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Análise: Little Nightmares II (Switch) é uma referência em mesclar fuga, raciocínio lógico e terror

Em seu segundo título, a franquia segue no Switch em uma experiência polida e com poucos defeitos para apontar.


Lançado em 2017 e portado para o Switch em 2018, Little Nightmares (Switch) fez sucesso quando permitiu aos jogadores viver a fuga da personagem Six de um barco assustador. Quatro anos depois, a sequência Little Nightmares II vem ao console da Nintendo mostrar suas qualidades. A aventura em estilo side-scrolling agora coloca o jogador na pele de Mono, que deverá ser ágil, inteligente e esguio para escapar de algumas ameaças que vivem na cidade e desativar a maligna Torre do Sinal.

Mais pequenos pesadelos

De forma inusitada, o protagonista Mono acorda no meio da floresta e parte rumo à sua missão, que é provavelmente salvar o mundo das mãos de algum maligno vilão. A premissa mais tradicional da história dos games se materializa na Torre do Sinal, uma antena que emite sinais de rádio e deixa as pessoas fissuradas em assistir televisão.

Para chegar à Torre, cinco capítulos dividem a jornada da criança até a Torre, em ciclos que se repetem. Em todos eles, um adulto ameaçador está à espreita e pode te capturar a qualquer momento, mas a fuga ou a destruição dele é necessária para prosseguir. Na floresta, por exemplo, o Caçador dá uma pausa em sua carnificina para acabar com as crianças que interrompem seus trabalhos e é preciso mergulhar no lodo ou distraí-lo para abrir o caminho.

Conforme você avança, a atmosfera fica mais aterrorizante e gera momentos de tensão. Frequentemente me senti com o coração acelerado em momentos como a fuga da Professora, no segundo capítulo; aqui, a fuga linear pela floresta é substituída pelo longo pescoço da vilã, que se estica para procurar o herói circulando pelo teto e pelos dutos de ventilação da escola. Sem querer revelar detalhes do enredo, é muito importante manter a calma e respirar fundo, pois o terror em Little Nightmares II só aumenta nas fases seguintes.


A natureza side-scrolling dá ao jogo a possibilidade de mesclar três tipos de momentos diferentes ao longo da jogatina: as perseguições, intensas e assustadoras, onde não é preciso ter calma e sim sebo nas canelas; a exploração e resolução de puzzles, onde o inimigo está longe e o raciocínio lógico é necessário na interação com o ambiente; e, por fim, o stealth, essencial para fugir quando você ainda não foi detectado.

Esses elementos são suficientes para que o jogo flua muito bem e a progressão do jogador seja clara. Porém, mesmo que o avanço do personagem aconteça aos olhos do jogador, o enredo até aqui descrito pode apenas ser compreendido com a leitura da sinopse e não com as informações que o jogo fornece. Por isso, ele pode ficar confuso para a maioria dos jogadores, que talvez entenderão a motivação do protagonista somente nos capítulos finais. Ainda assim, a ausência de diálogos e cutscenes deixa muitas coisas à interpretação de quem joga.


Little Nightmares II aposta em uma aventura nos moldes dos jogos da década de 90, onde as linhas da história eram apresentadas nos manuais, essenciais para entender as motivações do herói no gameplay. Fica difícil ter certeza de que o jogador fará essa leitura, e o aumento da dependência da história nos capítulos finais deixa claro que, sem essas informações, o jogo pode ser finalizado sem nenhuma compreensão do que aconteceu — o que pode ser bem ruim, nesse caso. Por isso, apelar para apresentar mais o enredo e as motivações do personagem é um ponto que pede por melhorias. Agora, se você optar por tirar alguns minutos para entender o que se passa, irá terminar a história boquiaberto com o final surpreendente e as assustadoras reviravoltas.

