Entrevista

Coelho no Japão e o amor pela Nintendo

Rodrigo Coelho comenta, entre outras coisas, o último Nintendo Direct.

Nas últimas semanas, o Nintendo Blast está conversando com pessoas envolvidas nos mais diferentes aspectos do universo gamer. Já batemos um papo com bandas, como a GameBoys e a MegaDriver, e com desenvolvedores, como a LongHat House.


Agora é hora de incluir na conversa um dos maiores canais dedicados à Nintendo do YouTube brasileiro. Com milhares de inscritos, o Coelho no Japão produz vídeos diários e acompanha o Switch desde o seu lançamento. Hoje, Rodrigo Coelho fala com o Nintendo Blast sobre esse amor pela Big N, os próximos anos de vida do console híbrido e sobre o mais recente Nintendo Direct.

NB: Com qual franquia e em qual console se iniciou sua paixão pela Big N?

Coelho: Foi com The Legend of Zelda. A fita dourada do original de Nintendinho mesmo! Eu sou irmão mais novo, e meus irmãos não gostavam de me deixar jogar no Super Nintendo deles. Então, meu pai comprou o Nintendinho velho do meu primo e eu fui a criança mais feliz, jogando Zelda por horas a fio, explorando aquele mundo vasto, mágico e misterioso. E DIFÍCIL! Haha.

NB: O seu amor pela Big N é evidente, mas todo relacionamento passa por crises. Houve algum momento em que sua relação com a Nintendo ficou estremecida?

Coelho: Creio que não. Claro que tenho minhas críticas e discordâncias com algumas atitudes e decisões que a empresa toma. Mas isso nunca mudou a forma com que eu vejo e sinto as franquias desta empresa, que tocaram tanto a minha vida. Desde criança sempre quis trabalhar com games, justamente pelo meu amor à Nintendo. Eu queria muito trabalhar escrevendo e criando conteúdo da Nintendo por causa da [revista] Nintendo World e do [jornalista] Pablo Miyazawa... e hoje até projetos com ele estou tocando. Já tive minha empresa de games e hoje trabalho justamente fazendo o que eu amo com Nintendo.

Essas franquias me deram amizades, me aproximaram das pessoas. Realmente mudaram a minha vida. Então não tem como eu não amar, está entrelaçado demais com a minha vida pessoal. Mesmo com as críticas que tenho (principalmente em relação aos preços que eles cobram), a emoção de acompanhar as novidades e compartilhar esse gosto com as pessoas é muito boa.


NB: Qual gênero de jogos está em falta no híbrido e qual está sobrando?

Coelho: Sinceramente, eu gostaria muito de mais jogos RTS no estilo Starcraft, Command & Conquer, Pikmin. É um dos meus gêneros favoritos, e basicamente morreu nos consoles. Eu jogava Command & Conquer até no Nintendo 64! Por algum motivo este gênero flopou nos consoles: talvez pelos controles mais difíceis, uma vez que jogar com o mouse é muito mais prático Mas Pikmin provou que é possível fazer acontecer, e eu espero muito ver mais jogos como esses no Switch.

NB: Das franquias que ainda não deram as caras no Switch, qual é a que você mais gostaria que retornasse?

Coelho: F-Zero! É uma franquia que me marcou muito, criada pelo Miyamoto e que está abandonada... esquecida. Eu ficaria feliz se, ao menos, eles juntassem o conteúdo do F-Zero GX e do AX (versão de Arcade), colocassem em HD com melhorias nas texturas e modelos, e fizessem um online para 30 pessoas. Seria fantástico!

NB: O Switch completa agora 4 anos e a Nintendo afirma que é só a metade do seu ciclo de vida. Você acredita que ele consegue enfrentar a nona geração por mais 4 anos?

Coelho: Definitivamente sim. O Switch atende um problema crônico dos gamers que cresceram: "estou curtindo meu game, mas tenho que largá-lo e ir ao trabalho/faculdade/escola". Normalmente, temos que adaptar nossa rotina para jogar os games, arranjar um tempo para curtir nosso hobby. Mas o Switch reverte isso. Com ele, é o videogame que se adapta à nossa rotina. Temos um intervalo no trampo? Dá para jogar. Acabou a luz? O Switch ainda pode ser jogado. E essa é uma oferta de valor que nenhum outro videogame consegue oferecer.

Portanto, boto fé que depende apenas do esforço da Nintendo de lançar grandes jogos e fechar grandes parcerias para que o Switch continue explodindo de vendas pelos próximos 4 anos.

NB: Como você prefere os anúncios: pelo Nintendo Direct ou pelo estilo descentralizado adotado em 2020?

Coelho: Nintendo Direct, definitivamente. E digo mais: Acredito que o modelo de Direct é fundamental para a manutenção do hype e amor dos fãs. Essas apresentações, mais do que fazerem anúncios, servem para unir a comunidade. Deixam todo mundo feliz, empolgado, se organizando para fazer "bingo directs'', conversando nos grupos, Discord, em live, e depois curtindo juntos o evento.

