atingido no meio do caos por não conseguir enxergar os inimigos. Além disso, mira é imprecisa e muda de alvo muito fácil, o que trouxe um pouco de confusão nos momentos mais frenéticos.


A beleza do mundo do futuro

Cenários elaborados nos convidam a explorar todos os cantos do mundo de Astral Chain. A aventura é dividida em capítulos e cada um deles apresenta uma grande área para explorar com segredos e atividades, sendo que muitos locais só podem ser acessados com habilidades de Legions específicos — como os coletamos aos poucos, há incentivo de revisitar capítulos anteriores. Existem também aspectos customizáveis: podemos alterar a aparência e roupas do herói, as cores dos Legions e até mesmo as cores da interface.


O mundo futurista de The Ark é representado com alta tecnologia na forma de luzes neon, hologramas e dispositivos eletrônicos, com grande foco entre tons escuros e azul. Eu me surpreendi com a quantidade de detalhes nos espaços, como a sempre movimentada Harmony Square, que parece viva por causa da grande quantidade de pessoas passeando. Já o Astral Plane impressiona com suas estruturas alienígenas de configuração impossível e iluminação em tons de vermelho. Mas, infelizmente, esse local apresenta pouca variação no decorrer da história e se torna repetitivo — toda as vezes que adentramos o plano astral precisamos explorar os mesmos cenários repletos de blocos que mal se diferem entre si visualmente.

A direção de arte chama a atenção com detalhados personagens em cell shading, que conseguem representar bem a atmosfera de anime dos designs criado pelo artista japonês Masakazu Katsura (responsável pela arte de trabalhos como Video Girl e Tiger & Bunny). Isso fica ainda mais aparente nas cenas não interativas repletas de ação exagerada e estilosa (como é de praxe da PlatinumGames). Uma trilha sonora intensa com composições que exploram gêneros como eletrônico, rock e orquestral complementam a ótima ambientação futurista.


Um debut notável

Jogar Astral Chain é uma experiência empolgante. O principal motivo disso é seu combate criativo e variado focado em coordenar ataques entre dois personagens — é muito legal quando conseguimos montar combos elaborados enquanto enfrentamos diferentes grupos de inimigos. Fora das batalhas, o título envolve com suas variadas atividades de investigação e missões paralelas, mesmo que às vezes elas se estendam tanto ao ponto de ficarem cansativas. Um mundo vibrante e repleto de segredos, cenas estilosas e muitas opções de customização enriquecem a aventura e trazem incentivos para explorar todas as possibilidades. No fim, Astral Chain é uma aventura de ação excepcional, mais um acerto da PlatinumGames.

Prós

  • Combate ágil e repleto de possibilidades focado em coordenação entre dois personagens;
  • Grande variedade de atividades durante os capítulos;
  • Mundo bem construído com ambientação futurista;
  • Ótimo visual e trilha sonora energética.

Contras

  • Problemas de ritmo nas partes de investigação;
  • Os trechos de plataforma são desajeitados;
  • Câmera imprecisa durante os combates.
Astral Chain — Switch — Nota: 9.0
Análise produzida com cópia digital cedida pela Nintendo
Astral Chain está disponível na Loja Nintendo

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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