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Análise: Cupid Parasite (Switch): deuses, parasitas e o amor que transforma

Novo otome game da Idea Factory International é uma excelente pedida para fãs do gênero.

Cupid Parasite
é um jogo desenvolvido pela Otomate, empresa subsidiária da Idea Factory e uma das grandes referências do gênero otome (visual novels com protagonistas femininas e múltiplos rapazes como interesses românticos). Nos últimos anos, várias de suas obras foram lançadas no Ocidente, a exemplo de Collar x Malice (PS Vita/Switch), Code:Realize (Multi), Café Enchanté (Switch) e Olympia Soirée (Switch).

Apesar disso, Cupid Parasite é um marco por dois motivos. Primeiramente, é o retorno da Idea Factory International ao mercado de otome games após mais de três anos sem jogos do gênero. Seu último lançamento havia sido Hakuoki: Edo Blossoms no PC, mas a empresa já tem planos para mais jogos após Cupid Parasite.

O outro motivo é que, dentro do mercado atual, é importante levar em consideração o fato de que Cupid Parasite é uma comédia romântica mais tradicional. Apesar do termo otome game se referir a uma perspectiva de romance, as obras da Otomate escolhidas para tradução sempre foram títulos em que mistério e ação eram um foco maior. Isso não quer dizer que não haja outras coisas atraentes na história de Cupid Parasite, mas seu foco é realmente o romance, servindo como um bom ponto de equilíbrio para quem acompanha os jogos traduzidos da Otomate.

“Eu posso consertá-los”

Cupid Parasite conta a história de uma garota que trabalha como conselheira amorosa na Cupid Corporation. Apesar de ter entrado na empresa há pouco tempo, a personagem já é considerada uma das melhores do ramo. No entanto, ela esconde uma verdade bem inesperada: a jovem é a deusa Cupido, que desceu à Terra após brigar com seu pai, o deus Marte.

Seu objetivo é provar para o seu pai que os humanos podem cuidar de si próprios sem a necessidade das flechas que os fazem se apaixonar. Para isso, ela pretende se tornar a melhor conselheira amorosa do mundo utilizando as técnicas mortais ao invés de seus poderes divinos.

Tendo em vista a nítida ambição da garota, o presidente da Cupid Corporation decide dar a ela uma oportunidade de promoção. Ela teria que trabalhar com cinco clientes específicos, conseguindo pretendentes para os rapazes e garantindo os seus casamentos. Só que não vai ser tão fácil assim, uma vez que eles são conhecidos na empresa como Parasite 5 por suas peculiaridades.

O primeiro deles é Gill Lovecraft, um escritor que morava junto com a protagonista há muitos anos. Na época, ele acabou se apaixonando por ela e nunca conseguiu superar esse desejo. Infelizmente, a heroína nunca percebeu o interesse do rapaz, que também se manteve tímido e nunca contou nada para ela. Mesmo decidindo se juntar a uma agência de relacionamentos, Gill não consegue parar de pensar nela.

Temos também Ryuki F. Keisaiin, um estilista jovem descendente de japoneses. Seu principal defeito é seu padrão rígido de beleza. Ele é incapaz de interagir com uma pessoa feia, ou sequer reconhecer sua existência. Além disso, seus comentários afiados facilmente magoam as pessoas.

O próprio presidente da Cupid Corporation também é um dos parasitas. Registrando-se sem nome e utilizando seu secretário Owen como um representante, ele prefere não ser identificado para evitar complicações. Circulam rumores de que ele é um excelente marido e a notícia de que é tudo uma farsa poderia degradar a imagem da empresa. No entanto, tudo indica que ele só quer se casar por uma questão de status.

Outro parasita é Raul Aconite, um ator de Sillywood que sempre fez papéis de ação. Para participar da trama de um filme de romance, o rapaz decide contar com a ajuda da empresa. Tinha tudo para dar certo, mas, infelizmente, o rostinho bonito dele não é suficiente para esconder a sua total obsessão com mitologia. Ele respira o assunto e não consegue ficar calado, sempre levando a conversa para histórias de deuses gregos e afins. Além de suas palestras constantes, ele tem dificuldade em encontrar alguém que compartilhe das suas paixões.

Por fim, mas não menos importante, temos Allan Melville. O rapaz trabalha em uma loja de travesseiros e, assim como a protagonista, esconde um segredo. Sedutor, ele não tem nenhum problema em conquistar mulheres. Muito pelo contrário, seu problema principal é que ele parece ter um fetiche por moças que já estejam em relacionamentos. Graças a isso, suas chances de assumir um namoro são muito baixas.

