Blast Test

Voice of Cards: The Isle Dragon Roars (Switch) parece um RPG único e bem acessível

O próximo jogo de Yoko Taro traz um design único e coerente baseado em cartas e uma experiência narrativa que lembra RPGs de mesa.




Desenvolvido e publicado pela Square Enix, Voice of Cards: The Isle Dragon Roars (Switch) é um jogo de RPG e simulação feito pelos principais nomes por trás da série Drakengard/NieR: direção de Yoko Taro, produção de Yosuke Saito, música de Keiichi Okabe e design de personagens de Kimihiko Fujisaka. A demo do título encontra-se disponível para Switch e outras plataformas desde o anúncio de lançamento e será usada como base para este Blast Test.


Como veremos, o jogo possui um estilo artístico muito particular, totalmente ambientado e representado com cartas, uma história fantástica medieval, frequentemente contada por um narrador (Game Master), e um gameplay de RPG de turno tradicional, mas com referências interessantes a RPG de mesa e algumas peculiaridades no sistema de magias.




Um RPG em um mundo de cartas

Como a Square Enix já deixou claro, Voice of Cards não é um jogo de cartas (um card game), mas sim um RPG com cartas (um card-based RPG). Os personagens são estáticos e ilustrados em cartas, as habilidades e outros elementos são representados em cartas, as caixas de diálogo são cartas e até os cenários são feitos de cartas e vistos sob uma perspectiva aérea.

A localização do jogador no mundo é representada por algo como um peão de xadrez ou uma peça de ludo. Com essa peça, é possível se movimentar sobre as cartas, que consistem no chão do cenário. Tratando-se de um local que o jogador ainda não conheça, as cartas estarão viradas para baixo, e viram-se para cima quando o jogador se aproxima delas.

Em algumas dessas cartas, não é possível passar sobre elas, assim representando limites físicos, como rios e paredes, enquanto outras são personagens que podem conversar com o jogador e outras cartas ainda representam lojas e demais construções com funções econômicas, e há ainda mais tipos de cartas.

Uma nova caçada a um dragão

O protagonista (o jogador) da história é um caçador de recompensas interessado em uma recompensa imensa oferecida por matar o dragão. Para essa façanha, ele é acompanhado por uma bruxa que detesta dragões, Melanie, e por Mar, um monstro que parece muito apegado ao protagonista.

Ao longo do caminho, outros personagens únicos aparecerão, e não dá para prever, até o momento, qual será o impacto deles na história. Entre eles estão Wynifred, da Ordem do Marfim, seu soldado silencioso, Berwyn, e Heddwyn, seu sábio e mentor, bem como a Rainha do “Castelo Advento” (Castle Advent), que governa o reino em que se começa o jogo.

A todo momento, a atuação dos personagens — dentro e fora do grupo — é mediada por um narrador, que funciona como um Mestre (Game Master) de RPG de mesa que guia o jogador e descreve diversos fenômenos do mundo, pensamentos e até diálogos (em discurso indireto).

Os fãs mais assíduos de Drakengard irão reconhecer o tom sereno e sério desse mestre que, em inglês, é dublado por Todd Haberkorn, o mesmo que deu voz ao velho Octa, de Drakengard 3. Até o momento, não há como saber para onde o Mestre irá guiar a trama, apenas que está relacionada a um Dragão recém desperto que supostamente ameaça o reino da Rainha. Contudo, o jogador não é passivo no caminho da história do Mestre, e seu desenrolar não parece linear.

Ao longo da jornada, os personagens terão alguns encontros aleatórios e outros determinísticos com objetos, NPCs ou armadilhas em que terão de fazer escolhas e/ou contar com a sorte dos dados. Ademais, ao que tudo indica, o trajeto narrativo prevê escolhas de árvore de diálogo, o que poderá mudar o resultado das missões e talvez até levar a diferentes consequências no final do jogo.

Um encontro único entre os JRPGs e os RPGs de mesa

Quanto à jogabilidade, estruturalmente não há surpresas, baseando-se na exploração de mapas abertos e dungeons onde, além de haver armadilhas, NPCs, etc., há encontros aleatórios ou, em alguns casos, determinísticos, como inimigos, assim se iniciando uma batalha por turnos. Mas o design das batalhas, bem como o design narrativo, forma um encontro interessante entre convenções de JRPG e elementos de RPGs de mesa ocidentais.

As batalhas ocorrem em um cenário de tabuleiro à parte, envolvendo dados para variação de dano e efeitos negativos ou positivos e pedras mágicas para executar habilidades especiais. Os comandos ofensivos e defensivos variam entre aqueles de natureza mágica e os de natureza física, e eles podem ser utilizados em função de fraquezas dos inimigos a certos elementos, efeitos ou armas.

Como convencionalmente acontece  em jogos do gênero, adquire-se experiência, itens e dinheiro em combate que podem ser usados para aprimorar o grupo. A evolução dos níveis de cada personagem aumenta automaticamente os atributos e não há opção de classes (job system) para eles, tornando o processo de evolução automatizado e bastante acessível.

Vale lembrar ainda que o jogo conta com um minigame de cartas (sim, um jogo de cartas dentro de um jogo feito com cartas) com um modo simplificado e um modo avançado (com efeitos positivos e negativos) onde o jogador precisa formar pares em seu lado da mesa com cartas de mesmo “naipe” ou em sequência numérica.






Um RPG com um estilo interessante e de fácil recomendação

Para quem já gosta de RPG ocidental, e RPG de mesa em especial, este é um título que certamente interessará por seu estilo ludo-narrativo; ou seja, pelo seu tipo de jogabilidade e narrativa, e como ambos são coerentemente relacionados. Ao mesmo tempo, parte do design das batalhas, os visuais das cartas e o tom da trama também agradará os JRPGistas.

Por sua vez, Voice of Cards, embora não tenha nenhuma relação direta com a série Drakengard/NieR, também pode agradar os fãs dessa série, mas mais pelas escolhas estéticas que pelas escolhas mecânicas. E vale lembrar também que estão previstas DLCs para o jogo relacionadas à série NieR.

Por fim, também pode ser uma boa entrada para novatos em RPG. A evolução dos personagens é bastante acessível, as batalhas da demo, aliás, são até excessivamente fáceis (talvez o jogo seja melhor balanceado até o lançamento), e o título possui um design ao mesmo tempo cativante e exótico dos personagens, uma música orquestral suave e misteriosa e uma premissa singela de enredo.
 
Revisão: João Gabriel Haddad

Doutorando em Filosofia que passa seu tempo livre com piano, livros, PC e portáteis. No Twitter, também é conhecido como Vivi. Interessa-se especialmente por narrativas de ficção científica, realismo mágico e alta fantasia política, e aprecia mecânicas de puzzle, stealth, estratégia e RPG. Seu histórico de análises pode ser conferido no OpenCritic e suas reflexões sobre RPG e game design encontram-se na SUPERJUMP (textos em inglês), bem como no Podcast do Vivi e em seu canal no YouTube.
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