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Análise: Eternal Radiance (Switch) é uma interessante aventura RPG com características plurais

Intercalando visual novel com trechos de ação, o game tem uma versatilidade capaz de agradar a jogadores de diferentes estilos.

Eis que 2022 se iniciou com muita elegância no Switch. Pelo menos foi isso que eu senti ao jogar Eternal Radiance, título indie que foi lançado no dia 13 de janeiro. Ao mesclar uma história sentimental nos moldes visual novel com momentos de exploração e combate em tempo real, o RPG é eclético e cativante, ainda que sofra com uma falta de polimento em certos aspectos. 

Estaria Celeste pronta para se tornar uma guerreira?

Celeste é uma jovem garota que estuda na academia Ashen Orden, uma instituição que forma guerreiros responsáveis por proteger o mundo de Darencia. Logo no início de Eternal Radiance, vemos que a personagem está prestes a participar de uma iniciação, na qual ela terá de provar seus valores. Caso seja concluída com sucesso, essa missão fará com que ela deixe de ser uma simples aprendiz e se torne, enfim, uma verdadeira guerreira. 

Para isso, a protagonista recebe o dever de resgatar um artefato que está perdido na floresta de Ornwood. Embora Celeste consiga desbravar heroicamente todo o ambiente, derrotando até mesmo os perigosos Goblins que assombram a região, a missão toma um rumo inesperado quando uma garota misteriosa surge e rouba o objeto, que vem a se tornar importante para a trama na medida em que seus poderes são revelados logo na sequência.

O retorno da aprendiz à sede da Ashen Order é marcado por sua decepção; afinal, ela falhou em sua missão. Diante disso, os comandantes da academia deixam a protagonista de lado, para que ela possa seguir seu treinamento até receber outra oportunidade de iniciação, e decidem procurar o poderoso artefato sozinhos.

Celeste, entretanto, não se conforma com a decisão e foge de seus aposentos durante a noite. Pensando em compensar sua falha e demonstrar suas habilidades, ela passa a investigar o paradeiro e os possíveis planos da garota que roubou o artefato. Com a trama tecida, inicia-se assim uma jornada que dispõe de interfaces diversificadas, divididas entre momentos fundamentalmente narrativos e trechos de ação.

O pano de fundo de uma história fantasiosa

Os primeiros instantes de Eternal Radiance demonstram muito bem o que nos espera na aventura, a começar por seu estilo de storytelling. Seguindo um formato característico do gênero visual novel, o jogo não exibe exatamente elaboradas cutscenes em movimento, mas sim diálogos que são disponibilizados textualmente ao lado de gravuras estáticas.
 
Esses trechos são responsáveis por nos contar sobre os acontecimentos da trama, que são desenrolados conforme conversamos com outros figurantes. Tendo em vista que os diálogos podem ser controlados, com a possibilidade de conduzirmos diferentes sequências de encontros com personagens e eventuais escolhas de frases de resposta, eles passam a integrar a jogabilidade da obra de maneira efetiva.

No capítulo inicial, por exemplo, somos capazes de acessar diferentes áreas da Ashen Order através de um simples menu. Se escolhermos ir ao Salão de Guerra, encontraremos Zacharias e Katrina, chefes da academia que, através de conversações, nos instruem para a missão principal, que pode ser iniciada de imediato.
  
Entretanto, outras situações são apresentadas se decidirmos passar mais um tempo explorando os demais cômodos da Ashen Order, como a Biblioteca. Lá, encontram-se Quinn, Tabatha e Corinne, personagens que nos relatam o contexto de Darencia e suas respectivas relações com Celeste em conversas não obrigatórias.

Desse modo, a trama é elegantemente desenvolvida a partir de nossas interações. Neste quesito, o jogo ostenta diversos méritos, pois sua construção discursiva é realmente atraente, trazendo momentos humorísticos, dramáticos e sentimentais, com personalidades e situações ricamente detalhadas, que nos incentivam a experienciar novos diálogos.

Ainda por cima, cabe dizer que esse segmento também serve para uma outra função muito bem-vinda dentro da aventura, que é a de disponibilizar sidequests através dos NPCs secundários. Todavia, assim como a missão principal, esses afazeres geralmente não podem ser concluídos apenas com os diálogos, uma vez que eles demandam outra interface do game: seus trechos de ação em tempo real.