Por mais que após uma onda de felicidade venha uma onda de negatividade, o saldo é sempre positivo e esse evento é praticamente o Lollapalooza ou Rock in Rio dos Nintendistas. Você compartilha essa alegria com milhares de outras pessoas ao mesmo tempo, e pequenos anúncios espalhados não fazem este efeito tão legal na comunidade dos fãs.

NB: Quais foram os pontos fortes e fracos desse último Direct?

Coelho: Pergunta complicada, pois mesmo nos pontos fortes, houveram muitas fraquezas. Splatoon 3 é grande, mas por que anunciar agora se é só para 2022? Project Triangle Strategy é praticamente garantia de um jogo de qualidade, uma pena também ser para 2022. Num Direct focado nos primeiros seis meses deste ano, nenhum detalhe do DLC de Hyrule Warriors: Age of Calamity, somente o preço. Miitopia é um tapa-buraco divertido, mas não vale preço cheio. Skyward Sword HD foi um ponto super alto, mas sem as melhorias das outras versões HD de The Legend of Zelda. E a Nintendo não fez qualquer menção ao aniversário da franquia!

Tiveram muitas coisas boas nesse Direct, mas diluídas em vários anúncios "que ninguém liga". E como os anúncios maiores vieram com um "porém", creio que tenha deixado um gosto ruim na boca de quem estava tão feliz com o retorno do modelo do Direct.

Acho que o ponto mais forte foi essa união da galera pra curtir junto, e o fato de que este modelo está de volta. Foi um bom Direct de primeiro semestre, mas foi um péssimo Direct de retorno ao formato após um ano e meio. Então, por essas e por outras, apesar de eu ter me divertido muito, minha nota final é 6.

NB: O que não pode faltar num próximo Direct?

Coelho: Não dá para ter mais um Direct sem reconhecer suas grandes franquias e trazer novidades para o sistema. A Nintendo tem que falar de melhorias para o Switch Online. Ela tem que falar de Breath of the Wild 2. Tem que dar mais detalhes de jogos que sabemos que existem, mas estão em silêncio, como Bayonetta 3. Quem sabe um update simples sobre Metroid Prime 4, para a galera saber que ele não foi cancelado.

Acharia importante a Nintendo trazer third parties de peso como Call of Duty, trazer informações finalmente sobre Hollow Knight SilkSong, que sumiu, e a data de Genshin Impact. E o mais importante: alguma franquia antiga de volta com um jogo novo, e não um remaster ou versão HD com poucas melhorias.

NB: A Nintendo tem sido parceira dos canais brasileiros no YouTube? Ou a relação não mudou com a volta da empresa ao nosso país?

Coelho: Sim, melhorou muito. Eu já tinha uma parceria com as relações públicas da Nintendo no México antes deles virem para o Brasil, e eles me davam suporte com games, etc. Mas a volta deles para o Brasil trouxe mudanças importantes. O representante das relações públicas aqui é atencioso, responde muito às dúvidas. Está sempre em contato para dar suporte com Game Keys e com informações para que a gente possa criar nosso conteúdo da melhor forma.

Por outro lado, a Nintendo no Brasil ainda está na infância. Por exemplo, quando se trata de fornecer material com antecedência, para nós podermos criar um conteúdo mais trabalhado e com mais relevância antes do lançamento de um game. Lá fora, isso acontece com mais facilidade. Aqui, acredito que o time ainda tem um pouco de limitações do que podem ou não fazer. Espero que isso melhore com o tempo, pois é benéfico para todas as partes.

NB: Bonus stage. Esse é o momento para você fazer o seu jabá.

Coelho: Obrigado pelo espaço aqui, fiquei feliz de poder participar. Acompanho o Nintendo Blast desde a sua criação, vi todas as reformulações do site e da logo e conheço o Sérgio Estrella [criador do NB] há mais de 15 anos, eu acho. Frequentemente exalto o trabalho de vocês no meu canal. Já fizemos parceria de cobertura de conteúdo em eventos como a BGS, e fico feliz de estar aqui mais uma vez trocando essa ideia com vocês.

Pra quem quiser me encontrar, pode falar comigo nas redes sociais @RodrigoCoelhoC (Twitter e Instagram), no meu podcast CoelhoCast (Nintendo) e Final Level Cast (Multiplataforma). E claro, no meu canal no YouTube, Coelho no Japão, onde estamos todos os dias criando conteúdos variados sobre Nintendo. Notícias, gameplays, lives, podcasts, cobertura de eventos e reacts, até mesmo conteúdos mais elaborados, como matérias originais. Certamente, tem ao menos um tipo de conteúdo para cada um que esteja lendo aqui.

Mais uma vez, muito obrigado pelo espaço, e parabéns pelo trabalho de vocês! São extremamente importantes para esta comunidade maravilhosa de fãs da Nintendo no Brasil.

Revisão: Icaro Sousa

Nascido no mesmo dia que Manoel Bandeira (mas com alguns anos de distância), perdido em Angra dos Reis (dos pobres e dos bobos da corte também), sob a influência da MPB, do rock e de coisas esquisitas como a Björk. Professor de história, acostumado a estar à margem de tudo e de todos por ser fora de moda. Gamer velho de guerra, comecei no Atari e até hoje não largo os mascotes - antes rivais - Mario e Sonic.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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