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Análise: Metallic Child (Switch) é um roguelite divertido e repleto de ação

Ajude a androide Rona a salvar o mundo neste surpreendente jogo independente.

Metallic Child
é um roguelite de ação que conta a história de Rona, uma carismática androide com a missão de conter uma perigosa rebelião em uma estação espacial que pode terminar aniquilando dois terços da vida na Terra. Com um sistema de combate divertido e uma apresentação visual competente e empolgante, esta obra do Studio HG surpreende, carregando o potencial de agradar bastante os fãs de seu gênero e temática.

Inteligência artificial

Logo ao iniciar Metallic Child, o jogador poderá optar por assistir ao prólogo e jogar o tutorial ou ir direto para a ação. Embora seja perfeitamente possível “aprender jogando” — como nos velhos tempos —, os jogadores que escolherem o caminho mais longo serão apresentados logo cedo àquela que de longe é uma das mais interessantes características deste título: a narrativa. 

Como logo descobrimos, a protagonista Rona é fruto do projeto fictício Metallic Child, que também dá nome ao jogo. Idealizado pela aclamada Doutora Irene, o projeto em questão visava desenvolver androides que possuíssem habilidades cognitivas e emoções, igual aos humanos, para habitar lares cujos moradores, por diversas razões, não pudessem ter filhos.

Apesar do sucesso na criação de Rona, o custo de manutenção de um androide provou-se exorbitantemente alto, o que impediu a comercialização para o grande público e acabou ocasionando uma mudança de foco da iniciativa. Com o tempo, os robôs na linha de produção foram sendo preparados para se adaptar a outras funções que não as domésticas.

Assim, Rona e seus companheiros foram deslocados para o avançado laboratório espacial Life Stream, situado a 350 mil quilômetros da Terra. Porém, uma recente rebelião fez com que a rota desta estrutura fosse deslocada para o nosso planeta, e uma eventual colisão poderá acabar com grande parte da vida terrestre. Assim, caberá a você ajudar nossa protagonista a assumir o controle da nave e salvar a humanidade. 

Sem entrar no campo dos spoilers, esteja preparado para alguns acontecimentos que certamente elevam a qualidade geral da história, provendo uma agradável surpresa em um gênero que, salvo raras exceções, não é exatamente reconhecido por abrigar grandes narrativas.

Ação hack'n'slash

Na prática, Metallic Child se comporta como um hack’n’slash com pitadas de roguelite. Isso quer dizer que sob a câmera de visão isométrica o jogador controlará Rona por diversas localidades de um estágio até chegar a um chefe final predefinido. Há uma notável influência da série Mega Man aqui, no sentido de que antes de entrar em uma partida, você escolherá o boss que lhe aguardará ao final dela.

Também antes de entrar em um estágio, é possível escolher duas armas para carregar dentre três opções disponíveis: punhos, espada e escudo ou martelo. Embora cada uma dessas alternativas tenha suas próprias características, todas oferecem os mesmos recursos básicos — ataque normal, habilidade especial e agarrão —, fazendo com que não seja complicado pegar o jeito do uso delas.

Uma vez em combate, que ocorre sempre em tempo real, o movimento mais poderoso de Rona é de longe o agarrão, que tem o poder de arremessar inimigos mais fracos contra a parede, obstáculos e até outros inimigos. Porém, sendo ela uma androide, agarrões e habilidades especiais consomem sua bateria, o que significa que é preciso alternar esses recursos com ataques normais, gerando combos, para não ser pego com a guarda baixa em uma situação crítica.

Os confrontos são ágeis e divertidos e, ao melhor estilo Enter the Gungeon (Multi), se dão em salas geradas e conectadas aleatoriamente. “Limpar” uma sala significa poder prosseguir caminho, e cada andar — são três por nível — conta com um sub-chefe antes do confronto final. Em mais uma interessante referência a Mega Man, derrotar um chefe lhe permitirá usar a habilidade dele posteriormente. Confesso que, como um fã da série da Capcom, esse recurso acabou se tornando um dos meus favoritos no jogo, e um incentivo a mais para prosseguir até o fim da história.

Elementos roguelite

Além da geração aleatória do layout das salas, a presença dos elementos roguelite em Metallic Child se dá nos itens que caem dos inimigos, como armas e núcleos. Sendo Rona uma androide, ela pode consumir tais núcleos, que poderão conceder habilidades positivas ou negativas ao seu sistema.

