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Análise: Corpse Party (2021) ensina que rituais podem dar muito errado

O jogo cult de terror finalmente chegou ao Switch e não deixa nada a desejar.

corpse party 2021 switch

25 anos depois de sua estreia no PC-98, Corpse Party percorreu um longo caminho até chegar ao Switch e aos demais consoles da geração atual. Corpse Party (2021) conta com gráficos melhorados e alguns conteúdos extras para justificar seu relançamento, mas nada disso é encheção de linguiça: o jogo veio para se firmar como uma das maiores referências no gênero terror.

O ritual que deu muito errado

Em uma noite chuvosa após o festival cultural da Academia Kisaragi, um grupo de estudantes — Satoshi Mochida, Naomi Nakashima, Yoshiki Kishinuma, Ayumi Shinozaki, Yuka Mochida, Seiko Shinohara, Mayu Suzumoto e Sakutaro Morishige — decide passar o tempo contando histórias de terror, liderados por Ayumi, que adora assuntos relacionados ao oculto. No entanto, essa confraternização logo acaba quando Yui Shishido, a professora responsável pela turma 2-9 da Academia, avisa que é hora de os alunos voltarem para suas casas.

Tudo estaria bem se não fosse o último dia de Mayu na Academia, que precisa se mudar para outra prefeitura devido ao trabalho do pai. É nesse momento que Ayumi se lembra de um “ritual de amizade” chamado Sachiko Para Sempre, capaz de fazer com que os envolvidos sejam amigos para a vida toda. De fácil execução, todos, incluindo a professora, decidem jurar amizade eterna entre si.

Algo que era para dar certo acaba muito errado: após um súbito terremoto, o grupo, agora separado em duplas e trios, acaba em uma versão aos escombros da Academia Kisaragi. Logo eles descobrem que estão, na verdade, na demolida Escola Primária Heavenly Host que, nos anos 70, foi palco de um massacre envolvendo um professor e quatro crianças. A partir daí, Satoshi e companhia precisam encontrar um jeito de se reunirem e voltarem para o presente — vivos, de preferência.

Versão melhorada do port do remake

Corpse Party (2021) é uma versão melhorada de Corpse Party Blood covered: ...Repeated fear. (3DS), um port de Corpse Party BloodCovered: ...Repeated Fear (PSP), que por sua vez é um remake de Corpse Party: BloodCovered (PC), uma releitura de um jogo criado em 1996 para o falecido PC-98. Apesar de já ter certa idade, o primeiro jogo dessa franquia de survival horror ainda é muito cultuado como um dos melhores títulos de terror de todos os tempos.

Em termos de jogabilidade, nada mudou desde sua estreia no PC, em 2010. A trama, dividida em cinco capítulos, gira em torno da exploração dos mais diversos cenários na destroçada Heavenly Host enquanto o jogador controla cada um dos nove personagens alternadamente.
Costumeiramente, “jogos de RPG Maker”, como são popularmente chamados, têm um constante vai-e-volta na exploração dos cenários. Corpse Party não fica para trás nesse quesito: embora não muito longos, os capítulos podem exaurir jogadores que não têm costume de jogar esse tipo de jogo, ainda mais quando não existe um mini mapa para guiar os passos. No entanto, isso é proposital: perder-se e deparar-se sem saída é o propósito principal do jogo em primeiro lugar.


A nova versão deste cult de terror se destaca pelo grande fator de rejogabilidade. Além dos diversos finais presentes em cada capítulo, só é possível avançar na trama caso o final verdadeiro do anterior seja obtido. Os múltiplos finais, contudo, têm outro propósito: desbloquear as side stories que explicam mais sobre alguns personagens e acontecimentos envolvendo o massacre na Heavenly Host.

