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Análise: Baldo: The Guardian Owls (Switch) apresenta um universo exuberante propício para uma jornada épica

Na companhia dos poderes da Espada da Coruja, explore um mundo fantástico para conhecer a lenda das aves guardiãs de Rodia.

Lançado em 27 de agosto de 2021, Baldo: The Guardian Owls é um jogo de ação repleto de características atraentes. Entre elas, temos um estilo visual fascinante, uma história promissora e um adorável mundo cheio de conteúdo. Diante de tantas qualidades, não à toa a aventura figurava como uma das grandes promessas indies de 2021. Todavia, essa projeção acabou não se cumprindo, uma vez que o título foi lançado com incontáveis bugs, falhas de gameplay e outros problemas estruturais. 


Hoje, quase quatro meses depois, eu tive a oportunidade de testar o jogo, que recebeu diversas atualizações e correções nesse meio-tempo para trazer mais estabilidade à experiência. Desse modo, uma grande questão prontamente se manifesta: será que a jornada de Baldo e as Corujas Guardiãs conseguiu superar seus problemas para dar a volta por cima?

Uma história encantada cheia de… corujas

Baldo é um jovem garoto que habita um vilarejo rural localizado nas terras de Rodia, uma região encantada repleta de masmorras, criaturas, segredos e, principalmente, lendas. Isso pode ser percebido desde o início da aventura, quando o protagonista é chamado por seu avô, que alega ter feito uma descoberta grandiosa perto de sua casa: ele encontrou a localização de um famoso galeão que havia naufragado no passado.

Neste barco, que funciona como uma espécie de dungeon inicial, possivelmente se encontra um item que poderá levar Baldo e seu avô para a Aldeia das Corujas. Muito presente em diversos mitos de Rodia, essa localidade relaciona-se diretamente a uma profecia que nos é apresentada logo no início da jornada, a qual fala de uma criatura maligna que está prestes a acordar. 

No passado, esse mesmo monstro, cuja forma não é revelada, foi aprisionado pelas aves de rapina, que passaram a ser tratadas como protetoras da região desde então. Dessa forma, Baldo deve explorar o mapa de Rodia para encontrar as Corujas Guardiãs, justamente para tentar impedir o eventual retorno de tal criatura perigosa. Assim, com combates de espada em tempo real, muita exploração e elementos de RPG, eis que se inicia uma aventura lendária, que inegavelmente dispõe de similaridades com uma certa franquia da Nintendo.

Masmorras, enigmas, batalhas e outros elementos tradicionais

Embora possa ser superficial e restritivo descrever jogos a partir de breves comparações, não podemos ignorar o fato de que Baldo: The Guardian Owls ostenta diversas semelhanças com a série The Legend of Zelda. Entre elas, temos protagonistas espadachins, profecias, uso de instrumentos musicais, regiões encantadas, narrativas com a presença de princesas e diversos enigmas que, quando solucionados, fazem soar uma breve e elegante vinheta.

Ou seja, desde o princípio, Baldo: The Guardian Owls não esconde suas inspirações, o que não chega a ser exatamente um problema. Entretanto, cabe a nós projetar uma constatação: o título não traz grandes novidades em termos de gameplay. Afinal, seus conceitos de mundo aberto, com missões em vilarejos e múltiplas masmorras que precisam ser exploradas, podem ser encontrados em muitos outros jogos da atualidade. 

Tratando-se especificamente da progressão, a jogatina costuma ser movida por um padrão: na busca pela localização da Aldeia das Corujas, devemos conversar com moradores e realizar pequenas missões, as quais poderão nos render novas informações e itens cruciais para o progresso. Com isso, temos quests que usualmente demandam momentos de investigação nas dungeons, onde nos deparamos com quebra-cabeças e criaturas inimigas, incluindo chefes de grande porte.

Entretanto, apesar da evidente ausência de originalidade, é preciso ressaltar que o título tem sim muitos méritos no quesito jogabilidade, mas isso ocorre em função de sua ótima execução. Enquanto as batalhas e explorações são divertidas e instigantes, os puzzles e as dungeons contam com desafios interessantes e trazem novas mecânicas para a jogatina, como itens, habilidades e elementos que elucidam a trama. 

Com isso, mesmo sem grandes inovações, temos uma jogabilidade responsiva e alegre, que harmoniza muito bem com outras qualidades da aventura, como a amplitude de seu mundo aberto e sua estética belíssima.

Mundo aberto amplamente exuberante

Ao iniciar Baldo: The Guardian Owls, confesso que não estava esperando encontrar muita profundidade na experiência. Todavia, após poucos minutos, pude notar que estava errado, pois o universo de Rodia é consideravelmente grande. Com diversos povoados, personagens, situações e estabelecimentos, o mapa no estilo mundo aberto é deveras extenso e imersivo.

