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Análise: Game & Watch: Super Mario Bros. celebra 35 anos do encanador de forma simpática

Embora leve em conteúdo, portátil possui boa qualidade de imagem, áudio e controles, tornando-se um ótimo item de colecionador para fãs da Nintendo.


Engana-se quem pensa que, em novembro de 2020, somente Sony e Microsoft lançaram novos consoles no mercado. Junto com o Xbox Series X e o PlayStation 5, a Nintendo também disputou espaço nas prateleiras com um hardware que, embora muito mais modesto, é especial para a história da empresa: o Game & Watch: Super Mario Bros.


Esta releitura do primeiro portátil lançado pela Big N, em 1980, é uma edição limitada em comemoração aos 35 anos da franquia Super Mario. Trazendo dois títulos clássicos da série — Super Mario Bros. (NES) e Super Mario Bros.: The Lost Levels (NES) —, o minigame Ball com um toque do encanador e um relógio digital repleto de easter eggs, a plataforma é uma memorabília feita especialmente para grandes fãs do Reino dos Cogumelos e da Nintendo. O sistema não possui muito conteúdo inédito ou longevo, mas aquilo que ele entrega o faz com muito capricho.

Uma viagem no tempo

O primeiro sinal do cuidado tomado com esse produto está em sua própria embalagem. A caixa é uma reprodução praticamente fidedigna das utilizadas para os Game & Watch da linha Wide Screen, lançada em 1981, e na qual esta versão de Super Mario é inspirada. Uma comparação com os portáteis de 40 anos atrás mostra que tudo é muito parecido: o posicionamento do logotipo do sistema, do nome do jogo e da ilustração do console; o uso de fontes; as informações nas laterais da caixa; e até mesmo a utilização de um modelo antigo do logo da Nintendo.

No entanto, há um detalhe ainda mais charmoso na apresentação da embalagem. Ela possui uma espécie de luva plástica transparente que a encobre completamente. Nela estão impressos todos os elementos de Super Mario Bros., como canos, blocos, montanhas, arbustos, inimigos e o próprio Mario. Até mesmo a tela inicial do jogo de NES está presente na luva, alinhada exatamente sobre a ilustração do Game & Watch, dando uma interessante sensação tridimensional.

Ao removê-la, quase todas as referências do jogo do bigodudo ficam para trás e a caixa se transforma em uma embalagem do título Ball, ficando ainda mais similar às dos anos 1980. É uma maneira simples, mas eficaz, de apresentar todo o conteúdo que a plataforma possui sem interferir no design retrô.
A luva plástica transforma a caixa em outra embalagem


Além disso, em uma das abas do papelão há um agradecimento especial dos desenvolvedores, fazendo com que a apresentação do portátil ganhe pontos antes mesmo de ser aberto.
Uma simpática mensagem da Nintendo para os fãs


Jogando no sistema

As similaridades continuam ao colocar as mãos no console. Com dimensões próximas às dos Game & Watch Wide Screen, este é um dos menores portáteis produzidos pela Nintendo nos últimos anos, ficando atrás somente de plataformas como o Game Boy micro e de outras muito específicas, como o Pokémon Mini. Seu acabamento em metal escovado dourado e a disposição e design dos botões, além dos materiais usados para fabricá-lo, também remetem aos dispositivos antigos. As duas grandes diferenças nesta edição de colecionador são as adições de um direcional em cruz e de um display de cristal líquido colorido de 2,36 polegadas.
Comparação de tamanho com um Nintendo Switch

Comparação de tamanho com um New Nintendo 3DS XL

Comparação de tamanho com um Game Boy Color e um Game Boy Advance SP

O hardware simula bem a sensação de se estar jogando com um controle de NES. Os botões A e B são mais emborrachados e macios que os inputs plásticos do Nintendinho, que são mais “clicáveis”, em comparação. Embora à primeira vista esta mudança dê a impressão de que a jogabilidade não será tão fluida e responsiva quanto no console de mesa, os botões são bastante confortáveis e não atrapalham em nada a experiência com o sistema.

