NEO: The World Ends with You (Switch) é uma boa porta de entrada para a série?

Saiba as vantagens e as desvantagens em iniciar a série por esse título.

The World Ends with You — doravante apenas “TWEWY” —, é uma franquia de JRPG de ação da Square Enix com mecânicas de hack ‘n’ slash e com uma personalidade bem própria e coerente em estética visual, gameplay e trilha sonora. Tal série, até este momento, conta com dois títulos principais cujos períodos de desenvolvimento estão separados por mais de uma década e o rumo dessa IP para os próximos anos é incerto, embora seja mais plausível esperar por sequências hoje em dia do que no passado.


Nesse contexto, discutiremos se seu último lançamento, NEO: The World Ends with You (Switch/PS4) — doravante apenas “NEO” — é ou não um bom título de entrada para começar a série, mesmo que não se tenha jogado o seu predecessor, com versões para DS, mobile e Switch. Trata-se de uma pergunta frequente daqueles que têm vontade de se iniciar na série logo pelo jogo do momento ou daqueles que não estão dispostos ou munidos de recursos para adquirir e jogar o título anterior. Esse último caso, especialmente comum para quem pretende jogar NEO no PS4 ou no PC e não possui um portátil recente da Nintendo ou o costume de jogar em celular.

Se você se enquadra em algum desses casos, acompanhe os tópicos a seguir. Nesta matéria, discutiremos três argumentos para se considerar que NEO pode ser um bom ponto de partida para se começar na série. Primeiramente, mostraremos como o fato de haver personagens do título anterior não é um problema para acompanhar sua trama. Em segundo lugar, mostraremos que a conexão entre os enredos pode ser estabelecida facilmente sem uma experiência cronológica da duologia. Por fim, que o gameplay de NEO é tão ou mais representativo do estilo da série quanto TWEWY.



Novos e velhos protagonistas

Desde os anúncios de NEO, o fato de haver nesse título personagens de TWEWY é uma das principais razões para se pensar que a experiência com TWEWY é necessária para acompanhar sua história. Essa perspectiva foi ainda reforçada pelo fato de pouco antes do lançamento de NEO ter ocorrido uma série de anime que adaptou TWEWY. De fato, não se tratava de uma premissa infundada à época, mas hoje podemos afirmar que não se trata de algo determinante para que a compreensão da história de NEO, e sim, por outro lado, algo que pode antecipar desfechos da história de TWEWY, prejudicando o impacto de algumas cenas daquele título.

Para aqueles que tiveram contato com os trailers oficiais, sim, vários personagens de TWEWY estão mesmo de volta em NEO, mas não revelarei aqui exatamente quais e quando. O que vale a pena observar é que os protagonistas iniciais de NEO são novos na franquia e no universo da série, de modo que o jogador acompanhará a trajetória deles durante o “jogo do ceifador” (premissa do enredo do jogo) e, portanto, poderá aprender junto com eles sobre os personagens de TWEWY como se nunca os tivesse visto antes.

Contudo, embora não prejudique a experiência de NEO não ter jogado TWEWY, terminar NEO antes de TWEWY pode sim tirar surpresas sobre o título anterior. O jogador saberá de antemão o que acontecerá com certos personagens ao final do primeiro jogo da série e alguns acontecimentos importantes de reviravolta na história provavelmente não causarão o mesmo efeito.






A conexão entre os jogos dos ceifadores

Tanto TWEWY quanto NEO são ambientados na mesma região de Tokyo, com algumas variações, e ambos se passam em um jogo fictício de sobrevivência de sete dias chamado “jogo do ceifador” (Reapers' Game). A princípio, os participantes do jogo são habitantes locais que morreram e, ao chegarem ao fim de uma semana de missões e confrontos, poderão retornar à vida.

Ocorre que os Reapers’ Games nos dois títulos da franquia são diferentes. E não só são partidas diferentes, mas também o The Master do jogo é diferente, há novos Reapers (que coordenam o jogo) e todo um contexto diferente em que os personagens estão imersos, bem como um problema diferente que ameaça o sistema do jogo, sem entrar em spoilers.

A conexão estabelecida no mundo de NEO com seu antecessor acontece de modo direto e indireto das seguintes formas: direto porque, do ponto de vista cronológico, ocorre depois e há um passado comum de alguns personagens que contextualizam seus atos em NEO; e indireto porque, formalmente, as regras que regem o novo jogo são semelhantes às regras do Reapers’ Game de TWEWY, tendo os fundamentos de ambos uma explicação metanarrativa que depende de se jogar ambos e ainda especular sobre algumas pontas soltas.



Uma nova tendência de gameplay de combate

Pode-se supor que iniciar a franquia por NEO pode trazer uma primeira experiência de gameplay distante da “essência” da dinâmica da série. Mas essa suposição esbarra em dois problemas. Primeiramente, no fato de que a dinâmica de combate, embora em 3D, é muito semelhante em ambos os jogos. Segundamente, no fato de que NEO preserva um estilo em hack ‘n’ slash em grupo e em um sistema que é mais provável de se tornar o padrão da série.

O gameplay fora dos combates em NEO, assim como em TWEWY, resumem-se, basicamente, a passeios pela cidade para sequências de ações específicas para missões ou simplesmente exploração em locais onde se pode ler a mente dos habitantes e em pontos onde se pode comprar itens como pins (para habilidade em combate) e roupas para os personagens do grupo.

Por outro lado, o gameplay de NEO possui muitas peculiaridades. Continua a ser um hack ‘n’ slash, mas ele já não depende do toque da tela para os combates, como seu antecessor de DS, e sim apenas executa habilidades de cada personagem, cada qual atribuída a um botão diferente no controle. Contudo, como o gameplay de TWEWY dependia muito do hardware do DS, é provável que o futuro da série seja muito mais ditado pelo estilo de gameplay de NEO.




Uma boa porta de entrada, mas com uma importante ressalva

Pelo que argumentamos até aqui, NEO pode ser visto como um bom começo na série, especialmente caso não se pretenda jogar o seu antecessor tão cedo. Entretanto, caso queira jogar também o TWEWY em breve, não é recomendável iniciar por NEO, principalmente pela história do TWEWY.

Embora não seja problema iniciar a série por NEO do ponto de vista do gameplay e da conexão das tramas, pode prejudicar a experiência da história de TWEWY ter visto o desenrolar dos personagens daquele título no NEO, de maneira que o jogador não ficará tão impressionado com algumas reviravoltas no jogo que inicia a série.

Assim, apenas sob a ressalva acima não é recomendado iniciar pelo NEO, no mais, parece sim ser um ótimo título para compreender a essência da série, para se introduzir na dinâmica dos Reapers’ Games e para ter uma boa noção do futuro da série.

Revisão:  Icaro Sousa

Doutorando em Filosofia que passa seu tempo livre com piano, livros, PC e portáteis. No Twitter, também é conhecido como Vivi. Interessa-se especialmente por narrativas de ficção científica, realismo mágico e alta fantasia política, e aprecia mecânicas de puzzle, stealth, estratégia e RPG. Seu histórico de análises pode ser conferido no OpenCritic e suas reflexões sobre RPG e game design encontram-se na SUPERJUMP (textos em inglês), bem como no Podcast do Vivi e em seu canal no YouTube.
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