Isso possibilita a introdução de missões extras relacionadas à campanha principal, com informações complementares do enredo, assim como nos traz sidequests completamente independentes. Aliás, eis outro ponto forte do jogo: sua campanha robusta e de longa duração, ainda mais se você se interessar por buscar outras tarefas e itens não obrigatórios na progressão.

Na qualidade de outro fator bastante positivo, The Guardian Owls conta com uma estética para lá de fascinante. O visual segue um estilo cel shading bastante vivo, com cores fortes e traços inspirados em animações japonesas. Enquanto isso, a trilha sonora se destaca ao apresentar temas de características épicas, além de eventuais sons pacatos e profundos para aumentar a imersão durante a resolução dos quebra-cabeças.

O resultado estético é altamente agradável, ainda mais se levarmos em consideração que a performance raramente sofre oscilações de quadros por segundo. Diante disso, não hesito em dizer que este é um dos títulos mais exuberantes que já experienciei no Switch, destacando-se especialmente dentro da biblioteca dos indies do console. Entretanto, a despeito das qualidades, cabe dizer que a obra ainda apresenta algumas falhas técnicas em seu roteiro.

Aves de rapina com uma certa lentidão

Por trás da abrangência de seu mundo aberto e das múltiplas possibilidades de missões, Baldo: The Guardian Owls acaba por esconder um defeito: a lentidão na progressão de sua trama. Especialmente no começo da campanha, pouco nos é apresentado especificamente sobre a Aldeia das Corujas e a dita profecia. Assim, nossos momentos iniciais acabam consistindo mais em singelas missões para ajudar os moradores do vilarejo, deixando o cerne do enredo consideravelmente de lado.

Quando combinada com certas características internas, como a movimentação calma dos personagens e puzzles com resoluções que exigem raciocínio pesado, essa falta de grandes acontecimentos centrais resulta em um ritmo de jogatina um tanto lento. Isso não acabou sendo um problema para o meu gosto, mas entendo que jogadores de outros estilos podem não se adequar à velocidade das ações e da progressão narrativa como um todo. 

Em termos de problemas de performance, há de se reconhecer que o estúdio desenvolvedor do título, o Naps Team, fez um bom trabalho a partir de atualizações e correções. Durante minha jogatina, não encontrei bugs ou outras falhas que eram comuns nas primeiras versões do jogo, como os crashes e rompimentos de saves apontados por outros sites e jogadores.

Mesmo assim, acredito que ainda há um ponto a ser otimizado, que é a falta de fluidez nos menus e mapas da aventura. Embora as interfaces sejam bonitas e detalhadas, contando inclusive com suporte à tela de toque do Switch, é um pouco penoso acessar nossas missões e demais materiais, dado que a movimentação se mostra lenta, pouco responsiva e não natural. 

Creio que isso possa vir a ser consertado com o tempo, ainda mais se considerarmos que o jogo segue recebendo um cuidado especial desde o seu lançamento. Assim, apesar dos pesares, o que aparenta é que The Guardian Owls conseguiu dar a volta por cima de maneira digna, mostrando-se como uma obra que merece uma segunda chance graças aos seus altos encantos — esculpidos durante 15 longos anos de desenvolvimento, de acordo com o Naps Team.

O mundo é das Corujas

Longe de ser uma aventura perfeita, Baldo: The Guardian Owls ainda conta com seus problemas rítmicos e estruturais. No entanto, suas qualidades são fortes o bastante para fazê-lo se destacar na biblioteca de indies do Switch. Diante de um mundo imenso cheio de conteúdo, mecânicas de jogabilidade robustas e um estilo artístico que causa fascínios, a história das Corujas Guardiãs apresenta-se como uma indicação interessante dentro do gênero das aventuras fantasiosas com aspectos de RPG.

Prós

  • Aventura em um mundo aberto repleto de conteúdo e missões;
  • Jogabilidade fácil, prática e divertida;
  • Estilo artístico fascinante ao extremo;
  • As áreas e dungeons apresentam conceitos de exploração recompensadores;  
  • As correções de erros repaginaram o jogo, tornando a experiência mais agradável.

Contras

  • Ritmo lento, com personagens pesados, puzzles atravancados e história com poucos acontecimentos centrais em seu princípio.
  • A interface dos menus e dos mapas poderia ser mais ágil.
Baldo: The Guardian Owls — Switch/PC/PS4/XBO/iOS — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Naps Team

Jornalista, colaborador no Nintendo Blast e doutorando em Comunicação Social.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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