É interessante como o jogo foca primeiro nos defeitos e os trabalha com bom humor. As personalidades horríveis dos rapazes são apenas uma das suas facetas. Apesar de a protagonista inicialmente nem enxergar a possibilidade de romance, ela irá eventualmente se relacionar com um deles, dependendo das escolhas tomadas. Com o tempo, o jogador aprende mais detalhes sobre os jovens, se divertindo com as confusões da trama ao mesmo tempo em que se envolve emocionalmente com as suas histórias.

Por um lado, o romance muda as perspectivas dos rapazes ao longo do tempo. Por outro, a própria Cupido aprende muito com os eventos. Mesmo sendo uma deusa do amor, sua perspectiva inicial é a de alguém que apenas ajuda os outros. Assim sendo, nem passa pela cabeça dela a possibilidade de se apaixonar, algo que demora um bom tempo para mudar.

Em um mundo de Barbie

Um aspecto que chama muito a atenção em Cupid Parasite é o seu estilo pop. Visualmente, a obra é muito mais colorida do que o normal, o que é perceptível tanto nos cenários quanto na interface. É tudo bastante vibrante e chamativo, ajudando a dar um clima único à ambientação.

Mais do que estiloso, diria que o game tem um leve toque retrô que parece ser inspirado em filmes hollywoodianos clássicos de romance. Ao mesmo tempo, esse excesso de cor faz com que a cidade ficcional de Los York pareça uma grande casa de bonecas. Junta-se a isso uma trilha sonora fantástica, recheada de músicas-temas com vocais que representam cada um dos personagens, que assim como o tom de comédia romântica, resultam em uma atmosfera singular.

Em termos de qualidade da experiência, também há vários elementos a elogiar. Cada escolha correta é indicada por corações que saltam na tela, facilitando a manipulação de decisões para entrar na rota desejada. Tendo em vista que obter o melhor final com os personagens requer o máximo de afeto, esse detalhe é uma grande ajuda. Mas, caso o jogador prefira não ter esse feedback visual, é possível desativar os corações nas configurações.

Avançar de um ponto a outro da história também é fácil graças a um flowchart detalhado. Todos os capítulos são mapeados, bastando escolher um momento para viajar rapidamente até ele. As opções de skip também são muito boas, sendo possível não apenas acelerar o avanço do texto, como também pular até o próximo ponto em que há diálogos não lidos ou escolhas a serem tomadas.

Porém, vale destacar que há um problema após terminar sua primeira rota: para desbloquear as histórias de Raul e Allan, é necessário iniciar um novo jogo em vez de usar os saves da primeira tentativa. Com isso, algumas das cenas do início sofrem alterações. Em alguns pontos nem há mudanças significativas, mas mesmo assim o jogador não pode pular os textos lidos porque o jogo considera como “textos novos”. Uma terceira tentativa felizmente não sofre desse mesmo problema, mas é uma pena que não levaram esse problema em consideração.

Outro revés potencialmente mais grave são os erros de tradução, porém, vale destacar que a empresa já está trabalhando em um patch que deve ser lançado entre o fim de novembro e dezembro. Os defeitos estão especialmente na rota do Ryuki, com vários trechos quase ilegíveis devido a erros de interpretação de contexto. No entanto, há também outros erros em pontos diferentes das outras rotas, mas de gravidade menor. Fica a expectativa de que a obra fique muito melhor para leitura, mas, no momento, isso pode afetar bastante a experiência.

Mais do que brincar de cupido

Cupid Parasite
é um excelente representante do gênero otome, sendo, em geral, mais leve do que as outras obras da Otomate já lançadas no Ocidente. Mesmo com alguns probleminhas pontuais, a visual novel conta com um estilo único e charmoso que ajuda a fazer uma comédia romântica que vale a pena experimentar.

Prós

  • História divertida focada nas desventuras de uma cupido e um grupo de rapazes problemáticos;
  • Visual pop colorido que salta aos olhos e ajuda a dar uma cara única à obra;
  • Trilha sonora envolvente e que representa bem a personalidade da obra e seus personagens;
  • Escolhas corretas são indicadas de forma clara pelo sistema de corações;
  • Flowchart detalhado e opção de pular diretamente para o próximo trecho não lido ou escolha.

Contras

  • Tradução conta com vários erros (que devem ser resolvidos em um patch futuro já anunciado);
  • Recomeçar o jogo para liberar as rotas adicionais implica em trechos já lidos em que é impossível dar skip.

Cupid Parasite — Switch — Nota: 8.5

Revisão: João Pedro Boaventura
Análise produzida com cópia digital cedida pela Idea Factory International


é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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