O mesmo não pode ser completamente dito sobre o direcional +, que é uma reprodução do D-pad do NES, porém menor. Ainda que detenha as qualidades do seu correspondente e cumpra de modo notável o seu papel, seu tamanho pequeno e o fato de ser um pouco mais protuberante do que na maioria dos controles faz com que longas sessões de jogo tornem-se levemente incômodas, dependendo dos movimentos dos dedos. Isso é especialmente sentido quando é necessário apertá-lo de modo rápido e preciso, algo que existe de sobra em Super Mario Bros.: The Lost Levels.
O direcional em cruz do Game & Watch é levemente menor que o do NES. Nesse caso, a comparação é com um controle do NES Classic Edition

Além disso, o D-pad possui uma certa dificuldade para registrar inputs na diagonal. Isso faz com que ações como deslizar agachado tornem-se mais complexas. Dependendo da maneira como os botões estão sendo acionados na diagonal, também é possível entrar em canos involuntariamente. Porém, esses são casos muito pontuais — assim como ocasionais pulos não registrados — e não atrapalham a jogatina. Na verdade, os controles são majoritariamente muito responsivos, permitindo movimentações certeiras.

Tela brilhante, áudio potente

Quando o assunto é qualidade de imagem e de áudio, o Game & Watch: Super Mario Bros. se destaca. O salto na tecnologia empregada na tela do portátil em relação aos sistemas dos anos 1980 é obviamente claro. Saem as células de animação que se acendem individualmente para dar a impressão de movimento e entra um LCD retroiluminado capaz de exibir múltiplas cores e gráficos mais avançados, sejam eles sprites em 8-bit ou imagens e animações simples.

Ainda que o display aparente ser pequeno para uma jogabilidade agradável, seu tamanho não incomoda. Com as proporções mais ou menos iguais às da tela de um Game Boy Color, o sistema se beneficia de sua resolução maior e, consequentemente, não precisa ampliar os elementos dos jogos para torná-los mais visíveis. Os games são exibidos assim como foram idealizados no NES e, de quebra, têm pixels bem nítidos e cores fortes, além de um ótimo sistema ajustável de iluminação que realça seus visuais. A apresentação dos títulos está à altura de seus últimos relançamentos no Nintendo Switch Online ou no NES Classic Edition.
A tela do portátil é capaz de mostrar jogos e imagens com ótima qualidade


O alto-falante do sistema também surpreende. Mesmo sendo mono, possuindo somente uma única saída de som em sua lateral, o portátil é capaz de emitir sons altos e claros, em um esquema parecido com o dos smartphones atuais. As clássicas músicas e efeitos sonoros dos primeiros títulos da série podem ser ouvidos com uma potência não esperada de um produto tão pequeno.

O único contratempo aqui está na posição da caixa de som. Apesar de não ter acontecido comigo, já que só consigo jogar com o Game & Watch apoiado em uma mesa, nem com pessoas para quem emprestei o dispositivo, o dedo indicador pode cobrir essa saída, dependendo do modo como a pessoa segura o portátil, abafando o som. Além disso, a falta de uma entrada para fones de ouvido foi sentida nos momentos em que queria passar daquela fase difícil de madrugada sem causar incômodo.
A saída de áudio na lateral pode ser obstruída pelo dedo do jogador


Vale ressaltar também que o portátil possui uma boa bateria, que aguenta muitas horas de jogatina. De acordo com a lista de especificações técnicas oficiais, a Nintendo afirma que um carregamento de 3,5 horas por USB-C proporciona até oito horas diretas de gameplay. Deixando-o em modo de descanso ao não ser usado, o sistema facilmente aguenta dias sem ter que ser ligado à energia. Porém, para ver o nível da bateria, é preciso entrar nas configurações do produto, não havendo nenhum indicador externo ou notificação que avise que ela está quase no seu fim.
O nível de bateria só aparece ao abrir o menu de configurações, mesmo quando ela está prestes a acabar


Dois clássicos em sua melhor forma

Quanto ao conteúdo do console, não há muitos segredos. Quem já jogou Super Mario Bros. sabe exatamente o que esperar: um dos mais importantes títulos da história dos games, com níveis de plataforma bem desenhados, fases repletas de segredos, ótimos controles e uma curva de dificuldade que torna resgatar a Princesa Peach um desafio complicado, mas justo.