Muita ação no outro lado da moeda

Na prática, Eternal Radiance costuma seguir um padrão de jogatina: após experienciarmos os diálogos da trama, ganhamos a possibilidade de acessar pontos específicos do mapa, como florestas, desertos, cavernas e planícies, onde iremos realizar as tarefas necessárias para a jornada. E é aí que tudo muda da água para o vinho, dado que a jogabilidade passa a ser no formato de ação em tempo real, através de uma câmera em terceira pessoa.

Controlando Celeste, os jogadores podem se movimentar livremente por essas zonas, explorando os ambientes em busca de tesouros, personagens e monstros que devem ser derrotados. Para tanto, temos os dotes de espadachim da protagonista, que é capaz de desferir ataques físicos diversificados e habilidades numerosas, que variam entre ataques mágicos de longa distância e feitiços de cura.

Nesse sentido, confesso que fiquei surpreso com a profundidade do setor de batalhas de Eternal Radiance. Com um sistema de nivelamento efetivo e ramificações de magias que podem ser aprendidas a partir de pontos, tudo é muito bem-trabalhado e variado. Do mesmo modo, também há a possibilidade de implementarmos upgrades nos armamentos, o que também vem a ser uma adição interessante.

Para coroar a experiência, os momentos de combate são bastante funcionais no Switch, apresentando uma jogabilidade responsiva, fluída e de grande repertório estratégico, que se expande ainda mais diante da presença de parceiros de batalhas, como a feiticeira Ruby e a mercenária Vallana. 

Ou seja, com um formato de ação atraente, capaz de complementar a narrativa dignamente, o título exibe um gameplay diversificado e balanceado, oferecendo uma jogatina divertida que ultrapassa facilmente uma dúzia de horas. Porém, é preciso dizer que algumas coisas poderiam ser melhores, principalmente em termos de polimento visual.

Uma aventura que poderia reluzir mais 

Apresentando personagens com traços encantadores e cenários tridimensionais adoráveis, é inegável que Eternal Radiance dispõe de uma estética atraente. Todavia, alguns elementos deixam a desejar ocasionalmente, com uma aparente falta de polimento que se destaca particularmente nos trechos de exploração em terceira pessoa.

Como exemplo, temos a textura das rochas no estágio Zebi Desert e de algumas árvores na floresta de Ornwood. Similarmente, as frustrantes “paredes invisíveis” nos campos gelados de Aurean Tundra também causam uma estranheza imediata, além de delimitar os espaços de maneira inapropriada.

Enquanto isso, há alguns cenários que se mostram bastante vazios durante a campanha. A melhor amostra disso está nos prados de Small Plains, que passam uma sensação de artificialidade com suas pouquíssimas árvores, arbustos, rochas e afins.

Tratando-se da performance do gameplay, cabe apontar dois pontos negativos da versão para o Switch: as ocasionais quedas de quadros por segundo, que causam engasgos que podem ocorrer a qualquer momento durante os trechos em terceira pessoa; e a presença de um bug que acarreta no desaparecimento dos inimigos, ainda que dure poucos segundos e ocorra apenas em localidades específicas. 

São esses detalhes, portanto, que acabam impedindo Eternal Radiance de reluzir ainda mais. Afinal, apesar de tudo, o título ainda é um RPG extremamente interessante, com virtudes plurais capazes de agradar a todos os tipos de jogadores — claro, desde que eles não se importem com os problemas mencionados neste último tópico.

Ainda assim, eternamente radiante (e versátil)

De um lado, uma estrutura visual novel capaz de construir uma história sentimental com maestria. Do outro, trechos de ação que são intensos e profundos, embora com eventuais apresentações disformes. Eternal Radiance é, assim, um RPG elegante que consegue entregar uma experiência divertida e eclética no Switch. Diante disso, não restam dúvidas de que este é um bom jogo para iniciar o ano de 2022 no console da Nintendo. 

Prós

  • História envolvente, com personagens detalhados e situações sentimentais;
  • Jogabilidade variada que dá conta do recado;
  • Entre habilidades e upgrades, há um sistema de RPG com boa profundidade;
  • Um universo com contextos discursivos ricos e de boas representações visuais.

Contras

  • Falta de polimento gráfico em certos momentos, manifestado através de texturas estranhas, paredes invisíveis e cenários demasiadamente vazios;
  • Ocasionais problemas de desempenho, com engasgos, quedas de fps e bugs que apagam os monstros momentaneamente.
Eternal Radiance — Switch/PS4/PC — Nota: 7.5
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Visualnoveler

Jornalista, colaborador no Nintendo Blast e doutorando em Comunicação Social.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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