Efeitos de núcleos são sempre temporários, mas podem ser estendidos ao encontrarmos um Core Charger dentro das fases. Esses itens também são importantes para remover os perigosos núcleos virais; como um vírus de computador, tais peças infectam o sistema de Rona, provendo efeitos que vão dos indesejados aos engraçados.

Como exemplo, um certo Viral Core mudou a minha aparência para um robô de papelão, enquanto outro fez a minha barra de vida desaparecer completamente. Do mesmo modo, alguns núcleos aumentaram o poder do meu agarrão ou permitiram que eu me movesse lentamente enquanto me defendia.

A aleatoriedade desses acontecimentos acaba trazendo constantes surpresas e uma sempre bem-vinda sensação de novidade ao gameplay. Como é de praxe do gênero, o resultado final é que nenhuma partida é exatamente igual à outra, aumentando consideravelmente o fator replay.

Jornada difícil

Como veteranos do estilo podem afirmar, um ponto que é sempre de difícil balanceamento em roguelikes e roguelites é a dificuldade. Felizmente, não é o caso aqui, pois é possível selecionar entre quatro níveis de desafio, incluindo um voltado a jogadores que só desejam curtir a história. 

Nas dificuldades mais elevadas, Metallic Child exige reflexos rápidos e percepção aguçada, de modo que mesmo jogadores habilidosos terão de se manter prevenidos durante um combate. Felizmente, mesmo um eventual fracasso é recompensado na forma de chips, que funcionam como uma moeda virtual e podem ser utilizados para comprar desde upgrades a itens visuais para Rona.

Como nem tudo são rosas,  preciso mencionar aquele que de longe é o único ponto negativo do jogo: Metallic Child conta com níveis longos demais. Embora o sistema de combate seja muito divertido, é perfeitamente possível se cansar quando você está fazendo essencialmente a mesma coisa em diferentes salas por mais de dez minutos seguidos.

Confesso que justamente por isso em certos momentos abdiquei da exploração e parti direto para os confrontos finais. A impressão que tenho é que isso não ocorreria caso os níveis fossem um pouco menores ou mais fechados, sem tantas ramificações. Sendo sincero, não é algo que chega a comprometer a experiência final, mas é certamente um ponto a ser levantado e modificado em uma eventual sequência.

Máquina de guerra

No que tange ao aspecto técnico, Metallic Child impressiona. Tanto no modo TV quanto no modo portátil do Switch (o meu preferido para o gênero), temos uma imagem nítida e colorida, e mesmo em momentos caóticos, não é possível perceber quedas na taxa de quadros do título, algo fundamental em um jogo de ação.

A direção de arte também merece elogios. Seguindo a temática anime, todos os personagens são bem-detalhados, de modo que o universo como um todo exala carisma. Embora as já citadas influências de sagas como Mega Man e Azure Striker Gunvolt sejam perceptíveis também no design das criaturas, a criação do Studio HG tem a sua própria personalidade, algo cada vez mais raro nos dias de hoje.

É uma pena que não tenhamos suporte a português brasileiro, o que faz com que o domínio de algum dos idiomas suportados seja necessário para entender a história e desfrutar 100% do jogo. Fica registrada então a esperança que um patch futuro corrija essa questão, adicionando suporte à nossa língua pátria — tendo em vista a qualidade da obra, a comunidade brasileira certamente agradeceria.

Criança metálica

Metallic Child é uma das gratas surpresas deste ano. Com um sistema de combate divertido, narrativa envolvente e uma apresentação visual que impressiona, fãs de ação e mecânicas roguelite irão encontrar muita diversão. Mesmo os eventuais percalços não são o bastante para retirar o brilho desta aventura, que se prova uma adição consistente à já farta biblioteca de jogos independentes do Switch.

Prós

  • Narrativa interessante para o gênero;
  • Casamento perfeito entre temática e jogabilidade;
  • Bela apresentação visual;
  • Confrontos ágeis e divertidos;
  • Adapta-se muito bem ao modo portátil do Switch;
  • Múltiplos níveis de dificuldade tornam a experiência acessível a todos os tipos de jogadores.

Contras

  • Pode se tornar repetitivo com o tempo;
  • Níveis são longos demais para a proposta;
  • Sem suporte a português brasileiro.
Metallic Child — Switch/PC — Nota: 8.5 
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela CREST

é bacharel em Produção Cultural pela UFF e estudante de Comunicação Social pela FSMA. Na infância, ganhou um Super Nintendo dos pais e, desde então, nunca mais deixou o mundo dos games. Ainda sonha em ser um Mestre Pokémon.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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