Já as pessoas que experimentaram ou pelo menos ouviram falar de Super Mario Bros.: The Lost Levels devem conhecer a história: o título é a continuação japonesa da primeira aventura de Mario e é famoso por ser extremamente difícil. Isso fez com que a Nintendo of America cancelasse o lançamento do game no Ocidente e adaptasse o jogo nipônico Yume Kōjō: Doki Doki Panic (NES) como a versão americana de Super Mario Bros. 2 (NES).



Estes “níveis perdidos” foram criados para fãs que dominam todas as mecânicas do primeiro jogo e isso é refletido em seu design. Pulos precisos e movimentos calculados estão presentes nas mais de 30 fases. Soma-se a isso Poison Mushrooms, rajadas de vento que empurram Mario e Warp Zones que transportam o jogador para mundos anteriores e o resultado é uma jornada de puxar os cabelos, mas não menos divertida. Perder várias vidas aqui é regra, não exceção.

Por sorte, o portátil emprega alguns recursos modernos para fazer com que a experiência seja mais agradável para quem tem dificuldade em ambos os jogos. É possível criar um ponto de suspensão nas aventuras ao colocar o sistema em modo de descanso ou ao acessar outros jogos e o relógio digital. Além disso, o Game & Watch acrescenta um easter egg no qual é possível desbloquear vidas infinitas. Em conjunto, essas duas features permitem que os obstáculos mais cabeludos sejam superados ao tempo de cada um, sem a preocupação com game overs. O console incentiva que todos cheguem ao último castelo do Bowser, o que é ótimo.
Vidas infinitas são um dos easter eggs presentes no sistema


Outras adições bem-vindas são a possibilidade de definir em qual mundo começar o jogo nas telas de título (é preciso chegar ao primeiro nível de cada mundo para liberá-lo nesta opção) e, no caso de Super Mario Bros., acessar a segunda jornada, mais difícil, a qualquer momento uma vez zerado o game principal. Já que a plataforma existe para celebrar o lançamento dos clássicos de NES, ela nos deixa aproveitá-los da maneira que quisermos dentro de suas limitações.

Malabarismo e pouco conteúdo

Não são só softwares de Nintendinho que estão inclusos no Game & Watch: Super Mario Bros. Como um bônus, a Nintendo adicionou uma versão especial do primeiro jogo de Game & Watch, Ball, em que Mr. Game & Watch tem seu rosto substituído pelo de Mario ou do Luigi. A premissa é simples: controle as mãos do personagem, não deixe as bolas caírem no meio do malabarismo e conquiste uma alta pontuação. Extremamente básico, o game reflete a proposta da linha Game & Watch de ser uma coleção de passatempos para breves momentos, mas não possui novidades suficientes para deixar os usuários engajados por muito tempo.



Aliás, a falta de ineditismo é um dos principais problemas do sistema. Sabendo que o público principal deste produto são fãs de longa data da Big N, o hardware não traz atividades novas para essas pessoas que muito provavelmente já consumiram os títulos inclusos várias vezes em diferentes consoles durante os anos. Seria interessante se os desenvolvedores tivessem criado desafios específicos para o portátil. Um modo de challenges ou remixes de níveis e mecânicas dos primeiros Super Mario Bros., assim como vistos na série NES Remix, poderiam ser uma boa alternativa de conteúdo adicional.

No entanto, mesmo que a criação desses modos originais fosse impossível, o portátil teria seu valor aumentado simplesmente se mais jogos fossem acrescentados a ele. Após alguns dias — ou até mesmo em poucas horas, dependendo da habilidade do jogador —, é possível aproveitar tudo que o videogame oferece. O custo-benefício seria bem maior se o console seguisse o caminho adotado por Super Mario All-Stars (SNES) e incluísse a versão ocidental Super Mario Bros. 2 (NES) e Super Mario Bros. 3 (NES) em sua memória. Além do mais, sendo um Game & Watch, a plataforma poderia ter mais minigames da marca repaginados com a cara do Reino dos Cogumelos. A Nintendo já fez isso à exaustão na série Game & Watch Gallery, de Game Boy. Era só inserir os passatempos dessas coletâneas e as horas de gameplay se multiplicariam.
Apesar de ótimos, os jogos inclusos trazem pouca novidade para fãs da Nintendo


É hora do Mario!

