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Análise: The Legend of Zelda: Skyward Sword HD (Switch) é uma lembrança da fórmula clássica da série

Remasterização pode ser considerada a versão definitiva do título original do Wii.




The Legend of Zelda: Skyward Sword (Wii) completa em 2021 seu aniversário de uma década desde seu lançamento. É incrível como o tempo passa rápido, não? Naquela época, a franquia estava comemorando seus 25 anos e, desde então, a série recebeu inúmeros jogos novos, como o importante The Legend of Zelda: Breath of the Wild (Wii U/Switch).

The Legend of Zelda: Skyward Sword HD (Switch) traz esta aventura pelos céus com a promessa de algumas melhorias para uma nova geração de jogadores. Em 2011, o jogo inicialmente recebeu muita aclamação e conseguiu até uma nota perfeita em nossa análise, porém com a situação atual da franquia e o distanciamento de época, a questão que emerge é: seria este jogo ainda uma magnum opus?

O começo de tudo




A equipe de Aonuma fez questão que a trama de Link e Zelda fosse o grande destaque de Skyward Sword. Não à toa, o jogo é o ponto inicial de toda a linha do tempo que compõe a série, cobrindo o surgimento de elementos como a Master Sword e a reencarnação de nossos heróis.

Na história, Link e Zelda possuem uma relação de amigos, já que ambos cresceram juntos na terra dos céus conhecida como Skyloft. O jogo inicia com os dois preocupados com a Wing Ceremony, uma cerimônia anual que consiste em uma corrida em que os participantes usam seus pássaros escudeiros, os Loftwings, para competir pelo papel de “herói escolhido” no teatro subsequente e a oportunidade de subir no ranking na academia local.




Nosso protagonista vence a competição e, com isso, ele e Zelda fazem o ritual teatral logo em seguida, já que a moça foi a escolhida para o papel de deusa Hylia. A relação entre os personagens é algo que ganha bastante enfoque nesse jogo, já que é mais íntima e praticamente romântica, algo único para a série, já que a relação entre os dois, até então, sempre havia sido puramente de princesa e escudeiro.

A história, de fato, começa quando, após a cerimônia, Link e Zelda saem para passear com seus Loftwings, mas a menina é sugada por um tornado misterioso para a superfície, um mundo desconhecido abaixo das nuvens. Link, junto de Fi (que se torna uma espécie de assistente logo depois do acontecimento), sai então em uma jornada para trazer Zelda de volta, mas seu objetivo muda quando se descobre que ele é, de fato, o “herói escolhido”.

Algo intocado pela remasterização é a presença de personagens interessantes que dão suporte à trama. O próprio pivô dos conflitos, Ghirahim, e o famoso rival de Link — e dono de diversos memes —, Groose, são duas figuras que esbanjam personalidade em suas expressões e ajudam a trazer mais entretenimento ao enredo.

Com o foco na trama, ainda há a presença de muitas cutscenes, principalmente no início do jogo. Há a opção de pular a maioria delas, utilizando o botão “-” do Joy Con, porém aos que focam mais na aventura e se importam menos com enredo podem acabar se incomodando um pouco.

Melhorias que fazem a diferença

Skyward Sword, embora aclamado em seu lançamento e amado por vários, é um jogo que passou a ser bastante criticado pela comunidade ao longo do tempo ao ponto de se tornar um ponto divisivo da série. A remasterização traria a esperança de que jogadores que outrora não gostavam de certos elementos, pudessem aproveitar as melhorias para dar uma nova chance à aventura.




Esta nova versão, de fato, traz algumas mudanças perante ao original que melhoram a experiência do jogador. A maior de todas, principalmente pelo jogo não estar mais atrelado ao Wii, é a oportunidade de se jogar sem controles de movimento. No menu, você pode escolher entre jogar com os Joy Con e ter uma experiência similar à original, ou então escolher o modo Button Only, que mapeia todas as ações nos botões.

Isso exige certa adaptação, já que Skyward Sword ficou conhecido na época por abusar — até demais — dos controles de movimento, em uma tentativa de aumentar a imersão. A adaptação fez a sua lição de casa: a maioria das ações que exigiam movimento foram quase todas mapeadas para o analógico direito, como o uso da espada e de certos itens. Algumas funções, todavia, parecem contraintuitivas de início, como o simples ato de jogar um vaso requerer que o jogador pressione A para pegar o vaso, usar o analógico para mirá-lo e depois pressionar ZR para confirmar.




