Jogamos

Análise: A YEAR OF SPRINGS (Switch) é o suporte de que a comunidade queer precisa

A visual novel dá voz à comunidade queer e mostra sem rodeios que todos nós temos o direito de pertencer à sociedade

a year of springs switch
Para a comunidade LGBTQIA+, a sensação de pertencimento no mundo é quase nula. Cada vez mais se prova difícil mostrar a diversidade para uma sociedade que ficou tão acostumada com heteronormatividade e binaridade, na qual tudo tem que ser preto no branco. Porém, quando tudo parece perdido, nos deparamos com aquela luz no fim do túnel e que reacende a esperança dentro de nós. A YEAR OF SPRINGS, de npckc (A Hero and a Garden), mostra a importância de aceitar as pessoas como elas são em três visual novels únicas e tocantes.

A YEAR OF SPRINGS é uma coletânea com três visual novels — one night, hot springs; the last day of spring; e spring leaves no flowers — cujas temáticas giram em torno de três amigas, Haru, Erika e Manami, e o relacionamento entre elas. Em cada uma das narrativas, o ponto de vista muda para uma das garotas, embora as duas primeiras sejam mais focadas em Haru e sua luta diária contra a transfobia. Já a última tem Manami como protagonista em uma viagem introspectiva sobre o que amor e amizade significam para a garota.
a year of springs switch

O simbolismo da primavera

É muito comum, sobretudo na literatura, recorrer a simbolismos para reforçar a ideia que quer ser passada. No caso de A YEAR OF SPRINGS, temos um uso bastante significativo da primavera para representar o período de renascimento e renovação vivido pelas personagens das três visual novels que compõem a coletânea, sobretudo Haru, uma mulher trans que convive diariamente com a transfobia.

Sinceramente, é bastante complicado descrever as narrativas de A YEAR OF SPRINGS. Embora o conceito por trás das visual novels seja promover a aceitação e acolhimento de pessoas queer, o jogo dialoga de maneiras diferentes com cada jogador. Do ponto de vista de uma mulher cis, acompanhar a história de Haru foi muito esclarecedor para entender algumas das inúmeras dificuldades das pessoas trans no dia a dia, especialmente em um país tão conservador como o Japão.

São dificuldades pelas quais não passo, fato, mas foi de suma importância ser colocada no lugar de Haru. Afinal, as pessoas só passam a entender e compreender a dor do outro ao serem colocadas em seu lugar — algo que a personagem Erika consegue perceber ao longo da segunda história. Contudo, foi a terceira visual novel, cujo foco é Manami, que mais dialogou comigo.

Embora traga termos pouco compreendidos por muitos, A YEAR OF SPRINGS consegue sumarizá-los de maneira delicada e sutil, mas sem deixar a didática de lado. No fim, a coletânea mostra algo que muitos de nós atualmente temos dificuldade de enxergar: a diversidade existe na nossa sociedade e que isso não é algo ruim.

Sem complexidades

Em se tratando de visual novel, as três histórias que compõem A YEAR OF SPRINGS não deixam nada a desejar. Todas elas apresentam as funções necessárias para o gênero, como velocidade de texto, função de pular texto já visto e salvamento/carregamento durante a jogatina, entre outras.

Apesar de curtas, todas as visual novels da coletânea apresentam múltiplos finais e certo fator de rejogabilidade, principalmente por conterem artes desbloqueáveis. Ao obter ao menos o final neutro em cada uma delas, um epílogo exclusivo para a coletânea é desbloqueado mostrando o futuro de Manami, Haru e Erika um ano após os acontecimentos de A YEAR OF SPRINGS.

Além da narrativa simples, porém tocante e extremamente didática, as visual novels também se destacam por sua arte e trilha sonora. Outro grande fator que merece ser mencionado é a presença de sete idiomas, entre eles o português brasileiro; isso é de suma importância, pois consegue abranger um grande número de jogadores — seria estranho, afinal, ver um jogo que fala de inclusão e diversidade se limitando a uma ou duas línguas apenas e contribuindo com a barreira linguística.

Em termos de performance, a única ressalva é um pequeno “congelamento” ao iniciar as visual novels, como se o aplicativo tivesse travado. De resto, a jogabilidade flui muitíssimo bem e conta com suporte à tela de toque do Switch quando no modo portátil.

Você não precisa de muitas palavras para escrever um livro

Mesmo com sua curta duração total, A YEAR OF SPRINGS é uma cartilha que ensina sobre diversidade de gênero e sexual e também sobre a inclusão de pessoas LGBTQIA+ em uma sociedade acostumada com tradicionalismos e conservadorismos. Acima de tudo, é o suporte emocional de que a comunidade queer precisa, porque que todos nós merecemos um lugar no mundo.

a year of springs switch

Prós

  • Narrativa pró-diversidade simples, tocante e direta;
  • Belíssimas arte e trilha sonora;
  • Jogabilidade fluida, com suporte à tela de toque;
  • Tema importante e necessário para a atualidade;
  • Certo fator de rejogabilidade com os múltiplos finais e artes desbloqueáveis;
  • Textos disponíveis em português brasileiro.

Contras

  • Breve "congelamento" ao iniciar as visual novels.

A YEAR OF SPRINGS — PC/Switch/PS5/PS4/XBX/XBO — Nota: 10
Versão utilizada para análise: Switch

Revisão: Thais Santos
Análise produzida com cópia digital cedida pela Ratalaika Games

Também conhecida como Lilac, é fã de jogos de plataforma no geral, especialmente os da era 16-bits, com gosto adquirido por RPGs e visual novels ao longo dos anos. Fora os games, não dispensa livros e quadrinhos. Prefere ser chamada por Ju e não consegue viver sem música. Sempre de olho nas redes sociais, mas raramente postando nelas. Icon por 0range0ceans
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


Disqus
Facebook
Google