Falando em horas, a principal novidade dessa edição especial é seu relógio digital. Característico de todas as versões do Game & Watch, o relógio possui uma animação do Mario constantemente correndo e desviando de inimigos enquanto as horas, formadas por blocos, aparecem acima dele. Quando um minuto vira, o bigodudo para e acerta os números, transformando-os e mantendo a hora certa.

Acompanhar Mario correndo enquanto os segundos passam é estranhamente viciante. Sabe aquela sensação de assistir à tela de descanso de um tocador de DVD só para ver o logo batendo contra as laterais da tela e esperar que ele acerte exatamente na quina? É mais ou menos isso que acontece aqui. Admito que gastei muitos minutos vendo o encanador tentando sobreviver perante os Goombas automaticamente e jogando Koopa Troopas na tela com os botões para ver como a inteligência artificial lidaria com eles.

O charme do relógio é ampliado com os 35 easter eggs escondidos pela Nintendo como celebração do aniversário da franquia. Normalmente, eles duram bem pouco e são, em sua grande maioria, aparições de personagens, animações diferentes ou até mesmo mudanças de cenários em momentos determinados do dia. Uma busca na internet mostra rapidamente quais são esses detalhes e a que horas eles aparecem, mas parte da diversão é entrar no relógio em diferentes momentos para ver se algo novo acontece e, se acontecer, tentar relacionar o horário com o easter egg.
Um dos easter eggs faz Mario entrar no cano e curtir as águas


O contador também esconde um pequeno vídeo com uma canção que ensina a desenhar o rosto de Mario. A produção é requentada de uma animação criada pela Nintendo em 2010 para o aplicativo Flipnote Studio. Novamente, um exemplo de conteúdo simpático, porém não inédito para quem acompanha a Big N há anos.
Minha irmã testou a eficácia da música que ensina a desenhar Mario. E funciona.


Um produto especial

Game & Watch: Super Mario Bros. é um console feito especialmente para colecionadores entusiastas pela Nintendo. Sua apresentação que remete aos lançamentos da empresa nos anos 1980 o material com que é produzido, a responsividade de seus controles; seu display e seu sistema de som de boa qualidade, tudo funciona para entregar um pacote digno de uma edição limitada.

A experiência de gameplay é bastante precisa, apesar de alguns contratempos. Seu relógio digital é simpático, com segredos que adicionam um elemento de diversão para a passagem dos segundos. No entanto, a oportunidade de transformar o portátil em uma definitiva celebração de Super Mario, incluindo mais jogos e conteúdos originais, foi perdida.

Se você quiser só jogar os games, há maneiras muito mais práticas para experimentá-los, inclusive no Nintendo Switch Online. Porém, se você gosta da ideia de ter em mãos um pedaço da história da Big N, você será bem servido. Mas corra, pois o sistema só será produzido até o dia 31 de março deste ano.

Prós

  • Bela apresentação do produto, com caixa e materiais utilizados na fabricação que reproduzem os Game & Watch dos anos 1980;
  • Controles majoritariamente responsivos;
  • Ótima qualidade de imagem e som;
  • Bateria de grande duração;
  • Adição de saves states, vidas infinitas e seleção de mundos torna a experiência com os jogos inclusos mais agradável;
  • Relógio digital simpático, cheio de detalhes e animações escondidas.

Contras

  • D-pad pequeno pode se tornar incômodo e impreciso em momentos pontuais da jogatina;
  • Posicionamento da saída de som pode fazer com que ela seja encoberta pelo dedo do jogador;
  • Falta de indicador externo ou notificação que avise que a bateria está acabando;
  • Falta de entrada para fones de ouvido;
  • Falta de conteúdo longevo, sem mais jogos de NES e Game & Watch ou desafios criados especificamente para o portátil.
Game & Watch: Super Mario Bros. – Nota: 8.0
Revisão: José Carlos Alves
Análise produzida com produto comprado pelo próprio redator

Jornalista, analista de mídias, PcD e entusiasta de games desde que jogou Pokémon Azul no Game Boy Color nos anos 90. De lá para cá, tenta aproveitar ao máximo todos os consoles no pouco tempo que a vida adulta permite. Se não está escrevendo para o Blast ou demorando anos para zerar um jogo, está no Twitter (@DanielMorbi) e no Instagram (@danielmorbi_)
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