Ainda falando dos controles, outra novidade é o controle total da câmera, tanto no modo com ou sem movimento, que ajuda a trazer mais dinamismo à jornada e é uma das melhores adições da remasterização. Há a opção, inclusive, de definir a câmera para ser controlada puramente por movimento no modo de botões, algo que não é muito instintivo, mas fica a cargo do jogador decidir ativar ou não.

Como já é padrão em jogos modernos, a Tantalus — desenvolvedora do port, a mesma de The Legend of Zelda: Twilight Princess HD (Wii U) — fez questão de que o jogo tivesse a presença de uma mecânica de autosave. Isso não era um problema tão grande na versão de Wii, já que há uma abundância de estátuas de save, mas ainda é uma adição bem vinda.




O que era, de fato, um ponto a ser questionado do original, no entanto, é de como Skyward Sword, em geral, tem um ritmo bem lento. O que alongava sua duração era, em grande parte, as constantes pausas feitas pela Fi, a “Navi” da vez, além de como o jogo segurava constantemente a mão do jogador e exagerava na exposição da história através dos diálogos.

Isso também foi ajustado em Skyward Sword HD: algumas pausas forçadas de Fi tornaram-se opcionais e é mais fácil acelerar certos textos. Foram-se também os dias de leitura das janelas informativas de itens toda vez que se voltava a um save, já que agora elas só aparecem na primeira vez em que o jogador encontra determinado objeto e nunca mais.




Além de tudo, não podemos deixar de citar a mudança mais óbvia e que é colocada até no título da aventura: a melhora gráfica. Infelizmente, não houve uma alteração radical de texturas e modelos, porém o jogo tornou-se compatível com alta resolução de imagem. A taxa de quadros por segundo também é muito boa, já que no modo TV a jornada mantém-se estável em 60 quadros, com quedas muito raras em um momento ou outro.

Mesmo que os visuais não tenham sido refeitos do zero, o aumento de resolução já deu novos ares à apresentação. Não podemos mentir que os gráficos não mostram um pouco de sua idade, mas Skyward Sword ainda detém uma estética que consegue ser bonita em várias instâncias, principalmente pelo estilo visual baseado em pinturas, e é satisfatório vislumbrar as diversas icônicas expressões de personagens em alta definição. 

O melhor e o pior da fórmula de Ocarina of Time




Skyward Sword ainda segue firmemente a fórmula de The Legend of Zelda: Ocarina of Time (N64), que se manteve por inúmeros anos e jogos. Podemos dizer que, como um predecessor da jornada de mundo aberto que é The Legend of Zelda: Breath of the Wild, a aventura pelos céus demonstra o melhor e ao mesmo tempo o pior desta fórmula.

A receita de chegar a uma dungeon — um calabouço recheado de puzzles e inimigos —, obter um item novo ao arsenal de Link, e enfrentar um chefe utilizando aquele novo aparato, ainda funciona muito bem em Skyward Sword. As dungeons do jogo são seu brilho principal e a remasterização não precisou alterá-las muito, a exemplo de puzzles bem pensados, como os vistos em Lanayru Mining Facility e Sandship, que fazem uso de uma pedra que troca o tempo do cenário a sua volta, permitindo novos tipos de desafios. Outro destaque é Ancient Cistern, em que o calabouço te exige manipular a estrutura da dungeon em certos pontos e assim temos cenários quase completamente diferentes dependendo do ponto do local.




Entretanto, as maravilhas de Skyward Sword param por aí. Todo o restante exige a exploração de locais da superfície como se fossem uma espécie de calabouço a céu aberto. A ideia era única para aquele momento da série e muito bem-vinda, mas sua execução é pontualmente repetitiva. O jogo abusa muito de fetch quests nestas áreas como forma de bloquear o progresso do jogador e aumentar o tamanho da aventura, e nem sempre estes desafios são muito interessantes.

