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Análise: Along the Edge (Switch) — é união perfeita entre videogames e histórias em quadrinhos

Se você precisa de uma pausa de jogos de tiro ou por estar empacado em seu RPG favorito, não há nada melhor do que Along the Edge.

Diálogos em forma de texto estão presentes na cultura dos games desde o seu início e são a forma básica de expressar o que cada personagem pensa. O tempo passou, a indústria evoluiu e aos poucos surgiram conversas reais através da dublagem, deixando o texto em si para itens mais básicos dos jogos, como dicas de movimentação. Agora, como seria um jogo que não possui ação física dos personagens pelo cenário, consistindo apenas de imagens estáticas e conversas em forma texto? 

Com certeza você já ouviu o ditado “não julgue um livro pela capa”, que se aplica 100% no game Along the Edge, uma graphic novel que pode ser resumida como uma história madura com foco em pessoas e suas vivências no mundo real. Como estamos falando de um jogo eletrônico, elementos de fantasia são adicionados e tornam a aventura um pouco mais abstrata, mas sem perder o charme, algo que a Nova-Box - desenvolvedora do game - conseguiu fazer com maestria.

A vida é feita de escolhas

A premissa do jogo é baseada na tomada de decisões por parte da personagem Daphné, uma mulher que passa por dificuldades em sua vida pessoal. A cada escolha feita, o rumo da história e a personalidade da jovem são drasticamente alterados e não há como voltar atrás. Embora haja diversos rumos a serem tomados, o jogo faz questão de avisar que não há um decisão certa ou errada, ou seja, não há como “perder” em Along the Edge.

Com isso, é como se a desenvolvedora quisesse que nos colocássemos nos sapatos de Daphné, criando uma empatia pelo que a jovem passa ao longo da história e nos enxergando através das metáforas. Por falar em história, o enredo é excelente e te prende desde os primeiros momentos da narrativa até o epílogo. Inclusive, o jogo se assemelha muito a uma história em quadrinhos e a cada troca de imagem na tela, temos a sensação de que estamos virando uma página, tudo muito suave e responsivo.

O game também conta com um sistema de “alinhamento” da personagem, que é dividido em quatro categorias: a lua, tornando Daphné mais ríspida e agressiva em suas atitudes; o sol, que a torna mais benevolente e evita conflitos; a terra que garante uma visão agnóstica sobre fatos e acontecimentos; e a estrela, que a torna suscetível à elementos sobrenaturais. As principais escolhas feitas pela personagem ativam uma dessas quatro categorias e algumas delas podem influenciar duas condições, o que torna tudo mais interessante e abre novas possibilidades a cada instante.

Como se tudo isso não fosse o bastante, há um menu exclusivo para conquistas que podem ser desbloqueadas de acordo com o alinhamento da personagem, ou seja, há vários caminhos para serem seguidos, concedendo ao game um fator de replay incrível, pois o primeiro final é apenas um de muitos.

Duas famílias e uma torre

A história começa com uma notícia terrível: a avó de Daphné faleceu e o tabelião do cartório local a informa de que ela é a única herdeira do castelo. Ela decide largar tudo e se muda para a casa de sua falecida avó e é aqui que tudo começa de verdade. A trilha sonora de toda a movimentação é tocante, bate no fundo da alma e certamente irá arrancar algumas lágrimas de pessoas mais sensíveis. A direção de arte também não fica para trás:  as belíssimas imagens parecem pinturas impressionistas do século XIX, o que remete muito o cenário do jogo, o interior da Europa.

Daphné é membro da família dos Delatours, que em uma tradução livre do francês significa “Da Torre”. Isso se dá pois o castelo de sua família possui em seu centro uma grande torre, peça importante - senão a maior - de toda a trama. A família de Daphné é conhecida nas redondezas como “Os Milagreiros”, em virtude dos poderes mágicos de seus integrantes. Ao que tudo indica, a protagonista também possui esses poderes, mas depende dela para que essa habilidade venha à tona.


Ainda que a história esteja situada nos dias atuais, a mudança de um cenário urbano para o campestre antigo, digno de filmes e novelas de época, é uma experiência incrível e faz você pensar como seria viver em um pequeno vilarejo, cuja economia é majoritariamente agrícola e tudo isso por conta de um grande moinho presente. Por falar nele, há uma segunda família de grande influência, os Malterres. Intencionalmente ou não, a palavra Maleterres em francês significa “Pragas”, sendo assim, é possível ter uma noção de quem é o herói e quem é o vilão.

Como não há ação no jogo, os diálogos são a única fonte de informação sobre a relação entre as famílias e, mesmo com o sistema de Log para exibir o histórico de conversas, é necessário um domínio avançado/fluente de uma segunda língua para acompanhar os acontecimentos e tomar suas decisões, afinal o jogo não está localizado para o português brasileiro.

Foram poucas as vezes em que tive que procurar o significado de uma palavra e, embora tivesse uma ideia do que a mesma poderia significar por conta do contexto, arriscar a tradução de uma palavra por ser um falso cognato pode prejudicar a experiência. Ainda, em certos momentos, há alguns erro de ortografia, já que o texto foi traduzido do francês original, mas nada que comprometa o entendimento.

Andando no Limite

Pouco conhecido pelo público gamer, Along the Edge é um jogo no formato graphic novel que segue a premissa de uma história que se desenvolve a partir das escolhas feitas pelo jogador, influenciando não só a história em si como a protagonista Daphné. Por conta do esquema do jogo, as imagens em tela funcionam como uma espécie de cenário e que foram extremamente bem desenhadas pela direção de arte, que soube combinar os elementos da paisagem e que é acompanhada de fortíssima trilha sonora, impactando diretamente nas emoções do jogador.

Infelizmente, game está disponível somente em uma língua estrangeira e se você não dominar alguma delas ou tiver uma boa noção em termos de vocabulário, sua progressão será cansativa e pouco aproveitada. A cada frase, diversas palavras precisarão ser traduzidas para o entendimento do jogo, que é exclusivamente escrito, comprometendo e muito a experiência do título.

Prós

  • Enredo e história impecáveis;
  • Trilha sonora incrível;
  • Direção de arte magnífica;
  • Empatia com a protagonista;
  • Aprimoramento da língua estrangeira;
  • Sistema de conquistas;
  • Fator replay.

Contras

  • Gênero pouco atrativo para o público gamer;
  • Não localização para o português brasileiro é uma barreira.

Along the Edge — Switch/PC — Nota: 9.5
Versão utilizada para análise: Switch

Revisão: Felipe Fina Franco
Análise produzida com cópia digital cedida pela Nova-Box


Fã de carteirinha da franquia Pokémon desde os oito anos de idade, teve seu primeiro contato com os monstrinhos de bolso no Game Boy Color e de lá para cá, são mais de 25 anos de alegria. Fanático por vídeo-games, gostaria de poder jogar mais tempo do que trabalha.
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