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Análise: Missing Features: 2D (Switch) vai pouco além da sua boa premissa

O simples jogo de plataforma mantém um ritmo interessante de descobertas, mas falha principalmente na questão mecânica.


Publicado pelos brasileiros da QUByte Interactive, Missing Features: 2D trabalha com uma ideia interessante: construir o jogo enquanto você o joga. Na “história” por trás desse simples plataforma de valor bem modesto na eShop, você inicia a aventura apenas para ser confrontado com um erro no mesmo estilo da velha tela azul do Windows. Aparentemente, algo fez o jogo perder todo seu conteúdo e o único jeito de resolver é instalar tudo de novo do começo. 

Para isso, será preciso baixar os componentes do game um por um, botando a mão na massa e avançando aos poucos pelos estágios. Começando apenas com um retângulo ambulante no lugar do protagonista, você terá que coletar desde o sprite do seu personagem até as habilidades básicas, o background do cenário e a música de fundo. A premissa é ótima e certamente desperta curiosidade. No entanto, Missing Features infelizmente não sustenta a sua boa proposta com um gameplay divertido e de qualidade.

Uma ideia boa, mas…

A experiência de Missing Features é curta, grossa e sustentada exclusivamente pela mecânica central: reconstruir o game coletando as habilidades básicas do personagem, as músicas dos estágios e os aspectos visuais em geral. Quanto ao gameplay, você pode esperar um jogo de plataforma extremamente básico no começo, mas que gradualmente adiciona mais elementos, como pulo duplo, dash e wall jump.

No início, que é totalmente desprovido de aparências e mecânicas, é fácil interpretar que a aventura pode ser muito mais rica e interessante do que ela realmente acaba sendo. No entanto, a verdade é que uma série de problemas e escolhas ruins aparecem junto ao aumento da complexidade de elementos em tela. 


Em sua essência, Missing Features é um plataforma simples com alguns pulos complicados. Estágios longos pedem que você passe por grandes pedaços de progresso sem cair ou ser atingido por um inimigo nenhuma vez, algo que pode ser desafiador desde o início, mas apenas piora com o progresso da trama. Os checkpoints extremamente espaçados entre si irão garantir que você passe uma boa quantidade de tempo em cada trecho, e, além disso, há uma pitada de backtracking dinâmico nos estágios.

As fases abrigam, em média, duas ou três novas habilidades para o herói e alguns pontos que só podem ser acessados após você adquirir certas skills. Isso cria um senso de progressão interessante nos longos estágios, fazendo que você sinta que realmente está desvendando os segredos do local de uma forma bastante ativa, quase como em um metroidvania. O level design certamente não é dos melhores, mas consegue brilhar em alguns momentos isolados.


A sensação de descobrimento e exploração é apenas acentuada pela surpresa de cada power-up. Você nunca sabe ao certo qual tipo de habilidade será destravada, e nem ao menos é possível ter certeza se a nova mecânica será benéfica ou se irá atrapalhar ainda mais a sua aventura.

Na minha impressão pessoal, tirando as limitadas habilidades-chave do herói, a grande maioria das mecânicas inéditas acrescenta obstáculos na fase ou novas facetas para os inimigos. Esse não é um ponto necessariamente ruim, já que mantém o jogo em um ritmo saudável de inovação e aumento de dificuldade. Apesar de curto em sua duração, não é justo falar que Missing Features não traz uma boa variedade para o seu gameplay até o final. 


O maior problema se encontra nos controles e na movimentação do seu personagem em geral. Quando falamos em títulos do gênero plataforma, não há nada mais importante do que a responsividade dos pulos do protagonista. Platformers precisam no mínimo ser fluidos como andar de skate, dançar ou jogar algum game de ritmo, como os das séries Guitar Hero e Rock Band. Saltar entre as plataformas, usar dashes e atacar inimigos tem que se tornar quase como um reflexo muscular do jogador — o que infelizmente não é o caso aqui.

Mover o herói e colocá-lo no lugar certo muitas vezes é frustrante e arrastado. Você começa controlando apenas um retângulo fixo antes de “fazer o download” do seu personagem, porém a sensação de controlar um objeto pesado e estático permanece até o fim. Missing Features incorpora alguns elementos bastante associados a Celeste, como o shadow clone que persegue você e a habilidade de dash aéreo, só que a destreza mecânica do protagonista não chega na metade da heroína do famoso indie.

Além disso, a detecção de colisão dos obstáculos do estágio, principalmente os espinhos, não é calibrada de forma ideal. Ou melhor, é muito fácil pular diretamente ao lado de um espinho e morrer mesmo assim, o que muitas vezes faz com que você tenha que repetir um longo trecho da fase. Esse tipo de coisa aumenta muito a curva de dificuldade da experiência como um todo, que já é bastante elevada naturalmente. 


Alguns bugs também fizeram questão de atrapalhar o meu progresso em alguns momentos, como teleportes aleatórios do personagem, checkpoints de uma fase inteira que simplesmente não funcionavam e uma mecânica específica de um estágio que não desligou após a minha morte.

Essa última foi especialmente engraçada. Em um estágio onde é preciso passar por um trecho que desacelera o tempo dramaticamente, a minha morte durante esse momento não desabilitou o efeito de forma adequada, me obrigando a fazer metade da fase novamente a um terço da velocidade normal. 


Outro ponto curioso é a falta de capricho nos elementos visuais do título. É bastante inusitado que, em um jogo no qual uma das principais vantagens de seguir em frente é destravar a aparência de inimigos e obstáculos, o resultado final seja tão decepcionante. A arte realmente deixa a desejar. É um pouco triste, porém alguns elementos da fase são mais facilmente percebidos como pixels vazios do que em suas versões restauradas. Até mesmo o seu personagem possui muito mais carisma na sua forma inicial de retângulo estático do que o “carinha” genérico que ele vem a se tornar.

Nem tudo é negativo, no entanto. No âmbito visual, por exemplo, o jogo conta com um filtro de televisão CRT que é magnífico. As bordas arredondadas e o ponto de luz no centro realmente fizeram eu me sentir jogando em uma velha TV de tubo em alguns momentos. Quanto ao gameplay, a dificuldade é alta e certos problemas técnicos atrapalham; no entanto, a aventura entretém até o fim sem maiores problemas graças à duração curta e à alta frequência de introdução de novas mecânicas.

Apesar dos problemas...

Mesmo sendo um daqueles títulos mais baratinhos da eShop, que, como muitos outros, poderia simplesmente ser esquecido, Missing Features: 2D até que consegue ser marcante o suficiente. Com uma ideia interessante e um ritmo de novidades que mantém a atenção do jogador, encarar essa experiência poderia ser muito pior. Há sim uma quantidade considerável de problemas — porém, se você ficou curioso o bastante com a premissa, vale a pena dar uma testada por si próprio.

Prós

  • Premissa interessante e diferente;
  • Ritmo saudável de introdução de novas mecânicas;
  • Senso de progressão interessante nos estágios;
  • Filtro de TV CRT bastante fiel a uma experiência mais clássica.

Contras

  • Problemas no controle do personagem e na colisão com objetos;
  • Bugs inconvenientes;
  • Arte pouco inspirada.
Missing Features: 2D - Nintendo Switch - Nota: 5.0
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela QUByte Interactive

Escreve para o Nintendo Blast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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