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Análise: Mini Motor Racing X (Switch) é um desperdício de gasolina

Apesar da falta de potência, este título indie de corrida pelo menos chega até a linha de chegada.


Mini Motor Racing X é um jogo de corrida que busca reconstruir aquela vibe “arcadezão” típica dos antigos clássicos com câmera isométrica. Desenvolvido pela The Binary Mill, este pequeno indie aposta na diversificação de modos para não enjoar das repetitivas disputas de velocidade.

Chegar em primeiro lugar é o objetivo do título, mas talvez você acabe se divertindo pelo caminho. Quem sabe não aconteça um acidente fatal no percurso? Isso vai depender da quantidade de gasolina que restar após esta detalhada análise.

Quebrando o retrovisor

Como em qualquer outro jogo de corrida, Mini Motor Racing X não precisa de explicações alongadas. Apenas alcance a linha de chegada antes dos seus adversários — não tem mistério. As coisas aqui são simples e diretas, pelo menos até certo ponto. Ainda assim, o indie tenta se diferenciar dos demais ao utilizar uma função pouco explorada pelo gênero de corrida: a troca de câmeras em tempo real.

Você não gosta de controlar o carro vendo ele por cima? Tudo bem, é só apertar X e alternar a câmera pelo tipo de visão que mais te agrada. Descrevendo desse jeito parece uma função boba, e realmente é. Por mais hilário que soe, a importância dela se deve ao simples fato de que a câmera isométrica é horrorosa.

Vendida como o principal charme do título nos materiais promocionais, a visão isométrica padrão se revela como um verdadeiro horror em todos os aspectos. Primeiramente, não dá para enxergar o que está um pouco a sua frente na pista. Isso acontece porque, diferente dos jogos em que esse tipo de câmera foi bem implementada, as pistas aqui são enormes e não cabem na tela inteira.

Se apenas isso não bastasse, os desenvolvedores ainda tiveram a coragem de adicionar pistas com paredes no teto em detrimento de uma boa visão do jogador. Alguns circuitos também contam com elevações trimendisionais em seus terrenos, tornando-as quase imperceptíveis para os jogadores usando a câmera isométrica.

Ou seja, se você não quer pegar poeira por causa de obstáculos inesperados que aparecem do nada, então é melhor desistir dessa visão “nostálgica”. De qualquer forma, aqueles que querem jogar com os amigos no modo multiplayer local ainda serão obrigados a conviver com essa péssima câmera.

Felizmente, é só selecionar a opção para colocar a câmera atrás do carro para transformar Mini Motor Racing X em um jogo muito superior. Sério! Existe uma diferença de qualidade tão gritante entre as câmeras que eu não me surpreenderia se os desenvolvedores tivessem enviado o título para ser reformado no “Lata Velha” do Luciano Hulk. 



Além de adicionar uma refrescante sensação de velocidade e aprimorar a jogabilidade com controles mais “realísticos”, essa abençoada transição do pseudo 2D isométrico para o 3D tradicional faz com que os cenários das pistas fiquem bem mais “vivos” e interessantes de se olhar. Na prática, todos os aspectos do jogo fluem melhor com a troca da câmera.

Essa mudança quase surreal entre o gameplay das câmeras, no entanto, deixa evidente o potencial desperdiçado que poderia ser usado para oferecer mais diversidade na jogatina. Se a câmera isométrica pelo menos fosse razoável, então o ato de alternar entre esses estilos de visão iria adicionar bem mais variedade e complexidade ao jogo. Além disso, o multiplayer local não seria prejudicado pela exclusão da câmera 3D.

Ambição de tartaruga

A campanha de Mini Motor Racing X é, em suma, uma seleção linear de corridas que precisam ser completadas para liberar a próxima seleção de corridas e assim vai. A estrutura é similar ao de um Angry Birds ou outros jogos mobile, na qual cada corrida te garante pontos e dinheiro de acordo com a sua posição final.

O ideal é acumular uma boa quantidade de dinheiro, que, por algum motivo, está espalhado aleatoriamente pelo chão das pistas, para melhorar um dos cinco atributos principais do seu carro preferido. Esses upgrades proporcionam diferenças bastante significativas dentro das corridas, se provando como um elemento essencial para enfrentar os desafios mais avançados. 