Quebre os pés ou quebra-cabeças

Enquanto trafega pelos três diferentes modos de jogo, Little Nightmares II conta com um level design criativo, inusitado e certeiro em suas mecânicas. Os ambientes side-scrolling, onde a câmera visualiza a fase em vista lateral e se move apenas em um plano, contam com um pouco de exploração da profundidade e grande liberdade de circulação, o que pode tornar algumas soluções de puzzles não tão claras.


Nesse aspecto, o projeto das fases acerta ao deixar pistas das soluções pelo caminho, mesmo que não tão claras enquanto você não resolve o enigma. Por exemplo, quando você precisa posicionar um carrinho de supermercado entre duas prateleiras para criar uma plataforma de apoio intermediária, é difícil acertar a posição dele para permitir o salto. Por isso, pequenas placas de madeira meramente jogadas pelo cenário formam um caminho imaginário que indica ao jogador que ele está fazendo a coisa certa. Pode parecer sutil, mas é nesses detalhes que o jogo encanta.

Por outro lado, na hora de correr dos inimigos, a indicação do caminho correto dá lugar a um cenário de pura tentativa e erro. É difícil identificar o que fazer antes de errar uma ou duas vezes e a repetição dá indícios do que é certo fazer na próxima. Em um outro momento de fuga, por exemplo, um prédio desabando parece exigir que você corra da forma mais rápida possível, mas só será possível perceber que é preciso parar em algumas plataformas ao errar o salto no primeiro pulo.


Mesmo assim, é bem pouco frustrante errar, pois o jogo entra na onda de vários títulos modernos e não traz indicadores de vida com game overs. Cada erro retorna Mono ao último checkpoint e eles aparecem frequentemente o suficiente para que o progresso da jornada seja tranquilo.

A experiência num console Nintendo

Deixando de lado as mecânicas e o enredo, que considero os órgãos vitais deste jogo, resta-nos comentar sobre o port desta franquia para os consoles Nintendo. Nesse caso, o único detalhe que difere a experiência das outras plataformas é a taxa de quadros por segundo, que é fixada em 30 em vez dos 60 da concorrência. A jogabilidade fica, com certeza, muito melhor com essa taxa dobrada e, com o apoio dos muitos estúdios focados em ports para o híbrido da Nintendo, tenho certeza de que isso seria atingível. Mesmo assim, os belos visuais elaborados no Unreal Engine e as trilhas sonoras majoritariamente aterrorizantes e cheias de graves permanecem fiéis sem atrapalhar a experiência final.


Se sua situação cardíaca está adequada e você é bom no controle tanto para quebra-cabeças como para fugas, Little Nightmares II é uma entrada obrigatória para seu console. Suas mecânicas e seu level design são certeiros, criando um jogo que pode ser usado como referência para as próximas gerações naquilo que se propõe a fazer: aterrorizar, envolver e induzir o raciocínio lógico sem maiores frustrações do jogador. É uma pena que tanta qualidade em um enredo tão simples não seja tão instigada pelos desenvolvedores, que optaram por disponibilizar informações-chave da trama pela internet e não no gameplay.

Prós

  • Enredo envolvente e com final surpreendente;
  • Perfeito equilíbrio entre puzzle, stealth e perseguição;
  • Minucioso projeto dos níveis, acertando ao desafiar o jogador sem frustrá-lo;
  • Atmosfera aterrorizante perfeita.

Contras

  • O enredo é pouco instigado durante a jogatina e pode depender de leituras externas;
  • Desempenho gráfico travado em 30 quadros por segundo.

Little Nightmares II — Switch/PS4/XBO/PC — Nota: 9.5
Versão utilizada para análise: Switch 

Revisão: Davi Sousa
Análise publicada com cópia digital cedida pela Bandai Namco


É diretor de redação do Nintendo Blast e fã de games desde pequeno, quando começou sua jornada com Mario e Zelda lá no SNES. É formado na área das engenharias e trabalha com desenvolvimento de software. Quando sobra um tempinho entre as jogatinas e o dia a dia, aparece lá no Twitter como @niccomch.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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