Atuando como exceções, há também os Silent Realms, desafios em que Link é levado para uma “outra realidade” e deve coletar determinados itens sem suas armas e tomando cuidado para não despertar certos inimigos. Trazendo uma sensação boa de desespero, algo que a série viria a repetir com os próprios guardiões de Breath of the Wild e é uma variedade bem vinda à jornada.




As constantes paradas expositivas ainda são bem presentes, mesmo com os ajustes da remasterização: Fi ainda vai te parar em vários momentos para apenas repetir o que um NPC acabou de dizer e, em alguns casos, ainda vai dar a resposta ao jogador para certos desafios dentro de dungeons. Essa sensação de falta de liberdade e de que o game está desrespeitando a inteligência de quem o joga é agravada no primeiro ato de Skyward Sword. São pelo menos duas ou três horas de gameplay para a aventura de fato se abrir e soltar um pouco o jogador na primeira dungeon.

Não podemos negar, no entanto, que ainda há bastante conteúdo a ser descoberto. Skyloft age como um hub e até lembra um pouco a Clock Town de The Legend of Zelda: Majora’s Mask (N64), contendo locais para compra de itens — que podem receber upgrades — e sidequests.




Há também o céu, uma extensão do hub, em que Link desbrava os ares montado em seu Loftwing. Não há muito o que se fazer por aqui durante a maior parte da jornada, embora conte com a vantagem de ser um local bem contido e sem muita burocracia em sua travessia, diferentemente do mar de The Legend of Zelda: Wind Waker (GC). Ainda assim, a maior parte das ilhas contém baús que só podem ser destravados ao desbloquear certos Goddess Cubes, itens espalhados pela superfície. 

Além disso, os voos pelos céus de Skyloft são embalados por uma linda música para acompanhar a viagem, uma das melhores de todo o jogo. Isso se dá pela presença da majestosa trilha sonora, com temas totalmente orquestrados que certamente ainda estão na memória de muitos. Os destaques vão desde o tema de Ghirahim até os de estilo mais clássico como Ballad of the Goddess.

Devemos aplausos também aos chefes da aventura. Embora alguns sejam muito fáceis, grande parte deles consegue entreter, destaques principalmente ao boss de Ancient Cistern e aos encontros contra Ghirahim. Há exceções, todavia, como os encontros repetidos e cansáveis do Imprisioned, o que reitera o aumento fora de mão do tamanho da aventura, mas não afeta a qualidade geral dos chefes.
Uma pena não termos recebido um episódio solo protagonizado por Groose
Entretanto, mesmo Skyward Sword HD sendo longo como o original (ainda chamando atenção para seu problema de ritmo em relação a isso), é infeliz a perda da oportunidade que remasterizações como Xenoblade Chronicles Definitive Edition (Switch) ou o port Super Mario 3D World + Bowser’s Fury (Switch) aproveitaram ao trazer novos conteúdos. Fica a sensação de que poderia ter sido feito algum epílogo ou episódio extra à jornada, já que os jogadores do original não possuem muito o que esperar de novo por aqui.

Bom, porém não perfeito

The Legend of Zelda: Skyward Sword HD é, assim como o original, um bom jogo e uma recomendação obrigatória para fãs da série. Não é, todavia, uma magnum opus, já que há defeitos e problemas que podem incomodar a experiência, mesmo que alguns deles tenham sido mitigados pela remasterização enquanto outros, agravados.

Como remasterização, esta nova versão traz melhorias importantes para a aventura por Skyloft e certamente se consolida como versão definitiva da história da origem da franquia. Porém, o foco de sua produção foi certamente aqueles que não jogaram o original, já que, para os jogadores de longa data, não há muita novidade a se esperar.

Prós

  • Trilha sonora impecável;
  • Dungeons bem feitas;
  • Gráficos melhorados com o aumento de resolução;
  • Taxa de quadros por segundo sólida;
  • Pequenas melhorias que aprimoram a experiência.

Contras

  • Ritmo do jogo continua lento e até repetitivo em alguns momentos;
  • O visual poderia ter recebido maiores retoques;
  • Oportunidade perdida em não trazer novo conteúdo.
The Legend of Zelda: Skyward Sword HD — Switch — Nota: 8.0
Revisão: João Pedro Boaventura
Análise publicada com cópia digital cedida pela Nintendo

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