Além do modo principal, ainda há alguns modos secundários disponíveis para brincar. Entre eles, o modo “X Factor” é o único que ganha uma campanha própria, que basicamente é a mesma coisa da primeira com a adição de itens no estilo Mario Kart. Infelizmente, esse modo acabou sendo uma grande decepção por causa da variedade escassa de itens, genéricos e sem graça.

Na série Mario Kart, os itens funcionam para garantir uma corrida acirrada e dinâmica na qual o primeiro lugar sempre pode cair para as últimas posições em pouco segundos. Por outro lado, os itens do X Factor fazem justamente o contrário disso. Fracos e horríveis de acertar, eles deixam as corridas ainda mais tranquilas para quem está nas primeiras posições graças ao poder de escudo desbalanceado. Que triste ironia, não?

Com o intuito de encher mais linguiça, temos o “Mini Mini Racing X”. Um modo, que… só diminui o tamanho dos carros? Preciso confessar que a mudança no tamanho fez tanta diferença que eu só fui notar na quarta corrida. Desnecessário e sem sentido, esse modo é uma justificativa vaga para dizer que o jogo tem “conteúdo”.

Por fim, temos o inovador modo de futebol com carros, com mecânicas tão sutis e avançadas que deixaria qualquer Rocket League (Switch) no chinelo. É… acho que não preciso explicar que isso foi uma ironia. Apesar de ser mal feito e contar com uma física tosca, esse modo é genuinamente divertido para jogar com os amigos que procuram algo mais caótico e casual do que Rocket League.

Posição final

Como é de se esperar de jogos assim, os gráficos não são nada demais. Para falar a verdade, eles são bem mal acabados, algo que fica mais notável quando utilizamos a câmera atrás do carro. São visuais que rodam em qualquer celular básico, mas que não fedem ao ponto de se tornarem intragáveis.

As pistas presentes no jogo possuem temáticas interessantes, mas nenhuma delas oferece um level design que faça jus a estes temas. A composição dos circuitos chega a ser tão básica que se torna uma experiência chata e enjoativa só de olhar para o mapa da pista. Visto que o título já aposta em diversos conceitos fora da realidade, então explorar elementos mais dinâmicos e fantasiosos durante as corridas não faria mal nenhum, ainda quando se fala de um jogo que te coloca na mesma pista dezenas e dezenas de vezes.

Para a surpresa de muitos até aqui, eu posso dizer com tranquilidade que a trilha sonora de Mini Motor Racing X é excelente, ainda mais se comparada com o resto do pacote. Mesmo nas corridas mais chatas, o empolgante rock instrumental tocando no fundo nunca me deixava na mão quando o assunto era ficar empolgado com a ação. Confesso que a trilha não é uma obra-prima, mas ela com certeza brilha mais forte pelo contexto em que se encontra.

Por falar em coisa boa, é sempre importante lembrar que, apesar dos inúmeros erros técnicos e problemas irritantes, Mini Motor Racing X continua me divertindo durante as jogatinas. Assim como um jogo barato de celular, ele só me conquistou quando comecei a enxergá-lo como um passatempo simples e rápido para desfrutar com os amigos.

Não há nada grandioso. Nada espetacular que não tenha sido feito melhor antes. Se você gosta de jogos básicos para passar o tempo, então saiba que esta é uma recomendação aceitável apenas se você estiver disposto a pagar os salgados 20 dólares cobrados pela eShop americana.

Rápido, simples e igualmente raso, Mini Motor Racing X é um indie tão básico que poderia ser confundido com um jogo genérico de celular perdido no meio do catálogo do Switch. Com uma jogabilidade de altos e baixos, o título até consegue divertir se encarado como um pequeno passatempo. No entanto, é melhor se afastar caso procure qualquer coisa além disso.

Prós:

  • Passatempo divertido;
  • Online eficiente;
  • Trilha sonora empolgante.

Contras:

  • Modos extras deixam a desejar;
  • Campanha repetitiva;
  • Gráficos ruins;
  • Pistas sem sal;
  • Desperdiça o potencial da visão isométrica.
Mini Motor Racing X — Switch/PC/PS4/XBO — Nota: 6.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: João Gabriel Haddad
Análise produzida com cópia digital cedida pela Nextgen Reality

Estudante de jornalismo que não vê a hora de achar um estágio. Apaixonado por videogames e esperando o fim de Hunter x Hunter e Berserk desde que me entendo por gente.
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