Por mais estranho que possa parecer, Corpse Party tem melhor desempenho no modo portátil do Switch. Jogar com o console conectado à TV também é muito válido e os gráficos não ficam distorcidos, mas uma tela maior, pelo menos no meu caso, destruiu quase toda a imersão na qual o jogo se baseia; afinal, a ambientação foi totalmente pensada para uma tela com pouca iluminação e que gere um campo de visão limitado, a fim de garantir os sustos e a sensação de estar perdido em um lugar assombrado.

Aliás, Corpse Party tem como ponto forte a atmosfera criada pela trama, que chega a ser mais interessante do que a jogabilidade em si, já bastante explorada por outros jogos. É incrível ver um jogo de dez anos atrás conseguir prender o jogador apenas com diálogos e trilha sonora, a ponto de fazer até o famosíssimo Nokia Tune ser assustador. Mais incrível ainda é conseguir pegar o jogador de surpresa com algo que ele já previa que iria acontecer — e isso tudo é mérito de uma história muito bem contada e elaborada.

Quase adaptável às preferências do jogador

O menu de opções de Corpse Party permite que vários elementos do jogo sejam ajustados, desde a velocidade com a qual os textos são exibidos na tela até incluir um marcador de tempo que mostra a duração da aventura em cada capítulo. Também há a possibilidade de criar um salvamento temporário independente ao save principal, que só pode ser realizado em determinados locais da Heavenly Host.

Os idiomas disponíveis deixam um pouco a desejar. Mesmo que Corpse Party 2021 seja um port melhorado da versão de 3DS, apenas inglês, japonês e coreano fazem parte da escolha. Infelizmente, isso cria uma barreira idiomática que impede que jogadores que não dominem pelo menos o básico de inglês tenham dificuldade para compreender a história.

corpse party 2021 switch

Outro elemento que poderia ter sido adicionado como opcional é o mini map. Novamente, Corpse Party foi pensado propositalmente para pegar o jogador de surpresa e transmitir toda a sensação de tensão possível, mas a existência de um mapa seria um elemento facilitador para quem apenas quer aproveitar a história, afinal, nem todos têm muita paciência para ficar dando voltas no mesmo lugar.

Por fim, as configurações também permitem a aplicação de diferentes filtros, a fim de dar uma diversificada no visual um tanto quanto datado do jogo. Com exceção da escolha de idiomas, o menu de opções pode ser acessado a qualquer momento durante a jogatina.

Sachiko para sempre? 

Corpse Party (2021) traz para a geração atual o aclamado jogo de terror que até hoje é referência no gênero. Embora algumas configurações extras pudessem ter sido adicionadas a fim de deixar o jogador mais confortável durante a jogatina, como um mini mapa e mais opções de idiomas, a atmosfera bem construída e a tensão transmitida sem nenhuma dificuldade fazem com que Corpse Party seja revisitado mais uma vez, tanto por aqueles que já conhecem a franquia quanto por quem nunca teve contato com ela.

Prós

  • Atmosfera bem construída, com trilha sonora e dublagem imersivas;
  • História bem elaborada e bem distribuída em cada um dos cinco capítulos;
  • Fator de rejogabilidade com os capítulos extras e diferentes finais;
  • Diversas opções de filtros para a jogatina.

Contras

  • Poucas opções de idiomas para um jogo da atualidade;
  • Sensação de pouca imersão no modo TV do Switch;
  • Falta de elementos facilitadores voltados àqueles pouco acostumados com jogos de exploração.
Corpse Party (2021) — Switch/PC/PS5/PS4/XBX/XBO — Nota 9.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Thais Santos
Análise produzida com cópia digital cedida pela XSEED Games

Também conhecida como Lilac, é fã de jogos de plataforma no geral, especialmente os da era 16-bits, com gosto adquirido por RPGs e visual novels ao longo dos anos. Fora os games, não dispensa livros e quadrinhos. Prefere ser chamada por Ju e não consegue viver sem música. Sempre de olho nas redes sociais, mas raramente postando nelas. Icon por 0range0ceans
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